domingo, 29 de maio de 2022

INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

 Leia o texto e responda o que se pede:


O PODER ULTRAJOVEM

Carlos Drummond de Andrade

— QUERO LASANHA.
Aquêle anteprojeto de mulher — quatro anos, no máximo, desabrochando na ultraminissaia — entrou decidido no restaurante. Não precisava de menu, não precisava de mesa, não precisava de nada. Sabia perfeitamente o que queria. Queria lasanha.
O pai, que mal acabara de estacionar o carro em uma vaga de milagre, apareceu para dirigir a operação-jantar, que é, ou era, da competência dos senhores pais.
— Meu bem, venha cá.
— Quero lasanha.
— Escute aqui, querida. Primeiro, escolhe-se a mesa.
— Não, já escolhi. Lasanha.
Que parada — lia-se na cara do pai. Relutante, a garotinha condescendeu em sentar-se primeiro, e depois encomendar o prato:
— Vou querer lasanha.
— Filhinha, por que não pedimos camarão? Você gosta tanto de camarão.
— Gosto, mas quero lasanha.
— Eu sei, eu sei que você adora camarão. A gente pede fritada bem bacana de camarão. Tá?
— Quero lasanha, papai. Não quero camarão.
— Vamos fazer uma coisa. Depois do camarão a gente traça uma lasanha. Que tal?
— Você come camarão e eu como lasanha.
O garçom aproximou-se, e ela foi logo instruindo:
— Quero uma lasanha.
O pai corrigiu:
— Traga uma fritada de camarão pra dois. Caprichada.
A coisinha amuou. Então não podia querer? Queriam querer em nome dela? Por que é proibido comer lasanha? Essas interrogações também se liam no seu rosto, pois os lábios mantinham reserva. Quando o garçom voltou com os pratos e o serviço, ela atacou:
— Môço, tem lasanha?
— Perfeitamente, senhorita.
O pai, no contra-ataque:
— O senhor providenciou a fritada?
— Já, sim, doutor.
— De camarões bem grandes?
— Daqueles legais, doutor.
— Bem, então me vê um chinite, e pra ela... O que é que você quer, meu anjo?
— Uma lasanha.
— Traz um suco de laranja pra ela.
Com o chopinho e o suco de laranja, veio a famosa fritada de camarão, que, para surprêsa do restaurante inteiro, interessado no desenrolar dos acontecimentos, não foi recusada pela senhorita. Ao contrário, papou-a, e bem. A silenciosa manducação atestava, ainda uma vez, no mundo, a vitória do mais forte.
— Estava uma coisa, hem? — comentou o pai, com um sorriso bem alimentado. — Sábado que vem, a gente repete... Combinado?
— Agora a lasanha, não é, papai?
— Eu estou satisfeito. Uns camarões tão geniais! Mas você vai comer mesmo?
— Eu e você, tá?
— Meu amor, eu...
— Tem de me acompanhar, ouviu? Pede a lasanha.
         O pai baixou a cabeça, chamou o garçom, pediu. Aí, um casal, na mesa vizinha, bateu palmas. O resto da sala acompanhou. O pai não sabia onde se meter. A garotinha, impassível. Se, na conjuntura, o poder jovem cambaleia, vem aí, com fôrça total, o poder ultrajovem.

Texto extraído do livro “O poder ultra jovem”, Ed. José Olympio – Rio de Janeiro, 1972, pág. 3.


  1. Dos elementos da narrativa (personagens, narrador, lugar, tempo e espaço) e dos tipos de narrativas (conto, crônica, novela e romance) podemos observar alguns pormenores. Nesse contexto, em que momento do lazer entre pai e filha sofre um conflito?

a)    No momento que ele quer uma coisa e ela quer outra.
b)    No momento que o garçom oferece refrigerante.
c)    No momento em que ela vai a escola no outro dia.
d)    No momento em que ela alega ficar com dor de barriga com aquela comida.
e)    Todas as respostas.

  1. Quando o narrador descreve o comportamento da garota, deixa claro que ela tinha personalidade e não desistia de suas vontade. Em que parte do texto isso fica claro?

3. Drummond mostra um desentendimento entre pai e filha. O que o pai quer? E o que a flha quer?

4. De que maneira o momento de lazer entre pai e filha é marcado por um conflito?

5. O que significa "A coisinha amuou"?

6. A garota tem personalidade forte e o narrador descreve o comportamento dela dessa forma, além de mostrar que ela não desistia de sua vontade. Em que parte do texto isso fica evidente?

7. O respeito entre o pai e filha é mostrado também no texto e ela não discute com o genitor. Em que momento isso é percebido no texto?

8. A menina mostra-se firme e decidida naquilo que desejava ou tinha como objetivo fazer. Ser firme e inflexível é uma qualidade ou um defeito? Quais as consequências das escolhas, inclusive da teimosia?

INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

Leia o poema abaixo e responda o que se pede

Sabe-se que nosso povo gosta de contar histórias oralmente. Gosta tanto que, além de contá-la em prosa, costuma contá-la também em versos. Leia o conto em versos a seguir em voz alta para melhor apreciar sua sonoridade. Observe principalmente o ritmo garantido pelos versos, as rimas e as repetições. 

O que será que pode acontecer com um sapo dentro de um saco?


