Artigo: A triste história de uma galinha
preta
MOACYR SCLIAR
Colunista da Folha de S.Paulo
Estudante atira galinha preta viva em Marta Suplicy. Cotidiano, 12.ago.2003
Era uma galinha preta, e era uma galinha triste. Triste porque galinha, claro --estamos falando de aves nervosas cujo cacarejo traduz uma instabilidade emocional desconhecida na espécie humana--, mas triste sobretudo porque preta. Se vivesse só entre galináceos, a galinha não se importaria com sua cor, ainda que esta contrastasse com as multicoloridas penas de suas colegas; mas, criada no meio de humanos, a pobre sabia do estigma que carregava. Preta, tinha seu destino traçado: mais cedo ou mais tarde seria sacrificada naquele ritual conhecido como despacho.
A certeza dessa morte perturbava profundamente a pobre criatura. Diferente de suas colegas, recusava-se a botar ovos; e quando lhe perguntavam por que rejeitava a maternidade, respondia que não queria deixar pintinhos órfãos no mundo. Pela mesma razão, fugia dos galos; um deles mostrava-se até apaixonado e fazia-lhe propostas, mas a galinha as recusava: quem está condenada, dizia, não pode entregar-se ao amor.
A galinha preta não sabia o que o futuro lhe reservava.
Um dia, mãos vigorosas agarraram-na. Pronto, pensou, chegou minha hora. Achou que ia ser levada a uma encruzilhada qualquer, para o tão temido sacrifício; em vez disso, transportaram-na até um recinto que estava cheio de jovens. Uma senhora discursava ali e a galinha, aturdida, já se perguntava o que iria acontecer quando, de súbito, jogaram-na contra a oradora.
Foi um momento de glória, de inesperada glória. Por um instante, dezenas de olhos acompanharam sua trajetória; no curto trajeto entre a mão contestadora e a figura feminina que, para muitos ali, encarnava o poder, a galinha era o foco de todas as atenções. Outras bateriam as asas, outras cacarejariam de susto; não a galinha preta. Inesperadamente transformada em projétil, ela só esperava estar à altura do papel que a história lhe designara.
O alvo não foi atingido, a galinha caiu no chão, estabeleceu-se a maior confusão, com gente correndo de um lado para outro. Ela refugiou-se em um canto e ali ficou, até que caiu a noite. Tudo calmo, tudo quieto, saiu do esconderijo e dirigiu-se para a rua. Era outra galinha: orgulhosa, impávida, avançava sem temor, gozando a glória recém-adquirida.
Pela calçada vinham caminhando dois homens, pobres, esfarrapados. A galinha mirou-os, altaneira. Esperava que se afastassem, que lhe abrissem respeitosamente caminho. Não foi isso que aconteceu. Os dois se olharam e, como que agindo de comum acordo, jogaram-se sobre a galinha.
E aí, como diria Clarice Lispector, mataram-na, comeram-na, e passaram-se anos.
Moacyr Scliar escreve um texto de ficção baseado em matérias publicadas no jornal.
Colunista da Folha de S.Paulo
Estudante atira galinha preta viva em Marta Suplicy. Cotidiano, 12.ago.2003
Era uma galinha preta, e era uma galinha triste. Triste porque galinha, claro --estamos falando de aves nervosas cujo cacarejo traduz uma instabilidade emocional desconhecida na espécie humana--, mas triste sobretudo porque preta. Se vivesse só entre galináceos, a galinha não se importaria com sua cor, ainda que esta contrastasse com as multicoloridas penas de suas colegas; mas, criada no meio de humanos, a pobre sabia do estigma que carregava. Preta, tinha seu destino traçado: mais cedo ou mais tarde seria sacrificada naquele ritual conhecido como despacho.
A certeza dessa morte perturbava profundamente a pobre criatura. Diferente de suas colegas, recusava-se a botar ovos; e quando lhe perguntavam por que rejeitava a maternidade, respondia que não queria deixar pintinhos órfãos no mundo. Pela mesma razão, fugia dos galos; um deles mostrava-se até apaixonado e fazia-lhe propostas, mas a galinha as recusava: quem está condenada, dizia, não pode entregar-se ao amor.
