terça-feira, 4 de março de 2025

Interpretação de Texto – PROVA 1 BANCA EPL - TOPÓGRAFO - Vidas Secas Graciliano Ramos - Capítulo III - Cadeia

 Interpretação de Texto – PROVA 1 BANCA EPL - TOPÓGRAFO

Vidas Secas

Graciliano Ramos

Capítulo III – Cadeia (fragmento)

Fabiano tinha ido à feira da cidade comprar mantimentos. Precisava sal, farinha, feijão e rapaduras. Sinhá Vitória pedira além disso uma garrafa de querosene e um corte de chita vermelha. Mas o querosene de seu Inácio estava misturado com água, e a chita da amostra era cara demais.

Fabiano percorreu as lojas, escolhendo o pano regateando um tostão em côvado, receoso de ser enganado. Andava irresoluto, uma longa desconfiança dava-lhe gestos oblíquos. A tarde puxou o dinheiro, meio tentado, e logo se arrependeu, certo de que todos os caixeiros furtavam no preço e na medida: amarrou as notas na ponta do lenço, meteu-as na algibeira, dirigiu-se à bodega de seu Inácio, onde guardara os picuás.

Aí certificou-se novamente de que o querosene estava batizado e decidiu beber uma pinga, pois sentia calor. Seu Inácio trouxe a garrafa de aguardente. Fabiano virou o copo de um trago, cuspiu, limpou os beiços à manga, contraiu o rosto. Ia jurar que a cachaça tinha água. Por que seria que seu Inácio botava água em tudo? perguntou mentalmente. Animou-se e interrogou o bodegueiro: - Por que é que vossemecê bota água em tudo?

Seu Inácio fingiu não ouvir. E Fabiano foi sentar-se na calçada, resolvido a conversar. O vocabulário dele era pequeno, mas em horas de comunicabilidade enriquecia-se com algumas expressões de seu Tomás da bolandeira. Pobre de seu Tomás. Um homem tão direito sumir-se como cambembe, andar por este mundo de trouxa nas costas. Seu Tomás era pessoa de consideração e votava. Quem diria?

Nesse ponto um soldado amarelo aproximou-se e bateu familiarmente no ombro de Fabiano: - Como é, camarada? Vamos jogar um trinta-e-um lá dentro? Fabiano atentou na farda com respeito e gaguejou, procurando as palavras de seu Tomás da bolandeira: - Isto é. Vamos e não vamos. Quer dizer Enfim, contanto, etc. É conforme.

Levantou-se e caminhou atrás do amarelo, que era autoridade e mandava. Fabiano sempre havia obedecido. Tinha muque e substância, mas pensava pouco, desejava pouco e obedecia.

Atravessaram a bodega, a corredor, desembocaram numa sala onde vários tipos jogavam cartas em cima de uma esteira.

(...)

Fabiano, as orelhas ardendo, não se virou. Foi pedir a seu Inácio os troços que ele havia guardado, vestiu o gibão, passou as correias dos alforjes no ombro, ganhou a rua.

Debaixo do jatobá do quadro taramelou com Sinhá Rita louceira, sem se atrever a voltar para casa. Que desculpa iria apresentar a Sinhá Vitória? Forjava uma explicação difícil. Perdera o embrulho da fazenda, pagara na botica uma garrafada para Sinhá Rita louceira. Atrapalhava-se tinha imaginação fraca e não sabia mentir. Nas invenções com que pretendia justificar-se a figura de Sinhá Rita aparecia sempre, e isto o desgostava. Arruinaria uma história sem ela, diria que haviam furtado o cobre da chita. Pois não era? Os parceiros o tinham pelado no trinta-e-um. Mas não devia mencionar o jogo. Contaria simplesmente que o lenço das notas ficara no bolso do gibão e levara sumiço. Falaria assim: - "Comprei os mantimentos. Botei o gibão e os alforjes na bodega de seu Inácio. Encontrei um soldado amarelo" Não, não encontrara ninguém. Atrapalhava-se de novo. Sentia desejo de referir-se ao soldado, um conhecido velho, amigo de infância. A mulher se incharia com a notícia. Talvez não se inchasse. Era atilada, notaria a pabulagem. Pois estava acabado. O dinheiro fugira do bolso do gibão, na venda de seu Inácio. Natural.

(...)

Afinal para que serviam os soldados amarelos? Deu um pontapé na parede, gritou enfurecido. Para que serviam os soldados amarelos? Os outros presos remexeram se, o carcereiro chegou à grade, e Fabiano acalmou se: - Bem, bem. Não há nada não.

(...)

