sábado, 23 de dezembro de 2017

Interpretação do texto teatral A marca de uma lágrima, de Pedro Bandeira.

 O roteiro é um tipo de texto  para ser representado no teatro, na televisão ou no cinema. É construído em torno de diálogos e traz rubricas para orientar diretor, atores e equipe técnica.


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Leia o texto

Cena 13

Sala de aula. Isabel, Rosana, professor de Português e alunos. Outra vez o movimento de estudantes entrando em classe. Rosana encontra Isabel e está aflita.

Rosana - Isabel! Onde você andou? Procurei por você o recreio inteiro! Seu rosto está vermelho... O que houve?
Isabel - Nada... acho que estou resfriada, Rosana. Na saída, eu vou com você até o ponto de ônibus. Tenho uma coisa pra te contar que vai deixar você muito feliz.
Rosana - E eu também, Isabel, eu também tenho uma coisa linda pra te contar!
Isabel  - Agora fique quieta que a aula é de Português. Ouvi dizer que esse professor é terrível!
Rosana - Para você ele deve ser fichinha, Isabel. Você é a recordista de notas dez em redação!

Entra o professor de Português. Os alunos calam-se. O professor tem um ar muito severo. Não é de brincadeiras, ao contrário da professora de Física.

Professor - Muito bem, jovens, vamos nos apresentar. Eu sou o seu professor de Português. Como eu sou, vocês logo vão ficar sabendo. Comigo basta pensar. Basta trabalhar, e muito. Se vocês forem assim, vamos nos dar muito bem. Mas hoje eu quero conhecer vocês. Para isso, vamos fazer uma redação. Pelo texto de vocês, vou poder separar quem sabe pensar daqueles que ainda estão na escala mais baixa da evolução. Vamos lá. Papel e lápis na mão. Uma redação de aquecimento. Tema livre. Podem soltar-se e mostrar o que existe dentro da cabeça de cada um. Eu só aviso que, para mim, um erro de concordância é o mesmo que empurrar escada abaixo a cadeira de rodas de uma velhinha. Com a velhinha em cima!

Rosana fica apavorada, pois é péssima aluna de Português e redige mal. Isabel nota seu desespero. Faz um sinal de calma para a amiga e põe-se a redigir furiosamente. Logo, passa disfarçadamente a folha escrita para Rosana.

Isabel - Pegue. Copie com sua letra.

A partir deste momento, como na aula de Física, todos os atores ficam imóveis e Isabel fala seus pensamentos. Só escreve quando diz a frase: “Quando você me beijou...”

Isabel - Idiota que fui. Pensar que Cristiano pudesse se apaixonar por mim, por mim, a gorducha... Quando você me beijou... Pensar que Cristiano poderia ler nos meus olhos, através dos óculos, e enxergar lá dentro toda a paixão da gorducha iludida... Quando você me beijou... Apaixonar-se pela desengonçada, pela feiosa piadista... Ah, que piada! Com o rostinho de Rosana à frente... com o corpinho de Rosana nos braços... nem pensar! Quando você me beijou... Burra! O que Cristiano poderia encontrar em mim? A espinha amarela no nariz, como um aríete de pus abrindo caminho rumo à solidão? Quando você me beijou... O que ele veria? O que todos veem, além da gorducha iludida, da feiosa cretina? Fernando tem razão. Eu acredito em tudo, como uma cretina. Acreditei até que Cristiano poderia me amar. Cretina! Acreditei até naquele beijo... Quando você me beijou... Cristiano...

Chora. Se possível, a plateia deve perceber que ela está lavada em lágrimas. E que as lágrimas pingam no papel.

Professor - Muito bem, classe, podem parar. Já deu tempo para colocar no papel o que tem dentro de suas cabeças. Se é que tem alguma coisa dentro de suas cabeças. Isabel! Quem é Isabel?

Isabel - Sou eu.

Professor - Meu colega do oitavo ano elogiou muito seus textos, Isabel. Quero começar por ele. Pode entregá-lo para mim?

Isabel entrega-lhe o papel. O professor começa a ler e fica surpreso.

Professor - O que é isto? Quando você me beijou, quando você me beijou, quando você me beijou... Há apenas a mesma frase escrita várias vezes!
Isabel - É um poema concreto, professor, Assim como “Uma pedra é uma pedra”, do
Carlos Drummond de Andrade. O leitor deve completar o poema de acordo com suas próprias experiências, de acordo com suas lembranças de um beijo de amor...

Risadinhas discretas dos alunos. O professor ergue um olhar duro, controlador, para toda a classe. Alunos calam-se.

Professor - Uma explicação hábil. Hábil e espirituosa, Isabel. Mas que não passa de uma saída para desculpar a preguiça. A preguiça e a falta de respeito... E isto? Que marquinha redonda é esta? Parece a marca de uma lágrima...



  
Isabel - Nada, professor, Faz parte do poema. É o cuspe do namorado... 

Gargalhada geral. O olhar controlador do professor, desta vez, não funciona. O professor, surpreso, não consegue transmitir sua autoridade. 

Professor - Começamos bem, não é, dona Isabel? Mas temos um ano inteiro pela frente. Que tal abrir o boletim com um zero?

 Isabel sorri e nada diz.
  
Professor - Vamos ver se esta classe vai me dar trabalho. Você, mocinha, como é o seu nome? 

Rosana - Eu? Rosana... 

