domingo, 21 de abril de 2013

Modernismo com interpretação de texto e respostas.


Modernismo - 1ª Fase

Contexto histórico

O início do século XX foi marcado por um extraordinário desenvolvimento cientifico e tecnológico, dos quais são exemplos o telegrafo, a eletricidade, o telefone, o cinema, o automóvel e o avião, a teoria da relatividade, de Einstein e a teoria psicanalítica, de Freud. Vivia-se a euforia da chamada belle époque, com a valorização do conforto e do bem viver.
Entretanto, desde o final do século XIX, os países europeus passam por constantes sobressaltos, resultantes da instabilidade e das competições políticas, o que acelerava a corrida armamentista.
Em 1914, começa a 1ª Guerra Mundial, de proporções até então desconhecidas pela humanidade, que passa a descrer nos sistemas políticos, sociais e filosóficos e a questionar os valores de seu tempo.

Modernismo brasileiro

Os governos das oligarquias vão se sucedendo. Minas e São Paulo repartiam o poder, desfavorecendo as camadas empobrecidas da população.
A época da Semana de Arte Moderna, o quadro brasileiro era de crises sucessivas, que acabam por gerar a Revolução de 1930, quando Getúlio Vargas assume o poder.

Semana de Arte Moderna

Nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, com a participação de Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Mario de Andrade, Graça Aranha, Ronald de Carvalho, Vitor Brecheret, Anita Malfatti, Villa-Lobos, Di Cavalcanti e muitos outros, o Teatro Municipal de São Paulo se torna o centro de uma verdadeira amostra das ideias modernistas. São lidos manifestos e poemas, expõem-se quadros e esculturas, músicas são executadas. Tudo diante de um público que reagiu com vaias e apupos.

Correntes modernistas

Depois da união inicial em torno da Semana, os modernistas dividem-se em grupos e movimentos, que refletiam orientações estéticas e ideológicas diversas:

1.    Movimento Pau-Brasil: revalorizava os elementos primitivos da nossa cultura, através da crítica ao falso nacionalismo e da valorização dos elementos o Brasil, seus costumes, sua cultura, seus habitantes e suas paisagens. Dele participaram: Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Raull Bopp, Alcântara Machado e Tarsila do Amaral.

2.    Movimento Verde – Amarelo: Liderado por Plinio Salgado, Cassiano Ricardo e Menotti del Picchia e tendo uma postura nacionalista, repudiava tudo que fosse cultura importada e tentava mostrar um Brasil grandioso. Entretanto, acabou por revelar uma visão reacionária.


3.    Movimento antropofágico: radicalização do Movimento Pau – Brasil, foi lançado em 1928, e opunha-se ao conservadorismo do Movimento Verde – Amarelo. Seus participantes são os mesmos do Movimento Pau – Brasil.

4.    Movimento espiritualista: Procurou conciliar o passado e o futuro e se manteve preso as influencias simbolistas. A universalidade dos temas, o mistério, as questões existenciais e o espiritualismo caracterizaram a produção poética desta corrente. Principais participantes: Murilo Mendes, Cecilia Meireles, Murilo Araújo, Adelino Magalhaes, Tasso da Silveira, Augusto Frederico Schimidt.

Fases do Modernismo

Costuma-se dividir o Modernismo brasileiro em 3 fases:

1ª Fase: fase heroica (1922 – 1930)
2ª Fase: fase construtiva (1930 – 1945)
3ª Fase: fase de reflexão (1945 até nossos dias)

Autores

Mário de Andrade

Estreou com o livro de influências parnasianas e simbolistas. Mas Paulicéia Desvairada (1922) seria o primeiro livro do Modernismo brasileiro. Nele, o poeta focaliza aspectos humanos, sociais e políticos de São Paulo, em versos livres, de métrica informal, subvertendo os valores estéticos ate então vigentes. Palavras, expressões, flashes e fragmentos se articulam numa tentativa de apreender a alma urbana de São Paulo, ora lhe celebrando a paisagem, ora criticando a burguesia, ora tentando expressar sua visão da cidade.
No “Prefácio Interessantíssimo”, que abre Pauliceia Desvairada, o poeta nos dá sua fórmula de elaboração do poema:

Impulso inconsciente + escrita livre + técnica posterior = poesia

Com Losango caqui (1926) é, segundo o próprio Mario, composto por sensações, ideias, alucinações, brincadeiras, liricamente anotadas. Nele, o poeta expressa seu antimilitarismo.

A obra ficcionista de Mario de Andrade pode ser dividida em 2 vertentes:

Primeira: trata do universo familiar da burguesia paulistana e da gente do povo, especialmente com o livro Amar, verbo intransitivo e vários contos que publicou.

