quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Interpretação da tela de De La Tour, A trapaça com ás de ouros.


O Barroco na pintura trabalha a técnica do claro e escuro, ou seja, mostrando a tensão do ser humano em viver no contraste.


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1. De que forma o pintor Georges de La Tour conseguiu mostrar nesse trabalho que está havendo trapaça no jogo? R. Pelos olhares desconfiados entre as personagens e também uma personagem esconder cartas atrás de si.

2. Qual e o efeito produzido pelo fundo escuro nessa tela? R. Ele realça a luminosidade entre determinados pontos, coo a tonalidade da pele de algumas personagens, contrastando com as cores quentes, vermelho e marrom.

3. Descreva o ambiente em que as pessoas se encontram. R. É um ambiente rústico, as personagens estão bem vestidas, ou seja, são de classe média alta.

4. Qual pode ser o objetivo da personagem que trapaceia o jogo? R. Ganhar o jogo de forma desonesta.

Reportagem - Gênero jornalístico, com exercícios resolvidos.

A reportagem é um texto jornalístico que relata um assunto (a partir de um fato) de moto abrangente. Seus elementos principais são: título, também chamado de notícia ou manchete, título auxiliar ou olho da notícia, o lide (lead) e corpo. Em geral, o autor recorre a várias fontes e pode apresentar gráficos, tabelas e outros recursos visuais.




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 O clima em mutação 

 O que dizem os cientistas sobre as chuvas na Europa e o fogo que destruiu florestas no Brasil e em Portugal 


Furacões cada vez mais constantes. Chuvas torrenciais como as que provocaram deslizamento de terra e enchentes na Suíça, Alemanha e Áustria. E que soaram o alarme na Romênia, onde milhares ficaram desabri­gados e mais de três dezenas morreram arrastadas pelas enxurradas. A lista de catástrofes climáticas da semana passada inclui ainda o verão mais quente dos últimos 15 anos na Península Ibérica. Só em Portugal, foram mobilizados quatro mil bombeiros, quase mil veículos e 40 aeronaves para conter a fúria das chamas que destruíram uma área verde do tamanho de 30 mil campos de futebol.

No Brasil, a má notícia ficou por conta das chamas que engoliram metade de um parque nacional na ilha Bandei­rante, no Paraná. São todos sinais da tão anunciada mudança climática, certo? A resposta é sim e não. Quando se trata de prever o clima, não há certezas absolutas. "É impossível garantir de pés juntos que o aumento na incidência como ganhar dinheiro na internet desses even­tos extremos não seja consequência da mudança climática", diz o pesquisador - Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP). "Mas também é impossível garantir que seja", completa.

Estudar o clima é uma atividade com­plexa por vários motivos. Primeiro porque as análises meteorológicas levam muitas coisas em consideração, como a quantidade de poluentes emitidos pelas chaminés e a capacidade de as florestas em absorver esses gases causadores do efeito estufa, que criam uma capa protetora e impedem o calor do Sol de voltar ao espaço. Também não existe um único sistema de previsão climática, o que inviabiliza análises comparativas. Por último, é impossível colocar em prática experimentos de longo prazo.

A verdade é que não há conhecimento suficiente para garantir as flutuações do clima no médio e longo prazo. Diante da tamanha ignorância, os cientistas alertam, é importante cuidado com o que lançamos na atmosfera. "Não pode­mos tratar como uma gigantesca lata de lixo porque isso cedo ou tarde pode trazer sérias consequências", avisa Artaxo. Ele compara o clima da Terra a um doente: "Enquanto não se sabe qual é a doença, o melhor remédio é não abusar"

[ ... ]

                                                               DARLENE MENCONI. ISTO É. 21 set 2005 (Fragmento).

1. "O clima em mutação" é o trecho de uma reportagem em que são apresentadas informações a respeito de um certo assunto. Qual é o assunto abordado nessa reportagem? R. As mudanças climáticas ocorridas no Brasil e na Europa..

2. Como é possível perceber, a partir da leitura do texto, que as informações apresentadas foram obtidas junto a um especialista? R. Porque o pesquisador Paulo Artaxo fala no texto, além de ser citado.

3. Na reportagem, a linguagem costuma ser adequada ao padrão de maior prestígio, ela é formal e objetiva. Essas características são encontradas no texto lido? R. Sim, pois a variedade é padrão formal, ou seja, não há gírias no texto ou expressões coloquiais (do dia a dia).

4. Nas últimas décadas, o ser humano vem realizando ações que comprometem ainda mais a qualidade do clima. Dentre as interferências praticadas contra a natureza, quais prejudicam mais as condições climáticas? R. O desmatamento, as queimadas, os poluentes das chaminés das fábricas, a poluição dos rios entre outros

5. As catástrofes climáticas acontecem de forma diferente em quase todas as regiões do planeta. Segundo os cientistas, atualmente existem recursos que permitem prever, com segurança, as mutações climáticas? R. Não, atualmente não  há consenso, porque não há um padrão a ser seguido.

6. Hoje se pode dizer que as previsões meteorológicas que ouvimos no rádio ou acompanhamos na TV tem maior credibilidade, isto é, maior grau de acerto. Como se explica isso, tendo em mente o texto lido? R. Hoje a previsão é de um curto espaço de tempo, mas não há como prever a longo e médio prazo.

7. De acordo com o texto, as últimas catástrofes climáticas aconteceram em função de ações inconsequentes do ser humano? R. De acordo com o texto, o homem adquiriu conhecimento e não há como afirmar se essas mudanças são realmente interferências humanas.

8. Diante de tantas incertezas em relação às  mudanças do clima, os cientistas se mostram cautelosos. Na frase "Enquanto não se sabe qual é a doença, o melhor remédio é não abusar". Por que eles nos aconselham a tratar a natureza com maior respeito, preservando-a de grandes desgastes? R. É necessário agir com prudência para evitar danos maiores no futuro.

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Poema, interpretação e exercícios resolvidos. Lembranças do mundo antigo, Carlos Drummond.

Poema é um texto que explora recursos sonoros, como o ritmo e a rima, além da subjetividade do eu lírico, como os sentimentos, a partir da criação de imagens. É construído em versos que formam uma ou mais estrofes.


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LEMBRANÇA DO MUNDO ANTIGO

Clara passeava no jardim com as crianças.
O céu era verde sobre o gramado,
a água era dourada sob as pontes,
outros elementos eram azuis, róseos, alaranjados,
o guarda-civil sorria, passavam bicicletas,
a menina pisou a relva para pegar um pássaro,
o mundo inteiro, a Alemanha, a China, tudo era
[tranqüilo em redor de Clara.

As crianças olhavam para o céu: não era proibido.
A boca, o nariz, os olhos estavam abertos. Não havia perigo.
Os perigos que Clara temia eram a gripe, o calor, os insetos.
Clara tinha medo de perder o bonde das 11 horas,
esperava cartas que custavam a chegar,
nem sempre podia usar vestido novo. Mas passeava
[no jardim, pela manhã!!!
Havia jardins, havia manhãs naquele tempo!!!

© CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
In: Sentimento do Mundo, 1940 e
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia Completa. São Paulo: Nova Aguilar, 2002


1. Quando esse poema foi publicado, o mundo passava pela Segunda Guerra Mundial. A China, que também participava da guerra, enfrentava há anos uma terrível guerra civil. Na fase de sua carreira em que elaborou esse poema, Drummond construía sua poesia com problemas do mundo e as questões sociais como tema. A partir da leitura do poema, responda: o que estaria sendo criticado nesse poema? R. A violência de um modo em geral e como ela afeta o dia a dia das pessoas.

2. A leitura do texto permite identificar um certo saudosismo do eu lírico. Por que o eu lírico fez um retorno ao mundo antigo? R. Devido à difícil realidade do mundo presente, o eu lírico desejou percorrer de novo as lembranças sem medo de uma época distante.

