sábado, 22 de julho de 2023

EXERCÍCIOS QUESTÕES FUNETEC 2023

 A questões de 01 a 10 referem-se ao texto a seguir.

 

TEXTO

Aporofobia: uma doença brasileira

Aldineto Miranda Santos

 

Para combater uma doença, é necessário conhecê-la, saber de sua existência e seus sintomas e, posteriormente, buscar estratégias de combate. Foi a partir dessa constatação que a filósofa espanhola Adela Cortina buscou explicar uma patologia social, um fenômeno que existia; contudo, por não ser reconhecido, era difícil de ser combatido.

Essa patologia foi denominada por Adela Cortina como "aporofobia", termo que surge da união de duas expressões gregas: "á-poros" (pobre, sem recursos) e "fobos" (medo, aversão, ódio); ou seja, aversão a pobres. Tal flagelo sempre assolou a sociedade brasileira e talvez seja a resposta para a clássica pergunta que Darcy Ribeiro fez na sua obra "O Povo Brasileiro": "Por que o Brasil não deu certo?".

Esse questionamento fica matutando na mente de todos que pretendem entender este país, e parece-nos que a aporofobia é uma pista importante para a responder à questão. Tal patologia social se entrelaça com outras mazelas sociais, principalmente com o racismo. Várias situações refletem esse entrelaçamento, a exemplo da tentativa eugenista, encabeçada por intelectuais, políticos e escritores no século 19 e até meados do século 20, de tentar "branquear" o país por meio do processo de miscigenação, ocorrido em sua gênese a partir do estupro de mulheres indígenas e negras.

A marginalização do negro na sociedade brasileira e a negação à dignidade sempre foram práticas aporófobas, pois a pobreza no Brasil não se trata somente da condição econômica, mas se intersecciona com a questão racial.

Da mesma maneira, qualquer iniciativa de alternativa ao status quo foi combatida, perseguida e destruída ferozmente pela elite política, latifundiária e empresarial brasileira, que se utilizou do Estado para punir e tornar os pobres invisibilizados — a exemplo da chacina de Canudos, uma guerra contra trabalhadores que buscavam uma vida solidária.

Mas não é preciso ir tão longe na história. Basta constatar os ataques cotidianos contra moradores de rua, sendo o mais emblemático o ocorrido em 1997, quando cinco jovens queimaram o índio Galdino, que dormia em um ponto de ônibus em Brasília. Quando interpelados sobre o ato, responderam que não sabiam se tratar de um indígena — pensaram ter ateado fogo a um mendigo.

Outro fato é a crueldade que ocorre cotidianamente nas periferias brasileiras, aberrações normalizadas, nas quais jovens pobres e negros são mortos por policiais negros — os quais, por vezes, também morrem numa hipócrita "guerra contra as drogas".

Em um país de uma elite aporófoba, a manutenção da desigualdade social se faz pela perseguição das minorias. Por isso, é necessário, para a "elite do atraso", lembrando aqui as palavras do sociólogo Jessé Souza, que as comunidades periféricas continuem a ser vistas como lugares de má fama, de horror e de morte.

Cria-se dessa forma um círculo vicioso em que as desigualdades sociais e raciais, além da falta de políticas públicas de inclusão, empurram vários jovens da periferia para a criminalidade. Essa marginalização "atesta" o rosto do criminoso no Brasil: preto e pobre.

Os noticiários apontam para essa doença social: crianças negras mortas nas favelas por balas "perdidas"; pobres morrendo em mesas de cirurgia em abortos clandestinos; devastação de territórios dos povos indígenas; discursos e crimes de ódio contra pessoas e movimentos sociais.

Tudo isso demonstra que essa doença social está entranhada no Brasil. A aporofobia está presente como substrato, mas, além da aversão, também é medo, é horror ao pobre. Mas tal medo não é de todo injustificado, pois se os que são explorados cotidianamente descobrirem sua soberania e compreenderem que, na verdade, são maioria, ainda que invisibilizada, haverá o perigo de os oprimidos se perceberem gente, povo autônomo, e que sua força e criatividade sempre foram a cura para um país e uma elite doente, possuindo em suas mãos as ferramentas para destruir as estruturas arcaicas mantidas pela aporofobia.

 

Disponível em: <Notícias de hoje do Brasil e do Mundo | Folha de S.Paulo (uol.com.br)> Acesso em: 06 jun. 2023.

 

01. O texto, de forma, predominante, objetiva

A) definir o sentido preciso da palavra aporofobia.

B) narrar episódios de manifestação do racismo no Brasil.

C) estabelecer relação entre aporofobia e atitudes racistas.

D) denunciar atitudes racistas presentes na elite brasileira.

E) descrever comportamentos aporófobos na sociedade brasileira.

 

02. De acordo com o texto,

A) a visão estereotipada das comunidades periféricas como lugares perigosos contribui para o sentimento de aporofobia da elite brasileira.

B) a sociedade brasileira testemunhou acontecimento revelador da aporofobia apenas no século XXI.

C) não há justificativa para o comportamento de aversão aos pobres praticado por alguns membros da sociedade brasileira.

D) o quadro de pobreza existente na sociedade brasileira é resultado, tão somente, da forma como o país encara a questão racial.

