Leia o texto e responda o que se pede:
O Brasil musical de 2017 é tão interessante quanto o de 1987
Comparar períodos diferentes apenas reforça o preconceito que assola o país atualmente
Há dias, corre uma lista infeliz nas redes sociais que simplifica uma velha discussão sobre os rumos da música brasileira. A de que estamos perdendo qualidade? Que ficamos medíocres musicalmente? Criou-se uma relação de supostos artistas bem colocados na mídia, em 1987 (o ano em que o rock nacional tomou conta das rádios), e estabeleceu-se uma comparação com os mais bem-sucedidos de 2017. De um lado, estão Caetano Veloso, Marina Lima, Zé Ramalho, Gal Costa, Roberto Carlos, Djavan, Gilberto Gil, Renato Teixeira & Almir Sater e Legião Urbana. Do outro, Pablo Vitar, Anitta, Marília Mendonça, Simone & Slmaria, Luan Santana, Maiara & Maraísa, Nego do Borel, Ludmilla, MC Kevinho e Thiaguinho.
Em 1987, Chacrinha balançava a pança e comandava a massa com seu “Cassino” nas tardes de sábados da Rede Globo. Uma espécie de mosaico do que a indústria gostaria que o brasileiro consumisse. Estavam lá de Rosana a Cazuza; de Capital Inicial a Sandra de Sá; De Lecy Brandão ao Olodum.
Em 1987, éramos tão diversos e pop quanto agora em 2017. Talvez, a maior diferença é que não tínhamos as bandeiras do preconceito coladas no peito. Não éramos musicalmente melhores nem piores. Tentávamos decorar a letra quilométrica de “Faroeste Caboclo”, da Legião Urbana, enquanto cantarolávamos, com facilidade e felicidade, a bela “Retratos & Canções, interpretada divinamente por Sandra de Sá. Havia uma convivência musical e o programa do Chacrinha era o nosso reflexo no espelho.
Em 2017, quando a música viaja por plataformas virtuais, construímos mais facilmente nossos muros imaginários. Difíceis de escalá-los. Neles, cabem barrar intérpretes por conta de preferências políticas, sexuais, religiosas, raciais e machistas. Aliás, quantos juraram quebrar em praça públicas os discos de Chico Buarque e de Caetano Veloso por conta das posturas humanistas que eles têm adotados diante do avanço de ideias conservadoras?
Em 30 anos que separam esses supostos dois blocos de artistas, a música brasileira se diversificou ainda mais. Está mais democrática. Interessante, aliás, perceber quem compõe o mundo musical de 2017: negros, mulheres, trans e artistas nascidos e criados nas periferias. Embora não seja fã ardoroso da maioria, vejo o sucesso desses intérpretes como um fenômeno social bem-vindo.
A música brasileira é o segmento cultural mais importante do país no mundo. O que promove maior visibilidade e respeito, sobretudo, pela diversidade de ritmos e sonoridades. Da bossa nova ao samba, temos um universo de possibilidades musicais que não se resume a uma dezena de nomes. Somos o que ouvimos. É a nossa identidade.
A torcida de nariz para o sucesso dos ídolos de agora é também cíclica. Artistas populares que foram massacrados por uma suposta elite intelectual no passado, hoje, são cultuados. Wando, por exemplo. Hoje, saudado em festas chiques. Outrora, atribuído como lixo musical. Não é só questão de gosto. É também uma disfarçada tentativa de discriminação.
Disponível em: <O Brasil musical de 2017 é tão interessante quanto o de 1987 - Metrópoles (metropoles.com)>. Acesso em: 29 de mai 2022.
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4. No primeiro parágrafo o autor contextualiza o tema que quer desenvolver. Qual é o argumento utilizado pelo autor?
5. Quais são os argumentos que o autor utiliza para abordar a ideia de que a música não perdeu a qualidade?
6. O que o autor quis dizer sobre a música brasileira ser democrática?
7. No contexto do artigo de opinião, existe preconceito musical? Cite exemplos.
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