Segunda: aproveitamento de lendas indígenas, mitos, anedotas populares e elementos do folclore nacional, fazendo parte disso o livro Macunaíma.
Nesse livro o herói apresenta traços bem definidos, como a preguiça, o deboche, a irreverencia, a malandragem, a sensualidade, o individualismo e o sentimentalismo. Enfim, o caráter do herói muda de um episodio para o outro, o que justifica qualifica-lo de herói sem nenhum caráter.

Macunaíma

Então Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do rio uma cova cheia d’água. E a cova era que-nem a marca dum pé-gigante. Abicaram. O herói depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou na cova e se lavou inteirinho. Mas a água era encantada porque aquele buraco na lapa era marca do pezão do Sumé, do tempo em que andava pregando o evangelho de Jesus pra indiada brasileira. Quando o herói saiu do banho estava branco louro e de olhos azuizinhos, água lavara o pretume dele. E ninguém não seria capaz mais de indicar nele um filho da tribo retinta dos Tapanhumas. Nem bem Jiguê percebeu o milagre, se atirou na marca do pezão do Sumé. Porém, a água já estava muito suja da negrura do herói e por mais que Jiguê esfregasse feito maluco atirando água pra todos os lados só conseguiu ficar da cor do bronze novo (...)
— Olhe, mano Jiguê, branco você ficou não, porém pretume foi-se e antes fanhoso que sem nariz.
Maanape então é que foi se lavar, mas Jiguê esborrifava toda a água encantada pra fora da cova. Tinha só um bocado lá no fundo e Maanape conseguiu molhar só a palma dos pés e das mãos. Por isso ficou negro bem filho da tribo dos Tapanhumas. Só que as palmas das mãos e dos pés dele são vermelhas por terem se limpado na água santa.
 

1. Alegoria é a exposição de um pensamento sob forma figurada. O teto lido é uma representação alegórica de que? R. O surgimento das raças.

2. Que reação de Macunaíma não condiz com o que se espera de um herói, prenunciando o anti-herói? R. O grito por causa da água fria.

3. Os modernistas da 1ª fase procuravam romper com a linguagem formal e incorporar a fala coloquial (uso de vocábulos e sintaxe bem próximos da linguagem cotidiana). Muitas vezes utilizavam registros populares da língua ou não utilizavam pontuação, contrariando a gramática normativa. R. Que nem, dum, pra indiada. 

4. Mario de Andrade valoriza a lógica e a razão nesse texto? Por quê? R. Não, porque ele usa elementos mágicos e fantasiosos, como a água encantada.


Oswald de Andrade

Buscou que sua poesia expressasse o genuinamente brasileiro e percorresse, desde os tempos coloniais, a vida rural e urbana do país, procurando ver com um olhar ingênuo de uma criança e o da pureza primitiva do índio. Reaproveitando textos dos primeiros viajantes (sobretudo Caminha), escreveu poemas breves, em versos livres e brancos, com linguagem coloquial, humor e parodia, recusando a estrutura discursiva do verso tradicional.
Seus romances mais importantes são: Memórias sentimentais de João Miramar e Serafim Ponte Grande.

Em Memórias sentimentais de João Miramar, que é considerada a primeira grande realização da prosa modernista. Rompendo com esquemas tradicionais da narrativa, a obra é construída a partir de fragmentos justapostos, de blocos que rompem com a sequência discursiva e de capítulos relâmpagos, assemelhando-se a justaposição das imagens cinematográficas, o que possibilita uma leitura linear da história e deixa a cargo do leitor a recomposição da narrativa. A paródia, a técnica cubista, a frase sincopada (reduzida), as elipses que devem ser preenchidas pelo leitor, a linguagem infantil e a poética e outras inovações fazem de Memórias uma obra revolucionaria para a sua época.


Manuel Bandeira

O poema Os sapos é um dos que é lido numa das noites da Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo. E este poema, assim como a Semana, tinha um espírito renovador e demolidor dos modernistas.

Estreou com o livro A cinza das horas (1917), publicando a seguir Carnaval (1919), ambos ainda com resquícios simbolistas e parnasianistas. Mas já revelando um espirito renovador.
Mas foi com o livro Ritmo dissoluto (1924) que se aproximou mais do Modernismo.

O livro Libertinagem (1930) é definitivamente modernista e nele se encontra uma incorporação da linguagem coloquial e popular e a temática do dia a dia.