4. Nos quatro primeiros versos, o eu lírico destacou o colorido que havia na natureza. O que poderia ter causado a alteração desse colorido? R. De forma figurada, a cor sombria da destruição e da morte provocada pela guerra.

5. Nos versos 5 e 6, o eu lírico fala do guarda-civil que sorria e da menina que pisava na relva para pegar um pássaro. O que poderia ter mudado com o tempo em relação a esses elementos? R. A mudança de atitude do guarda civil e da menina está no verso 7, com a menção à Alemanha e à China, que contextualiza os versos no grande medo causado pela Segunda Guerra Mundial.

6. No verso "Os perigos que Clara temia eram a gripe, o calor os insetos" referia-se a determinados perigos de um mundo anterior em que ele vivia. Os perigos a que o eu lírico se refere, no mundo de Clara, poderiam ser o surto da gripe espanhola, que matou muita gente em 1918, o calor tropical, os insetos que transmitiam doenças. Considerando que o poema foi escrito em 1940, no contexto da grande guerra, que perigos o eu lírico poderia ter de enfrenta? R. As repercussões da guerra no Brasil e sua participação efetiva nela, assim como a possível escassez de alimentos, a globalização total da guerra etc.

7. Quais seriam então os perigos do mundo atual? R. A violência, tráfico de drogas, desemprego, mudanças climáticas, guerras, entre outros.

8. Por que Clara tinha medo de perder o bonde das 11h00? R. Porque demoraria muito tempo para passar outro.

9. Por que as cartas demoravam a chegar? R. O Correios seria mais lento na década de 1940.

10. O que indica o fato de que Clara nem sempre podia usar vestido novo? R. Ela não tinha condições de comprar um vestido novo.

11. Hoje já não se veem mais bondes e as longas cartas estão, cada vez mais, sendo substituídas por e-mails. Como o desenvolvimento tecnológico modificou o mundo e as pessoas?  R. Ela trouxe evolução para todas as áreas científicas, porém a custo de muito isolamento das pessoas, ritmo de vida acelerado e aumento na degradação da natureza.

12. No último verso, o que podem representar as manhãs? R. Elas representam a esperança de recomeçar.

Slogan - Texto publicitário com exercícios resolvidos.

O slogan é uma frase feita para ser lembrada facilmente e que faz parte de peças publicitárias.






1. "Põe na Consul". foi um dos principais slogans de uma marca de refrigeradores, utilizado de uma maneira bem-humorada. Por que a frase do slogan é curta? R. É mais fácil de se dizer e de ser lembrada.

2. Observe a imagem das duas propagandas. Como foi usado o slogan na primeira imagem? R. Associação da forma dos alimentos com o slogan.

3. Como foi usado o slogan na segunda frase? R. Associação do slogan com o balançar de descanso da rede na praia.

4. Na segunda propaganda, há a imagem de um homem descansando em uma rede, na praia. O que essa imagem sugere ao consumidor? R. Aquele que possui uma Consul vive em permanente tranquilidade.

5. O slogan pode ser veiculado em anúncios impressos e na televisão e até em campanhas políticas para  auxiliar na divulgação das propostas de governo de um candidato. Qual é o objetivo na criação do slogan? R. É levar o público-alvo a consumir o  produto de uma determinada marca.












segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Conto Uma ideia toda azul, Marina Colasanti com exercícios respondidos.

Conto é uma breve narrativa de fatos imaginários.


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                                                         Uma ideia toda azul

                                                                                                                           Marina Colasanti

Um dia o rei teve uma ideia. Era a primeira da vida toda e, tão maravilhado ficou com aquela ideia azul, que não quis saber de contar aos ministros. Desceu com ela para o jardim, correu com ela nos gramados, brincou com ela de esconder entre outros pensamentos, encontrando-a sempre com alegria, linda ideia dele toda azul.

Brincaram até o rei adormecer encostado numa árvore.

Foi acordar tateando a coroa e procurando a ideia, para perceber o perigo. Sozinha no seu sono, solta e tão bonita, a ideia poderia ter chamado a atenção de alguém. Bastaria esse alguém pegá-la e levá-la. É tão fácil roubar uma ideia! Quem jamais saberia que já tinha dono?

Com a ideia escondida debaixo do manto, o rei voltou para o castelo. Esperou a noite. Quando todos os olhos se fecharam, ele saiu dos seus aposentos, atravessou salões, desceu escadas, subiu degraus, até chegar ao corredor das salas do tempo. Portas fechadas e o silêncio. Que sala escolher?

Diante de cada porta o rei parava, pensava e seguia adiante. Até chegar à sala do sono. Abriu. Na sala acolchoada, os pés do rei afundavam até o tornozelo, o olhar se embaraçava em gases, cortinas e véus pendurados como teias. Sala de quase escuro, sempre igual. O rei deitou a ideia adormecida na cama de marfim, baixou o cortinado, saiu e trancou a porta.

A chave prendeu no pescoço em grossa corrente. E nunca mais mexeu nela.

O tempo correu seus anos. Ideias o rei não teve mais, nem sentiu falta, tão ocupado estava em governar. Envelhecia sem perceber, diante dos educados espelhos reais que mentiam a verdade. Apenas sentia-se mais triste e mais só, sem que nunca mais tivesse tido vontade de brincar nos jardins.

Só os ministros viam a velhice do rei. Quando a cabeça ficou toda branca, disseram-lhe que já podia descansar, e o libertaram do manto.

Posta a coroa sobre a almofada, o rei logo levou a mão à corrente.

Ninguém mais se ocupa de mim – dizia, atravessando salões, descendo escadas a caminho da sala do tempo. Ninguém mais me olha – dizia. Agora, posso buscar minha linda ideia e guardá-la só para mim.

Abriu a porta, levantou o cortinado.

Na cama de marfim, a ideia dormia azul como naquele dia.

Como naquele dia, jovem, tão jovem, uma ideia menina. E linda. Mas o rei não era mais o rei daquele dia. Entre ele e a ideia estava todo o tempo passado lá fora, o tempo todo parado na sala do sono. Seus olhos não viam na ideia a mesma graça. Brincar não queria, nem rir. Que fazer com ela? Nunca mais saberiam estar juntos como naquele dia.

Sentado na beira da cama o rei chorou suas duas últimas lágrimas, as que tinha guardado para a maior tristeza.

Depois, baixou o cortinado e, deixando a ideia adormecida, fechou para sempre a porta.

Moral: ideia não é para ficar adormecida, mas para ser realizada, sob pena de se perder.

(Extraído da obra de mesmo nome, Editora Global)



1. Quais fatos no texto permitem classificá-lo como um conto? R. Os fatos são imaginários.

2. No texto, o narrador conta a história do rei que um dia passou a não ter mais ideias. Por que é importante que as pessoas tenham ideias? R. Para tomar decisões e procurar soluções para os problemas.

3. O rei sentiu-se  feliz porque finalmente teve sua primeira ideia. Temeroso, o rei preferiu esconder sua ideia para que ninguém a roubasse. De que modo se pode roubar uma ideia de outra pessoa? R. Utilizando como se fosse sua, para obter benefícios ou se promover.

4. O rei parecia não confiar em ninguém e imaginou que, por ser tão especial, sua ideia atrairia o interesse de qualquer um. O rei agiu bem ao ocultar a sua ideia? R. O rei deveria ter utilizado a ideia azul para ter uma vida mais feliz.

5. Já envelhecido, o rei finalmente pensou na ideia toda azul que se encontrava adormecida. Por que ele só foi pensar na ideia nesse momento? R. Porque agora tinha tempo para pensar em si mesmo.

Diário, com exercícios resolvidos - O diário de Anne Frank

Diário é um texto em que registramos fotos do nosso cotidiano, nossa ideias, emoções, nossos desejos, desabafos e segredos.

