quarta-feira, 22 de junho de 2022

PROVA PRIMEIRO ANO ENSINO MÉDIO LITERATURA HUMANISMO TEATRO DE GIL VICENTE - O VELHO DA HORTA

 Leia o texto abaixo

Cena 13

 

Sala de aula. Isabel, Rosana, professor de Português e alunos. Outra vez o movimento de estudantes entrando em classe. Rosana encontra Isabel e está aflita.

 

Rosana - Isabel! Onde você andou? Procurei por você o recreio inteiro! Seu rosto está vermelho... O que houve?

Isabel - Nada... acho que estou resfriada, Rosana. Na saída, eu vou com você até o ponto de ônibus. Tenho uma coisa pra te contar que vai deixar você muito feliz.

Rosana - E eu também, Isabel, eu também tenho uma coisa linda pra te contar!

Isabel  - Agora fique quieta que a aula é de Português. Ouvi dizer que esse professor é terrível!

Rosana - Para você ele deve ser fichinha, Isabel. Você é a recordista de notas dez em redação!

 

Entra o professor de Português. Os alunos calam-se. O professor tem um ar muito severo. Não é de brincadeiras, ao contrário da professora de Física.

 

Professor - Muito bem, jovens, vamos nos apresentar. Eu sou o seu professor de Português. Como eu sou, vocês logo vão ficar sabendo. Comigo basta pensar. Basta trabalhar, e muito. Se vocês forem assim, vamos nos dar muito bem. Mas hoje eu quero conhecer vocês. Para isso, vamos fazer uma redação. Pelo texto de vocês, vou poder separar quem sabe pensar daqueles que ainda estão na escala mais baixa da evolução. Vamos lá. Papel e lápis na mão. Uma redação de aquecimento. Tema livre. Podem soltar-se e mostrar o que existe dentro da cabeça de cada um. Eu só aviso que, para mim, um erro de concordância é o mesmo que empurrar escada abaixo a cadeira de rodas de uma velhinha. Com a velhinha em cima!

 

Rosana fica apavorada, pois é péssima aluna de Português e redige mal. Isabel nota seu desespero. Faz um sinal de calma para a amiga e põe-se a redigir furiosamente. Logo, passa disfarçadamente a folha escrita para Rosana.

 

Isabel - Pegue. Copie com sua letra.

 

A partir deste momento, como na aula de Física, todos os atores ficam imóveis e Isabel fala seus pensamentos. Só escreve quando diz a frase: “Quando você me beijou...”

 

Isabel - Idiota que fui. Pensar que Cristiano pudesse se apaixonar por mim, por mim, a gorducha... Quando você me beijou... Pensar que Cristiano poderia ler nos meus olhos, através dos óculos, e enxergar lá dentro toda a paixão da gorducha iludida... Quando você me beijou... Apaixonar-se pela desengonçada, pela feiosa piadista... Ah, que piada! Com o rostinho de Rosana à frente... com o corpinho de Rosana nos braços... nem pensar! Quando você me beijou... Burra! O que Cristiano poderia encontrar em mim? A espinha amarela no nariz, como um aríete de pus abrindo caminho rumo à solidão? Quando você me beijou... O que ele veria? O que todos veem, além da gorducha iludida, da feiosa cretina? Fernando tem razão. Eu acredito em tudo, como uma cretina. Acreditei até que Cristiano poderia me amar. Cretina! Acreditei até naquele beijo... Quando você me beijou... Cristiano...

 

Chora. Se possível, a plateia deve perceber que ela está lavada em lágrimas. E que as lágrimas pingam no papel.

 

Professor - Muito bem, classe, podem parar. Já deu tempo para colocar no papel o que tem dentro de suas cabeças. Se é que tem alguma coisa dentro de suas cabeças. Isabel! Quem é Isabel?

Isabel - Sou eu.

Professor - Meu colega do oitavo ano elogiou muito seus textos, Isabel. Quero começar por ele. Pode entregá-lo para mim?

 

Isabel entrega-lhe o papel. O professor começa a ler e fica surpreso.

Professor - O que é isto? Quando você me beijou, quando você me beijou, quando você me beijou... Há apenas a mesma frase escrita várias vezes!

Isabel - É um poema concreto, professor, Assim como “Uma pedra é uma pedra”, do Carlos Drummond de Andrade. O leitor deve completar o poema de acordo com suas próprias experiências, de acordo com suas lembranças de um beijo de amor...

 

Risadinhas discretas dos alunos. O professor ergue um olhar duro, controlador, para toda a classe. Alunos calam-se.