O caráter geral de sua obra é marcado pelo tom confidencial, pelo desejo insatisfeito, pela amargura e por referencias autobiográficas, relacionadas com sua doença (tuberculose), com lugares onde morou e com a família.

Os sapos
                                   Manuel Bandeira



Os Sapos
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..."

Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- A grande arte é como
Lavor de joalheiro.

Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo".

Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas,
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".

Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Veste a sombra imensa;

Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é

Que soluças tu,
Transido de frio,

Sapo-cururu
Da beira do rio...



1. Que recurso sonoro o poeta utiliza na 1ª estrofe para limitar a marcha saltitante dos sapos? R. A aliteração da letra P.

2. Em meio à algazarra dos medíocres, quem simboliza a solidão do artista superior? R. O sapo cururu.

3. Em que versos o poeta resume a sua denúncia do equivoco parnasiano de que a boa métrica e a rima constituíram a excelência da forma e da poesia?R. Em reduzi sem danos/ A fôrma a forma.

4. Qual dos sapos caracteriza a vaidade excessiva de alguns parnasianos? R. O sapo pipa.

5. Sabendo-se que os três primeiros sapos simbolizam os poetas parnasianos, quem estaria sendo simbolizado pelo sapo – cururu? R. Os poetas parnasianos.

Cassiano Ricardo

Como outros modernistas da primeira fase, Cassiano estreou com influencias parnasiano – simbolistas. Contudo, sua inquietação estética fez com que chegasse a experiências das vanguardas poéticas da segunda metade do século XX.

Com o livro Vamos caçar papagaios (1926) e Martim – Cererê (1928), o poeta entra em sua fase nacionalista, verde – amarelista, em que predomina a brasilidade dos temas.

Em O sangue das horas (1943) e Um dia depois do outro (1947), encontramos o poeta voltado para a reflexão sobre o destino humano e para os sentimentos de solidão, melancolia, frustração, angústia e perplexidade diante da vida.
Com o livro Jeremias sem chorar (1964) e Os sobreviventes (1971), o poeta assimila conquistas do Concretismo. Nessas obras, o mundo eletrônico, a conquista do espaço e a corrida armamentista são vistos como uma ameaça a vida humana. O poema mais conhecido é Martim – Cererê.


Alcântara Machado

Importante conquista da 1ª fase do Modernismo, ele retratou a vida e as gentes de São Paulo, com predileção pelo imigrante italiano. Nos bairros populares, suas personagens vivem as cenas do cotidiano: a partida de futebol, as brigas de rua, as festas etc. Diminuindo a distância a língua falada e a escrita, incorporou a linguagem popular, os italianismos e uma sintaxe simples, resultando numa prosa leve e num estilo moderno.


Modernismo 2ª Fase.

O livro A bagaceira, de José Américo de Almeida, inaugura a corrente regionalista da literatura brasileira, entre 1930 a 1945. O regionalismo de 30 voltou-se para as tradições nordestinas, seus valores culturais e morais. Mais preocupados com uma visão sociológica da realidade do que uma renovação da linguagem, o regionalismo de 30 foi um veículo de denúncia dos problemas sociais do Nordeste.


Contexto histórico

Em 1930, tem início aos 15 anos de ditadura de Getúlio Vargas.
Com o objetivo de obter o apoio junto às massas, Getúlio toma uma serie de medidas: o país é dotado de uma legislação trabalhista e previdenciária, decreta-se o salário mínimo e adotam-se providências para a criação de um partido trabalhista.
Em 1945 é decretada a anistia para os presos políticos e são convocadas novas eleições para dezembro. Porém, as suspeitas de um novo golpe getulista, naquele ano, provocam o descontentamento dos militares, que, num movimento liderado pelo general Góis Monteiro, depõem o ditador.

As transformações do período getulista

Entre as transformações ocorridas no período, destacam-se:

1.    A expansão industrial do Brasil.
2.    O desenvolvimento dos transportes rodoviário e aéreo.
3.    O crescimento das cidades e o surgimento do proletariado urbano, e os consequentes problemas de habitação, criminalidade, saneamento etc.
4.    A criação de universidades, a implantação do ensino técnico e o aumento da rede escolar, sobretudo a do ensino fundamental, com cerca de 40 mil escolas em 1939.
5.    O desenvolvimento da imprensa, o aumento do número de bibliotecas e a construção de prédios públicos, o que contribuiu para valorização da arquitetura no Brasil.

Literatura da 2ª Fase

Poesia

A geração de 30, despreocupada com as questões imediatas de 22 (o nacionalismo, o folclore, a destruição dos esquemas do passado etc.), voltava-se para as questões universais do homem e para os problemas da sociedade capitalista.
Principais nomes: Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes e Jorge de Lima.