Um sapo dentro de um saco

Marcos Mairton da Silva

Andando por esse mundo

Já vi muito bicho feio.

Por isso, dificilmente,

Me espanto ou me aperreio.

Mas tive um certo receio

Ao encontrar, num buraco,

Um sapo dentro de um saco;

Um saco com um sapo dentro;

O sapo fazendo papo

E o papo fazendo vento.

Era uma noite escura,

Eu voltava para casa,

Quando ouvi alguma coisa,

Como um batido de asa,

Como água apagando brasa,

Como a queda de um barraco.

[Refrão]

[...]

[refrão]

Continuava o barulho.

Foi aí que, bem do lado

De um monte de entulho,

Tropecei num pedregulho

E caí feito um pau fraco,

[Refrão]

[...]

Quando eu quis me levantar,

Minha surpresa foi tamanha

Que fui caindo de novo,

Como uma lata de banha.

Pulou uma coisa estranha

Para fora do buraco.

[Refr‹o]

Assustado com a coisa

Que se sacudia inteira,

Que fazia mais zoada

Do que vendedor na feira,

Bat i a mão na peixeira,

Joguei de lado o casaco,

Meti a faca no saco [...],

[...]

Não acertei uma só.

[...]

Mas o sapo dentr’o saco,

E o saco com o sapo dentro,

Pulava e dava sopapo

Com o papo fazendo vento.

Fui embora cabisbaixo,

E aprendi a lição,

De não sair chafurdando

No meio da escuridão.

Não fujo de assombração,

Mas nunca mais me atraco

Com um sapo dentr’um saco;

Um saco com um sapo dentro;

O sapo fazendo papo

E o papo fazendo vento.

MAIRTON, Marcos. Um sapo dentro de um saco. Fortaleza: Dem—crito Rocha, 2013.


1 Quais são os elementos da narrativa da história (personagens, espaço, tempo, narrador, situação inicial, complicação, clímax e desfecho)?

2 Organizem a história a ser contada, observando que:

• agora o conto será organizado em frases contínuas;

• o narrador será também um dos personagens;

• as falas poderão acontecer em discurso direto;

• a linguagem utilizada no conto deve ser a do dia a dia, cotidiana, com o uso de expressões da linguagem popular ou regional.


INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

Leia o texto e responda o que se pede: 


Por que o morcego só voa de noite

Rogério Andrade Barbosa


Há muito e muito tempo houve uma tremenda guerra entre as aves e o restante dos animais que povoam as florestas, savanas e montanhas africanas.

Naquela época, o morcego, esse estranho bicho, de corpo semelhante ao do rato, mas provido de poderosas asas, levava uma vida mansa voando de dia entre as enormes e frondosas árvores à cata de insetos e frutas.

Uma tarde, pendurado de cabeça para baixo num galho, ele tirava a soneca costumeira, quando foi despertado bruscamente pelos trinados aflitos de um passarinho:

— Atenção, todas as aves! Foi declarada guerra aos quadrúpedes. Todos aqueles que têm asas e sabem voar devem se unir na luta contra os bichos que andam pelo chão.

O morcego ainda estava se refazendo do susto, quando uma hiena passou correndo e uivando aos quatro ventos:

— Atenção, atenção! Foi declarada guerra às aves! Todos os bichos de quatro patas devem se apresentar ao exército dos animais terrestres.

— E agora? — perguntou a si mesmo o aparvalhado morcego. — Eu não sou uma coisa nem outra.

Indeciso, não sabendo a quem apoiar, resolveu aguardar o resultado da luta:

— Eu é que não sou bobo. Vou me apresentar ao lado que estiver vencendo — decidiu.

Dias depois, escondido entre as folhagens, viu um bando de animais fugindo em carreira desabalada, perseguidos por uma multidão de aves que distribuía bicadas a torto e a direito. Os donos de asas estavam vencendo a batalha e, por isso, ele voou para se juntar às tropas aladas.

Uma águia, gigantesca, ao ver aquele rato com asas, perguntou:

— O que você está fazendo aqui?

— Não está vendo que sou um dos seus? Veja! — disse o morcego abrindo as asas. — Vim o mais rápido que pude para me alistar — mentiu.

— Oh, queira desculpar — falou a desconfiada águia. — Seja bem-vindo à nossa vitoriosa esquadrilha.

Na manhã seguinte, os animais terrestres, reforçados por uma manada de elefantes, reiniciaram a luta e derrotaram as aves, espalhando penas pra tudo quanto era lado.

O morcego, na mesma hora, fechou as asas e foi correndo se reunir ao exército vencedor.

— Quem é você? — rosnou um leão.

— Um bicho de quatro patas como Vossa Majestade — respondeu o farsante, exibindo os dentinhos

afiados.

— E essas asas? — interrogou um dos elefantes. — Deve ser um espião. Fora daqui! — berrou o paquiderme erguendo a poderosa tromba num gesto ameaçador.

O morcego, rejeitado pelos dois lados, não teve outra solução: passou a viver isolado de todo mundo,

escondido durante o dia em cavernas e lugares escuros.

É por isso que até hoje ele só voa de noite.