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                                              O DIÁRIO DE ANNE FRANK

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Querida Kitty,

Ontem foi um dia muito tumultuado, e ainda estamos nervosos. Na verdade pode-se perguntar se há ao menos um dia que se passe sem algum tipo de agitação.
A  primeira  sirene  de  alarme  tocou  de  manhã,  enquanto  ainda  estávamos  tomando  o  café,  mas  não ligamos,  porque  só  significava  que  os  aviões  estavam  atravessando  o  litoral.  Tive  uma  dor  de  cabeça  terrível, por  isso  me  deitei  durante  uma  hora  depois  do  desjejum  e  fui  para  o  escritório  por  volta  das  duas.  Às  duas  e meia,  Margot  havia  terminado  seu  trabalho  de  escritório  e  estava  arrumando  as  coisas  quando  as  sirenes recomeçaram a uivar. Por isso, nós duas corremos escada acima. Foi bem na hora, porque cinco minutos depois os canhões trovoavam tão alto que fomos para o corredor. A casa tremia e as bombas continuavam caindo. Eu estava  agarrada  com  minha  sacola  de  fuga,  mais  por  querer  segurar  alguma  coisa  do  que  porque  queria fugir.
Sei que não podemos sair daqui, mas, se tivermos de fazer isso, nos avistarem na rua seria tão perigoso quanto sermos apanhado num ataque aéreo. Depois de meia hora, o ruído dos motores desapareceu e a casa recomeçou a  zumbir  de  atividade.  Peter  saiu  de  seu  posto  de  vigia  no  sótão  da  frente,  Dussed continuou  no  escritório  da frente, a Sra. Van Daan sentia-se mais segura no escritório particular, o Sr. Van Daan ficou vigiando no sótão pequeno,  e  nós,  que  estávamos  no  patamar,  nos  espalhamos  para  ver  as  colunas  de  fumaça  subindo  do  porto.
Em pouco tempo o cheiro da fumaça estava em toda parte, e lá fora parecia que a cidade permanecia envolvida numa névoa espessa.
Um  grande incêndio assim  não  é  uma  visão  agradável,  mas  felizmente,  para  nós,  o  bombardeio  havia terminado, e voltamos às nossas tarefas. Assim que começamos a jantar, soou
outro alarme antiaéreo. A comida estava  boa,  mas  perdi  o  apetite  no  momento  em  que  ouvi  a  sirene.  Mas  nada  aconteceu,  e  45  minutos  depois  ouvimos o toque dizendo que o perigo passara. Depois de os pratos serem lavados, outro alarme antiaéreo, tipos de  canhão  e enxames  de  aviões.  Ah,  meu  Deus,  duas  vezes  num  dia,  pensamos.  Isso  é  demais.  De  pouco adiantou,  porque  mais  uma  vez  as  bombas  chocaram,  dessa  vez  do  outro  lado  da  cidade.  De  acordo  com  os
noticiários ingleses,  o  aeroporto  Schiphol  fora  bombardeado.  Os  aviões  mergulhavam  e  subiam,  o  ar  zumbia com o barulho dos motores. Foi muito assustador, e o tempo todo eu ficava pensando: “Lá vem ela, é essa.”
Posso garantir que, quando fui para a cama às nove horas, minhas pernas ainda tremiam. Quando bateu a meia-noite,  acordei  de  novo:  mais  aviões!  Dussel  estava  se  despindo,  mas  não  liguei  e  pulei  fora,  totalmente acordada, ao som da primeira explosão. Fiquei na cama de papai até as duas horas. Mas os aviões continuavam chegando. Por fim, eles pararam de disparar e pude voltar de novo para “casa”. Finalmente caí no sono às duas e meia.
Sete  horas.  Acordei num  susto  e  me  sentei  na  cama.  O  Sr.  Van  Daan  estava  com  papai.  Meu  primeiro pensamento foi: ladrões.
- Tudo – ouvi o Sr. Van Daan dizer, e pensei que tudo fora roubado. Mas não, dessa vez eram notícias
maravilhosas,  as  melhores  que  tínhamos  em  meses,  talvez  desde  que  a  guerra  havia  começado.  Mussolini renunciara e o rei da Itália assumira o governo.
Pulamos  de  alegria.  Depois  dos acontecimentos horríveis  de  ontem, finalmente  alguma  coisa  boa acontece e nos traz...esperanças! Esperança de um fim para a guerra, esperança de paz.
O Sr. Kugler apareceu e disse que a fábrica de armamento antiaéreo Fokker fora seriamente danificada.
Enquanto  isso,  houve  do  outro  lado  alarme  antiaéreo  esta  manhã,  com  aviões  passando  lá  em  cima  e  outra sirene tocando. Eu já estava farta de alarmes. Mal tinha dormido, e a última coisa que queria fazer era trabalhar.
Mas agora o suspense sobre a  Itália e  a esperança de que a  guerra termine no fim do ano estão nos mantendo acordados...

Sua Anne
.
FRANK, Anne. O diário de Anne Frank. Rio de Janeiro.


1. O diário relata acontecimentos e descreve impressões experimentadas por um narrador em 1ª  pessoa que o escreve; pode dirigir-se a um interlocutor, geralmente o próprio diário, que às vezes aparece personificado ou animizado, como a Kitty do diário de Anne Frank. Identifique os elementos que estão destacados com letras em negrito. R. A data, a saudação e a assinatura.

2. Anne Frank escreveu seu diário entre 12 de junho de 1942 e 1º de agosto de 1944. Tinha apenas 15 anos quando escreveu a última página de seu diário. O texto registra a data de 26 de julho de 1943. No período em que Anne escrevia seu diário, ocorria a Segunda Guerra Mundial. Que detalhes no texto permitem concluir que era essa a guerra que estava ocorrendo? R. Eles se escondem, os constantes bombardeios, avisos de sirene, a renúncia de Mussolini.

3. A perseguição aos judeus obrigou Anne Frank, sua família e outras pessoas a se esconderem para não serem levados aos campos de concentração. Isolada, Anne fazia do diário uma espécie de confidente. Qual detalhe permite perceber essa personificação? R. Ao chamar o diário de Kitty e perceber como algum amigo.

4. Uma guerra traz mudanças radicais à vida das pessoas. Quais situações incomuns narradas nesses texto indicam a ocorrência de uma guerra? R. As pessoas viviam com muito medo, havia toque de sirenes para avisar sobre os bombardeios e tudo era interrompido até passar a ameaça.

5. Por que ela usa o verbo zumbir na frase "[...] a casa recomeçou a zumbir de atividade"? R. Faz lembrar o som das abelhas, tida como animais muito trabalhadores.

6. Por que o dia anterior à narrativa do diário tinha deixado as pessoas tão tensas, já que elas estavam habituadas aos sucessivos ataques aéreos? R. Porque em um só dia haviam ocorridos vários ataques aéreos.

7. O que significa a frase "Lá vem ela, é essa", escrita por Anne Frank? R. Anne temia que fosse uma das bombas que poderia atingir o abrigo.

8. Por que a autora do texto usou  o verbo chover em vez de cair na frase "[...] mais uma vez as bombas choveram [...]"? R. Porque as bombas eram muito numerosas e pareciam gotas de chuva.

domingo, 24 de dezembro de 2017

Texto Musical - Canção com exercícios resolvidos. Música: Eduardo e Mônica.

