domingo, 24 de dezembro de 2017

Descrição de lugar: texto com respostas.

 Descrição de lugar: detalhamento.



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                                                                   Louvor da manhã

[...] Era silencioso o amor. Podia-se adivinhá-lo no cuidado da mãe enxaguando as roupas nas águas de anil. Era silencioso, mas via-se o amor entre seus dedos cortando a couve, desfolhando repolhos, cristalizando figos, bordando flores de canela sobre o arroz –doce nas tigelas. 
          Lia-se o amor no corpo forte do pai, em seu prazer pelo trabalho, com sua mansidão para com os longos domingos. Era silencioso, mas escutava-se o amor murmurando – noite adentro – no quarto do casal. A casa, sem forro, deixava vazar esse murmúrio com o aroma de fumo e canela, que invadia lençóis e dúvidas, para depois filtrar-se por entre telhas. 
          Experimentava-se o amor quando, assentados ao calor da cozinha, pai e mãe falavam de distâncias, dos avós, das origens, dos namoros, dos casamentos. 
          E, quando o sono chegava, para cada menino em cada tempo, era o amor que carregava cada filho nos braços para a cama, ajeitando o cobertor debaixo do queixo. 
          [...] Em tardes de domingo, sempre muito longas e vestidas de sossego, a mãe se fazia criança para os filhos. 
          Ao pé da escada, junto da porta da cozinha, estava o tanque. De cimento cinza, ele guardava a água fria que despencava do morro, escorregando dentro dos bambus – veias cristalinas. A umidade favorecia viver e crescer ali, musgos verdes, tapetes por onde pequenas formigas passavam, arrastando montes de folhas. Mesmo o olhar se sentia acariciado por veludo assim tão fino. 
          Com anilinas para doces a mãe coloria as águas no tanque, uma cor de cada vez, e mergulhava as alvas galinhas legornes em banho colorido: azul, verde, amarelo, vermelho, roxo. Em pouco tempo o quintal, como por milagre, era pátio e castelo, povoado de aves – legornes agora raras – desenhadas em livro de fadas. Ficava tudo encantamento. Não havia livro, mesmo aqueles vindos de muito longe, com história mais bonita do que as que a mãe sabia fazer. Não era difícil para Antonio imaginar-se príncipe e filho de mágicos. 
           Quando o dia ameaçava esconder o sol, entre seios e montanhas, aquele inofensivo bando, filho do arco-íris que morava na cabeça da mãe, se empoleirava nos galhos até não poder mais, com seus antigos moradores vestindo roupa nova de festa, feita pela mãe; pensava na árvore de Natal que não tardaria a brotar no canto da sala, com sombra protegendo presentes. 
            No outro dia, o barulho do milho na cuia trazia para junto dos meninos um arco-íris faminto e já meio desbotado pela noite e seu sereno. Mas ficava a certeza de que a mãe, em qualquer momento, brincaria de outra coisa.
                                                                                                             Bartolomeu Campos de Queirós

 1. Segundo o texto, o amor era silencioso na casa de Antônio. O que significa isso? R. O amor não era expresso em palavras, não era declarado, percebe-se sua presença pelos gestos e pelas atitudes da mãe e do pai.

2. Em que momento ocorria a manifestação silenciosa do amor? R. Nas atividades comuns do cotidiano: nos instantes de lazer da família, na bate-papo na cozinha da casa ou a noite, na hora de dormir.

3. Na casa de Antônio, pais e filhos mantinham-se unidos, cultivando um profundo amor. Como os pais buscam manter os laços familiares que julgavam tão importantes? R. Falando das pessoas importantes da vida deles já falecidas, da história da família para manter viva o passado e realizando com satisfação as tarefas de casa.

4. "Não havia livro, mesmo aqueles vindos de muito longe, com historia mais bonita do que as que a mãe sabia fazer". Qual é a diferença entre contar uma história e fazer uma história? R.Contar uma história é narrar somente, enquanto que fazer uma história é dá vida aos personagens para que se torne algo concreto.

5. O que significa a expressão 'filho do arco-íris que morava na cabeça da mãe'? R. Era o bando de pintinhos/galinhas que a mãe pintava porque sua imaginação achava que era um arco-íris.

6. No texto, quais elementos permitem identificar o lugar em que Antônio vive como uma região rural? R. O cheiro do fumo, a água não encanada, galinhas, montanhas, etc.

7. Esse texto mostra que a mãe dava afeto aos filhos e também participava da vida deles, inventando brincadeiras. De que forma ela tornava concretas as histórias que imaginava? R. Ela usava as galinhas e transformava o quintal em um livro.

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