A galinha preta não sabia o que o futuro lhe reservava.
Um dia, mãos vigorosas agarraram-na. Pronto, pensou, chegou minha hora. Achou que ia ser levada a uma encruzilhada qualquer, para o tão temido sacrifício; em vez disso, transportaram-na até um recinto que estava cheio de jovens. Uma senhora discursava ali e a galinha, aturdida, já se perguntava o que iria acontecer quando, de súbito, jogaram-na contra a oradora.
Foi um momento de glória, de inesperada glória. Por um instante, dezenas de olhos acompanharam sua trajetória; no curto trajeto entre a mão contestadora e a figura feminina que, para muitos ali, encarnava o poder, a galinha era o foco de todas as atenções. Outras bateriam as asas, outras cacarejariam de susto; não a galinha preta. Inesperadamente transformada em projétil, ela só esperava estar à altura do papel que a história lhe designara.
O alvo não foi atingido, a galinha caiu no chão, estabeleceu-se a maior confusão, com gente correndo de um lado para outro. Ela refugiou-se em um canto e ali ficou, até que caiu a noite. Tudo calmo, tudo quieto, saiu do esconderijo e dirigiu-se para a rua. Era outra galinha: orgulhosa, impávida, avançava sem temor, gozando a glória recém-adquirida.
Pela calçada vinham caminhando dois homens, pobres, esfarrapados. A galinha mirou-os, altaneira. Esperava que se afastassem, que lhe abrissem respeitosamente caminho. Não foi isso que aconteceu. Os dois se olharam e, como que agindo de comum acordo, jogaram-se sobre a galinha.
E aí, como diria Clarice Lispector, mataram-na, comeram-na, e passaram-se anos.
Moacyr Scliar escreve um texto de ficção baseado em matérias publicadas no jornal.
O açúcar
Ferreira Gullar
Ferreira Gullar
O branco açúcar que adoçará meu café
nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.
Vejo-o puro
e afável ao paladar
como beijo de moça, água
na pele, flor
que se dissolve na boca. Mas este açúcar
não foi feito por mim.
Este açúcar veio
da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira,
dono da mercearia.
Este açúcar veio
de uma usina de açúcar em Pernambuco
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina.
|
Este açúcar era cana
e veio dos canaviais extensos
que não nascem por acaso
no regaço do vale.
Em lugares distantes, onde não há hospital
nem escola,
homens que não sabem ler e morrem de fome
aos 27 anos
plantaram e colheram a cana
que viraria açúcar.
Em usinas escuras,
homens de vida amarga
e dura
produziram este açúcar
branco e puro
com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.
|
GULLAR, Ferreira. Dentro da
noite veloz & Poema sujo. São Paulo: Círculo do Livro, s/d, pp.51-2.
Pagina
40 do modulo 1
(...)
Lembro-me de que certa noite - eu teria uns 14 anos, quando muito -
encarregaram-me de segurar uma lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de
operações, enquanto um médico fazia os primeiros curativos num pobre-diabo que
soldados da Polícia Municipal haviam "carneado". (...) Apesar do
horror e da náusea, continuei firme onde estava, talvez pensando assim: se esse
caboclo pode aguentar tudo isso sem gemer, por que não hei de poder ficar
segurando esta lâmpada para ajudar a costurar esses talhos e salvar essa vida ?
(...)
Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a ideia de que o menos que o escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é ascender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, ascendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como sinal de que não desertamos nosso posto.
Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a ideia de que o menos que o escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é ascender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, ascendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como sinal de que não desertamos nosso posto.
MODULO
II
PAGINA
5
Incerto,
Langdon saiu da cama, sentindo os pés mergulharem fundo no tapete floral estilo
savonnerie. Vestiu o roupão do hotel e foi até a porta.
- Quem
é?
