Foi na França, durante a Segunda
Grande guerra: um jovem tinha um cachorro que todos os dias, pontualmente, ia
esperá-lo voltar do trabalho. Postava-se na esquina, um pouco antes das seis da
tarde. Assim que via o dono, ia correndo ao seu encontro e na maior alegria
acompanhava-o com seu passinho saltitante de volta à casa. A vila inteira já
conhecia o cachorro e as pessoas que passavam faziam-lhe festinhas e ele
correspondia, chegava até a correr todo animado atrás dos mais íntimos. Para
logo voltar atento ao seu posto e ali ficar sentado até o momento em que seu
dono apontava lá longe.
Mas eu avisei que o tempo era de
guerra, o jovem foi convocado. Pensa que o cachorro deixou de esperá-lo?
Continuou a ir diariamente até a esquina, fixo o olhar naquele único ponto, a
orelha em pé, atenta ao menor ruído que pudesse indicar a presença do dono
bem-amado. Assim que anoitecia, ele voltava para casa e levava sua vida normal
de cachorro, até chegar o dia seguinte. Então, disciplinadamente, como se
tivesse um relógio preso à pata, voltava ao posto de espera. O jovem morreu num
bombardeio mas no pequeno coração do cachorro não morreu a esperança. Quiseram
prendê-lo, distraí-lo. Tudo em vão. Quando ia chegando aquela hora ele
disparava para o compromisso assumido, todos os dias.
Todos os dias, com o passar dos anos
(a memória dos homens!) as pessoas foram se esquecendo do jovem soldado que não
voltou. Casou-se a noiva com um primo. Os familiares voltaram-se para outros
familiares. Os amigos para outros amigos. Só o cachorro já velhíssimo (era
jovem quando o jovem partiu) continuou a esperá-lo na sua esquina.
As pessoas estranhavam, mas quem
esse cachorro está esperando?…Uma tarde (era inverno) ele lá ficou, o focinho
voltado para aquela direção.
Disponível
em: http://deixaelaentrar.blogspot.com/2010/02/disciplina-do-amor-lygia-fagundes.html.
Acesso em 30/08/2010.
·
O trecho do texto que explicita o
fato que desencadeia a história é
(A) ”Foi na França, durante a
segunda grande guerra”.
(B) “[...] as pessoas foram se
esquecendo do jovem [...]”
(C) “Um jovem tinha um cachorro
[...]”
(D) “[...] Continuou a ir
diariamente até a esquina[...]”
·
A leitura do texto permite traçar um
perfil acerca do cachorro. A única palavra inadequada para descrever a postura
do animal em relação a seu dono é
(A) displicência. (B)
lealdade. (C)
disciplina. (D) compromisso.
·
Assinale a alternativa que contém a
frase que melhor demonstra que o cachorro morreu fiel a seu dono.
a)
“... até chegar o dia seguinte”. (linha10)
b)
“Continuou a ir diariamente até a esquina...” (l. 8)
c)
“... ele disparava para o compromisso assumido ...” (l. 13 e14)
d)
“Só o cachorro já velhíssimo continuou a esperá-lo na sua esquina”. (l.
16 e 17)
e)
“... o focinho voltado para aquela direção.” (l. 18 e 19)
·
“Festinha”, nesse contexto,
significa:
a)
solenidade.
b) brincadeira alegre. c) reunião
divertida.
d)
reunião de amigos. e) pequena comemoração.
·
“... o focinho voltado para aquela direção” (l.
18 e 19). A palavra destacada refere-se
a)
à esquina. b) à praça da
vila. c) ao lugar onde trabalhava o jovem.
d)
à vila onde morava o
jovem. e) ao lugar
onde aconteceu a guerra.
Na frase [...]as
pessoas que passavam faziam-lhe festinhas e ele correspondia [...], usa – se:
a)
Denotação e função apelativa.
b)
Conotação e função emotiva.
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