BARBOSA, Rogério Andrade. Hist—rias africanas para contar e recontar. São Paulo: Editora do Brasil, 2001. p. 9-12.

savana: planície coberta de grama e pequenas árvores.

frondoso: grande, abundante, cheio de folhas.

trinado: som, voz dos pássaros.

aos quatro ventos: em todas as direções, para todos ouvirem.

aparvalhado: desorientado, desnorteado, tolo.

desabalado: sem freios, sem limite. 

a torto e a direito: sem escolher; em grande quantidade.

alado: com asas.

farsante: pessoa que não leva nada a sério, que não merece confiança.

paquiderme: mamífero de grande porte que tem a pele espessa.


Esse conto mostra um pouco como, em tempos muito antigos, povos africanos e tantos outros usavam a imaginação para explicar o que, na época, não era possível conhecer por meio das ciências.


1. Quais são os elementos desse conto: narrador, personagens, tempo, espaço.

2. Identifiquem as partes do enredo: situação inicial, conflito, clímax e desfecho.

3. Observem em que momento foi utilizado o discurso direto.


INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

 Leia o texto e responda o que se pede


A máquina da Canabrava

Mario Prata


No primeiro dia de aula, a professora de História da Economia, na velha USP da Rua Doutor Vilanova, Alice Canabrava, escreveu no quadro negro o nome de um livro sobre o mercantilismo e disse, seriíssima:

— Na próxima aula (dali a uma semana), prova sobre o livro.

Era o estilo dela, que eu já havia enfrentado no exame oral (é, tinha oral) do vestibular para economia em 1967. Me lembro que ela me perguntou qual era a diferença entre uma nau e uma caravela. Na época, eu sabia.

Mas o mundo é pequeno e trinta anos depois vim a descobrir que a Canabrava era tia da minha amiga escritora-arquiteta Lúcia Carvalho. Era tia. Morreu há um mês, já velhinha, aposentada e lúcida. Deixou sua casa — com tudo que tinha lá dentro, incluindo uma genial biblioteca — para a Lúcia.

E a Lúcia acaba de me mandar um e-mail que eu transcrevo na íntegra, sobre uma velha máquina da catedrática tia. Vamos lá.

Ouve só. A gente esvaziando a casa da tia neste carnaval. Móvel, roupa de cama, louça, quadro, livro. Aquela confusão, quando ouço dois dos meus filhos me chamarem.

— Mãe!

— Faaala.

— A gente achou uma coisa incrível. Se ninguém quiser, pode ficar para a gente? Hein?

— Depende. Que é?

Os dois falavam juntos, animadíssimos.

— Ééé… Uma máquina, mãe.

— É só uma máquina meio velha.

— É, mas funciona, está ótima!

Minha filha interrompeu o irmão mais novo, dando uma explicação melhor.

— Deixa que eu falo: é assim, é uma máquina, tipo um… teclado de computador, sabe só o teclado? Só o lugar que escreve?

— Sei.

— Então. Essa máquina tem assim, tipo… uma impressora, ligada nesse teclado, mas assim, ligada direto.

Sem fio. Bem, a gente vai, digita, digita…

Ela ia se animando, os olhos brilhando.

— … e a máquina imprime direto na folha de papel que a gente coloca ali mesmo! É muuuito legal! Direto, na mesma hora, eu juro!

Eu não sabia o que falar. Eu juro que não sabia o que falar diante de uma explicação dessas, de menina de 12 anos, sobre uma máquina de escrever. Era isso mesmo?

— … entendeu mãe?… zupt, a gente escreve e imprime, a gente até vê a impressão tipo na hora, e não precisa essa coisa chata de entrar no computador, ligar, esperar hóóóras, entrar no editor de texto, de escrever olhando na tela, mandar para a impressora, esse monte de máquina, de ter que ter até estabilizador, comprar cartucho caro, de nada, mãe! É muuuito legal, e nem precisa colocar na tomada! Funciona sem energia e escreve direto na folha da impressora!

— Nossa, filha…

— … só tem duas coisas: não dá para trocar a fonte nem aumentar a letra, mas não tem problema. Vem, que a gente vai te mostrar. Vem…

Eu parei e olhei, pasma, a máquina velha. Eles davam pulinhos de alegria.

— Mãe. Será que alguém da família vai querer? Hein? Ah, a gente vai ficar torcendo, torcendo para ninguém querer para a gente poder levar lá para casa, isso é o máximo! O máximo!

Bem, enquanto estou aqui, neste ‘teclado’, estou ouvindo o plec-plec da tal máquina, que, claro, ninguém da família quis, mas que aqui em casa já deu até briga, de tanto que já foi usada. Está no meio da sala de estar, em lugar nobre, rodeada de folhas e folhas de textos ‘impressos na hora’ por eles.

Incrível, eles dizem, plec-plec-plec, muito legal, plec-plec-plec.

Eu e o Zé estamos até pensando em comprar outras, uma para cada filho. Mas, pensa bem se não é incrível mesmo para os dias de hoje: sai direto, do teclado para o papel, e sem tomada!

Céus. Que coisa. Um beijo grande, Lúcia.

É, Lúcia, a nossa querida Alice Canabrava, deve estar descansando em paz e rindo muito. E dê uns beijos nos filhos e agradeça a crônica pronta-pronta, plec-plec-plec, que eu ofereço aos meus

leitores. E leitoras.

