domingo, 3 de junho de 2012

Texto Súplica por uma árvore




Súplica por uma árvore.
                                  Cecília Meireles.

Um dia, um professor comovido falava-me de árvores. Se avô conhecera Andersen, esse pequeno deus que encantou para sempre a infância, todas as infâncias, com suas maravilhosas historias. Mas, além de conhecer Andersen, o avô desse comovido professor legara a seus descendentes uma recordação extremamente terna: ao sentir que se aproximava o fim de sua vida, pediu que o transportassem aos lugares amados, onde brincara em menino, para abraçar e beijar as árvores daquele mundo antigo – mundo de sonho, pureza, poesia – povoado de crianças, ramos, flores, pássaros... O professor comovido transportava-se a esse tempo de ternura, pensava nesse avô tão sensível, e continuava a participar, com ele, dessa cordialidade geral, desse agradecido amor à Natureza que, em silêncio, nos rodeia com a sua proteção, mesmo obscura e enigmática.
            Lembrei-me de tudo isso ao contemplar uma árvore que não conheço, e cujo tronco há quinze dias se encontra ferido, lascado pelo choque de um táxi desgovernado. Segundo os técnicos, se não for socorrida, essa árvore deverá morrer dentro em breve: pois a pancada que a atingiu afetou-a na profundidade de sua vida.
Meireles, Cecília. Suplica por uma árvore. In: O que se diz e o que se entende. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1980, p. 63.

  1. Embora fique melhor onde está, pois atrai o leitor, o primeiro parágrafo poderia vir depois do segundo, se obedecesse à lógica dos acontecimentos. Por que?
  2. O que a paisagem campestre representa para o cronista?
  3. Que objeto urbano contribui, no segundo parágrafo, para o contraste entre o campo e a cidade?
  4. Que semelhanças há entre o avô, o professor e a cronista?


INTERTEXTUALIDADE

Leia o poema seguinte, de Cláudio Manuel da Costa:

Aquele adore as roupas de alto preço,
Um siga a ostentação, outro a vaidade;
Todos se enganam com igual excesso.
Eu não chamo a isto felicidade:
Ao campo me recolho, e reconheço,
Que não há maior bem que a soledade.

Soledade: lugares ermos, desertos.

Que elemento comum podemos encontrar nestes versos, escritos no século XVIII, quando comparados ao texto de Cecília Meireles?

2 comentários:

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