Em Vinícius de Moraes e Cecília Meireles, a temática universalizante também está presente em suas poesias, embora é suplantada por uma poesia personalista.

Enquanto isso, Murilo Mendes, Jorge de Lima e Cecília Meireles, incorporam a religiosidade e o misticismo em seus poemas.

Prosa

Nos anos 30, a ficção dá novo salto qualitativo com o aparecimento de escritores de grande importância, que se distribuem em 3 vertentes:

1.    Prosa regionalista

As raízes do regionalismo já se encontravam no século anterior com o livro O sertanejo, de José de Alencar, e o Cabeleira, de Franklin Távora.
Tem-se uma intensa campanha de revalorização das tradições regionais.
Preocupando-se com a revalorização do Nordeste se deve em parte ao deslocamento do eixo econômico e cultural para o sul, quando a indústria açucareira começa a decair.
O regionalismo de 30 soube revelar o drama da seca e das retiradas, a submissão do homem ao latifundiário, a ignorância e as mazelas politicas da região Nordeste.
A bagaceira, de José Américo de Almeida é a obra inaugural e em seu prefácio intitulado “Antes que me falem” constitui um verdadeiro  e autentico manifesto do regionalismo de então. A seguir, publicam-se O quinze (1930), de Rachel de Queiroz, O país do Carnaval (1931), de Jorge Amado e Menino de Engenho (1932), de José Lins do Rego. Em 1938, Graciliano Ramos publica Vidas Secas, a obra máxima do romance nordestino.

2.    Prosa urbana

Érico Veríssimo, José Geraldo Vieira e Marques Rebelo são os que mais se destacaram ao retratar o ambiente e as personagens das grandes cidades.

3.    Prosa intimista

Os conflitos humanos e as questões psicológicas aparecem nas obras de Clarice Lispector, Lucio Cardoso, Dionélio Machado e Otávio de Faria.


Autores

Graciliano Ramos

Seus romances se caracterizam pelo inter-relacionamento entre as condições sociais e a psicologia das personagens; ao que se soma uma linguagem precisa, enxuta, despojada, de períodos curtos, mas de grande força expressiva.
Estreou com o romance Caetés (1933) que conta um caso de adultério ocorrido numa pequena cidade do interior nordestino.
São Bernardo (1934) é uma das obras-primas do autor, pois narra a ascensão de Paulo Honório, rico proprietário da fazenda São Bernardo. Com o objetivo de ter um herdeiro, Paulo se casa com Madalena, uma professora de ideias progressistas. O ciúme e a incompreensão de Paulo Honório levam-na ao suicídio. Trata-se de um romance admirável, não somente pela caracterização da personagem, mas também pelo tratamento dado a problematização da coisificação dos indivíduos.
Angústia (1936) é a história de uma só personagem (um monólogo), que vive a remoer a sua angústia de ter cometido um crime passional.
Entre suas obras autobiográficas, destacam-se Memórias do cárcere (1953), depoimento sobre as condições dramáticas de sua prisão durante o governo do ditador Getúlio Vargas.

Vidas Secas
                                           
Graciliano Ramos

A caatinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas. O vôo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos moribundos.
– Anda excomungado.
O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo. Tinha o coração grosso, queria responsabilizar alguém pela sua desgraça. A seca aparecia-lhe como um fato necessário – e a obstinação da criança irritava-o. Certamente esse obstáculo miúdo não era culpado, mas dificultava a marcha, e o vaqueiro precisava chegar, não sabia onde.
Tinham deixado os caminhos, cheios de espinhos e seixos, fazia horas que pisavam a margem do rio, a lama seca e rachada que escaldava os pés.
Pelo espírito atribulado do sertanejo passou a idéia de abandonar o  filho naquele descampado. pensou nos urubus, nas ossadas, coçou a barba ruiva e suja, irresoluto, examinou os arredores. Sinhá Vitória estirou o beiço indicando vagamente que estavam perto. Fabiano meteu a faca na bainha, guardou-a no cinturão, acocorou-se, pegou no pulso do menino, que se encolhia, os joelhos encostados ao estômago, frio como um defunto. Aí a cólera desapareceu. Entregou a espingarda a Sinhá Vitória, pôs o filho no cangote, levantou-se, agarrou os bracinhos que lhe caíam sobre o peito, moles, finos como cambitos. Sinhá Vitória aprovou esse arranjo, lançou de novo a interjeição gutural, designou os juazeiros invisíveis.
E a viagem prosseguiu, mais lenta, mais arrastada, num silêncio grande.

