quarta-feira, 3 de agosto de 2022

INTERPRETAÇÃO DO TEXTO É PRECISO SABER VIVER

 Leia o texto e responda o que se pede:




1. Qual é a temática/assunto do texto?


2. O que significa no contexto da temática as palavras pedra e espinho?

INTERPRETAÇÃO DE TEXTO - POESIA ROMANCE LIII OU DAS PALAVRAS AÉREAS

 Leia o texto e responda o que se pede:

"Romance LIII ou Das Palavras Aéreas’

Cecília Meireles


Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Ai, palavras, ai, palavras,
sois de vento, ides no vento,
no vento que não retorna,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma!


Sois de vento, ides no vento,
e quedais, com sorte nova!


Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Todo o sentido da vida
principia à vossa porta;
o mel do amor cristaliza
seu perfume em vossa rosa;
sois o sonho e sois a audácia,
calúnia, fúria, derrota…


A liberdade das almas,
ai! com letras se elabora…
E dos venenos humanos
sois a mais fina retorta:
frágil, frágil como o vidro
e mais que o aço poderosa!
Reis, impérios, povos, tempos,
pelo vosso impulso rodam…


Detrás de grossas paredes,
de leve, quem vos desfolha?

Pareceis de tênue seda,
sem peso de ação nem de hora…
– e estais no bico das penas,
– e estais na tinta que as molha,
– e estais nas mãos dos juízes,
– e sois o ferro que arrocha,
– e sois barco para o exílio,
– e sois Moçambique e Angola!


Ai, palavras, ai, palavras,
íeis pela estrada afora,
erguendo asas muito incertas,
entre verdade e galhofa,
desejos do tempo inquieto,
promessas que o mundo sopra…


Ai, palavras, ai, palavras,
mirai-vos: que sois, agora?


– Acusações, sentinelas,
bacamarte, algema, escolta;
– o olho ardente da perfídia,
a velar, na noite morta;
– a umidade dos presídios,
– a solidão pavorosa;
– duro ferro de perguntas,
com sangue em cada resposta;
– e a sentença que caminha,
– e a esperança que não volta,
– e o coração que vacila,
– e o castigo que galopa…


Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Perdão podíeis ter sido!

– sois madeira que se corta,
– sois vinte degraus de escada,
– sois um pedaço de corda…
– sois povo pelas janelas,
cortejo, bandeiras, tropa…


Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Éreis um sopro na aragem…
– sois um homem que se enforca!



1. Qual é a contradição existente entre a força estranha às palavras?

R. Elas são frágeis e têm força ao mesmo tempo porque são capazes de mudar tudo.


2. Como as palavras podem ser bem usadas no seu aspecto positivo e negativo?

R.  No sentido positivo, elas buscam expressar o amor, o sonho e promover a liberdade dos homens.


3. Retire do texto versos em que, em alguns momentos, a autora apresenta contradições que as palavras carregam com ideias opostas (antíteses).

R. Entre verdade e galhofa.


4. Retire do texto palavras que são relacionadas a fragilidade que a autora tanto enfatiza como característica das palavras.

R. Sois de vento. Frágil, frágil. Pareceis de tênue seda.


5. Quais são os espaços em que as palavras circulam?

R. Locais em que há a escrita (estais no bico das penas), na mão dos juízes (judiciário), ou seja, em todos os locais.


6. Há uma referência direta à Inconfidência Mineira, pois foi justamente por causa das palavras de denúncia de um dos membros trouxe consequências para o Movimento. Quais consequências foram essas?

R. Tortura, prisão, exílio, enforcamento.


7. O que significam os versos: "Duro ferro de perguntas, com sangue em cada resposta"?

R. Faz referência a interrogação sob tortura.

INTEPRETAÇÃO DE TEXTO NÃO VERBAL VELOCIDADE - O PULSAR E ELEGIA HOLANDESA

 Veja os textos não verbais e responda o que se pede:







1. Defina Elegia.
R. Poema de lamento, poema triste.

2.Qual é a relação da definição de elegia e o texto lido?
R. O nível do terreno da Holanda sempre ser inundado por estar abaixo do nível do mar, além do mar poder arrebentar os diques de contenção.