PRATA, Mario. A máquina da Canabrava. Disponível em: <https://marioprata.net/cronicas/a-maquina-da-canabrava/>. Acesso em: 13 jul. 2018.


1 Você já sabe que as crônicas podem ter formas variadas. A crônica apresenta um fato do cotidiano por meio de um diálogo. Na crônica “A máquina da Canabrava”, que recurso o autor usou para construir a narrativa?

2 No último parágrafo do texto, o autor diz à amiga: “E dê uns beijos nos filhos e agradeça a crônica pronta-pronta”. Por que ele faz esse agradecimento?

3 Por que o fato de as crianças ficarem encantadas com uma máquina de escrever causa estranhamento na mãe delas, levando-a escrever um e-mail para seu amigo?

4 Você viu que uma das características da crônica é o uso de uma linguagem mais informal, com marcas da oralidade. Localize alguns trechos em que essa linguagem é usada na crônica.

INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

 Leia o texto não verbal e responda o que se pede:

Imagem da Internet.

1. Por que você achou essa imagem engraçada?

2. O personagem do meme é muito famoso, pois tem programa na TV por décadas. Quem é esse personagem?

3. O personagem diz: "A comida gordurosa é romântica". O que ele quis dizer com isso?




sábado, 28 de maio de 2022

INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

 Leia o texto e responda o que se pede:

Conversinha mineira

Fernando Sabino

— É bom mesmo o cafezinho daqui, meu amigo?

— Sei dizer não senhor: não tomo café.

— Você é dono do café, não sabe dizer?

— Ninguém tem reclamado dele não senhor.

— Então me dá café com leite, pão e manteiga.

— Café com leite só se for sem leite.

— Não tem leite?

— Hoje, não senhor.

— Por que hoje não?

— Porque hoje o leiteiro não veio.

— Ontem ele veio?

— Ontem não.

— Quando é que ele vem?

— Tem dia certo não senhor. Às vezes vem, às

vezes não vem. Só que no dia que devia vir em

geral não vem.

— Mas ali fora está escrito “Leiteria”!

— Ah, isto está sim senhor.

— Quando é que tem leite?

— Quando o leiteiro vem.

— Tem ali um sujeito comendo coalhada. É feita de quê?

— O quê: coalhada? Então o senhor não sabe de que é feita a coalhada?

— Está bem, você ganhou. Me traz um café com leite sem leite. Escuta uma coisa: como é que

vai indo a política aqui na sua cidade?

— Sei dizer não senhor: eu não sou daqui.

— E há quanto tempo o senhor mora aqui?

— Vai para uns quinze anos. Isto é, não posso agarantir com certeza: um pouco mais, um pouco menos.

— Já dava para saber como vai indo a situação, não acha?

— Ah, o senhor fala a situação? Dizem que vai bem.

— Para que Partido?

— Para todos os Partidos, parece.

— Eu gostaria de saber quem é que vai ganhar a eleição aqui.

— Eu também gostaria. Uns falam que é um, outros falam que outro. Nessa mexida...

— E o Prefeito?

— Que é que tem o Prefeito?

— Que tal é o Prefeito daqui?

— O Prefeito? É tal e qual eles falam dele.

— Que é que falam dele?

— Dele? Uai, esse trem todo que falam de tudo quanto é Prefeito.

— Você, certamente, já tem candidato.

— Que, eu? Estou esperando as plataformas.

— Mas tem ali o retrato de um candidato dependurado na parede, que

história é essa?

— Aonde, ali? Ué, gente: penduraram isso aí...


SABINO, Fernando. Cr™nicas 5. São Paulo: Ática, 2011. p. 29-30. (Coleção Para Gostar de Ler).


1. A crônica que você leu é construída pela conversa entre duas pessoas: um cliente e o dono do café de uma cidade. Onde acontece essa conversa?

2. Como é possível saber que um dos personagens é visitante no lugar?

3. Em que trecho é possível saber que o outro é o dono do lugar onde a conversa acontece?

4. Nesse diálogo, os dois interlocutores, isto é, os dois participantes da conversa, interagem de formas diferentes. Qual deles:

a) é o que faz muitas perguntas?

b) trata o outro amigavelmente por “você”?

c) trata o outro com cerimônia, usando “senhor”?

d) fica impaciente durante a conversa?

e) muda o assunto da conversa?

f) não é receptivo com o outro?

5. Qual é o fato que provoca o descontentamento do cliente? Copie no caderno a frase dita pelo cliente quando desiste de conversar sobre esse fato.

6 Na primeira metade da crônica o assunto do diálogo são os produtos oferecidos no estabelecimento. Qual é o assunto que predomina na segunda metade da conversa?

7 Para não responder a uma das perguntas, o dono do café fala: " — Sei dizer não senhor: eu não sou daqui". Esse argumento não é aceito pelo cliente. Por quê?

8. Releia as respostas dadas pelo dono do café às perguntas sobre:

• o tempo em que mora na cidade:

— Vai para uns quinze anos. Isto é, não posso agarantir com certeza: um pouco mais, um pouco menos.

• a situação política:

— Dizem que vai bem.

• quem vai ganhar a eleição:

— Uns falam que é um, outros falam que outro.

• o prefeito da cidade:

— É tal e qual falam dele.