1. Qual é a importância do cenário descrito na narrativa? R. O cenário é o antagonista. A família se desloca por causa da seca e da miséria.

2. Que traço psicológico de Fabiano identifica-se com o cenário da seca? Justifique. R. "Fabiano tinha o coração grosso" e o narrador faz associação com a aridez e a sequidão da terra e seus traços psicológicos.

3. O que indica a dificuldade de comunicação de Sinhá Vitória e a que podemos atribui-la? R. Sinhá Vitória faz caretas e solta sons guturais, ou seja, as palavras estão ausentes na comunicação. Pode ser atribuída a pobreza e desolação vivida pela personagem.

4. Que características do filho de Fabiano acentuam o drama dos retirantes? R. Ele está com extrema fraqueza física por causa da fome.

5. O que caracteriza a relação de Fabiano com a realidade da seca e a sua visão dessa realidade? Que afirmação do narrador justifica a sua resposta? R. Ele parece acostumado com a realidade da seca, vendo como algo natural.




José Lins do Rego

Sua obra pode ser dividida em:

1.    Ciclo da cana-de-açúcar: Menino de Engenho, Doidinho, Bangue, Usina e Fogo Morto.
2.    Ciclo do cangaço, do misticismo e da seca: Pedra Bonita e Cangaceiros.
3.    Obras independentes: O moleque Ricardo, Pureza e Riacho Doce.
                                                                                 

As obras do ciclo da cana de açúcar são as mais importantes, destacando-se Fogo Morto, em que o autor procura retratar o início da decadência dos senhores de engenho, o advento da usina de açúcar, com seus métodos modernos de produção e a formação de uma nova estrutura econômica e social na região açucareira do Nordeste.


Jorge Amado

Costuma-se dividir a sua obra em 2 fases.

A 1ª fase é iniciada com o livro O país do carnaval (1931), em que se caracteriza por seu forte conteúdo político e pela denúncia das injustiças sociais, o que muitas vezes dá um caráter panfletário e tendencioso às obras. O esquematismo psicológico das obras dessa fase leva a uma divisão do mundo em heróis (marginais, vagabundos, operários, prostitutas, meninos abandonados, marinheiros, etc.) e vilões (a burguesia urbana e os proprietários rurais). Há uma exceção: Terra do sem-fim (1942) é uma obra prima do autor.
A 2ª fase se inicia com a publicação de Gabriela, cravo e canela (1958). Fugindo ao panfletismo e ao esquematismo psicológico, Jorge Amado passa a construir seus romances com elementos folclóricos e populares: os costumes afro-brasileiros, a comida típica, o candomblé, os terreiros, a capoeira etc. o mundo dos marginalizados se torna um mundo feliz, pois seus heróis levam uma vida sem preconceitos, sem regras severas de conduta social, o que lhes permite um elevado grau de liberdade existencial.

Capitães da Areia

"É aqui também que mora o chefe dos Capitães da Areia: Pedro Bala. Desde cedo foi chamado assim, desde seus cinco anos. Hoje tem quinze anos. Há dez que vagabundeia nas ruas da Bahia. Nunca soube de sua mãe, seu pai morrera de um balaço. Ele ficou sozinho e empregou anos em conhecer a cidade. Hoje sabe de todas as suas ruas e de todos os seus becos. Não há venda, quitanda, botequim que ele não conheça. Quando se incorporou aos Capitães da Areia (o cais recém-construído atraiu para suas areias todas as crianças abandonadas da cidade) o chefe era Raimundo, o Caboclo, mulato avermelhado e forte.
Não durou muito na chefia o caboclo Raimundo. Pedro Bala era muito mais ativo, sabia planejar os trabalhos, sabia tratar com os outros, trazia nos olhos e na voz a autoridade de chefe. Um dia brigaram. A desgraça de Raimundo foi puxar uma navalha e cortar o rosto de Pedro, um talho que ficou para o resto da vida. Os outros se meteram e como Pedro estava desarmado deram razão a ele e ficaram esperando a revanche, que não tardou. Uma noite, quando Raimundo quis surrar Barandão, Pedro tomou as dores do negrinho e rolaram na luta mais sensacional a que as areias do cais jamais assistiram. Raimundo era mais alto e mais velho. Porém Pedro Bala, o cabelo loiro voando, a cicatriz vermelha no rosto, era de uma agilidade espantosa e desde esse dia Raimundo deixou não só a chefia dos Capitães da areia, como o próprio areal. Engajou tempos depois num navio.
Todos reconheceram os direitos de Pedro Bala à chefia, e foi dessa época que a cidade começou a ouvir falar nos Capitães da areia, crianças abandonadas que viviam do furto."