3. Qual é o ditado popular que pode ser relacionado com o texto Elegia, mantendo uma relação de intertextualidade?
R. Água mole em pedra dura tanto bate até que fura. 

4. O que significa tal ditado popular?
R. A insistência e persistência. A água é frágil, mas pela persistência e pela continuidade se torna forte.

5. As palavras água e pedra estão usando conotação ou denotação?
R. Conotação, ou seja, sentido figurado.

6. Qual é a figuração das palavras mole, pedra e dura que foram uma gradação na palavra água?
R. A infiltração da água e a dissolução da dureza das pedras.

7. Qual é a interpretação do último verso da Elegia Holandesa?
R. O rompimento dos diques e a invasão das águas.

8. O que está sendo representado com a forma da palavra VELOCIDADE no poema?
R. A rapidez.

9. No poema Pulsar, letras foram substituídas por símbolos que muitos adolescentes utilizam em mensagens secretas. Esses símbolos usados têm alguma relação com o tema do poema? Justifique.
R. Sim, pois realmente ao espaço cósmico em que está a origem da vida (pulsar).

10. O poema foi colocado em um fundo preto com letras brancas. Essa disposição está relacionada a temática do poema como?
R. A temática é o espaço infinito, o escuro em que as estrelas brilham.


INTERPRETAÇÃO DE TEXTO MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS

 Leia o texto e responda o que se pede:

Capítulo VII
O delírio

Que me conste, ainda ninguém relatou o seu próprio delírio; faço-o eu, e a ciência mo agradecerá. Se o leitor não é dado à contemplação destes fenômenos mentais, pode saltar o capítulo; vá direito à narração. Mas, por menos curioso que seja, sempre lhe digo que é interessante saber o que se passou na minha cabeça durante uns vinte a trinta minutos.

Primeiramente, tomei a figura de um barbeiro chinês, bojudo, destro, escanhoando um mandarim, que me pagava o trabalho com beliscões e confeitos: caprichos de mandarim.

Logo depois, senti-me transformado na Suma Teologica de S. Tomás, impressa num volume, e encadernada em marroquim, com fechos de prata e estampas; idéa esta que me deu ao corpo a mais completa imobilidade; e ainda agora me lembra que, sendo as minhas mãos os fechos do livro, e cruzando-as eu sobre o ventre, alguém as descruzava (Virgília decerto), porque a atitude lhe dava a imagem de um defunto.

Ultimamente, restituído à forma humana, vi chegar um hipopótamo, que me arrebatou. Deixei-me ir, calado, não sei se por medo ou confiança; mas, dentro em pouco, a carreira de tal modo se tornou vertiginosa, que me atrevi a interrogá-lo, e com alguma arte lhe disse que a viagem me parecia sem destino. -- Engana-se, replicou o animal, nós vamos à origem dos séculos.

Insinuei que deveria ser muitíssimo longe; mas o hipopótamo não me entendeu ou não me ouviu, se é que não fingiu uma dessas cousas; e, perguntando-lhe, visto que ele falava, se era descendente do cavalo de Aquiles ou da asna de Balaão, retorquiu-me com um gesto peculiar a estes dous quadrúpedes: abanou as orelhas. Pela minha parte fechei os olhos e deixei-me ir à ventura. 

Já agora não se me dá de confessar que sentia umas tais ou quais cócegas de curiosidade, por saber onde ficava a origem dos séculos, se era tão misteriosa como a origem do Nilo, e sobretudo se valia alguma cousa mais ou menos do que a consumação dos mesmos séculos; reflexões de cérebro enfermo. Como ia de olhos fechados, não via o caminho; lembra-me só que a sensação de frio augmentava com a jornada, e que chegou uma ocasião em que me pareceu entrar na região dos gelos eternos. Com efeito, abri os olhos e vi que o meu animal galopava numa planície branca de neve, com uma ou outra montanha de neve, vegetação de neve, e vários animais grandes e de neve. Tudo neve; chegava a gelar-nos um sol de neve. Tentei falar, mas apenas pude grunhir esta pergunta ansiosa:

-- Onde estamos?