• o que falam do prefeito:

— Uai, esse trem todo que falam de tudo quanto é Prefeito.

9. Assinale a(s) alternativa(s) que melhor explica(m) os tipos de resposta dados pelo dono do café.

a) Ele responde com clareza e precisão a todas as perguntas.

b) Ele não sabe responder a nenhuma das perguntas.

c) Ele responde de modo vago e impreciso.

d) Ele responde sem pensar no que foi perguntado.

10.  O título da crônica é “Conversinha mineira”. Que elementos do texto justificam a escolha desse título?

11.  Você já viu que a crônica explora fatos e acontecimentos do dia a dia. Que fato do cotidiano é explorado por essa crônica?

sexta-feira, 27 de maio de 2022

INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

 Leia o texto e responda o que se pede:


História de Trancoso

Joel Rufino dos Santos

Era uma vez um fazendeiro podre de rico, que viajava solitário.

— Ah, quem me dera encontrar por aí um companheiro de estrada...

Não é que encontrou? Num rancho em que parou para beber água, o fazendeiro achou um padre querendo seguir viagem, mas morria de medo.

— Pode-se saber de que vossa senhoria tem medo? — perguntou o fazendeiro.

— De curupira. Me avisaram que a estrada está assim deles.

— Não se avexe — falou o fazendeiro. — Comigo não tem curupira nem mané-curupira. Venha comigo.

Andaram que andaram. Quando já ia escurecendo, ouviram a mata bulir.

O padre se benzeu, o fazendeiro preparou a espingarda.

— Se for encantado vai virar peneira — avisou.

— Calma — gritou uma voz de taquara rachada. — É gente que aqui vai.

— Se é cristão se aproxime — gritou o padre, medrosão.

Era um roceiro montado num burro velho.

— Posso entrar nesse cortejo? — perguntou com respeito.

O roceiro tinha um só dente na frente e cara de bobo.

O fazendeiro e o padre torceram o nariz. Mas lá seguiram viagem.

Anda que anda, só os dois proseando.

O roceiro tinha lá papo para aquela conversa de doutor?

De quando em vez destampava uma moringa e bebia um gole d'água.

O padre e o fazendeiro morrendo de sede.

O padre não aguentou mais:

— Sou servido um gole desta água. Pra matar minha sede.

O roceiro emprestou a moringa ao padre.

O fazendeiro, porém, aguentou firme. O roceiro de quando em quando ofertava:

— Um golinho d'água, nhonhô? Tá fresca, fresca...

Até que o fazendeiro se entregou:

— Já que vosmicê tanto insiste, me dê cá a saborosa.

O fazendeiro não tinha era coragem de botar a boca onde o roceiro botava a sua.

Procurou um lugarzinho lascado, pensamentando: “Nesse lascado ele não deve usar”.

— Gozado, nhonhô — disse o roceiro. — É mesmo aí, nesse quebradinho, que acostumo de beber.

Os três viajantes pararam numa venda. Comeram jabá, com feijão e mandioca, depois um copo

de jurubeba.

Antes de dormir, não é que o dono da venda pegou um queijo de cabra e deu de presente pra eles?

Tão pequetitinho que nem dava para dividir.

O padre, que era muito sabido, deu uma ideia:

— Vamos dormir. Quem tiver o sonho mais bonito fica com o queijo.

Dormiram que Deus deu. No canto do primeiro galo pularam da cama, selaram os cavalos en-

quanto o roceiro ajeitava seu burro velho. Engoliram um café com vento... E pé na estrada.

A fome apertou, o padre foi contando o seu sonho:

— Sonhei com uma grande escada de ouro, cravejada de marfim. Começava juntinho do meu

travesseiro... Furava as nuvens lá em riba... Ia subindo, subindo... E sabem onde terminava?

— Não — respondeu o fazendeiro.

— No céu. Ninguém pode sonhar coisa mais bonita. Conforme combinado, o queijo é meu.

— Pois eu — disse o fazendeiro, picando o rolo de fumo — sonhei com um lugar iluminadão. Só

que não tinha lâmpadas.

— Como não tinha lâmpadas? — perguntou o padre.

— A luz nascia das coisas — explicou o fazendeiro.

— Vocês já viram um cacho de banana servindo de lustre? Pois nesse lugar tinha. Já viram areia

de prata de puro diamante? Pois era assim nesse lugar que sonhei.

— E pode-se saber que lugar era este? — perguntou o padre, sem jeitão.

— O céu. Você sonhou com a escada pro céu. Eu sonhei que já estava

lá. Conforme combinado, o queijo é meu.

O fazendeiro foi abrindo o surrão para pegar o queijo. Jacaré achou?

Nem ele.

— Ué! Onde se meteu o danado?

— Agora que vocês contaram o sonho — falou o roceiro —, tenho uma coisa pra contar.

O padre e o fazendeiro olharam o roceiro de banda.

— Cês não ouviram um barulho de noite? Pois era eu que me levantei pra comer o queijo.

Como vocês estavam no céu, achei que não precisavam mais do queijo.

Sabem quem era esse roceiro?

Trancoso.

SANTOS, Joel Rufino dos. O saci e o curupira e outras histórias

do folclore. São Paulo: Ática, 2017. p. 45-52.