Jorge Amado, Capitães da Areia, 50a ed.
Rio de Janeiro: Record, 1980, P. 26/7.


1. Pela leitura do texto, pode-se concluir que o romance pretende denunciar que tipo de problema social? R. O menor abandonado.

2. Que fato da vida de Pedro Bala pode se considerado como o elemento desencadeador de sua vida de menino de rua? R. Não ter nem pai, nem mãe e nem a solidariedade do Estado.

3. Que características de Pedro Bala fizeram dele o líder do grupo? R. Era ativo, planejador, sabia tratar os outros e trazia na voz e nos olhos, a autoridade de chefe.

4. Mesmo sendo um grupo de marginalizados, os meninos demonstravam senso de justiça entre os membros do grupo. Que fato narrado comprova essa afirmação? R. Os meninos reprovaram a atitude de Raimundo de usar uma navalha contra o jovem desarmado.


Érico Veríssimo

Costuma-se dividir a obra dele em 3 grupos:

1.    Romance urbano: Clarissa, Caminhos cruzados, Um lugar ao sol, Olhai os lírios do campo, Saga e O resto é silêncio. Essas obras retratam a vida da pequena burguesia porto-alegrense, com uma visão otimista, às vezes lírica, às vezes crítica, e com uma linguagem tradicional, sem maiores inovações.
2.    Romance histórico: O tempo e o vento. A trilogia de Érico Veríssimo procura abranger 200 anos da historia do Rio Grande do Sul, de 1745 a 1945. O primeiro volume (O continente) narra a conquista de São Pedro, pelos primeiros colonos e é considerado o ponto mais alto de toda a sua obra.
3.    Romance político: O senhor embaixador, o prisioneiro e Incidente em Antares. Escritos durante o período da ditadura militar (1964-1985), denunciam os males do autoritarismo e as violações dos direitos humanos.

Carlos Drummond de Andrade

Ele é, sem dúvida, o maior poeta brasileiro do século XX. Sua estreia se deu em 1930, com Alguma poesia.
De maneira geral, os poemas desse livro procuram retratar a vida à sua volta. Fala-nos de cenas do cotidiano, de paisagens, de lembranças, fotografando a realidade, retratando a vida besta.

Texto
Cidadezinha qualquer


Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar… as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.





Por outro lado, o poeta manifesta o seu pessimismo e a sua personalidade reservada, tímida, desconfiada, de um poeta que nasceu gauche (torto) na vida; outras vezes, deixa transparecer uma fina ironia e humor, utilizando-se também do poema-piada, herança dos modernistas da 1ª fase.

Em Brejo das almas (1934), o poeta evolui, abandonando o descritivismo e acentua o humor de seus versos. Drummond se interioriza, manifestando um sentimento de decepção e amargura, de falta de sentido da existência ou da solução para o destino. Além disso, acentua a temática amorosa, num lirismo contido e por vezes irônico.
Sentimentos do mundo (1940) representa uma mudança na trajetória do poeta. Diante dos horrores da guerra, da consciência de um mundo injusto e brutal, nasce o desejo de se solidarizar, e o poeta abre mais espaço para o outro em sua poesia. É o momento de se voltar para o tempo presente, os homens presentes, a vida presente, compreender os homens e construir um mundo melhor.
Em 1942, Drummond publica Poesias, título geral de 12 novos poemas, inclusive o antológico José, que antecipam tematicamente A rosa do povo (1945).
Ambas as obras tem em comum o fato de condenarem a vida de nossos dias, mecânica, e estúpida, sem humanidade. A rosa do povo é um livro que se destaca porque tem como temas o medo, a angústia, a náusea, a guerra, a solidão dos homens e a escravidão ocasionada pelo progresso.
A partir de então, Drummond acentua a temática do passado e do presente, a meditação poética sobre as razões da existência, a problemática da condição humana e o mistério do destino do homem, ao que se somam suas reflexões sobre o fazer poético e a incorporação das experiências concretistas.
                            De Amor, amores (1975) em diante, o sensualismo e o erotismo encontraram um espaço maior em sua poesia.

Poema de sete faces

Carlos Drummond Andrade

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

1. Que relação se pode estabelecer entre o título do poema e o número de estrofes? R. O poema tem 7 estrofes, equivalentes às 7 faces a que o título se refere.

2. Que elemento comum identifica o poeta e o anjo? R. Ambos são gauches, pois também o anjo é torto, deslocado, "desses que vivem na sombra".