O gênero canção é uma combinação de dois tipos de linguagem: a verbal e a não verbal (linguagem mista). Pode ser considerada um tipo de fala em que a entonação (ou modificação de voz) não depende apenas de quem fala, mas também da melodia (ou frase musical). As canções podem ser representadas em partituras que registram letra e melodia, mantendo o padrão da linguagem mista, e que podem ser distribuídas em folhetos que acompanham CDs ou outras publicações.


https://www.comportese.com/wp-content/uploads/2016/01/Quem-um-dia.png
Eduardo e Mônica

 Quem um dia irá dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Que não existe razão?
Eduardo abriu os olhos, mas não quis se levantar
Ficou deitado e viu que horas eram
Enquanto Mônica tomava um conhaque
No outro canto da cidade, como eles disseram
Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer
Um carinha do cursinho do Eduardo que disse
"Tem uma festa legal, e a gente quer se divertir"
Festa estranha, com gente esquisita
"Eu não tô legal", não agüento mais birita"
E a Mônica riu, e quis saber um pouco mais
Sobre o boyzinho que tentava impressionar
E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa
"É quase duas, eu vou me ferrar"
Eduardo e Mônica trocaram telefone
Depois telefonaram e decidiram se encontrar
O Eduardo sugeriu uma lanchonete
Mas a Mônica queria ver o filme do Godard
Se encontraram então no parque da cidade
A Mônica de moto e o Eduardo de "camelo"
O Eduardo achou estranho, e melhor não comentar
Mas a menina tinha tinta no cabelo
Eduardo e Mônica eram nada parecidos
Ela era de Leão e ele tinha dezesseis
Ela fazia Medicina e falava alemão
E ele ainda nas aulinhas de inglês
Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus
Van Gogh e dos Mutantes, de Caetano e de Rimbaud
E o Eduardo gostava de novela
E jogava futebol-de-botão com seu avô
Ela falava coisas sobre o Planalto Central
Também magia e meditação
E o Eduardo ainda tava no esquema
Escola, cinema, clube, televisão
E mesmo com tudo diferente, veio mesmo, de repente
Uma vontade de se ver
E os dois se encontravam todo dia
E a vontade crescia, como tinha de ser
Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia
Teatro, artesanato, e foram viajar
A Mônica explicava pro Eduardo
Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar
Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer
E decidiu trabalhar (não!)
E ela se formou no mesmo mês
Que ele passou no vestibular
E os dois comemoraram juntos
E também brigaram juntos, muitas vezes depois
E todo mundo diz que ele completa ela
E vice-versa, que nem feijão com arroz
Construíram uma casa há uns dois anos atrás
Mais ou menos quando os gêmeos vieram
Batalharam grana, seguraram legal
A barra mais pesada que tiveram
Eduardo e Mônica voltaram pra Brasília
E a nossa amizade dá saudade no verão
Só que nessas férias, não vão viajar
Porque o filhinho do Eduardo tá de recuperação
E quem um dia irá dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Que não existe razão


1. Na primeira estrofe do texto há um questionamento sobre como as pessoas reagem diante do amor. A que 'coisas feitas pelo coração' o eu lírico se refere? R. Aos sentimentos e as emoções despertados em nós independente de nossa vontade ou razão.

2. É possível entender as questões do coração? R. O eu lírico joga o questionamento para o público, além disso ele prefere contar a história de Eduardo e Mônica, ao invés de definir uma razão para a existência.

3. Na segunda estrofe, são apresentados os dois personagens do texto: Eduardo e Mônica. O que o comportamento deles nos permite concluir? R. O contraste dos modos de ser e viver desse casal.

4. Eduardo e Mônica se conheceram casualmente. Como Eduardo foi parar na mesma festa de Mônica? R. Foi convidado por um amigo do cursinho.

5. Apesar de não ter afinidades, o casal continuou com os encontros, que se tornaram casa vez mais constantes. Haveria alguma razão que justificasse o envolvimento entre Eduardo e Mônica? R. Os dois se completavam.

6. Na penúltima estrofe o autor esclarece o motivo pelo qual Eduardo e Mônica ficarão sem férias naquele verão. Qual é o efeito que é construído pela menção de 'filhinho de Eduardo' e não de 'Eduardo e Mônica'? R. Pela característica de também não gostar de estudar.

Entrevista, com exercícios resolvidos.

Entrevista é um gênero textual cujo objetivo é obter opiniões de uma pessoa a respeito de sua vida ou de determinado assunto. O entrevistado, quase sempre, é alguém de relevância no mundo artístico, cultural, político, empresarial etc. ou um especialista em determinada área.


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                                                          O que falta é afeto

Psicóloga diz que educar dá trabalho e que os pais fazem mal aos filhos com punições sem lógica e às vezes até cruéis


                                                                                                                                  Daniela Pinheiro

A maioria dos pais se martiriza com questionamentos intermináveis sobre como criar os filhos. Por mais que evitem, estão sempre esquadrinhando seu comportamento. Estariam sendo muito duros? Muito permissivos? Muito autoritários? Como agir em determinada situação? Para a psicóloga Lidia Weber, de 46 anos, o tema é uma fonte inesgotável de indagações das quais já se consolidaram, felizmente, algumas certezas. Autora de seis livros sobre relações intrafamiliares, coordenadora de um programa de dinâmica familiar na Universidade Federal do Paraná, ela costuma aconselhar seus alunos e os pais que a procuram da seguinte maneira: "Siga sua consciência, obedeça a seus valores". É essa a maneira de educar. Para ela, o sucesso na criação passa pelo fortalecimento da auto-estima das crianças. E isso se faz, ao contrário do que diz o senso comum, mais com elogios do que com punições. "Muitos pais não sabem elogiar. Têm vergonha", diz. Casada, mãe de três filhos entre 10 e 16 anos, Lidia – que nunca apanhou dos pais e nunca bateu nos filhos – é uma entusiasta do castigo e uma inimiga da palmada, que ela considera dispensável mesmo nas situações de limites.

Veja – Por que os pais parecem tão assustados com a tarefa de educar os filhos?

Lidia – Acho que há duas razões principais. Primeiro, pela realidade mesmo. Somos todo o tempo bombardeados com notícias sobre violência. Isso dá muito medo. Outra razão eu acho que se deve ao que chamo de quebra da solidariedade entre os adultos. Antes, tínhamos a sensação – e era verdade – de que poderíamos contar com outras pessoas para cuidar do bem-estar de nossos filhos. Os vizinhos, os parentes, os professores faziam parte dessa rede de segurança. Hoje isso não existe mais. É cada um por si. O perigo pode morar ao lado. Esse medo do "outro" é a expressão mais tangível da paranoia dos pais.

Veja – Qual a melhor maneira de os pais lidarem com esses medos?

Lidia – Acho fundamental a retomada da rede de segurança. Contar com os avós, com amigos próximos. Voltar a aprender a confiar. Isso conforta e dá segurança. Os pais também têm de se focar. Gasta-se muito tempo com preocupações menores. Se o filho não comeu verdura, se o outro deixou os tênis espalhados pelo quarto, se a filha saiu sem casaco, e por aí vai. Isso não quer dizer nada. Só provoca angústia e insegurança nos pais e nos filhos. Antes de fazer tantas ressalvas, questione-se: "Isso realmente é crucial?" ou "Que lição meu filho vai levar disso?". Às vezes, a obsessão com a segurança pode ser mais danosa que os próprios riscos.

Veja – Livros de autoajuda ou de como criar os filhos vendem como nunca. Eles são úteis?

Lidia – Depende. A maioria dos pais ignora a fase de desenvolvimento dos filhos. Se soubessem como são os comportamentos típicos de cada idade, educar ficaria mais fácil. Por exemplo: é normal um menino de 6 anos querer comer com a mão. É normal chegar à adolescência e, durante uma briga, dizer que odeia os pais. Ciente disso, fica mais fácil gerenciar, lidar com essas questões. Ao contrário, tudo pode se tornar um drama. A mãe pensa: "Ah, vou deixar minha filha fazer o que ela quiser, porque eu não aguento ouvir isso". Os livros são úteis para isso. Para informar como é uma criança, um adolescente. Mas livros que falam como fazer seu filho ficar rico ou virar um gênio não podem ser levados a sério.

Veja – Por quê?