-- Já passamos o Éden.

-- Bem; paremos na tenda de Abraão.

-- Mas se nós caminhamos para trás! redarguiu motejando a minha cavalgadura.

Fiquei vexado e aturdido. A jornada entrou a parecer-me enfadonha e extravagante, o frio incômodo, a conducção violenta, e o resultado impalpável. E depois -- cogitações de enfermo -- dado que chegássemos ao fim indicado, não era impossível que os séculos, irritados com lhes devassarem a origem, me esmagassem entre as unhas que deviam ser tão seculares como eles. Enquanto assim pensava, íamos devorando caminho, e a planície voava debaixo dos nossos pés, até que o animal estacou, e pude olhar mais tranquilamente em torno de mim. Olhar somente; nada vi, além da imensa brancura da neve, que desta vez invadira o próprio céu, até ali azul. Talvez, a espaços, me aparecia uma ou outra planta, enorme, brutesca, meneando ao vento as suas largas folhas. O silêncio daquela região era igual ao do sepulcro: dissera-se que a vida das cousas ficara estúpida deante do homem.

Caiu do ar? destacou-se da terra? não sei; sei que um vulto imenso, uma figura de mulher me apareceu então, fitando-me uns olhos rutilantes como o sol. Tudo nessa figura tinha a vastidão das formas selváticas, e tudo escapava à compreensão do olhar humano, porque os contornos perdiam-se no ambiente, e o que parecia espesso era muita vez diáfano. Estupefacto, não disse nada, não cheguei sequer a soltar um grito; mas, ao cabo de algum tempo, que foi breve, perguntei quem era e como se chamava: curiosidade de delírio.

-- Chama-me Natureza ou Pandora; sou tua mãe e tua inimiga.

Ao ouvir esta última palavra, recuei um pouco, tomado de susto. A figura soltou uma gargalhada, que produziu em torno de nós o efeito de um tufão; as plantas torceram-se e um longo gemido quebrou a mudez das cousas externas.

-- Não te assustes, disse ela, minha inimizade não mata; é sobretudo pela vida que se afirma. Vives: não quero outro flagelo.

-- Vivo? perguntei eu, enterrando as unhas nas mãos, como para certificar-me da existência.

-- Sim, verme, tu vives. Não receies perder esse andrajo que é teu orgulho; provarás ainda, por algumas horas, o pão da dor e o vinho da miséria. Vives: agora mesmo que ensandeceste, vives; e se a tua consciência reouver um instante de sagacidade, tu dirás que queres viver.

Dizendo isto, a visão estendeu o braço, segurou-me pelos cabelos e levantou-me ao ar, como se fora uma pluma. Só então pude ver-lhe de perto o rosto, que era enorme. Nada mais quieto; nenhuma contorção violenta, nenhuma expressão de ódio ou ferocidade; a feição única, geral, completa, era a da impassibilidade egoísta, a da eterna surdez, a da vontade imóvel. Raivas, se as tinha, ficavam encerradas no coração. Ao mesmo tempo, nesse rosto de expressão glacial, havia um ar de juventude, mescla de força e viço, deante do qual me sentia eu o mais débil e decrépito dos seres.

-- Entendeste-me? disse ela, no fim de algum tempo de mútua contemplação.

-- Não, respondi; nem quero entender-te; tu és absurda, tu és uma fábula. Estou sonhando, de certo, ou, se é verdade que enlouqueci, tu não passas de uma concepção de alienado, isto é, uma cousa vã, que a razão ausente não pode reger nem palpar. Natureza, tu? a Natureza que eu conheço é só mãe e não inimiga; não faz da vida um flagelo, nem, como tu, traz esse rosto indiferente, como o sepulcro. E por que Pandora?

