sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

SIMULADO

 

Leia o texto e faça o que se pede:

 

Vida em família

[...]
Julinho provoca o pai que mal desviou o olhar do prato à sua chegada.
A provocação dissimulada era uma das táticas preferidas de guerrilha familiar no confronto não-declarado com Alberto, em constante desacordo sobre sua forma de viver e pensar o mundo.
O garoto permanecia ali, imóvel, expondo-se como um manequim de vitrine e nem Vera nem Alberto percebiam seus pés descalços.
Entre dentadas e comentários tão triviais quanto o repasto, a mãe anunciou uma surpresa, mas antes que pudesse dizê-la, o filho agitou os dedos do pé, acenando para sua desatenção.
— Você está sem sapatos, filho! Que houve?
Julinho esboçou um sorriso sarcástico, agradecendo enfim pela observação, fixou o polegar esquerdo na palma da mão direita e girou os dedos
no clássico gesto que significa “roubo”. Vera pulou da cadeira:
— Meu Deus! Você foi assaltado!
— De novo? — reagiu o pai, largando o osso e chupando os dedos.
— Foi agora? Como? Onde? Fala! Diz!
— O pivete me abordou ali na ciclovia da Lagoa e com uma faca nas mãos mandou que eu tirasse o tênis.
— Tênis? Aquele tênis que eu trouxe dos Estados Unidos mês passado?
– assombrou-se o pai. — Que custou uma fortuna...?
O garoto concordou com a cabeça, sem dizer palavra, sem alargar os gestos, represando emoção. Era o terceiro assalto que sofria e, para quem
acabara de ver o brilho de uma lâmina espetando-lhe as costelas, demonstrava uma tranquilidade irritante. Talvez por entender que os assaltos são parte da rotina
da vida. Talvez por desconhecer o preço de um tênis Platinum, de série limitada.
Julinho tornava-se espectador da sua própria cena. Enquanto os pais discutiam o melhor comportamento a seguir diante de um assaltante empunhando
uma arma branca, ele revia seu algoz na telinha da imaginação. Uma visão parcial, encoberta pelas sombras da noite que não lhe permitiam distinguir outros traços
além dos olhos verdes e a cara de lua cheia. O garoto já o percebera antes, no mesmo local, sempre sozinho, a olhar o céu, distraído demais para infundir
temor aos passantes. Desta vez, o mulato alto e magro como Julinho fazia-se acompanhar por um bando de meninos maltrapilhos que, bem mais baixos, lembravam jogadores de um time infantil à volta de um treinador adulto. O garoto surpreendeu-se com a abordagem, é fato, mas muito mais com o comportamento
do assaltante que parecia ensinar aos pirralhos o modo correto de praticar um assalto.
— E vai ficar por isso mesmo? — a voz de Alberto adquiriu um tom de afronta.
Julinho respondeu com um leve movimento de ombros, murmurando por entre os dentes: “Deixa pra lá, pai”. Foi o que faltava para Alberto pôr sua raiva em movimento:
— Deixa pra lá? Você fala assim porque o dinheiro não sai do seu bolso. É por isso que a violência não diminui.
Ninguém dá queixa. Ninguém faz nada. Todo mundo deixa pra lá! Eu não vou deixar! Eu não vou deixar! — e repetiu escandindo as sílabas:
— Não vou deixar!
O garoto ouviu-o impassível, sem autoridade para contestá-lo, mas Vera reagiu chamando o marido à razão:
— Alberto! Você não vai sair por aí feito um maluco por causa de um par de tênis!
— Podia ser um grampo! — esbravejou. — De hoje em diante, vou atrás do que é meu, seja lá o que for. Não aguento mais ser saqueado por essa bandidagem. Já foi carro, relógio, bolsa, rádio...
Alberto ajeitou-se na cadeira e, assumindo ares de delegado de polícia, espetou o dedo indicador na mesa perguntando ao filho em que ponto da ciclovia exatamente ocorreu o assalto. Julinho preferiu baixar os olhos e
continuar em silêncio, que ele conhecia muito bem o temperamento do pai e não queria vê-lo envolvido em mais violência. Alberto aguardou a resposta e, sem obtê-la, ergueu-se impetuoso:
— Muito bem! Você não diz, mas eu vou descobrir. Vou à Polícia, à Interpol, ao Exército, onde for preciso, mas vou trazer esse tênis de volta ou não me chamo Alberto Calmon! De agora em diante, vai ser na lei do cão!
Julinho olhou para os pés descalços e, por alguma razão, pensou no tênis, apenas um calçado para ele, talvez um pequeno sonho para o pivete. Estranho pensamento. [...]
Carlos Eduardo Novaes. O Imperador da Ursa Maior. São Paulo: Ática, 2000. (Fragmento).

