sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

SIMULADO

 Triste fim de Policarpo Quaresma conta a historia de um nacionalista ingênuo, Policarpo Quaresma, que acreditava em um Brasil forte, rico e soberano, e quer salvá-lo dos políticos corruptos. Entretanto, esse exaltado patriotismo só provoca risos e acaba por custar-lhe o internamento em um hospício. Tendo apoiado o marechal Floriano, volta-se contra o seu governo por considerá-lo incompetente e desumano. Ao presenciar a escolha de antiflorianistas para fuzilamento, escreve, indignado, uma carta ao presidente. No dia seguinte é preso e fuzilado.

 

Triste fim de Policarpo Quaresma

Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas coisas de tupi, do folk-lore, das suas tentativas agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma!

O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma decepção. E a agricultura? Nada. As terras não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando o seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele não a viu combater como feras? Pois não a via matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, um encadeamento de decepções.A pátria que quisera ter era um mito; era um fantasma criado por ele no silêncio do seu gabinete. Nem a física, nem a moral, nem a intelectual,nem a política que julgava existir, havia. A que existia de fato, era a do Tenente Antonino, a do doutor Campos, a do homem do Itamarati.

E, bem pensado, mesmo na sua pureza, o que vinha a ser a Pátria? Não teria levado toda a sua vida norteado por uma ilusão, por uma idéia a menos, sem base, sem apoio, por um Deus ou uma Deusa cujo império se esvaía?

 

1.       Qual opção mostra o forte sentimento nacionalista do Major Quaresma?

a)       Ele estudava nossa geografia, conhecia nome dos nossos heróis, a língua tupi, o folclore, sempre valorizando as tradições brasileiras.

b)       Ele estudava o hebraico, conhecia nomes dos heróis ingleses, a língua fanhi, sempre valorizando as tradições de outros países.

 

2.       Segundo Pero Vaz de Caminha “A terra em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo...” Que comentário faz Quaresma a esse respeito?

a)       “Nem a física, nem a moral, nem a intelectual, nem a política que julgava existir, havia.”

b)       “As terras não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros”.

 

3.       É como a crença de que o povo brasileiro possui um espírito pacífico, generoso e cordial. O que pensa Policarpo Quaresma a respeito disso?

a)       Para Quaresma isso era uma forma de mostrar a brutalidade das pessoas no trânsito.

b)       Para Quaresma isso era um mito, pois ele vira a nossa gente combater como feras e matar inúmeros prisioneiros.

 

4.       Que ilusão teria guiado Quaresma até o fim da sua vida?

a)       A ilusão de uma pátria de prodigiosa natureza, elevados valores morais, intelectuais e políticos.

b)       A ilusão de uma pátria cheia de objetos sociológicos para se estudar na faculdade.

 

Leia o fragmento de Monteiro Lobato

 

Jeca Tatu

Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade!

Jeca mercador, Jeca lavrador, Jeca filósofo...

Quando comparece às feiras, todo mundo logo adivinha o que ele traz: sempre coisas que a natureza derrama pelo mato e ao homem só custa o gesto de espichar a mão e colher (...) Nada mais.

Seu grande cuidado é espremer todas as consequências da lei do menor esforço – e nisso vai longe.

Começa na morada.

Sua casa de sapé e lama faz sorrir aos bichos que moram em toca e gargalhar o João-de-Barro.

Pura biboca de bosquímano. Mobília, nenhuma. A cama é uma espipada esteira de peri posta sobre o chão batido.

Às vezes se dá ao luxo de um banquinho de três pernas – para os hóspedes. Três pernas permitem o equilíbrio; inútil, portanto, meter a quarta, o que ainda o obrigaria a nivelar o chão. Para que assentos, se a natureza os dotou de sólidos, rachados calcanhares sobre os quais se sentam?

Nenhum talher. Não é a munheca um talher completo – colher, garfo e faca a um tempo?

Seus remotos avós não gozavam de maiores quantidades. Seus netos não meterão a quarta perna no banco. Para quê? Vive-se bem sem isso.

Se pelotas de barro caem, abrindo seteiras na parede, Jeca não se move a repô-las. Ficam pelo resto da vida os buracos abertos, a entremostrarem nesgas de céu.

Quando a palha do teto, apodrecida, greta em fendas por onde pinga a chuva, Jeca, em vez de remendar a tortura, limita-se, cada vez que chove, a aparar numa gamelinha a água gotejante...

Remendo... Para quê? Se uma casa dura dez anos e faltam “apenas” nove para que ele abandone aquela?

Esta filosofia economiza reparos.

LOBATO, Monteiro. Urupês. Brasiliense: São Paulo; 1948. 245-6.

 

5.      O que podemos concluir ao compararmos a personagem de Monteiro Lobato com o índio Peri, de José de Alencar, e os bravos e orgulhosos caboclos dos romances regionalistas do período romântico?

a)      As personagens românticas eram idealizadas e o Jeca Tatu não é idealizado, é real.

b)      As personagens românticas eram feias e gordas e o Jeca Tatu é magro e rico.

 

6.      Em Jeca Tatu, Monteiro Lobato investe contra a idealização do caboclo, apontando algumas das suas características negativas. Qual delas é a mais criticada no texto?

a)      A riqueza                                        b) A preguiça

 

7.      “Jeca mercador, Jeca lavrador, Jeca filósofo...”. Este parágrafo refere-se ao Jeca de Monteiro Lobato ou aos caboclos dos romances românticos?

a)      Aos caboclos dos romances românticos

b)      Aos moradores do bairro.

 

8.      Monteiro Lobato queria chamar a atenção para uma realidade que deveria ser mudada ou pretendeu apenas ridicularizar o caboclo? Por quê?

a)      Ele chamou a atenção para algumas características da realidade brasileira.

b)      Ele chamou a atenção para aspectos burocráticos.

 

Leia as poesias de Augusto dos Anjos

 

Versos íntimos 

 

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de tua última quimera.

Somente a ingratidão – esta pantera

Foi tua companheira inseparável! 

Acostuma-te à lama que te espera!

O homem, que, nesta terra miserável,

Mora, entre feras, sente inevitável

Necessidade de também ser fera. 

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

O beijo, amigo, é a véspera do escarro.

A mão que afaga é a mesma que apedreja. 

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,

Apedreja essa mão vil que te afaga,

Escarra nessa boca que te beija.

 

Psicologia de um vencido 

 

Eu, filho do carbono e do amoníaco,

Monstro de escuridão e rutilância,

Sofro, desde a epigênesis da infância,

A influência má dos signos do zodíaco.  Profundissimamente hipocondríaco,

Este ambiente me causa repugnância...

Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia

Que se escapa da boca de um cardíaco. 

Já o verme – este operário das ruínas –

Que o sangue podre das carnificinas

Come, e à vida em geral declara guerra, 

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,

E há-de deixar-me apenas os cabelos,

Na frialdade inorgânica da terra! 

 

9.A linguagem dos poemas surpreende e modifica uma tradição literária da poética brasileira, em grande parte construída com base em sentimentalismo, delicadezas, sonhos e fantasias.

a) Destaque dos textos vocábulos empregados poeticamente por Augusto dos Anjos e tradicionalmente considerados antipoéticos.

 

 

 

 

Boa Prova!

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