-- Porque levo na minha bolsa os bens e os males, e o maior de todos, a esperança, consolação dos homens. Tremes?

-- Sim; o teu olhar fascina-me.

-- Creio; eu não sou somente a vida; sou também a morte, e tu estás prestes a devolver-me o que te emprestei. Grande lascivo, espera-te a voluptuosidade do nada.

Quando esta palavra ecoou, como um trovão, naquele imenso vale, afigurou-se-me que era o último som que chegava a meus ouvidos; pareceu-me sentir a decomposição súbita do mim mesmo. Então, encarei-a com olhos súplices, e pedi mais alguns anos.

-- Pobre minuto! exclamou. Para que queres tu mais alguns instantes de vida? Para devorar e seres devorado depois? Não estás farto do espectáculo e da luta? Conheces de sobejo tudo o que eu te deparei menos torpe ou menos aflictivo: o alvor do dia, a melancolia da tarde, a quietação da noite, os aspectos da terra, o sono, enfim, o maior benefício das minhas mãos. Que mais queres tu, sublime idiota?

-- Viver somente, não te peço mais nada. Quem me pôs no coração este amor da vida, se não tu? e, se eu amo a vida, porque te hás de golpear a ti mesma, matando-me?

-- Porque já não preciso de ti. Não importa ao tempo o minuto que passa, mas o minuto que vem. O minuto que vem é forte, jocundo, supõe trazer em si a eternidade, e traz a morte, e perece como o outro, mas o tempo subsiste. Egoísmo, dizes tu? Sim, egoísmo, não tenho outra lei. Egoísmo, conservação. A onça mata o novilho porque o raciocínio da onça é que ela deve viver, e se o novilho é tenro tanto melhor: eis o estatuto universal. Sobe e olha.

Isto dizendo, arrebatou-me ao alto de uma montanha. Inclinei os olhos a uma das vertentes, e contemplei, durante um tempo largo, ao longe, através de um nevoeiro, uma cousa única. Imagina tu, leitor, uma reducção dos séculos, e um desfilar de todos eles, as raças todas, todas as paixões, o tumulto dos impérios, a guerra dos apetites e dos ódios, a destruição recíproca dos seres e das cousas. Tal era o espectáculo, acerbo e curioso espectáculo. 

A história do homem e da terra tinha assim uma intensidade que lhe não podiam dar nem a imaginação nem a ciência, porque a ciência é mais lenta e a imaginação mais vaga, enquanto que o que eu ali via era a condensação viva de todos os tempos. 

Para descrevê-la seria preciso fixar o relâmpago. Os séculos desfilavam num turbilhão, e, não obstante, porque os olhos do delírio são outros, eu via tudo o que passava diante de mim, -- flagelos e delícias,-- desde essa cousa que se chama glória até essa outra que se chama miséria, e via o amor multiplicando a miséria, e via a miséria agravando a debilidade. 

Aí vinham a cobiça que devora, a cólera que inflama, a inveja que baba, e a enxada e a pena, úmidas de suor, e a ambição, a fome, a vaidade, a melancolia, a riqueza, o amor, e todos agitavam o homem, como um chocalho, até destruí-lo, como um farrapo. Eram as formas várias de um mal, que ora mordia a víscera, ora mordia o pensamento, e passeiava eternamente as suas vestes de arlequim, em derredor da espécie humana. 

A dor cedia alguma vez, mas cedia à indiferença, que era um sono sem sonhos, ou ao prazer, que era uma dor bastarda. Então o homem, flagelado e rebelde, corria deante da fatalidade das cousas, atrás de uma figura nebulosa e esquiva, feita de retalhos, um retalho de impalpável, outro de improvável, outro de invisível, cosidos todos a ponto precário, com a agulha da imaginação; e essa figura, -- nada menos que a quimera da felicidade,-- ou lhe fugia perpetuamente, ou deixava-se apanhar pela fralda, e o homem a cingia ao peito, e então ela ria, como um escárnio, e sumia-se, como uma ilusão.