 1. Julinho e o pai não se entendiam muito bem. Qual fato pode comprovar essa afirmação?
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2. Segundo o texto, a tensão familiar concentrava-se na relação entre Julinho e seu pai, Alberto. De que maneira Julinho provocava o pai?
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3. Por que Alberto e o filho não se davam bem?

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4. Apesar do susto, Julinho mantinha-se aparentemente calmo e ironizava a situação. Por que Julinho procurou não revelar suas emoções?
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5. O narrador descreve a tranquilidade do menino como 'irritante'. Ela era irritante para quem?
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6. "Julinho tornava-se espectador da sua própria cena". De que cena ele estava sendo espectador?
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7. Por que o narrador classifica o pensamento de Julinho como "estranho"?

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Leia o texto e faça o que se pede:

 

O celular que escraviza

Eles roubam nosso tempo, atrapalham os relacionamentos e podem até causar acidentes de trânsito. Quando é a hora de desligar? Estamos viciados. Em qualquer lugar, a qualquer momento do dia, não conseguimos deixar de lado o objeto de nossa dependência. Dormimos ao lado dele, acordamos com ele, o levamos para o banheiro e para o café da manhã – e se, por enorme azar, o esquecemos em casa ao sair, voltamos correndo. Somos incapazes de ficar mais de um minuto sem olhar para ele. É através dele que nos conectamos com o mundo, com os amigos, com o trabalho. Sabemos da vida de todos e informamos a todos o que acontece por meio dele. Os neurocientistas dizem que ele nos fornece pequenos estímulos prazerosos dos quais nos tornamos dependentes. Somos 21 milhões – número de brasileiros com mais de 15 anos que têm smartphones, os celulares que fazem muito mais que falar. Com eles, trocamos e-mails, usamos programas de GPS e navegamos em redes sociais. O tempo todo. Observe ao seu redor. Em qualquer situação, as pessoas param, olham a tela do celular, dedilham uma mensagem. Enquanto conversam. Enquanto namoram. Enquanto participam de uma reunião. E – o pior de tudo – até mesmo enquanto dirigem.

O pai de todos os vícios, claro, é o Facebook, maior rede social do mundo, onde publicamos notícias sobre nós mesmos como se alimentássemos um grande jornal coletivo sobre a vida cotidiana.

O final dessa história pode ser dramático. Interagir com o aparelho – e com centenas de amigos escondidos sob a tela de cristal – tornou-se para alguns uma compulsão tão violenta que pode colocar a própria vida em risco. Parece exagero? Pense na história da garota americana Taylor Sauer, de 18 anos. Em janeiro, Taylor dirigia numa rodovia interestadual que liga os Estados de Utah e Idaho quando bateu a 130 quilômetros por hora na traseira de um caminhão. Ela trocava mensagens com um amigo sobre um time de futebol americano. Uma a cada 90 segundos. Seu último post foi: “Não posso discutir isso agora. Dirigir e escrever no Facebook não é seguro! Haha.” Se não estivesse teclando, provavelmente teria avistado o veículo à frente, que andava a meros 25 quilômetros por hora. (...) No Brasil não é diferente – pelo menos é a impressão dos profissionais que trabalham na área. Mais de 1.600 pessoas são multadas todo dia por esse motivo só no Estado de São Paulo. (...) Quando a multa sobre usar celular no trânsito foi criada, não existiam os smartphones.  Os pesquisadores usaram um simulador para medir a reação dos motoristas em diferentes circunstâncias. Quem estava distraído com redes sociais no celular teve uma reação 38% mais lenta a um imprevisto, como a freada abrupta de um carro à frente. Quem fuma maconha ficou com 21% mais lento. Os reflexos daqueles que beberam entre três e quatro latas de cerveja foram atrasados em 12%.

(BARIFOUSE, Rafael. O celular que escraviza. Revista Época, 11 de junho de 2012. Com adaptações)

 

8. No texto em estudo, observa-se que após a leitura do texto, é possível afirmar que o autor NÃO

a) denuncia a relação perigosa entre celular e a ação de dirigir veículos.

b) relaciona as ações do cotidiano com o uso do celular.

c) apresenta pesquisas de informar o leitor.

d) se posiciona contra o uso do celular nas situações do dia-a-dia.                                                        Boa Prova!

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