VOCABULÁRIO

bulir: mexer-se, mover-se.

encantado: nesse contexto, equivale a um ser sobrenatural.

taquara: bambu.

jabá: carne bovina salgada e seca ao sol.

jurubeba: planta usada para fazer chá.

submisso: que aceita estar em uma posição inferior.

enojado: que sente nojo.

O conto lido é da tradição popular oral. É importante que ele seja lido também em voz alta, com muita expressividade.

1 Nesse conto popular destacam-se três personagens centrais. Como esses personagens são nomeados no texto?

2. Só um desses personagens foi caracterizado de acordo com a aparência física. Escreva o nome desse personagem e as características relacionadas a ele.

3 É possível perceber também as características da personalidade desses personagens, na leitura do conto?

4. Escreva o nome do personagem diante de cada uma das características. Em seguida, escreva a justificativa, ou seja, a razão pela qual você indicou aquele personagem.

a) O mais medroso.

b) O que procura demonstrar que é corajoso.

c) O que parecia ser o mais humilde ou submisso.

d) O que parecia ser o mais esperto.

e) O mais enojado.

f) O que foi realmente o mais esperto.


4.Releia estes dois trechos do conto:


Dormiram que Deus deu. No canto do primeiro galo pularam da cama, selaram os cavalos enquanto o roceiro ajeitava seu burro velho. Engoliram um café com vento... E pé na estrada.

A fome apertou, o padre foi contando o seu sonho:

— Cês não ouviram um barulho de noite? Pois era eu que me levantei pra comer o queijo. Como vocês estavam no céu, achei que não precisavam mais do queijo.

Responda às questões.

5. Quando o roceiro comeu o queijo, já sabia qual era o sonho de cada um dos companheiros? Explique sua resposta.

6. Que estratégia ele utilizou para justificar a posse do queijo?

7. O que você pensa da atitude de contar uma mentira e se utilizar da esperteza para ficar com o queijo?

8. No fim do conto o roceiro é identificado pelo narrador como Trancoso. Ele é o personagem principal da história? Justifique sua resposta com base em elementos do conto.

INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

 Leia a tirinha e responda o que se pede:


Leia uma definição de “relógio biológico”:

O relógio biológico é um mecanismo regido pela sequência das horas do dia, que está presente em todos os seres vivos, regulando todas as atividades do organismo. [...]

Disponível em: <www.brasilescola.com/biologia/relogio-biologico.htm>. Acesso em: 6 fev. 2019.

1. Por que, na tira, Calvin afirma que o relógio biológico dele está no horário de Tóquio?

2. Releia as falas da tira. Copie abaixo uma expressão delas que seja própria da língua falada. Explique sua escolha.

3. Assinale a(s) alternativa(s) que melhor indica(m) o tipo de fala produzida na tira.

• Mais planejada e bem controlada pelos interlocutores. (    )
• Mais formal, pois é uma situação que exige precisão de linguagem. (    )
• Mais espontânea, menos planejada, mais informal. (    )
• Mais informal, mas bem planejada pelos interlocutores. (    )


quarta-feira, 25 de maio de 2022

INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

 Leia o texto abaixo e responda as perguntas:

Cariocas, paulistas, mineiros, baianos, paraibanos, gaúchos... Toda essa gente fala a mesma língua, mas cada qual do seu jeitinho. Um puxa mais o "s"; outro capricha no "r"; tem quem fale mais rápido; tem quem fale cantando... A razão de tantas diferenças é o sotaque.

O sotaque é a pronúncia característica de um país, de uma região ou mesmo de uma pessoa. Ele é identificado pela maneira de emitir o som das palavras, variando de um tom para outro. Aqui no Brasil, quase sempre é possível saber em que região as pessoas vivem ou onde viveram uma grande parte de sua vida apenas pela forma que elas falam.

Nosso país tem cinco regiões, mas há muito mais sotaques do que isso. Não se sabe nem exatamente quantos! O sotaque se caracteriza pela força ou intensidade, pelo ritmo e pela melodia de uma mesma língua falada de maneiras diferentes por diferentes comunidades.

É curioso que, quando estamos em contato com pessoas da nossa comunidade, não notamos nosso próprio sotaque. Mas basta falarmos com pessoas de outra cidade ou outro estado diferente que percebemos logo a diferença.

Os sotaques são desenvolvidos pelas comunidades naturalmente, por imitação. Isso quer dizer que um vai adquirindo a maneira de falar do outro e, aos poucos, todos estão falando de forma muito parecida. Não importa, portanto, se você nasceu ou não naquele lugar. Por exemplo, se nos mudamos para outra região e lá morarmos por muito tempo, nossa tendência natural é passar a falar da mesma forma que as pessoas daquele local.

Todos temos sotaque. Mesmo as pessoas que utilizam a língua padrão em sua forma mais vigiada possível têm o seu próprio jeito de falar. Até porque tendemos a achar que a maneira correta de falar é sempre a nossa. Assim, não há duas pessoas que se comuniquem exatamente do mesmo modo.
Quer ver só? Tente ouvir sua própria voz numa gravação. Você vai perceber que sua fala é muito parecida com a de outras pessoas com as quais convive.

Apesar de pronunciada de maneiras diferentes por meio do sotaque, a língua é de todos. Assim, todos têm o direito de interferir nela, e interferem sempre: uns mais, outros menos!
Disponível em: <Por que temos | O TEMPO>. Acesso em 25 de mai de 2022.
1. O que se entende do texto? 