Lidia – Porque não existe um padrão, um modelo em que se possa enquadrar todo mundo. Esses livros servem para aliviar a culpa de alguns pais. Eles acham que lendo um manual vão aprender a ser perfeitos. Os pais sentem muita culpa porque passam muito tempo longe dos filhos. Mas é uma realidade hoje. É preciso ter noção de que seu filho não vai virar um desajustado porque não está 24 horas a seu lado. Nem ele nem os amiguinhos ficam tanto com os pais. Dito assim, parece óbvio, mas os pais devem educar os filhos de acordo com seus valores pessoais, não pelo valor dos autores de livros. Têm de entender que só eles são capazes de tomar decisões e passar valores para suas crianças.

Veja – A senhora costuma dizer que não há pais permissivos, há pais negligentes e com pouco afeto. Por quê?

Lidia – Fizemos várias pesquisas na Universidade Federal do Paraná com cerca de 1 500 crianças de escolas públicas e particulares. Hoje, tem-se a impressão de que a maioria dos pais é tolerante demais. Descobrimos o contrário. Há muito pouco afeto em jogo.

Veja – Qual o maior dilema dos pais?

Lidia – Sem dúvida, é a questão de bater ou não bater. Porque a maioria apanhou, e quem apanhou acha normal bater. A outra dificuldade é sobre questões cotidianas, que a gente chama de supervisão inadequada, excessiva. Os pais estão estressados, têm pouca paciência. É muito mais eficiente dizer: "Olhe, eu vou chamar você uma vez para almoçar. Se não vier agora, só vai comer na próxima refeição".

Veja – A senhora coloca a palmadinha de leve no mesmo patamar de uma surra? Não é exagero?

Lidia – O princípio é o mesmo: eu uso o poder e a força para obrigar você a parar de fazer alguma coisa. Em 99% dos casos a palmada é usada quando os pais estão com raiva. Isso aumenta o risco de a punição se transformar em maus-tratos porque você está descontrolado. O único resultado positivo da palmada é que a criança pára de perturbar na hora. E esse é um dos aspectos perversos do tapa: por ter efeito imediato, os pais o utilizam com muito mais facilidade e freqüência. Há um estudo da professora Elizabeth Gershoff, da Universidade Columbia, provando o mal da palmada a longo prazo. Há dez aspectos negativos observados para cada um positivo. Mulheres que apanharam dos pais na infância costumam encarar com mais naturalidade a violência do marido, por exemplo. Há uma ligação estreita com o aumento de agressividade, de comportamento delinquente e antissocial.

Veja – Estamos falando de uma palmadinha...

Lidia – Ainda assim. No estudo de Gershoff é feita essa diferença. São várias análises que levam em conta o que se chama de punição normativa e o abuso físico de fato. Então, alguém pode dizer: "Eu apanhei dos meus pais e não sou antissocial". Tudo bem. Mas isso não prova muita coisa. A pesquisa é mais esclarecedora nesses casos porque reflete o que ocorre com a maioria das pessoas. É claro que, se você leva um tapinha mas é estimulado em casa a ter uma boa autoestima, não vai virar um marginal. Se os pais forem muito competentes e usam uma palmadinha de vez em quando, isso não causa prejuízo. Mas eu pergunto: se são tão competentes, por que precisam bater?

Veja – E o castigo?

Lidia – O castigo é muito eficiente. A retirada de privilégios é uma consequência lógica: "Você chegou às 11 da noite, era para chegar às 10, então da próxima vez vai chegar às 9". O filho precisa de regras, pois a vida adulta é cheia delas. Com adolescente, saber negociar também é vital. Outro dia, minha filha foi advertida na escola porque não fez a tarefa. Ela mesma veio até mim e disse: "Então, vamos ver o castigo que eu posso ter. Vai ter a festa da fulana, então eu não vou à festa". Causa e consequência. Isso vem de berço. É uma doutrina que se ensina desde pequeno.

Veja – Qual o grande erro dos pais na hora de castigar?

Lidia – É quando não conseguem estabelecer regras coerentes de acordo com a idade, e consistentes de acordo com sua conduta. Você não pode dar um castigo conforme o seu humor. Por exemplo, aquela mãe que, depois que uma criança aprontou algo, começa a berrar: "Vai ficar um mês sem usar a internet!" ou "Vai ficar uma semana sem sair de casa!". É quase impossível manter isso. Então, só imponha castigos que você pode cumprir. Do contrário, seu filho vai perder a confiança e o respeito por você.

Veja – Há técnicas eficientes de castigo para cada idade?

Lidia – Com crianças menores, há técnicas eficientes como otime out. É o famoso ficar no quarto trancado ou sentado sem levantar ou falar por alguns minutos. É preciso ter muito controle porque a criança pode chorar e berrar e você tem de se manter firme. Crianças nessa idade querem muita atenção. É nesses poucos minutos que elas vão sentir a pena. Calcule um minuto por ano. Três anos, três minutos de castigo. O que conta é que haja consequências imediatas.

Veja – E se você está no shopping com seu filho de 6 anos, ele se joga no chão, começa a berrar feito louco porque quer um tênis de 300 reais? Como falar "Vamos conversar, meu filho" com o menino dando um escândalo?

Lidia – Você não vai falar isso na hora. Até porque vai estar com raiva também. Segure-o pelo braço e leve-o embora dali. Quando ele se acalmar, mostre as consequências da má atitude dele. Criança não nasce chata. Ela fica chata por causa dos pais. Se a criança faz birra e os pais cedem para se ver livres do escândalo, eles estão recompensando esse comportamento. Aí vira aquela criança insuportável, da qual os pais mesmos vão se afastar e dizer: "O gênio dela é ruim". Não existe isso.

Veja – Os pais têm preguiça de ensinar?

Lidia – Eles têm de argumentar, o que é mais complicado. Dá muito mais trabalho do que simplesmente dizer não. Se seu filho quer um tênis de 300 reais "porque todos os amigos têm" e você não vai comprar, explique as razões. Diga que não é com um tênis que ele vai se tornar alguma coisa ou que é contra seus princípios pagar tão caro por um sapato ou simplesmente que você não tem o dinheiro. Mas diga o motivo sincero. Você não pode sair de lá e cinco minutos depois comprar uma bolsa de 500 reais para você.

Veja – Como convencer pais que trabalharam o dia todo, brigaram com o chefe, passam por uma crise no casamento a chegar em casa e ter ânimo de argumentar com as crianças?

Lidia – Educação é trabalho. Se você tem um relatório para entregar para seu chefe no dia seguinte, você vai virar a noite, mas vai escrevê-lo. Se está com TPM mas tem uma reunião decisiva, você toma um comprimido e vai. Por que muitas pessoas não têm esse empenho quando se trata de educar suas crianças? É o que chamamos de "investimento parental". Tem de investir, tem de fazer um esforço, tem de dar a real importância a esse tempo com os filhos. Mas, se você não conseguir um dia ou outro, também não é o fim do mundo.

Veja – E se os pais nunca fizeram isso? É possível mudar o comportamento depois de muitos anos?

Lidia – Há uma técnica que chamamos de quadrinho de recompensas, em que você foca nas coisas positivas feitas pela criança. É muito eficiente se usada depois dos 4 anos. Liste todas as tarefas que você considera positivas. Pode colocar até arrumar a cama, escovar os dentes, comer tudo. Quando a criança fizer isso, ela mesma vai até o quadrinho e se dá uma estrela. Quando um pai permissivo resolve mudar de atitude, a criança piora o comportamento no primeiro momento. Ela vai tentar obter a atenção com as armas que usava antes. Se fazia birra, vai fazer ainda mais. Então, tem-se de aguentar esse começo.

Veja – Existe um caminho de como fazer de seu filho um adulto feliz?

