sábado, 28 de maio de 2022

INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

 Leia o texto e responda o que se pede:

Conversinha mineira

Fernando Sabino

— É bom mesmo o cafezinho daqui, meu amigo?

— Sei dizer não senhor: não tomo café.

— Você é dono do café, não sabe dizer?

— Ninguém tem reclamado dele não senhor.

— Então me dá café com leite, pão e manteiga.

— Café com leite só se for sem leite.

— Não tem leite?

— Hoje, não senhor.

— Por que hoje não?

— Porque hoje o leiteiro não veio.

— Ontem ele veio?

— Ontem não.

— Quando é que ele vem?

— Tem dia certo não senhor. Às vezes vem, às

vezes não vem. Só que no dia que devia vir em

geral não vem.

— Mas ali fora está escrito “Leiteria”!

— Ah, isto está sim senhor.

— Quando é que tem leite?

— Quando o leiteiro vem.

— Tem ali um sujeito comendo coalhada. É feita de quê?

— O quê: coalhada? Então o senhor não sabe de que é feita a coalhada?

— Está bem, você ganhou. Me traz um café com leite sem leite. Escuta uma coisa: como é que

vai indo a política aqui na sua cidade?

— Sei dizer não senhor: eu não sou daqui.

— E há quanto tempo o senhor mora aqui?

— Vai para uns quinze anos. Isto é, não posso agarantir com certeza: um pouco mais, um pouco menos.

— Já dava para saber como vai indo a situação, não acha?

— Ah, o senhor fala a situação? Dizem que vai bem.

— Para que Partido?

— Para todos os Partidos, parece.

— Eu gostaria de saber quem é que vai ganhar a eleição aqui.

— Eu também gostaria. Uns falam que é um, outros falam que outro. Nessa mexida...

— E o Prefeito?

— Que é que tem o Prefeito?

— Que tal é o Prefeito daqui?

— O Prefeito? É tal e qual eles falam dele.

— Que é que falam dele?

— Dele? Uai, esse trem todo que falam de tudo quanto é Prefeito.

— Você, certamente, já tem candidato.

— Que, eu? Estou esperando as plataformas.

— Mas tem ali o retrato de um candidato dependurado na parede, que

história é essa?

— Aonde, ali? Ué, gente: penduraram isso aí...


SABINO, Fernando. Cr™nicas 5. São Paulo: Ática, 2011. p. 29-30. (Coleção Para Gostar de Ler).


1. A crônica que você leu é construída pela conversa entre duas pessoas: um cliente e o dono do café de uma cidade. Onde acontece essa conversa?

2. Como é possível saber que um dos personagens é visitante no lugar?

3. Em que trecho é possível saber que o outro é o dono do lugar onde a conversa acontece?

4. Nesse diálogo, os dois interlocutores, isto é, os dois participantes da conversa, interagem de formas diferentes. Qual deles:

a) é o que faz muitas perguntas?

b) trata o outro amigavelmente por “você”?

c) trata o outro com cerimônia, usando “senhor”?

d) fica impaciente durante a conversa?

e) muda o assunto da conversa?

f) não é receptivo com o outro?

5. Qual é o fato que provoca o descontentamento do cliente? Copie no caderno a frase dita pelo cliente quando desiste de conversar sobre esse fato.

6 Na primeira metade da crônica o assunto do diálogo são os produtos oferecidos no estabelecimento. Qual é o assunto que predomina na segunda metade da conversa?

7 Para não responder a uma das perguntas, o dono do café fala: " — Sei dizer não senhor: eu não sou daqui". Esse argumento não é aceito pelo cliente. Por quê?

8. Releia as respostas dadas pelo dono do café às perguntas sobre:

• o tempo em que mora na cidade:

— Vai para uns quinze anos. Isto é, não posso agarantir com certeza: um pouco mais, um pouco menos.

• a situação política:

— Dizem que vai bem.

• quem vai ganhar a eleição:

— Uns falam que é um, outros falam que outro.

• o prefeito da cidade:

— É tal e qual falam dele.

• o que falam do prefeito:

— Uai, esse trem todo que falam de tudo quanto é Prefeito.

9. Assinale a(s) alternativa(s) que melhor explica(m) os tipos de resposta dados pelo dono do café.

a) Ele responde com clareza e precisão a todas as perguntas.

b) Ele não sabe responder a nenhuma das perguntas.

c) Ele responde de modo vago e impreciso.

d) Ele responde sem pensar no que foi perguntado.

10.  O título da crônica é “Conversinha mineira”. Que elementos do texto justificam a escolha desse título?

11.  Você já viu que a crônica explora fatos e acontecimentos do dia a dia. Que fato do cotidiano é explorado por essa crônica?

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