- Sr.
Langdon? Preciso falar com o senhor. - O inglês do homem tinha sotaque, um
latido cortante e autoritário. - Meu nome é Jérôme Collet, tenente da Direção
Central de Polícia Judiciária.
Langdon
fez uma pausa. Polícia Judiciária? A DCPJ, na França, era mais ou menos o mesmo
que o FBI nos Estados Unidos.
Deixando
a correntinha na porta, Langdon abriu-a alguns centímetros. O rosto que o
olhava era magro e pálido. O homem era excepcionalmente esguio, vestido com um
uniforme azul de aspecto oficial.
- Posso
entrar? - indagou o agente.
Langdon
hesitou, sentindo incerteza enquanto os olhos amarelados do homem o estudavam.
- O que
é que está havendo, afinal?
- Meu
capitão necessita de sua habilidade em um assunto particular.
-
Agora? - objetou Langdon. - Já passa de meia-noite.
- Estou
correto ao afirmar que o senhor tinha um encontro marcado com o diretor do
Louvre esta noite?
Langdon
sentiu um súbito desconforto. Ele e o reverenciado curador do Louvre, Jacques
Saunière, tinham marcado um encontro para tomar um drinque depois da palestra
de Langdon naquela noite, mas Saunière não comparecera. - Sim. Como sabia?
-
Encontramos seu nome na agenda dele.
- Não
aconteceu nada demais, aconteceu?
O
agente soltou um suspiro pesaroso e passou-lhe uma foto polaróide pela abertura
estreita da porta.
Quando
Langdon viu a foto, seu corpo inteiro se contraiu.
- Essa
foto foi tirada há menos de uma hora. Dentro do Louvre.
Enquanto
olhava aquela imagem bizarra, Langdon sentiu que a repugnância e o choque
iniciais cediam lugar a um súbito acesso de fúria.
- Mas
quem é que faria uma coisa dessas?
- Tínhamos
esperanças de que o senhor pudesse nos ajudar a responder essa mesma pergunta,
considerando-se seu conhecimento de simbologia e seus planos de encontrar-se
com ele.
Langdon
ficou olhando a foto, estarrecido, o horror agora mesclado com medo. A imagem
era repulsiva e profundamente estranha, trazendo-lhe uma sensação esquisita de
déjà vu. Pouco mais de um ano antes, Langdon havia recebido uma foto de um
cadáver e um pedido de ajuda semelhante. Vinte e quatro horas depois, quase
tinha perdido a vida dentro da Cidade do Vaticano. Essa foto era totalmente
diferente e, mesmo assim, alguma coisa naquela história toda parecia-lhe
inquietantemente familiar.
O
agente consultou seu relógio.
- Meu
capitão está esperando, senhor.
Langdon
mal o escutou. Seus olhos ainda estavam pregados à foto.
- Este
símbolo aqui e a forma como o corpo dele está, tão estranhamente...
-
Posicionado? - indagou o agente.
Langdon
concordou, sentindo um arrepio ao olhar para o homem.
- Não
dá para imaginar quem faria isso com uma pessoa.
A
expressão do policial se tornou austera.
- O
senhor não está entendendo, Sr. Langdon. O que está vendo nessa foto... - fez
uma pausa - ...foi Monsieur Saunière quem fez isso consigo mesmo.
AVALIAÇÃO
BIMESTRAL
Leia o texto abaixo e responda o que
se pede:
- A
carta é um tipo de correspondência utilizado na comunicação escrita com
amigos e familiares. A carta é elaborada por um remetente e enviada a um
destinatário. Costumar apresentar local, data, vocativo, texto, despedida
e assinatura. CIRCULE o remetente e faça UM QUADRADO no destinatário.
|
Bimestre
1º
Tipo
B
|
Professor
MARCONILDO
VIEGAS
|
Disciplina
REDAÇÃO
|
||
Série:
6º ano
|
Turma
A
|
Turno
|
Data
____/____/2013
|
||
Aluno(a):
|
|||||
·
Não serão
consideradas questões sem cálculos ou rasuradas;
·
Em questões
objetivas, marque UMA única OPÇÃO.
|
·
Não use
corretivo;
·
Use somente
caneta PRETA;
|
||||
Com base na propaganda reproduzida
abaixo, responda as questões abaixo:
O Ministério da Saúde adverte:
Crianças começam a fumar ao verem os adultos fumando
- Considerando-se isso que o
Ministério da Saúde afirma, pode-se concluir:
A) Existem
adultos que compram cigarros em estoque.