1. Qual era o motivo do descontentamento de Brás Cubas por não ter sido levado ao fim dos séculos?

R. Havia muitos incômodos como o frio e a monotonia.

2. Qual é o outro personagem que o narrador encontra ao chegar ao seu destino? Descreva essa personagem.

R. A Pandora (Natureza) que foi descrita como gigantesca, parecida com uma mulher.

3. Houve uma justificativa para que o hipopótamo não parasse na tenda de Abraão, qual foi?

R. A tenda já havia passado porque eles estavam voltando a história e no momento estavam no Éden.

4. Para entender essa parte da narrativa é necessários conhecimentos prévios. Quais são os conhecimentos necessários para entender o contexto do pedido de Brás Cubas e a consequente recusa do hipopótamo?

R. Conhecimentos bíblicos.

5. A descrição mostra detalhes de lugar, coisas ou pessoa. Como é feita a descrição do lugar nesse trecho da narrativa?

R. Vale coberto de gelo, tudo branco, sem nada.

6. A descrição mostra Pandora/Natureza no trecho lido. Como é feita essa descrição?

R. É apresentada como um vulto imenso de uma mulher, com olhos brilhantes e contornos que se perdiam no ambiente.

7. Qual é a orientação dada por Brás Cubas ao explicar sobre o próprio delírio de morte?

R. Aconselha os leitores a pularem o capítulo e ir para a narração propriamente dita.

INTERPRETAÇÃO DE TEXTO O RETRATO DE DORIAN GRAY

 Leia o texto e responda o que se pede:


O RETRATO DE DORIAN GRAY 

OSCAR WILDE 

CAPÍTULO 1 

Perfumava o atelier um delicioso aroma de rosas e, quando a leve brisa estival sacudia as árvores do jardim, sentia-se através da porta aberta a fragrância pesada do lilás ou o perfume mais delicado do espinheiro de flor cor-de-rosa. 

Do canto do divã persa em que estava estendido, fumando, como tinha por hábito, cigarro atrás de cigarro, Lord Henry Wotton o mais que podia abranger com os olhos era um codesso de flores cor de mel, cujos ramos trémulos pareciam mal poder com o peso de uma beleza tão etérea e subtil; e, de quando em quando, as fantásticas sombras de aves voando cruzavam as cortinas de seda que guarneciam a enorme janela, produzindo como que um momentâneo efeito japonês e fazendo-o pensar nesses pálidos pintores de Tóquio que, por meio de uma arte que é necessariamente imóvel, procuram dar a sensação da ligeireza e do movimento. 

O monótono murmúrio das abelhas, zumbindo entre a relva por aparar ou voando com uma fastidiosa insistência em redor dos espinhos empoeirados de ouro da madressilva, parecia tornar ainda mais opressivo o silêncio. O vago bulício de Londres chegava-lhe aos ouvidos como o bordão de um órgão longínquo. 

No centro da sala, sobre um cavalete, exibia-se o retrato de corpo inteiro de um jovem de extraordinária beleza e, em frente, a curta distância, achava-se sentado o artista que o pintara, Basil Hallward, cujo brusco desaparecimento alguns anos antes havia causado certo alvoroço e originado as mais estranhas conjeturas.

Ao fitar a sua obra, em que com tanta arte retratara linhas tão graciosas e gentis, o pintor não pôde deixar de sorrir. 

Dir-se-ia que esse sorriso prazenteiro se lhe iria demorar nos lábios, mas, de repente, o artista levantou-se e, cerrando os olhos, colocou os dedos sobre as pálpebras, como se procurasse prender dentro do cérebro algum curioso sonho de que receava despertar. 

— É o seu melhor trabalho, Basil, a melhor coisa que fez – disse Lord Henry, languidamente. 

