sexta-feira, 27 de março de 2020

Leitura e Interpretação de Texto

A mensagem chega ao destino

MOACYR SCLIAR

"Sou um garoto de 14 anos e vivo na Bélgica. Não sei se você é uma criança, uma mulher ou um homem. Navego em um barco de 18 metros." Assim o belga Olivier Vanderwalle começou, em 1977, a escrever uma mensagem para colocá-la em uma garrafa, enquanto navegava pela costa sul da Inglaterra. Vanderwalle passava as férias a bordo do barco de sua família quando teve a ideia de escrever o texto. Arrancou uma página de um livro de exercícios e achou uma garrafa de vinho que serviria para seu intento.Mais de três décadas depois, a britânica Lorraine Yates encontrou a garrafa na praia de Swanage, em Dorset, localizou o autor através do Facebook e com ele entrou em contato.
Mundo, 2 de Maio de 2010. 




PACOTES pelo correio era coisa que ele raramente recebia, sobretudo um pacote vindo de outro país e enviado por uma pessoa para ele desconhecida, uma mulher com nome inglês.

Abriu-o, intrigado, e, de imediato, a emoção invadiu-lhe o coração: estava reconhecendo a velha e amarelada folha de papel que ali estava. Era a sua letra: uma carta que tinha escrito décadas antes, quando navegava com o pai num barco ao longo da costa europeia.
Uma missiva sem destinatário específico, como essas que os náufragos muitas vezes enviam. Como os náufragos, tinha colocado a carta numa garrafa que jogara ao mar.
Diferente dos náufragos, contudo, não o fizera movido pelo desespero; afinal, não estava numa ilha deserta, lutando pela sobrevivência; estava passeando com o pai e se divertindo bastante. Por que, então, escrevera aquele texto?
Relendo-o, deu-se conta: era, na verdade, uma carta escrita para o futuro, uma espécie de declaração de intenções, um plano de vida.
Aos 14 anos, ele anunciava para seu desconhecido correspondente ("Não sei se você é uma criança, uma mulher ou um homem") seus projetos para o futuro. E eram projetos muito ambiciosos, isso tinha de reconhecer. Naquela época fazia música, tocava guitarra elétrica e dirigia uma banda à frente da qual, disso estava certo, em breve conquistaria o mundo: o grupo seria o sucessor dos Beatles.
Ficaria muito rico, teria um iate gigantesco (muito maior que o do pai) e percorreria os mares dando festas e jogando ao mar garrafas de caro champanhe -mas sem nenhuma mensagem dentro, claro.
Infelizmente isso não tinha ocorrido. O grupo se desfizera; ele, desiludido, acabara por desistir da carreira musical. O pai, mal sucedido nos negócios, não lhe deixara herança. Forçado a ganhar a vida, acabara por se tornar garçom, e era disso que vivia. A velhice se aproximava e ele já não tinha qualquer esperança de conquistar fama e fortuna.
Em suma, a carta era o testemunho de seu fracasso. Que culminava com o último parágrafo, no qual falava da mulher de seus sonhos: loira, bonita, olhos claros, covinhas. Mas a moça com quem casara, e da qual estava separado, era muito diferente: morena, olhos escuros, sem covinhas.
Com a carta, vinha uma foto da remetente. E aí de repente sentiu renascer o sonho de sua juventude. Porque era o retrato de uma moça loira, bonita, de olhos claros. Ah, sim, e tinha covinhas.
Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1005201004.htm>. Acesso em: 22 de març de 2020.



1. Nessa crônica, o escritor se baseou em uma notícia publicada no Jornal Folha de S. Paulo em 2010. Observe o que o texto inicial, entre aspas, representa o trecho de uma carta. Em seguida, a notícia contextualiza a mensagem. Por que o adolescente de 14 anos teria escrito essa carta?

R. Ele estava tentando partilhar seus sonhos com alguém por estar se sentindo sozinho em alto-mar.

2.  Na notícia, os dados e as referências são verídicos. Quem é o remetente da carta e quem é o destinatário?

R. Remetente belga Olivier Vandevalle, escreveu a carta com 14 anos. O destinatário pode ser qualquer pessoa que encontrar a mensagem.

3. Moacyr imaginou como seria a reação de Olivier ao receber, depois de tantos anos, a carta que colocara na garrafa. Como reagiu Olivier, personagem da crônica, ao receber a carta?

R. O escritor imagina a personagem muito emocionado, pois talvez o personagem tenha se esquecido da carta e da possibilidade de alguém encontrar.

4. A velha e amarelada folha de papel com sua letra trouxe lembranças à personagem. Eram recordações felizes?

R. Em partes, pois a personagem era jovem e tinha muitos sonhos e estava de férias com a família, navegando na costa da Inglaterra.

5. No texto, o cronista compara a atitude de Olivier com a dos náufragos. Isso porque:

a) Olivier teve receio de ficar perdido em alto-mar como eles.
b)  Ele julgou mais emocionante agir como se fosse um náufrago.
c) O jovem belga teve uma ideia semelhante a dos náufragos. X
d) Ele queria ser resgatado no mar como os náufragos.

6. Observe que a personagem procura se lembrar do motivo que a levou a escrever aquela carta. O que representa a "carta escrita para o futuro"?

R. Era uma declaração de intenções, um plano de vida, um roteiro de uma vida feliz, no qual estavam listados os sonhos mais almejados.

7. Por que a personagem, ainda tão jovem, preocupou-se em narrar seu "plano de vida"?

R. Ele por está em lugar distante e em alto-mar precisou registrar naquele momento todos os seus sonhos.

8. Segundo o texto, a personagem parecia percorrer o caminho certo para ter uma carreira como músico. No texto, o que explica o fato de esse sonho não ter se concretizado?

R. Os projetos de adolescentes não foram efetivados porque talvez a banda tivesse se acabado ou a família estava com problemas financeiros e ele desistiu da ideia.

9. Além de sonho profissional, a personagem também pode recordar, pela leitura da carta, que a mulher de seus sonhos era outra. Que relação há entre o título da crônica e o desfecho da narrativa?

R. Após tantos anos perdidos, a mensagem da personagem parece encontrar finalmente o destinatario certo, a moça loira de covinhas.

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