Fabiano gritou, assustando o bêbedo, os tipos que abanavam o fogo, o carcereiro e a mulher que se queixava das pulgas. Tinha aqueles cambões pendurados ao pescoço. Deveria continuar a arrastá los? Sinhá Vitória dormia mal na cama de varas. Os meninos eram uns brutos, como o pai. Quando crescessem, guardariam as reses de um patrão invisível, seriam pisados, maltratados, machucados por um soldado amarelo.

- Arreda!

Ramos, G. Vidas Secas. Record. 199ª ed. Edição original de 1938.

1- Depois de ler atentamente o fragmento do Capítulo III – Cadeia, e levando em conta as regras gramaticais presentes neste fragmento, assinale a única alternativa correta.

a) Em: Fabiano tinha ido à feira da cidade comprar mantimentos, os termos destacados podem ser classificados como um adjunto adverbial.

b) Em: Precisava sal, farinha, feijão e rapaduras, O verbo precisar é transitivo indireto, ou seja, a preposição é desnecessária.

c) Em: Fabiano gritou, assustando o bêbedo, o verbo assustar está em sua forma nominal, ou seja, particípio.

d) Em: Fabiano acalmou-se: ..., o pronome oblíquo se aparece em posição proclítica.

2- Assinale a única alternativa em que o processo de formação de palavras foi classificado corretamente.

a) Em: em pisados, maltratados e machucados, as palavras em destaque foram formadas por derivação por hibridismo.

b) Em: simplesmente e novamente ocorreu o processo de derivação parassintética.

c) Em: Levantou-se e caminhou atrás do amarelo, ocorre derivação imprópria, já que a palavra amarelo, um adjetivo, foi utilizada com valor de substantivo.

d) A palavra carcereiro é formada por composição por justaposição.

3- Sobre a acentuação das palavras presentes no texto de Graciliano Ramos, assinale a única alternativa correta.

a) As palavras que formam o nome da esposa de Fabiano, Sinhá e Vitória, são acentuadas seguindo a mesma regra de acentuação.

b) As palavras pontapé e arrastá-los são acentuadas por serem oxítonas terminadas em -e e -a, respectivamente.

c) As palavras há e invisível são paroxítona e monossílaba tônica, respectivamente.

d) A palavra bêbedo (variação de bêbado) é acentuada por ser uma exceção à regra das proparoxítonas, ou seja, nenhuma proparoxítona deve ser acentuada.

4- Assinale a única alternativa em que o(s) termo(s) destacado(s) foi(ram) classificado(s) corretamente, em relação à sintaxe da Língua Portuguesa.

a) Afinal para que serviam os soldados amarelos? Sujeito simples.

b) Afinal para que serviam os soldados amarelos? Adjunto adverbial de tempo.

c) O dinheiro fugira do bolso do gibão, na venda de seu Inácio. Adjunto adverbial de modo.

d) Era atilada, notaria a pabulagem. Complemento nominal.

5- Assinale a única alternativa em que o(s) termo(s) destacado(s) é(são) classificado(s) como complemento nominal.

a) Era importante trazer a casa limpa.

b) A homenagem do autor repercutiu por dias na mídia.

c) O respeito aos funcionários era o mínimo esperado.

d) Ele deve dinheiro ao banco.

6- Assinale a única alternativa em que ocorre erro no uso do acento indicativo de crase.

a) Ele reconheceu a francesa à distância de 30 metros.

b) Ele foi a um restaurante que só servia à francesa.

c) O Professor de Antropologia referiu-se à Princesa Izabel em sua palestra.

d) Sempre disse que, em algum dia, irei à Londres do Big Ben.

7- Assinale a única alternativa em que houve erro em relação às regras de concordância da Língua Portuguesa.

a) O comboio de caminhões chegou a Dakar no horário correto.

b) Saiu o pai e os filhos no Trem das Onze.

c) Encontraram a porta e as janelas arrombadas.

d) Quando fui à Europa, conheci a marinha inglesa e espanhola.

8- Assinale a única alternativa em que a pontuação obedeça às normas previstas pelos manuais de gramática da Língua Portuguesa.

b) A mãe, despreocupada, comprou fraldas no atacado.

c) No mercado a mãe despreocupada, comprou, inúmeros produtos de limpeza.

d) Casas comércios indústrias foram afetados pelo terremoto.

9- Assinale a única alternativa em que houve erro de regência, nominal ou verbal.

a) O menino custou a acreditar que via o presente que tanto desejou.

b) A moça namorava o rapaz há anos.

c) O patrão notificou o empregado sobre o aumento de salário.

d) Ela lembrou de todos os detalhes do acidente.

10- Assinale a única alternativa em que todas as palavras foram grafadas de acordo com as normas gramaticais da Língua Portuguesa.

a) Poleiro, cuturno, mantega.

b) Óbolo, excessão, excesso.

c) Cortiço, curtume, puleiro.

d) Curtume, mendigo, tábua.

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