Triste fim
de Policarpo Quaresma conta a historia de um nacionalista ingênuo, Policarpo
Quaresma, que acreditava em um Brasil forte, rico e soberano, e quer salvá-lo
dos políticos corruptos. Entretanto, esse exaltado patriotismo só provoca risos
e acaba por custar-lhe o internamento em um hospício. Tendo apoiado o marechal
Floriano, volta-se contra o seu governo por considerá-lo incompetente e
desumano. Ao presenciar a escolha de antiflorianistas para fuzilamento,
escreve, indignado, uma carta ao presidente. No dia seguinte é preso e
fuzilado.
Triste fim de Policarpo Quaresma
Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a
tolice de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois
que fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis
do Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não.
Lembrou-se das suas coisas de tupi, do folk-lore, das suas tentativas
agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma!
O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e
levou-o à loucura. Uma decepção. E a agricultura? Nada. As terras não eram
ferazes e ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando o
seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a
doçura de nossa gente? Pois ele não a viu combater como feras? Pois não a via
matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma decepção, uma
série, melhor, um encadeamento de decepções.A pátria que quisera ter era um
mito; era um fantasma criado por ele no silêncio do seu gabinete. Nem a física,
nem a moral, nem a intelectual,nem a política que julgava existir, havia. A que
existia de fato, era a do Tenente Antonino, a do doutor Campos, a do homem do
Itamarati.
E, bem pensado, mesmo na sua pureza, o que vinha a ser a Pátria? Não
teria levado toda a sua vida norteado por uma ilusão, por uma idéia a menos,
sem base, sem apoio, por um Deus ou uma Deusa cujo império se esvaía?
1. Qual
opção mostra o forte sentimento nacionalista do Major Quaresma?
a) Ele
estudava nossa geografia, conhecia nome dos nossos heróis, a língua tupi, o
folclore, sempre valorizando as tradições brasileiras.
b) Ele
estudava o hebraico, conhecia nomes dos heróis ingleses, a língua fanhi, sempre
valorizando as tradições de outros países.
2. Segundo
Pero Vaz de Caminha “A terra em tal maneira é graciosa que, querendo-a
aproveitar, dar-se-á nela tudo...” Que comentário faz Quaresma a esse respeito?
a) “Nem
a física, nem a moral, nem a intelectual, nem a política que julgava existir,
havia.”
b) “As
terras não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros”.
3. É
como a crença de que o povo brasileiro possui um espírito pacífico, generoso e
cordial. O que pensa Policarpo Quaresma a respeito disso?
a) Para
Quaresma isso era uma forma de mostrar a brutalidade das pessoas no trânsito.
b) Para
Quaresma isso era um mito, pois ele vira a nossa gente combater como feras e
matar inúmeros prisioneiros.
4. Que
ilusão teria guiado Quaresma até o fim da sua vida?
a) A
ilusão de uma pátria de prodigiosa natureza, elevados valores morais,
intelectuais e políticos.
b) A
ilusão de uma pátria cheia de objetos sociológicos para se estudar na
faculdade.
Leia o fragmento de Monteiro
Lobato
Jeca Tatu
Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade!
Jeca mercador, Jeca lavrador, Jeca filósofo...
Quando comparece às feiras, todo mundo logo adivinha o que ele traz:
sempre coisas que a natureza derrama pelo mato e ao homem só custa o gesto de
espichar a mão e colher (...) Nada mais.
Seu grande cuidado é espremer todas as consequências da lei do menor
esforço – e nisso vai longe.
Começa na morada.
Sua casa de sapé e lama faz sorrir aos bichos que moram em toca e
gargalhar o João-de-Barro.
Pura biboca de bosquímano. Mobília, nenhuma. A cama é uma espipada
esteira de peri posta sobre o chão batido.
Às vezes se dá ao luxo de um banquinho de três pernas – para os hóspedes.
Três pernas permitem o equilíbrio; inútil, portanto, meter a quarta, o que
ainda o obrigaria a nivelar o chão. Para que assentos, se a natureza os dotou
de sólidos, rachados calcanhares sobre os quais se sentam?
Nenhum talher. Não é a munheca um talher completo – colher, garfo e faca
a um tempo?
Seus remotos avós não gozavam de maiores quantidades. Seus netos não
meterão a quarta perna no banco. Para quê? Vive-se bem sem isso.
Se pelotas de barro caem, abrindo seteiras na parede, Jeca não se move a
repô-las. Ficam pelo resto da vida os buracos abertos, a entremostrarem nesgas
de céu.
Quando a palha do teto, apodrecida, greta em fendas por onde pinga a
chuva, Jeca, em vez de remendar a tortura, limita-se, cada vez que chove, a
aparar numa gamelinha a água gotejante...
Remendo... Para quê? Se uma casa dura dez anos e faltam “apenas” nove
para que ele abandone aquela?
Esta filosofia economiza reparos.
LOBATO,
Monteiro. Urupês. Brasiliense: São Paulo; 1948. 245-6.
5. O
que podemos concluir ao compararmos a personagem de Monteiro Lobato com o índio
Peri, de José de Alencar, e os bravos e orgulhosos caboclos dos romances
regionalistas do período romântico?
a) As
personagens românticas eram idealizadas e o Jeca Tatu não é idealizado, é real.
b) As
personagens românticas eram feias e gordas e o Jeca Tatu é magro e rico.
6. Em
Jeca Tatu, Monteiro Lobato investe contra a idealização do caboclo, apontando
algumas das suas características negativas. Qual delas é a mais criticada no
texto?
a) A
riqueza
b) A preguiça
7. “Jeca
mercador, Jeca lavrador, Jeca filósofo...”. Este parágrafo refere-se ao Jeca de
Monteiro Lobato ou aos caboclos dos romances românticos?
a) Aos
caboclos dos romances românticos
b) Aos
moradores do bairro.
8. Monteiro
Lobato queria chamar a atenção para uma realidade que deveria ser mudada ou
pretendeu apenas ridicularizar o caboclo? Por quê?
a) Ele
chamou a atenção para algumas características da realidade brasileira.
b) Ele
chamou a atenção para aspectos burocráticos.
Leia as poesias de Augusto dos Anjos
Versos
íntimos
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a ingratidão – esta pantera
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro.
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija.
Psicologia
de um vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco. Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme – este operário das ruínas –
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
9.A linguagem dos poemas surpreende e modifica uma
tradição literária da poética brasileira, em grande parte construída com base
em sentimentalismo, delicadezas, sonhos e fantasias.
a) Destaque dos textos vocábulos empregados
poeticamente por Augusto dos Anjos e tradicionalmente considerados
antipoéticos.
Boa Prova!