3. Há uma aparente desconexão entre as várias estrofes, como se o poeta registrasse flashes da realidade. Identifique cada uma das estrofes, a partir da ideia básica de cada uma delas, que assinalamos a seguir:

a) flash de adulto, sério, reservado: R. 4ª estrofe.
b) nascimento do poeta: R. 1ª estrofe.
c) percepção de um mundo inquieto, que poderia ser mais belo: jR. 2ª estrofe.
d) desajustamento entre a realidade interior e a exterior, aliado à percepção da sexualidade: R. 3ª estrofe.

4. Que sentimento o eu lírico expressa na passagem bíblica incorporada ao poema? R. O sentimento de abandono e solidão.

5. Em que estrofe o poeta se descobre importante diante do mundo? Transcreva o verso que evidencia essa sensação. R. 4ª estrofe, "se sabias que eu era fraco".


Texto para leitura (sem exercícios)


Não quero ser o último a comer-te

Não quero ser o último a comer-te.
Se em tempo não ousei, agora é tarde.
Nem sopra a flama antiga nem beber-te
aplacaria sede que não arde

em minha boca seca de querer-te,
de desejar-te tanto e sem alarde,
fome que não sofria padecer-te
assim pasto de tantos, e eu covarde

a esperar que limpasses toda a gala
que por teu corpo e alma ainda resvala,
e chegasses, intata, renascida,

para travar comigo a luta extrema
que fizesse de toda a nossa vida
um chamejante, universal poema.





Poesia erótica de Drummond



As mulheres gulosas

As mulheres gulosas
As mulheres gulosas que chupam picolé - diz um sábio que sabe –
são mulheres carentes
e o chupam lentamente
qual se vara chupassem,
e ao chupá-lo já sabem que presto
se desfaz na falácia
do gozo o picolé
fuginte como se esfaz na mente
o imaginário pênis.


                            Procurando nos fatos mais corriqueiros a matéria de sua prosa, escrita com ironia e humor, Drummond se revelou um mestre da crônica.


Murilo Mendes

            Partindo das primeiras experiências modernistas, Murilo, sempre preocupado em renovar permanentemente a sua expressão poética, chegou em seus últimos trabalhos a uma total libertação de criação e experimentação.
            Seu livro de estreia foi Poemas (1930), que contem uma crítica irônica à sociedade técnica e mecanizada. Nele, encontramos a figura da mulher simbolizando a seiva da vida. Essa visão crítica será retomada em O visionário (1941, mas com poemas escritos entre 1930 e 1933), no qual se acentua a tentativa de expressão surrealista, já manifestada no 1º livro, exprimindo um sentimento de angústia diante de um mundo absurdo e conturbado.
            Com Tempo e eternidade (1935), escrito com a colaboração de Jorge de Lima, inicia-se uma vertente significativa da poesia de Murilo Mendes: a religiosidade empenhada na crítica da desumanização da vida. Essa crítica também está presente no livro “A poesia em pânico” (1937).
            As metamorfoses (1944), Mundo enigma (1945) e Poesia liberdade (1947) documentam uma visão trágica do mundo: as injustiças, as tiranias, as guerras.
            Convergência (1970) é uma obra inovadora do ponto de vista formal, na qual o poeta rompe com a linearidade discursiva, cria neologismos e explora ao máximo as possibilidades sonoras das sílabas, prefixos, sufixos, dos recursos sonoros. Neste livro, Murilo traduz em palavras os novos tempos e se integra às novas tendências da arte literária.

Jorge de Lima

            Ele, em sua 1ª fase, privilegia o soneto e se esmera com um vocabulário bem ao gosto parnasiano. Dessa fase são os livros: XIV Alexandrinos (1914), Poemas (1927), Novos poemas (1929), Poemas escolhidos (1932) e Poemas negros (1947).

            A partir de Poemas (1927), Jorge de Lima adere ao Modernismo, com textos marcados por cenas de infância, pelo sentimento nacionalista, por referências ao Nordeste e pela forte influência de elementos do folclore negro.
Em sua 2ª fase, o poeta se apresenta bastante envolvido com problemas religiosos e metafísicos, voltado para temas do catolicismo e aprimorando o verso livre e a expressão metafórica. Os livros dessa fase são: Tempo e eternidade (1935), A túnica inconsútil (1938), Anunciação e encontro de Mira – Celi (1943) e Livro de Sonetos (1949).
            Finalmente, com Invenção de Orfeu (1952), obra da 3ª fase do poeta, ele se consolida e se supera, como que confirmando todas as suas qualidades. Trabalhando conscientemente sobre o modelo épico de Camões, Jorge de Lima se apropria dos clássicos, numa técnica de colagem em que aparecem, além de Camões, Dante, Milton e Virgílio. Mitos luso-brasileiros se fundem com suas leituras e seu conhecimento histórico na busca de interpretar simbolicamente a relação do homem com o universo.