Lidia – Fortalecer a autoestima. É surpreendente, mas a maioria dos pais tem dificuldade de elogiar seu filhos. Eles temem parecer falsos. Mas é preciso insistir até conseguir. Se dois irmãos estão brincando e eles costumam brigar, em vez de dizer "Até que enfim, vocês estão brincando", diga: "Que bom, vocês estão brincando juntos". Sem sarcasmo, sem provocação. Os pais devem sempre mostrar que o amor deles pelos filhos é incondicional. Aquela coisa de dizer: "Ah, se você não comer tudo não vou mais gostar de você" mina a autoestima da criança de um jeito quase irreversível. A criança tem de contar com o seu amor, mesmo que ela faça algo errado.

Veja – Como fazer com que seu filho confie em você?

Lidia – Ouça, não julgue. Não avalie seu filho pelos seus padrões. Se sua filha vier lhe contar que "ficou" com dois meninos numa festa, não faça escândalo. O mundo mudou. Hoje isso é plenamente aceitável. Se você brigar, ela nunca mais lhe contará nada. Mas, se ela contar que transou com dois, aí é outra coisa. Seu papel é explicar que isso não é aceitável. Exponha as causas e as consequências de tal atitude, mas sem puni-la. Ensine desde a tenra idade seu filho a falar sobre si próprio.

Veja – O que é fundamental na relação entre pais e filhos?

Lidia – Afeto, envolvimento, participação, saber quem são os amigos. É preciso monitorar. Não é ligar para o celular da criança ou adolescente a cada dez minutos. É mostrar que você se importa, que participa da vida deles, mesmo que, num primeiro momento, isso pareça intromissão. Não tenha dúvida: no futuro, eles agradecerão.


 1. Logo após o título da entrevista, é apresentado um texto em destaque (o olho). O que contém esse texto? R. Um resumo da entrevista.

2. Após o olho, é apresentado um parágrafo. O que contém esse parágrafo? R. Contém informações a respeito da entrevistada e suas opiniões; uma pequena biografia da entrevistada.

3. Toda entrevista é organizada para ser lida por determinado público. Que pessoas poderiam se interessar por essa entrevista? R. Pais e educadores.

4. Qual é o objetivo desse entrevista, uma vez que a entrevistada é especialista em relacionamento familiar? R. Saber o que ela pensa sobre o assunto de educação de crianças e adolescentes e chamar a atenção  de pais e adultos.

5. A psicóloga Lídia Weber mostra-se contra a aplicação de palmadas e acata o castigo. O que se pode deduzir quanto a diferença que ela atribui a esse dois procedimentos? R. A palmada é uma agressão física, que pode levar a problemas na idade adulta; enquanto que o castigo é uma correção com finalidade educativa.

Conto com exercícios respondidos - Gênero Textual.

Conto: é uma narrativa literária curta. Seu enredo é condensado, há poucas personagens, que vivem os fatos num único lugar (ou em poucos lugares) e, na maioria das vezes, num curto espaço de tempo. O enredo é dinâmico, conciso e gira em torno de um único conflito.


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O irmão imaginário

Moacyr Scliar

Até os nove anos, Paulinho foi filho único. Filho único e muito amado. Os pais não eram ricos - o pai era mecânico, a mãe trabalhava como caixa num supermercado -, mas cuidavam do menino com o maior carinho; colocaram-no numa boa escola, compravam-lhe roupas, brinquedos, livros. Era como se quisessem indenizá-lo pelo fato de ser filho único.
Paulinho não sabia porque os pais não haviam lhe dado um irmão ou uma irmã. Algum problema havia; muitas vezes surpreendia os dois sentados lado a lado na sala, muito tristes, a mãe frequentemente com os olhos vermelhos de choro. Nas poucas vezes que perguntou a respeito, recebeu respostas evasivas; logo se deu conta de que aquele era um assunto difícil, sobre o qual não poderia falar.
Mas a verdade é que, mesmo tendo amigos - e ele tinha muitos amigos na vizinhança - Paulinho sentia-se só. Precisava de companhia. Precisava de um irmão com quem pudesse partilhar suas dúvidas, suas aflições, seus sonhos também.
Acabou por criar um irmão imaginário.
Chamava-se Joel. Porque escolhera esse nome, não saberia dizer; ocorrera-lhe de repente, e pronto, Joel passara a existir. Mas não morava na casa, junto com a família; com tábuas e lona, Paulinho construiu para ele uma cabana, no fundo do pátio. Era uma cabana pequena, mas servia bem: como Paulinho, Joel era pequeno e magro. Na verdade os dois eram idênticos, quase como se fossem gêmeos.
Todos os dias Paulinho visitava Joel. Entrava na cabana escura e ali ficava, sentado ao lado do irmão imaginário. Falava horas; contava coisas sobre os pais, sobre os amigos, sobre a escola... Era um monólogo, porque Joel nunca respondia. Não era preciso; tudo o que Paulinho queria do irmão imaginário era que ele o ouvisse. E tinha certeza de que Joel era um ouvinte atento, como um verdadeiro irmão deve ser. Atento e inspirador: Paulinho fazia-lhe uma pergunta - e de imediato a resposta lhe ocorria. E era sempre a resposta certa, a resposta confortadora.
Vários anos se passaram assim. Anos felizes, mas com momentos de apreensão. Cada vez que caía um temporal, por exemplo, Paulinho entrava em pânico: como estaria o Joel em sua cabana? Não estaria assustado, molhado de chuva? Não foi uma nem duas noite que correu para o fundo do pátio, debaixo do aguaceiro, para se certificar de que estava tudo bem, que a cabana continuava no lugar.
Os pais não desconfiavam de nada. Achavam que a cabana era um lugar de brinquedo do filho, só isso. Paulinho nunca lhes falou do irmão imaginário; era um segredo dele, não podia ser partilhado.
Mas então um dia aconteceu. Poucos dias antes de Paulinho completar dez anos, os pais o chamaram. Vacilando muito, o pai lhe disse que, durante todos aqueles anos, eles tinham tentado dar ao filho um irmão ou uma irmã, mas por vários problemas não o haviam conseguido. Agora, porém, tinham chegado a uma decisão: Paulinho ganharia, sim, um irmão. Adotivo.
-Até pensamos num nome - disse a mãe, emocionada. - Um nome do qual sempre gostamos. Mas caberá a você decidir. O que você acha de chamarmos seu irmãozinho de Joel?
Os olhos cheios de lágrimas, Paulinho fez que sim com a cabeça. Mais tarde, foi até a cabana. Entrou, contou o que havia sucedido ao irmão imaginário. Que, como de costume, nada disse. Mas quando Paulinho estava saindo, ouviu uma voz sussurrando baixinho:
-Seja feliz, Paulinho, com seu irmão.
E nesse momento ele teve a certeza de que seria feliz, muito feliz, com o irmão Joel.


1. Na literatura, flashback é a interrupção da sequência cronológica para introdução de fatos ocorridos anteriormente. Em quais  parágrafos do texto lido ocorre flashback? R. Do 2º ao 9º parágrafos.

2. Nem todos gostam de ser filho único. Paulinho, por exemplo, não gostava. Por que Paulinho era filho único e quais eram as consequências desse fato? R. Os pais não conseguiam ter outro filho, resultando em tristeza para eles; além da solidão de Paulinho, daí ele criou um irmão imaginário.

3.  Paulinho tinha bons amigos, mas esse relacionamento não lhe era suficiente. O que o menino buscava na figura de Joel, o irmão imaginário? R. Um confidente e amigo, com quem conversaria livremente, contando seus segredos, problemas e alegrias.

4. Após vários anos, os pais de Paulinho decidiram adotar um menino. Por que a emoção de Paulinho foi tão intensa, nesse momento? R. O grande sonho de ter um irmão se tornaria realidade.

Artigo de opinião com exercícios respondidos - Gênero Textual.

Artigo do opinião é um texto argumentativo publicado em jornais ou revistas. O autor apresenta seu ponto de vista sobre determinado tema e o defende com argumentos. Para articular as ideias, usam-se operadores argumentativos, ou conectivos (contudo, além disso, portanto entre outros).