– Com certeza vai mandá-lo no ano que vem à exposição de Grosvenor. A Academia é grande de mais e vulgar de mais. De todas as vezes que lá fui, ou havia tanta gente que eu não podia ver os quadros, o que era terrível, ou havia tantos quadros que eu não podia ver as pessoas, o que era pior. Grosvenor é, na realidade, o único lugar. 

— Não penso mandá-lo a parte alguma  – respondeu o artista, atirando para trás a cabeça, naquele seu jeito singular que, em Oxford, provocava o riso dos amigos.

 –  Não! Não tenciono expô-lo! Lord Henry arregalou os olhos e fitou-o com espanto, através das espirais azuis de fumo que caprichosamente se evolavam do seu cigarro fortemente opiado. 

— Não tenciona expô-lo? Porquê, meu caro amigo? Tem alguma razão? Que esquisitos vocês são, os pintores! Fazem tudo para criarem fama. Mal a têm, parecem apostados em atirá-la fora. É uma tolice, pois só há no mundo uma coisa pior que falarem de nós: é ninguém falar de nós. Um retrato como este colocá-lo-ia muito acima de todos os jovens de Inglaterra e causaria inveja a todos os velhos, se é que os velhos são capazes de qualquer emoção.  

— Bem sei que se há de rir de mim – replicou ele –, mas o facto é que não o posso expor. Pus nele muito de mim mesmo. Lord Henry estirou-se no divã e desatou a rir. — Sim, já sabia que se iria rir; mas é, no entanto, absolutamente certo. 

— Demasiado de (muito de) si mesmo! Palavra de honra, Basil, não o sabia tão vaidoso; e, na verdade, nenhuma semelhança posso ver entre si, com a cara forte e enrugada e o cabelo preto como carvão, e este jovem Adónis, que parece feito de marfim e pétalas de rosa.

Ele é, meu caro Basil, um Narciso, e você… bem, é claro que tem uma expressão intelectual. Mas a beleza, a verdadeira beleza, termina onde começa a expressão intelectual e tudo isso.

A inteligência é, em si, um modo de exagero e destrói a harmonia do rosto. Quando uma pessoa se senta para pensar, torna-se toda nariz, ou toda testa, ou alguma coisa horrenda. Veja os homens a quem o êxito sorriu em qualquer das profissões intelectuais. 

Que hediondos são! Excetuam-se, já se vê, os da Igreja. Mas é que na Igreja não se pensa. Um bispo continua a dizer aos oitenta anos o que lhe ensinaram aos dezoito; e, como consequência natural, ele conserva sempre uma aparência absolutamente deliciosa. 

O seu misterioso amigo, cujo nome nunca me disse, mas cujo retrato realmente me fascina, nunca pensa. Tenho disso a certeza absoluta. 

É algum indivíduo belo, destituído de cérebro, que devia estar sempre aqui no inverno, quando não temos flores que nos encantem a vista, e no verão, quando precisamos de alguma coisa que nos refrigere a inteligência. 

Não se lisonjeie, Basil: você não se parece nada com ele. — Não me compreende, Harry – respondeu o artista. – É claro que não me pareço com ele. 

Sei-o perfeitamente. Digo-lhe ainda mais: penalizar-me-ia muito parecer-me com ele. Encolhe os ombros? Estou a dizer-lhe a verdade. 

Há uma fatalidade em toda a  distinção física e intelectual, aquela espécie de fatalidade que parece seguir, através da História, os passos vacilantes dos reis. 

 O melhor é não nos distinguirmos dos outros. Os feios e os estúpidos são neste mundo os mais ditosos. 

Podem à sua vontade gozar o espetáculo. Se não conhecem as delícias do triunfo, também os não amargura o travo da derrota. Vivem como todos nós devíamos viver, sossegados, indiferentes, sem inquietações. 

Nem causam a ruína dos outros, nem a recebem de mãos alheias. A sua situação é a sua riqueza, Harry; o meu cérebro, seja ele o que for; a minha arte, valha ela o que valer; a beleza de Dorian Gray… havemos todos de sofrer por aquilo que os deuses nos deram, e sofrer terrivelmente.