Professor - Posso ver sua redação, Rosana? (Rosana dá o papel para o professor.) Hum... A estrutura não está má... é uma ideia forte... breve, mas forte... tem um ritmo que... Parece que me informaram errado. Quem sabe escrever nesta classe chama-se Rosana! Vou abrir o seu boletim com um lindo oito, Rosana. Que tal? Afinal de contas, você já deve ter ouvido falar que nove eu só dou para mim mesmo. E dez, só para Deus! 

Cena 14 

Ponto de ônibus. Isabel, Rosana e estudantes. 

Rosana - Ah, Isabel, como isso foi acontecer? Estou morrendo de remorso. Eu tirei oito com a redação que você fez, e você tirou zero! 

Isabel - Não esquente a cabeça, Rosana. Eu dou um jeito naquele professor, pode crer. Na próxima, ele vai ter de me chamar de Deus e me dar um dez. 

Rosana - Puxa, oito em redação! Nunca tirei isso. Uma nota oito vezes maior do que a sua, para duas redações feitas pela mesma pessoa! 

Isabel - Além da redação, acho que você vai ter de rever a sua matemática, Rosana. Oito vezes zero dá zero mesmo! 

As duas riem. Estão muito juntas, muito amigas, muito unidas. Isabel não dá o menor sinal de seu tormento interior. 

Rosana - Acho que nunca vou poder pagar tudo o que devo a você, Isabel. E não estou falando de redação. Estou falando de amor... 

Isabel - Para mim, escrever também é um ato de amor, Rosana. Quem escreve ama aquele que vai ler, quer conquistar o amor daquele que vai ler. Só que, às vezes, não basta escrever bem para conquistar a quem se ama... 

Rosana -Você é muito adulta, Isabel. Adulta demais... 

Isabel - É que eu tenho sessenta anos, Rosana. Mas sou conservada. Agora deixe de bobagem e continue com o amor e suas dívidas... ou dúvidas, sei lá. 

Rosana - Nada de dúvidas! Eu estou apaixonada mesmo. Caída por ele! A melhor coisa que aconteceu na minha vida foi você ter me convidado para aquela festa. Conhecer Cristiano foi demais... Ai! Você nem imagina o que aconteceu! 

Isabel - Faço uma ideia, Rosana, faço uma ideia... 

Rosana - Uma noite que eu nunca vou esquecer! Aquele rosto colado ao meu, as palavras que ele me disse no ouvido e, depois... 

Isabel - E, depois, ele deu uma saidinha para o jardim, não foi? O que você estava fazendo, naquela hora? Foi ao banheiro? Retocar a maquiagem toda borrada pelos avanços dele? 

Rosana - Ai, Isabel! O que você está dizendo? Que modo de falar! 

Isabel - Nada, Rosana... Desculpe... Uma brincadeira, só isso. Eu estou feliz de verdade por ver você assim, tão feliz...
Disponível em: http://www.bibliotecapedrobandeira.com.br/pdfs/contos/a_marca_de_uma_lagrima.pdf>. Acesso em 28 de maio de 2012.

1. No início da cena 13, Rosana diz que procurou pela amiga durante o recreio inteiro e comenta que o rosto dela está vermelho. Isabel disse a verdade quando alegou que era um resfriado? Ou poderia haver outro motivo para ela estar ausente durante o recreio e voltar com o rosto vermelho? R. Ela estava chorando em algum canto da escola, por isso estava com o rosto vermelho.

2. Ainda no início da cena 13, percebemos uma diferença entre Isabel e Rosana: a primeira é ótima aula de português e a segunda é péssima. Qual fato comprova que Isabel é ótima redatora? R. Ela se dispõe em ajudar a amiga, fazendo sua redação. Além disso, um outro professor disse que ela era ótima em português.

3.  Apenas a partir de um texto escrito é possível definir "quem sabe pensar"? R. Não, pois assim os que não são alfabetizados estariam nessa categoria.

4. Releia essa rubrica: A partir desse momento, como na aula de Física, todos os atores ficam imóveis e Isabel fala seus pensamentos. Só escreve quando diz a frase: "Quando você me me beijou..." Por que a rubrica diz: 'como na aula de Física'? R. Essa situação também aconteceu na aula de Física.

5. Na linguagem teatral, esse momento em que um personagem fala alto seus pensamentos, como se estivesse conversando consigo mesmo, chama-se monólogo. A partir do monólogo de Isabel, e também das demais informações do texto, o que podemos deduzir que ocorreu entre ela e Cristiano? R. Ela pensou que Cristiano em algum momento estava apaixonado por ela.

6. No momento do monólogo, pode-se perceber o retrato que Isabel faz de si própria. Como a jovem se vê? R. Ela se vê como feia, gorducha, desengonçada, cretina e burra.

7. Isabel julgava-se menos capaz de despertar o amor de Cristiano do que a amiga Rosana. Com base em que critério ela fazia esse julgamento? R. Ela se apoiava no padrão de beleza que a sociedade impõe, do qual ela estaria excluída.

8. Sabendo da fama de boa redatora de Isabel, o professor pede que ela seja a primeira a entregar seu texto. Contudo, ele não gosta nada do que lê. A resposta de Isabel foi 'É um poema concreto, professor.' O que essa resposta revela a respeito da menina? R. Ela era esperta e saia-se bem de certas situações.


9. Na saída da escola, Rosana conta Isabel sobre sua paixão por Cristiano. Como Isabel se sentia ao ouvir sua  paixão por Cristiano? R. Ela estava 'por fora', mortificada, porque ambas gostavam do mesmo rapaz.

Um comentário:

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