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                                               Queremos a infância para nós

O mundo anda bem atrapalhado: de um lado, temos crianças que se comportam, se vestem, falam e são tratadas como adultos. Do outro, adultos que se comportam, se vestem, falam e são tratados como crianças. Pelo jeito, infância e vida adulta têm hoje pouco a ver com idade cronológica.

Não é preciso muito para observar sinais dessa troca: basta olhar as pessoas no espaço público. É corriqueiro vermos meninas vestidas com roupas de adultos, inclusive sensuais: blusas e saias curtas, calças apertadas, meia-calça e sapatos de salto. E pensar que elas precisam é de roupa folgada para deixar o corpo explodir em movimentos que devem ser experimentados... Mas sempre há um traço que trai a idade: um brinquedo pendurado, um exagero de enfeites, um excesso de maquiagem etc.

Se olharmos as adultas, vestidas com o mesmo tipo de roupa das meninas descritas acima, vemos também brinquedos, carregados como enfeites ou amuletos: nos chaveiros, nas bolsas, nos telefones celulares, nos carros. Isso sem falar nas mesas de trabalho, enfeitadas com ícones do mundo infantil.
Criança pequena adora ter amigo imaginário, mas essa maravilhosa possibilidade tem sido destruída, pouco a pouco, pelo massacre da realidade do mundo adulto, que tem colaborado muito para desfazer a fantasia e o faz-de-conta. Mas os legítimos representantes desse mundo, por sua vez, não hesitam em ter o seu. Ultimamente, ele tem sido comum e ganhou o nome de deus. Não me refiro ao Deus das religiões e alvo da fé. A idéia de deus foi privatizada, e cada um tem o seu, à sua imagem e semelhança, mesmo sem professar religião nenhuma. O amigo imaginário dos adultos chamado de deus é aquele com quem eles conversam animadamente, a quem chamam nos momentos de estresse, a quem recorrem sempre que enfrentam dificuldades, precisam tomar uma decisão ou anseiam por algo e, principalmente, para contornar a solidão. Nada como ter um amigo invisível, já que ele não exige lealdade, dedicação nem cobra nada, não é?

E o que dizer, então, das brincadeiras infantis que muitos adultos são obrigados a enfrentar quando fazem cursos, freqüentam seminários ou assistem a aulas? É um tal de assoprar bexigas, abraçar quem está ao lado, acender fósforo para expressar uma idéia, carregar uma pedra para ter a palavra no grupo, escolher um bicho como imagem de identificação, usar canetas coloridas para fazer trabalhos etc.

Mas, se existe uma manifestação comum a crianças e adultos para expressar alegria, contentamento, comemoração e afins, ela tem sido o grito. Que as crianças gritem porque ainda não descobriram outras maneiras de expressar emoções, dá para entender. Aliás, é bom lembrar que os educadores não têm colaborado para que elas aprendam a desenvolver outros tipos de expressão. Mas os adultos gritarem desesperada e estridentemente para manifestar emoção é constrangedor. Com tamanha confusão, fica a impressão de que roubamos a infância das crianças porque a queremos para nós, não?

ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)


1. O texto argumentativo tem por objetivo expor uma opinião a respeito de determinado tema e defendê-la com argumentos. Qual é a opinião exposta pela autora? R. As crianças tem comportamento de adultos e os adultos de crianças, além de ser contra isso.

2.Um texto como esse, publicado em revistas ou jornais e assinado por alguém que defende sua opinião sobre um tema, é chamado de artigo opinativo, artigo de opinião, ou simplesmente artigo. Um artigo de  opinião em geral apresenta 3  partes: introdução, desenvolvimento e conclusão. A introdução, que costuma vir no primeiro parágrafo, normalmente apresenta o tema a ser discutido. Qual é o tema desse artigo de opinião? R. A relação entre infância e a vida adulta nos dias de hoje.

3. O desenvolvimento representa a maior parte do artigo:em geral, começa no segundo parágrafo e estende-se até o penúltimo. No desenvolvimento, os autores apresentam argumentos que justificam seu ponto de vista, ou seja, explicam por que pensam daquela maneira. Uma das formas de argumentar é apresentar exemplos. No segundo e terceiros parágrafos, Sayão explica por que acha que as crianças estão se comportando como adultos, e os adultos como crianças. Quais são os argumentos apresentados para embasar sua opinião? R. As crianças hoje estão usando roupas e acessórios de adultos; enquanto que adultos estão usando acessórios de crianças.

4. Há varias maneiras de se escrever a conclusão de um artigo de opinião. É possível resumir tudo o que foi dito; apresentar um argumento mais forte para terminar de convencer o leitor; deixar uma sugestão de reflexão; propor uma ação concreta para a solução do problema, etc. Qual (is) desse (s) recurso (s) Rosely Sayão usou para concluir seu artigo? R. Ela apresentou um argumento mais forte que os outros e uma sugestão de reflexão para o leitor.

Discurso direto e Discurso indireto: com interpretação de texto.

Numa narrativa, chama-se diálogo a conversação entre dois ou mais personagens. O diálogo pode ser apresentado na forma de discurso direto ou indireto.
Discurso direto é aquele em que a fala da personagem é transcrita tal como dita.
Discurso indireto é aquela em que o narrador conta o que a personagem disse.



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 Vida em família

 [...]
Julinho provoca o pai que mal desviou o olhar do prato à sua chegada.
A provocação dissimulada era uma das táticas preferidas de guerrilha familiar no confronto não-declarado com Alberto, em constante desacordo sobre sua forma de viver e pensar o mundo.
O garoto permanecia ali, imóvel, expondo-se como um manequim de vitrine e nem Vera nem Alberto percebiam seus pés descalços.
Entre dentadas e comentários tão triviais quanto o repasto, a mãe anunciou uma surpresa, mas antes que pudesse dizê-la, o filho agitou os dedos do pé, acenando para sua desatenção.
— Você está sem sapatos, filho! Que houve?
Julinho esboçou um sorriso sarcástico, agradecendo enfim pela observação, fixou o polegar esquerdo na palma da mão direita e girou os dedos
no clássico gesto que significa “roubo”. Vera pulou da cadeira:
— Meu Deus! Você foi assaltado!
— De novo? — reagiu o pai, largando o osso e chupando os dedos.
— Foi agora? Como? Onde? Fala! Diz!
— O pivete me abordou ali na ciclovia da Lagoa e com uma faca nas mãos mandou que eu tirasse o tênis.
— Tênis? Aquele tênis que eu trouxe dos Estados Unidos mês passado?
– assombrou-se o pai. — Que custou uma fortuna...?
O garoto concordou com a cabeça, sem dizer palavra, sem alargar os gestos, represando emoção. Era o terceiro assalto que sofria e, para quem
acabara de ver o brilho de uma lâmina espetando-lhe as costelas, demonstrava uma tranquilidade irritante. Talvez por entender que os assaltos são parte da rotina
da vida. Talvez por desconhecer o preço de um tênis Platinum, de série limitada.
Julinho tornava-se espectador da sua própria cena. Enquanto os pais discutiam o melhor comportamento a seguir diante de um assaltante empunhando
uma arma branca, ele revia seu algoz na telinha da imaginação. Uma visão parcial, encoberta pelas sombras da noite que não lhe permitiam distinguir outros traços
além dos olhos verdes e a cara de lua cheia. O garoto já o percebera antes, no mesmo local, sempre sozinho, a olhar o céu, distraído demais para infundir
temor aos passantes. Desta vez, o mulato alto e magro como Julinho fazia-se acompanhar por um bando de meninos maltrapilhos que, bem mais baixos,
lembravam jogadores de um time infantil à volta de um treinador adulto. O garoto surpreendeu-se com a abordagem, é fato, mas muito mais com o comportamento
do assaltante que parecia ensinar aos pirralhos o modo correto de praticar um assalto.
— E vai ficar por isso mesmo? — a voz de Alberto adquiriu um tom de afronta.
Julinho respondeu com um leve movimento de ombros, murmurando por entre os dentes: “Deixa pra lá, pai”. Foi o que faltava para Alberto pôr sua raiva em movimento:
— Deixa pra lá? Você fala assim porque o dinheiro não sai do seu bolso. É por isso que a violência não diminui.
Ninguém dá queixa. Ninguém faz nada. Todo mundo deixa pra lá! Eu não vou deixar! Eu não vou deixar! — e repetiu escandindo as sílabas:
— Não vou deixar!
O garoto ouviu-o impassível, sem autoridade para contestá-lo, mas Vera reagiu chamando o marido à razão:
— Alberto! Você não vai sair por aí feito um maluco por causa de um par de tênis!
— Podia ser um grampo! — esbravejou. — De hoje em diante, vou atrás do que é meu, seja lá o que for. Não aguento mais ser saqueado por essa bandidagem. Já foi carro, relógio, bolsa, rádio...
Alberto ajeitou-se na cadeira e, assumindo ares de delegado de polícia, espetou o dedo indicador na mesa perguntando ao filho em que ponto da ciclovia exatamente ocorreu o assalto. Julinho preferiu baixar os olhos e
continuar em silêncio, que ele conhecia muito bem o temperamento do pai e não queria vê-lo envolvido em mais violência. Alberto aguardou a resposta e, sem obtê-la, ergueu-se impetuoso:
— Muito bem! Você não diz, mas eu vou descobrir. Vou à Polícia, à Interpol, ao Exército, onde for preciso, mas vou trazer esse tênis de volta ou não me chamo Alberto Calmon! De agora em diante, vai ser na lei do cão!
Julinho olhou para os pés descalços e, por alguma razão, pensou no tênis, apenas um calçado para ele, talvez um pequeno sonho para o pivete. Estranho pensamento. [...]