 

Professor - Uma explicação hábil. Hábil e espirituosa, Isabel. Mas que não passa de uma saída para desculpar a preguiça. A preguiça e a falta de respeito... E isto? Que marquinha redonda é esta? Parece a marca de uma lágrima...

 

Disponível em: http://www.bibliotecapedrobandeira.com.br/pdfs/contos/a_marca_de_uma_lagrima.pdf>. Acesso em 28 de maio de 2012.

 

Gil Vicente foi o maior teatrólogo da língua portuguesa e suas principais obras foram “Auto da Visitação” e “A farsa de Inês Pereira” esta última tinha por lição: Mais vale um asno que me carregue que um cavalo que me derrube. . Para o gênero dramático, são essenciais dois elementos: a importância do público e a possibilidade de desencadear emoções por meio da representação. Baseado nos comentários em sala de aula sobre o Humanismo, responda o que se pede.

 

1.                  O trecho do texto lido retirado do livro A marca de uma lágrima aborda um assunto muito comum na vida do adolescente. Qual é o assunto tratado nesse texto?

 

a)                 A decisão sobre os sentimentos na vida adolescente.

b)                 A reflexão sobre a vida estudantil.

c)                 A observação da vida marinha.

d)                 Todas as respostas.

 

2.                  Que elementos da linguagem teatral estão indicados no texto “A marca de uma lágrima”?

 

a)      As futriqueiras, o cenário, as poesias, as declamações.

b)      O cenário, a entrada das personagens, a reações, os diálogos, as rubricas.

c) A fala sobre política, as descrições das cidades.

d) Todas as respostas.

 

3.                   A protagonista tem algumas características que a faz refletir sobre si mesma sem observar suas qualidades. Marque o trecho que indica isso.

 

a)                 Pensar que Cristiano poderia ler nos meus olhos, através dos óculos, e enxergar lá dentro toda a paixão da gorducha iludida...

b)                 Uma explicação hábil. Hábil e espirituosa, Isabel.

c)                 O leitor deve completar o poema de acordo com suas próprias experiências, de acordo com suas lembranças de um beijo de amor...

d)                 Todas as respostas.

 

4.                  Marque o trecho no texto em que Isabel tem fluxo de consciência (conversa consigo mesma).

 

5.                  Gil Vicente escreveu textos fazendo as pessoas refletirem, porém nessa época pairava um espírito nas artes, voltado para a religião. Logo após essa ideia religiosa apareceu a ideia do pensamento humano (o homem como o centro do universo). Como eram chamados esses dois pensamentos?

 

a)                 Trabalhista e política.

b)                 Monetária e filosófica.

c)                 Teocentrismo e Antropocentrismo.

d)                 Todas as respostas.

Leia os diálogos abaixo da peça O velho da horta, de Gil Vicente:

 

MOÇA

Já perto sois de morrer. Donde nasce esta sandice que, quanto mais na velhice, amais os velhos viver? E mais querida, quando estais mais de partida, é a vida que deixais?

VELHO

Tanto sois mais homicida, que, quando amo mais a vida, ma tirais. Porque meu tempo d’agora vai vinte anos dos passados; pois os moços namorados a mocidade os escora. Mas um velho, em idade de conselho, de menina namorado... Oh minha alma e meu espelho!

MOÇA Oh miolo de coelho mal assado!

 

6.                  Por que esse tema é coerente com as Farsas?

 

a)                 Porque usa de ironia.

b)                 Porque critica a vida política.

c)                 Porque ela está apaixonada pelo velhinho.

d)                 Todas as respostas.

 

7.                  A que fato específico do enredo a qualificação da moça se refere?

 

a)                 A da vida política da vida diária.

b)                 Ao relacionamento amoroso que o velhinho quer ter com a moça.

c)                 A vida campestre que é indiferente.

d)                 Todas as respostas.

 

8.                   Qual verso indica o desprezo da moça pelo velhinho?

 

a)                 Já perto sois de morrer

b)                 [...]quanto mais na velhice, amais os velhos viver?

c)                 [...] é a vida que deixais?

d)                 Oh miolo de coelho mal assado!

 

9.                  O que é criticado de forma indireta no texto O velho da horta?

 

a)                 Pessoas que não querem se casar.

b)                 Pessoas interesseiras.

c)                 A vida campestre e a boa educação.

d)                 Todas as respostas.

 

10.              O que a moça pensa do Velho da Horta?

 

a)                 Ele está perto de morrer.

b)                 Ele ainda vai viver muito.

c)                 Ele estava zombando da moça.

d)                 Todas as respostas.

 

 

Boa Prova!

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