2. Para que serve esse texto? 

3. O título do texto é uma pergunta. Qual a explicação que o autor dá no texto para respondê-la?
4. Qual é o sotaque que você já ouviu?5. Esse sotaque que você ouviu pertence a uma região distante ou próxima de você? Qual é a região?6. Dê três exemplos de palavras ou expressões ou modos de pronúncia de palavras em diferentes sotaques.7. Como os sotaques se desenvolvem pelas comunidades, segundo o texto?

INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

Leia o texto e responda o que se pede:


  de “O Meu Livro”, do mesmo Patativa:




Meu nome é Chico Braúna

Eu sou pobre de nascença

Deserdado de fortuna

Mas rico de consciença

Nas letras num tive estudo

Sou mafabeto de tudo

De pai, de mãe, de parente

Mas tenho grande prazê

Pruquê aprendi a lê

Duma forma deferente


ABC nem beabá

No meu livro não se encerra

O meu livro é naturá

É o má, o céu e a terra

Com a sua imensidade

Livro cheio de verdade

Da beleza e de primô

Tudo incadernado, iscrito

Pelo pudê infinito

Do nosso Pai Criadô


O meu livro é todo cheio

De muita coisa incelente

Em suas foia é que leio

O pudê do Onipotente

Nesta leitura suave

Eu vejo coisa agradave

Que muita gente não vê

Por isso sou conformado

Sem eu nunca tê pegado

Numa carta de ABC


Num é preciso a pessoa

Cunhecê o beabá

Pra sê honesta e sê boa

E em Jesus acreditá

Deus e seu milagre exato

Eu vejo mesmo nos mato

Justiça, verdade e amô

De minha mente não sai

Deste jeito era meu pai

E o finado meu avô


De que adianta a ciença

Do professô estudioso

Se ele não crê na existença

De um grande Deus Poderoso?

Eu sem tê letra nem arte

Vejo deus em toda parte

O seu pudê radiante

Tá bem visive e presente

Na mais pequena semente

E no maió elefante


Deus é força infinita

É o esprito sagrado

Que tá vivendo e parpita

Em tudo que foi criado

Não há quem possa contá

É assunto que não dá

Pra se dizê no papé

Não inziste professô

Nem sábio, nem iscritô

Pra sabê Deus cuma é


Apenas se tem certeza

Que ele é a santa verdade

E é a subrime grandeza

Em bondade e divindade

Porém se ele é infinito

E soberano e bendito

De tudo superiô

Que até os bicho lhe adora

Proquê muitos tão pro fora

Das orde do Criadô?


Deus quando o mundo criou

Ordenou a paz comum

E com amô insinou

O devê de cada um

Os home pra trabaiá

Um ao outro respeitá

E a boa istrada segui

E os bicho irracioná

Promode se alimentá

Produzi e reproduzi


Ainda hoje os animá

As orde santa obedece

Sem uma virga faltá

Se alimenta, omenta e cresce

Eles que nada magina

Que nada raciocina

Não pensa nem tem razão

Continua sem disorde

Sempre obedecendo as orde

Do Sinhô da criação


Segue o seu caminho exato

Até a própria formiga

Trazendo foia dos mato

Dentro da terra se abriga

Sem nada contrariá

Cumprindo as lei naturá

Ao divino mestre atende

Sabe até fazê iscoia

Pois ela só corta as foia

Das foia que não lhe ofende


Se o João de Barro, o Pedreiro

Sabendo que não se atrasa

Faz de dezembro a janêro

A sua bunita casa

Com as porta pro poente

Pois nunca faz pro nascente

É orde do Sumo bem

Nunca aquele passarinho

Faz a porta do seu ninho

Do lado que a chuva vem


Tudo segue as orde santa

Sem havê ninhuma fáia

Enquanto a cigarra canta

A furmiguinha trabáia

Bria o lindo vaga-lume

Faz a aranha o seu tissume

E o passo beija-fulô

Voa pra frente e pra trás

E o certo é que todos faz

Aquilo que Deus mandô


Será que o home, esse ingrato

Dotado de intiligença

Vendo os bichinho do mato

Com tamanha obediença

Não se sente incabulado

Acanhado, invergonhado

Por não sigui as lição

Da istrada da sua vida

Esta graça concedida

Pelo autô da criação?


A Divina Providença

Com o seu imenso pudê

Deu ao home intiligença

Foi pra ele se regê

Não precisa o Soberano

Chegá a dizê: Fulano

Seu caminho é por ali

Deus lhe deu o dom divino

O dom do raciocínio

Pra ele se conduzi


Ninguém vem contrariá

A mim, o Chico Braúna

Não precisa Deus mandá

Que a humanidade se una

Pois todos tem cunciença

Tem o dom da intiligença

Por defeito e gratidão

Todos tem de obedecê

Cada um tem o devê

De defendê seu irmão


1.Sabe-se que o eu-lírico é a voz de quem fala no texto (poema), ou seja, é a personagem do texto. Quem é o eu lírico do texto acima?