Carlos Eduardo Novaes. O Imperador da Ursa Maior. São Paulo: Ática, 2000. (Fragmento).

Vocabulário:
repasto - refeição
algoz - aquele que trata outro com crueldade, carrasco

 1. Julinho e o pai não se entendiam muito bem. Qual fato pode comprovar essa afirmação? R. Os pais não prestavam muita atenção nele, pois custaram a perceber que ele estava descalço, além de haver um clima de provocação entre o menino e o pai.

2. Segundo o texto, a tensão familiar concentrava-se na relação entre Julinho e seu pai, Alberto. De que maneira Julinho provocava o pai? R. Ficava parado sem dizer uma palavra, como manequim de vitrine.

3. Por que Alberto e o filho não se davam bem? R. Porque o pai parece ser autoritário e não sabe conversar e perguntar o que o filho tem e sente. No entanto, o pai se preocupa com o preço do objeto roubado.

4. Apesar do susto, Julinho mantinha-se aparentemente calmo e ironizava a situação. Por que Julinho procurou não revelar suas emoções? R. Porque ele estava acostumado com os assaltos e não dava importância ao valor das coisas.

5. O narrador descreve a tranquilidade do menino como 'irritante'. Ela era irritante para quem? R. Para o pai, pois tinha um temperamento mais explosivo.

6. "Julinho tornava-se espectador da sua própria cena". De que cena ele estava sendo espectador? R. Da cena do assalto.

7. Por que o narrador classifica o pensamento de Julinho como "estranho"? Porque parece que o ladrão tinha razão justificável para assaltar.

Descrição de lugar: texto com respostas.

 Descrição de lugar: detalhamento.



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                                                                   Louvor da manhã

[...] Era silencioso o amor. Podia-se adivinhá-lo no cuidado da mãe enxaguando as roupas nas águas de anil. Era silencioso, mas via-se o amor entre seus dedos cortando a couve, desfolhando repolhos, cristalizando figos, bordando flores de canela sobre o arroz –doce nas tigelas. 
          Lia-se o amor no corpo forte do pai, em seu prazer pelo trabalho, com sua mansidão para com os longos domingos. Era silencioso, mas escutava-se o amor murmurando – noite adentro – no quarto do casal. A casa, sem forro, deixava vazar esse murmúrio com o aroma de fumo e canela, que invadia lençóis e dúvidas, para depois filtrar-se por entre telhas. 
          Experimentava-se o amor quando, assentados ao calor da cozinha, pai e mãe falavam de distâncias, dos avós, das origens, dos namoros, dos casamentos. 
          E, quando o sono chegava, para cada menino em cada tempo, era o amor que carregava cada filho nos braços para a cama, ajeitando o cobertor debaixo do queixo. 
          [...] Em tardes de domingo, sempre muito longas e vestidas de sossego, a mãe se fazia criança para os filhos. 
          Ao pé da escada, junto da porta da cozinha, estava o tanque. De cimento cinza, ele guardava a água fria que despencava do morro, escorregando dentro dos bambus – veias cristalinas. A umidade favorecia viver e crescer ali, musgos verdes, tapetes por onde pequenas formigas passavam, arrastando montes de folhas. Mesmo o olhar se sentia acariciado por veludo assim tão fino. 
          Com anilinas para doces a mãe coloria as águas no tanque, uma cor de cada vez, e mergulhava as alvas galinhas legornes em banho colorido: azul, verde, amarelo, vermelho, roxo. Em pouco tempo o quintal, como por milagre, era pátio e castelo, povoado de aves – legornes agora raras – desenhadas em livro de fadas. Ficava tudo encantamento. Não havia livro, mesmo aqueles vindos de muito longe, com história mais bonita do que as que a mãe sabia fazer. Não era difícil para Antonio imaginar-se príncipe e filho de mágicos. 
           Quando o dia ameaçava esconder o sol, entre seios e montanhas, aquele inofensivo bando, filho do arco-íris que morava na cabeça da mãe, se empoleirava nos galhos até não poder mais, com seus antigos moradores vestindo roupa nova de festa, feita pela mãe; pensava na árvore de Natal que não tardaria a brotar no canto da sala, com sombra protegendo presentes. 
            No outro dia, o barulho do milho na cuia trazia para junto dos meninos um arco-íris faminto e já meio desbotado pela noite e seu sereno. Mas ficava a certeza de que a mãe, em qualquer momento, brincaria de outra coisa.
                                                                                                             Bartolomeu Campos de Queirós

 1. Segundo o texto, o amor era silencioso na casa de Antônio. O que significa isso? R. O amor não era expresso em palavras, não era declarado, percebe-se sua presença pelos gestos e pelas atitudes da mãe e do pai.

2. Em que momento ocorria a manifestação silenciosa do amor? R. Nas atividades comuns do cotidiano: nos instantes de lazer da família, na bate-papo na cozinha da casa ou a noite, na hora de dormir.

3. Na casa de Antônio, pais e filhos mantinham-se unidos, cultivando um profundo amor. Como os pais buscam manter os laços familiares que julgavam tão importantes? R. Falando das pessoas importantes da vida deles já falecidas, da história da família para manter viva o passado e realizando com satisfação as tarefas de casa.

4. "Não havia livro, mesmo aqueles vindos de muito longe, com historia mais bonita do que as que a mãe sabia fazer". Qual é a diferença entre contar uma história e fazer uma história? R.Contar uma história é narrar somente, enquanto que fazer uma história é dá vida aos personagens para que se torne algo concreto.

5. O que significa a expressão 'filho do arco-íris que morava na cabeça da mãe'? R. Era o bando de pintinhos/galinhas que a mãe pintava porque sua imaginação achava que era um arco-íris.

6. No texto, quais elementos permitem identificar o lugar em que Antônio vive como uma região rural? R. O cheiro do fumo, a água não encanada, galinhas, montanhas, etc.

7. Esse texto mostra que a mãe dava afeto aos filhos e também participava da vida deles, inventando brincadeiras. De que forma ela tornava concretas as histórias que imaginava? R. Ela usava as galinhas e transformava o quintal em um livro.

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