 — Dorian Gray? É assim que ele se chama? – perguntou Lord Henry, atravessando o atelier na direção de Basil Hallward. 

— É. Não lho queria dizer. 

— Mas porquê? 

— Oh, não posso explicar. Eu nunca revelo os nomes das pessoas de quem gosto muito. É como entregar uma parte delas. Amo o segredo. 

Parece-me ser a única coisa que nos pode tornar a vida moderna misteriosa ou maravilhosa. Só ao ocultá-la tornamos deliciosa a coisa mais banal. Quando me ausento da cidade, nunca digo para onde vou. Se o dissesse, lá se me ia todo o prazer. 

Será uma tolice, será; mas é um hábito que me parece introduzir na nossa vida o seu quê de romance. Acha, decerto, disparatado o que lhe estou a dizer. 

— Nada disso – retorquiu Lord Henry –, nada disso, meu caro Basil. 

Parece-me que você se esquece de que sou casado, e o único encanto do casamento é tornar absolutamente necessária uma vida de engano mútuo. 

Eu nunca sei onde está a minha mulher, ela nunca sabe o que eu faço. Quando nos encontramos (uma vez ou outra, quando vamos jantar fora, ou quando vamos a casa do duque), contamos um ao outro as histórias mais sérias do mundo. A minha mulher tem muito jeito para isso: muito mais, confesso.

Disponível em: < recurso (portoeditora.pt) > Acesso em 03 de ago de 2022.


1. Qual é o outro sentido da palavra "lilás" no primeiro parágrafo do texto?

2. Qual foi o elemento que Lord Henry foi levado a pensar nos pintores de Tóquio? Justifique.

3. Qual é o local/lugar em que se passa a cena retratada?

4. Qual é a discordância entre o pintor Basil e Lord Henry acerca do quadro?

5. O comportamento dos pintores é criticado por Lord Worton. Qual é essa crítica?

6. Basil justifica que não quer expor o quadro, porém Worton utiliza da ironia com ele. Por que isso acontece?

7. O uso do raciocínio é muito importante na argumentação. Qual é o tipo de raciocínio usado por Basil para ter como justificativa não querer ser como o jovem da tela retratada?

8. Ao ler o texto, podemos inferir (acrescentar informações que não contradizem o texto) se Worton acha Basil feio ou bonito? Justifique.

terça-feira, 2 de agosto de 2022

INTERPRETAÇÃO DE TEXTO NÃO VERBAL MOBILE LOVERS DE BANKSY

 Veja o texto não verbal e responda o que se pede:





1. Sabe-se que a obra de arte e obra literária precisa manter uma relação com a realidade cotidiana. Há elementos que são do nosso cotidiano, quais características próprias da atualidade estão presentes nessa obra?

2. Há uma crítica nessa obra de arte de Banksy? Qual? Comente.

INTEPRETAÇÃO DE TEXTO NÃO VERBAL OS AMANTES RENÉ MAGRITTE

 Veja a imagem e responda o que se pede:



1. Ao se contemplar a obra de arte de René Magritte, a sensação predomina em todos os sentidos numa primeira análise. Qual sensação causa ao observarmos uma arte como esta? Estranhamento? Inquietação? Privação? Justifique.


2.O sufocamento do casal também está representado pelo pano que se enrola no pescoço deles e também pelo rosto. O que é sugerido acerca dos relacionamentos amorosos com essa imagem?


3. Essa obra é de 1928 e a temática pode ser atemporal. Qual é a temática revelada nessa obra?


4. A sociedade é sempre criticada nas obras de arte. A pós-modernidade costuma apresentar costumes bem diferentes e é criticado pela superficialidade das relações amorosas. Ao analisar essa obra, vê-se uma crítica ao relacionamento nessa pós-modernidade? Justifique.

SIMULADO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA DE ALAGOAS E OLHO D'ÁGUA GRANDE - BASEADO NO INSTITUTO BAHIA

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