2. Como se pode identificar o eu-lírico no texto? Comprove com elementos do texto.


2. Chico, na primeira estrofe, diz que aprendeu a ler de forma um tanto diferente. Qual é essa forma "diferente"? 


3. A variação linguística de Chico é diferente da usada nos jornais. Nesse contexto, é possível compreender o que ele diz? Justifique.


4. A variação linguística usada por você é parecida ou diferente da usada por Chico? Devemos ter preconceito por causa do sotaque ou da variação linguística de alguma pessoa que fala diferente da gente? Justifique.


5. Ao aprendermos a ler de maneira natural (ou seja, sem ter ido a escola) a escrita tem proximidade com a língua oral. Transcreva 3 trechos em que há construções inadequadas a língua escrita, porém são aceitáveis na língua oral.

INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

 Leia o texto e responda o que se pede:

Modos de xingar

— Biltre!
— O quê?
— Biltre! Sacripanta!
— Traduz isso para português.
— Traduzo coisa nenhuma. Além do mais, charro! Onagro!
Parei para escutar. As palavras estranhas jorravam do interior de um Ford de bigode. Quem as proferia era um senhor idoso, terno escuro, fisionomia respeitável, alterada pela indignação. Quem as recebia era um garotão de camisa esporte; dentes clarinhos emergindo da floresta capilar, no interior de um fusca. Desses casos de toda hora: o fusca bateu no Ford. Discussão. Bate-boca. O velho usava o repertório de xingamentos de seu tempo e de sua condição: professor, quem sabe? leitor de Camilo Castelo Branco.
Os velhos xingamentos. Pessoas havia que se recusavam a usar o trivial das ruas e botequins, e iam pedir a Rui Barbosa, aos mestres da língua, expressões que castigassem fortemente o adversário. Esse material seleto vinha esmaltar artigos de polêmica (polemizava-se muito nos jornais do começo do século), discursos políticos (nos intervalos do estado de sítio, é lógico) e um pouco os incidentes de calçada.
A maioria, sem dúvida, não se empenhava em requintes. Mesmo na imprensa, que se dizia amarela e depois virou marrom, ou na de cores mais amenas, a palavra safardana tinha curso fluente. “Safardana”, mais veemente que “safado”, levava em sua companhia a variante “grandessíssimo safado”, de emprego recomendável como preliminar ao desforço físico, a bengaladas. “Grandessíssimo” dilatava enormemente a ofensa, e como revide só mesmo o palavrão universal, que não é necessário reproduzir aqui.
Ladrão”, simplesmente, não convencia. Adotavam-se formas sofisticadas, como “ladravaz”, “ladroaço”. Muitos preferiam “larápio”, fazendo-o acompanhar de movimento giratório dos dedos da mão direita em torno do eixo do polegar. “Ratoneiro” também tinha clientes. E “gatuno” (“esta noite entrou gatuno lá em casa”) aplicava-se aos que, com mão de gato, surrupiavam tanto um relógio como uma ideia.
Jamais aprovei o uso indevido de nomes de animais para qualificar ou verberar deficiências intelectuais ou morais do próximo. A injustiça feita ao cachorro, alçado a “cachorrão”, como sinônimo de mau-caráter, dói e revolta. A zebra não é responsável pelo baixo QI de seres humanos, nem o camelo tampouco. Burro, burroide, besta, bestalhão, jumento: outros exemplos de impropriedade vocabular, que não recomendam a linguagem crítica. Irracionais prestantes, muitas vezes providos de razão prática luminosa, não costumam, que eu saiba, xingar os de sua espécie com invectivas desta ordem:
— Homem!
— Homúnculo!
— Reverendíssimo homem!
Onde aprecio os antigos é na graça de certos epítetos, que não chegam a desaforo; ficam no plano do humor. Assim o “mariola”, que curtia vida de malandro; o “mandrião”, que fugia do trabalho como fugimos hoje dos automóveis; o “salta-pocinhas”, o “valdevinos”…
— Aquilo é um sevandija.
Aí, a classificação começa a engrossar. Não é agradável ouvir que nos chamam de parasita. Mas “peralvilho”, quem se zangava? “Badameco” e “bonifrate” ardiam um pouco na pele. “Peralta”…
Tertuliano, frívolo peraltado soneto de Artur Azevedo, não deixava de ser um cara simpático. Não há mais peraltices. Hoje, são violentas as jogadas. E as expressões cáusticas ou irônicas, mais limitadas. Com dois ou três palavrões, qualificamos tudo. Aquele senhor do Ford de bigode, com seu palavreado escorreito, como o admiro. Salve, paladino do pulcro dizer, no instante da ira! Com exceção do “onagro”: o animal não merecia trato pejorativo. Respeitemos a natureza, até na cólera.

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Modos de xingarIn, Poesia e prosa. 5ª ed. Rio de Janeiro: Nova Aguiar, 1979, p. 1411/1413)

1.Qual é a ideia principal do texto?

2. Qual é o significado das palavras "biltre" e "sacripanta"?

3. Qual é a estranheza que o narrador acha em relação ao idoso?

4. A ironia é a forma de dizer o contrário do que queremos. Nesse contexto, o narrador faz uso da ironia e assim dá uma explicação para o uso dos xingamentos utilizados pelo idoso. O que ele diz sobre isso?

5. Em relação a língua veiculada no texto (crônica), o que se pode interpretar disso?

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