B) Não
se deve dar cigarro a quem não sabe tragar.
C) Existem
adultos que dão maus exemplos a crianças.
D) Não
se deve forçar um menor de idade a fumar.
- A propaganda sugere que é comum
crianças
A) fumarem
menos de um maço por dia.
B) tentarem
imitar os fumantes adultos.
C) adquirirem
o vício antes da fase ideal.
D) incentivarem
os pais a largar o vício.
- Assim como o ato de ADVERTIR é
denominado ADVERTÊNCIA, o ato de
A) descuidar
é denominado descuidado.
B) benzer
é denominado benzedeira.
C) capacitar
é denominado capacidade.
D) perceber
é denominado percepção.
- Equivale ao sentido de AO VEREM:
A) sempre
que vêem.
B) quando
vêem.
C) tanto
quanto vêem.
D) conquanto
vêem.
Leia o texto abaixo e responda
Ainda Ontem Chorei de Saudade
Você me pede na carta
Que eu desapareça
Que eu nunca mais te procure
Pra sempre te esqueça
Que eu desapareça
Que eu nunca mais te procure
Pra sempre te esqueça
Posso fazer tua vontade
Atender teu pedido
Mas esquecer é bobagem
É tempo perdido
Atender teu pedido
Mas esquecer é bobagem
É tempo perdido
Ainda ontem chorei de saudade
Relendo a carta, sentindo o perfume
Mas que fazer com essa dor que me invade
Mato esse amor ou me mata o ciúme
Relendo a carta, sentindo o perfume
Mas que fazer com essa dor que me invade
Mato esse amor ou me mata o ciúme
- O
que a letra dessa canção representa?
a)
Um
desabafo causado pelo abandono amoroso.
b)
Uma
mensagem de reconciliação ao ser amado.
c)
Um pedido de perdão pelos bons momentos.
d)
A
resignação (tristeza) após um amor frustrado.
e)
N.d.a.
- Depois
da declaração de amor, o eu lírico (personagem do texto) ainda insiste e
tem esperança na volta do ser amado. Como se percebe que ele continua a
lutar?
a)
Ele
pede insistentemente uma chance a esse amor.
b)
Ele
pede insistentemente para sentir saudade dela.
c)
Ele afirma afirmativamente que um dia
voltará.
d)
Ele
diz que não faz nada na vida.
e)
N.d.a.
Leia o texto abaixo e
responda o que se pede
Diário é um texto
narrativo de caráter pessoal, em que registramos fatos de nosso cotidiano,
nossas ideias e emoções e, também, nossos segredos.
- O
que nos chama atenção nesse trecho do PRIMEIRO DIA é:
a)
Ele relata a vida escolar.
b)
Ele relata a aventura da queda de um avião e a escrita desse
acontecimento.
c)
Ele relata os feitos de
uma vida agitada.
d)
Ele diz que a vida não vale a pena ser vivida.
e)
N.d.a.
- A
linguagem em um diário é:
a) Culta – formal, pois é
uma situação coletiva.
b) Coloquial – informal,
pois é uma situação do dia a dia.
c) Misturada, pois não
existe esse tipo de linguajar.
d) Histórica, pois fala
da história de um animal.
e) N.d.a.
- O
tema principal desse trecho é:
a)
Um
momento de muita tensão com a queda do avião.
b)
Um
momento do dia a dia.
c)
Um momento de sonhos.
d)
Um
momento de loucura.
e)
N.d.a.
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