E) apenas as desigualdades sociais e raciais são responsáveis pelo fato de jovens da periferia aderirem à criminalidade.

 

03. Na formação da palavra aporofobia,

A) o radical é o primeiro elemento da composição.

B) o radical é o segundo elemento da composição.

C) “fobia” é prefixo com a função de ampliar a significação do radical.

D) “fobia” é um sufixo e indica um caso de derivação parassintética.

E) “fobia” é um sufixo e indica um caso de derivação regressiva.

 

04. O substantivo doença, no primeiro parágrafo, é retomado, respectivamente, por

A) advérbio, pronome demonstrativo e pronome adjetivo.

B) advérbio, pronome possessivo e pronome adjetivo.

C) pronome pessoal reto, pronome possessivo e pronome possessivo.

D) pronome pessoal oblíquo, pronome possessivo e pronome possessivo.

E) pronome pessoal oblíquo, pronome demonstrativo e pronome demonstrativo.

 

05. Analise o trecho abaixo.

 

Foi a partir dessa constatação que a filósofa espanhola Adela Cortina buscou explicar uma patologia social, um fenômeno que existia; contudo, por não ser reconhecido, era difícil de ser combatido.

 

A palavra em destaque estabelece relação de

A) conclusão entre orações.             B) conclusão entre períodos.     C) concessão entre períodos. D) contraposição entre orações.  E) contraposição entre períodos.

Leia o trecho

 

06. O uso da palavra Mas, interligando os parágrafos 5 e 6, justifica-se porque

A) o parágrafo seis conclui um raciocínio desenvolvido no parágrafo cinco.

B) o parágrafo seis exemplifica uma ideia explicitada no parágrafo cinco.

C) o parágrafo seis explica uma ideia explicitada no parágrafo cinco.

D) há um contraponto espacial entre ocorrências de aporofobia citadas nesses parágrafos.

 E) há um contraponto temporal entre ocorrências de aporofobia citadas nesses parágrafos.

 

07. Considere o período abaixo

 

Em um país de uma elite aporófoba, a manutenção da desigualdade social se faz pela perseguição das minorias.

 

Nesse período, o uso da vírgula justifica-se porque ela

 

A) sinaliza, tão somente, uma pausa entre dois blocos de informações longos.

B) separa oração subordinada de valor adverbial, que poderia ser deslocada no interior da sentença.

C) separa um bloco de valor adverbial, que poderia ser deslocado no interior da sentença.

D) separa um bloco de informações de valor adjetivo, que poderia ser deslocado no interior da sentença.

E) sinaliza, tão somente, uma separação entre orações coordenadas assindéticas.

 

08. Leia o poema a seguir.

 

O bicho

Manuel Bandeira

Vi ontem um bicho

Na imundice do pátio

Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,

Não examinava nem cheirava:

Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,

Não era um gato,

Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem

 

(BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. 25º ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993)

 

Esse poema apresenta traços que

 

A) compara a condição humana à condição da vida animal.

B) descreve a rotina de pessoas que vivem na extrema pobreza.

C) denuncia a condição humana gerada pela desigualdade social.

D) narra alguns episódios de degradação da condição humana.

E) denuncia a existência degradante à qual são submetidos os animais.

 

09. Analise o trecho abaixo.

 

Os noticiários apontam para essa doença social: crianças negras mortas nas favelas por balas "perdidas" [...]

 

O uso das aspas sinaliza que o autor

A) considerou adequado o uso, pelos noticiários, da palavra “perdidas”.

B) considerou exagerado o uso, pelos noticiários, da palavra “perdidas”.

C) trouxe para o texto uma palavra cuja autoria é atribuída a outra pessoa.

D) pôs em dúvida o fato de crianças negras serem mortas, em favelas, acidentalmente.

E) utilizou uma palavra representativa de uma variedade diferente daquela empregada no texto.

 

10. Leia o parágrafo abaixo.

 

Da mesma maneira, qualquer iniciativa de alternativa ao status quo foi combatida, perseguida e destruída ferozmente pela elite política, latifundiária e empresarial brasileira, [1] que se utilizou do Estado para punir e tornar os pobres invisibilizados — a exemplo da chacina de Canudos, uma guerra contra trabalhadores [2] que buscavam uma vida solidária.

 

Sobre as palavras em destaque, é correto afirmar:

A) a primeira é um pronome relativo e introduz uma oração que explica informação expressa anteriormente; a segunda é um pronome relativo e introduz uma oração que restringe informação expressa anteriormente.

B) a primeira é um pronome relativo e introduz uma oração que explica informação expressa anteriormente; a segunda é uma conjunção e introduz uma oração que restringe informação expressa anteriormente.

C) a primeira é uma conjunção e introduz uma oração que explica informação expressa anteriormente; a segunda é uma conjunção e introduz uma oração que restringe informação expressa anteriormente.

D) a primeira é um pronome relativo e introduz uma oração que restringe informação expressa anteriormente; a segunda é um pronome relativo e introduz uma oração que explica informação expressa anteriormente.

E) a primeira é uma conjunção e introduz uma oração que restringe informação expressa anteriormente; a segunda é uma conjunção e introduz uma oração que explica informação expressa anteriormente.

 GABARITO

1C 2A 3B 4D 5D 6E 7C 8C 9D 10A

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