quarta-feira, 28 de junho de 2017

Interpretação de texto


Leia o texto abaixo e responda o que se pede:

Se não me falha a memória
                                                      Rubem Alves

Memória boa tinha aquele velho. Correu os olhos pelo cartório onde eu era escrivão e veio direto à minha mesa:
- Sr. Escrivão, meus respeitos - fez um salamaleque (tratamento cortês exagerado): - Queria que o senhor me desse informações sobre um inventário.
- Às suas ordens - e retribuí o comprimento: - Inventário de quem?
- Já lhe digo o nome do falecido. Minha memória ainda é das melhores – apesar de ter sofrido uma comoção cerebral há poucos dias, ainda não estou inteiramente bom.     Espera aí, deixa eu ver... Sou advogado há mais de quarenta anos, não esqueço o nome de um constituinte, vivo ou morto. Hoje em dia... Benvindo!
- Como?
O nome do falecido era Benvindo. Isto! Benvindo Lopes. Marido da minha cozinheira. Faleceu há pouco tempo. Ela já não está boa da cabeça e se eu não me lembrar o nome do marido dela, quem é que haveria de lembrar? Levindo Lopes.
- O senhor disse Benvindo.
- Eu disse Benvindo? Veja o senhor!
- É Levindo ou Benvindo?
Ele ficou pensativo um instante:
- Benvindo seja – respondeu afinal, muito sério.
Depois de verificar no fichário, expliquei-lhe que deveria trazer uma petição. O velho agradeceu e saiu, assegurando-me que sim, não esqueceria. Nem dez minutos haviam decorrido e tornou a surgir na porta:
- Sr. Escrivão, já que o senhor ainda há pouco foi tão amável, e sem querer abusar, posso lhe pedir uma informação? É sobre um inventário, esqueci de lhe dizer.
Minha memória é muito boa, mas sofri há dias uma comoção cerebral...
- O senhor me disse – sorri-lhe, solícito: - Qual é o inventário, desta vez?
- Inventário de... de... Não vê o senhor? A minha cozinheira... O marido dela...
- Benvindo Lopes?
- Isso! Benvindo Lopes. Como é que o senhor sabe?
            - O senhor já me tinha dito.
- Mas sim senhor! Vejo que também tem boa memória.
Tornei a explicar-lhe a mesma coisa, isto é, que deveria trazer uma petição. Não esquecesse.
- Não, não me esqueço.
Agradeceu e se afastou. Deteve-se a meio caminho da porta.
- Veja o senhor! Já ia me esquecendo é do motivo principal que me trouxe aqui: a minha cozinheira, que está mais velha do que eu, perdeu o marido há pouco tempo e estou cuidando do inventário dele...
- Sabe o nome do falecido? - perguntei, sem me alterar.
- Como não? Minha memória ainda funciona, para nomes então, principalmente. Ora, pois. É Levindo não sei o quê...
- Não será Benvindo?
- Isso! Benvindo... Benvindo Lopes, se não me engano.
- Este nome não me é estranho – limitei-me a murmurar.

01) É correto afirmar que o texto é:

A) Um texto dissertativo em que ideias pessoais foram expressas.
B) Narrativo, onde há acontecimento e personagens.
C) Relato a respeito de um fato verídico presenciado pelo autor.
D) Poético onde existe um alto grau de sentimento presente.
E) Argumentativo, em que várias opiniões são debatidas.

02) O título do texto possui, sequencialmente, ideias de:

A) Afirmação e dúvida.                                      D) Dúvida e negação.
B) Afirmação e negação.                                   E) Condição e negação.
C) Negação e dúvida.

03) Quando a palavra é utilizada com seu sentido comum (o que aparece no dicionário) dizemos que foi empregada denotativamente. Quando é utilizada com um sentido diferente daquele que lhe é comum, dizemos que foi empregada conotativamente. Este recurso é muito explorado na Literatura. A linguagem conotativa não é exclusiva da literatura, ela é empregada em letras de música, anúncios publicitários, conversas do dia a dia, etc. 

(Disponível em: <http://www.brasilescola.com/literatura/denotacao-conotacao.htm>. Acesso em: 18/02/2012). 

De acordo com o contexto, o vocábulo “salamaleque”, no 2º parágrafo denota:

A) Saudação.              B) Agrado.           C) Alerta.            D) Aviso.            E) Correção.

04) Durante o texto, várias vezes empregou-se as reticências com o objetivo de:

A) Desmerecer o escrivão.                     D) Dificultar o entendimento do texto.
B) Desmerecer o velho.                          E) Caracterizar os esquecimentos do personagem.
C) Criar um suspense.

05) A reação do escrivão diante da situação exposta no texto demonstra:

A) A fragilidade do ser humano.                             
B) A incompetência do escrivão.                         
C) O cansaço do escrivão.                                     
D) A paciência do escrivão.
E) A perspicácia (capacidade de perceber claramente complexidades e sutilezas, sagacidade.) do escrivão.

06) Após ler todo o texto, é possível afirmar em relação ao trecho: “Memória boa tinha aquele velho”, que está sendo demonstrado(a):

A) Uma comparação entre dois seres.
B) O emprego de uma palavra por outra, baseando-se numa relação constante entre as duas.
C) O uso de ideias de sentido contrário.
D) O uso de expressões suaves no lugar de expressões rudes.
E) Uma ironização, dizendo o contrário do que é realmente.

(UFES) Na peça teatral Morte e vida Severina, escrita em versos, João Cabral de Melo Neto, o autor, escreveu:

"Quem sabe se nesta terra

não plantarei minha sina?

Não tenho medo da terra

cavei pedra toda a vida

e para quem lutou a braço

contra a piçarra da caatinga

fácil será amansar

esta aqui, tão feminina"

Quanto ao gênero literário, é correto afirmar sobre o fragmento do texto lido:

a. É dramático, com uma linguagem fortemente poética.
b. Não há lirismo, pois é feito para ser representado.
c. É mais épico que lírico ou dramático.
d. É uma peça teatral, sem qualquer lirismo, pela rudeza da linguagem.
e. É narrativo, pelo cunho regionalista e social.

[...] Senti que Erínia estava por perto quando cheguei ao centro comercial de Paraty. Embora fosse maio, a chuva caía sem parar; as pedras lisas impediam que os turistas se aventurassem pelas ruas; além do mais faltava luz em s parte e as sereias dos barcos soavam desoladas ao longo da costa. Eu [...] caminhava em direção ao mar; surpreendido pelo nevoeiro percebi que não chegaria à praia; tanto que depois de andar mais de uma hora estava no ponto de partida. Foi nesse lance que desviei o olhar para o beco: parecia um jardim suspenso. Os tufos de flores despencavam pelos muros e janelas; [...] as casas [...] estavam fechadas por causa do mau tempo. Atraído pelo silêncio entrei no beco como quem sobe num navio iluminado. O perfume das plantas era muito mais forte do que eu imaginava- em poucos segundos sentei-me intoxicado no chão. Creio que só neste instante Erínia apareceu de corpo inteiro diante de mim: a túnica branca escondia as sandálias de couro e uma luz de vinho vazava dos seus olhos. Movido pela surpresa eu lhe disse alguma coisa amável; não tive resposta. Lembro-me apenas de que ela avançou pisando nas poças e enterrou o punhal no meu pescoço. [...]

Modesto Corone.


Quanto ao gênero literário, é correto afirmar sobre o fragmento do texto lido:

a. É dramático, com uma linguagem fortemente poética.
b. Não há lirismo, pois é feito para ser representado.
c. É mais épico que lírico ou dramático.
d. É uma peça teatral, sem qualquer lirismo, pela rudeza da linguagem.
e. É narrativo, pela forma de descrição do local e das personagens.

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