Vinícius de Moraes

Em um 1º momento, a obra de Vinicius pode ser dividida em 2 fases:

1ª fase: místico – religiosa
2ª fase: encontro com o mundo material e cotidiano

            A primeira fase compreende os livros: O caminho para a distância (1933), Forma e exegese (1935), Ariana, a mulher (1936), Novos poemas (1938) e Cinco elegias (1943), sendo este último de transição.
            Em O caminho para a distancia, o poeta manifesta sua preocupação religiosa e sua angústia diante do mundo, revelando também o seu conflito entre o sensualismo e o sentimento religioso. O amor é tido como um elemento negativo que, ligando-se ao mundo terreno, impede a libertação do espírito.
            A partir de Forma e exegese, os versos ganham liberdade expressiva e tornam-se mais extensos. O poeta volta-se para o cotidiano, sem contudo abandonar o desejo de transcendência. A mulher torna a figura central de sua poesia, envolta por um forte misticismo, divinizada; o poeta procura harmonizar sensualismo e erotismo com os apelos espirituais.
            O tom é declamatório, e os versos longos nos lembram versículos bíblicos.
            Essa primeira fase termina com o livro Ariana, a mulher. Cinco elegias é o livro de transição.
            Em Cinco elegias, o poeta incorpora elementos do cotidiano, mantendo ainda o tom religioso, e se aproxima um pouco mais das conquistas dos modernistas de 1922.
            A partir de Poemas, sonetos e baladas, dá-se a superação da angústia e da melancolia. O poeta se integra a realidade e sua poesia adquire um ritmo mais tranquilo e uma expressão mais coloquial, enxuta, simples e direta. Nessa fase, sua temática ganha novas características universalizantes e sociais.

Soneto do Maior Amor

Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.

E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal-aventurada.

Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer - e vive a esmo

Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo


1. O que o eu lírico leva em consideração para definir o seu amor como um amor estranho?R. Porque seus sentimentos são incoerentes, ou seja, e quando a sente alegre, fica triste.

2. Que estrofe contem a ideia de que a graça do amor é a conquista e de que é melhor arriscar-se no amor do que levar uma vida sem graça? Justifique, destacando as expressões que opõem uma possibilidade a outra? R. Na segunda estrofe, O eu lírico opõe "eterna aventura" a "vida mal aventurada".

3. O poema lírico deve ser rico em musicalidade.Que recurso sonoro se destaca na terceira estrofe deste soneto? R. A aliteração.

4. Que afirmações do eu lírico nos permitem declarar que, além da pessoa amada, ele ama o próprio sentimento de amar? R. Na última estrofe o eu lírico afirma que o seu amor (vive) "numa paixão de tudo e de si mesmo".


Texto

O operário em construção

E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo:
- Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu.
E Jesus, respondendo, disse-lhe:
- Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás.
Lucas, cap. V, vs. 5-8.

Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.

De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.

Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão -
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
- Exercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.

E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:

Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.

Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
- "Convençam-no" do contrário -
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.

Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!

Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.

Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.

Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!

- Loucura! - gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
- Mentira! - disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.

Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.

            Como poeta lírico por excelência, em sua 2ª fase, Vinicius alia temas modernos a mais apurada forma clássica de composição, o soneto, deixando-nos algumas obras-primas.

Cecília Meireles

            Ela preferiu como ponto de partida de sua trajetória poética o livro Viagem (1939), e com este ela recebeu o premio da Academia Brasileira de Letras. Porém rejeitou os 3 primeiros livros de influência parnasiana e temática mística.
            O livro Viagem demonstra sua maturidade poética, apesar de manter-se dentro dos padrões tradicionais, ultrapassa o primeiro momento do Modernismo brasileiro (anedótico e nacionalista). Ao gosto pela tradição, soma-se uma visão filosófica e universalizante. As indagações sobre a brevidade da vida, o sentido da existência, a solidão e a incompreensão humanas, presentes em Viagem, permaneceriam em quase toda a sua obra, perpassada por um sentimento de pessimismo e desencanto.
            Cecília Meireles, por ter seguido um caminho muito pessoal, não pode ser enquadrada em um movimento ou em uma estética literária determinada. Seus versos, geralmente curtos, de conteúdo lírico tradicional e bastante pessoal, têm raízes simbolistas e se caracterizam pela musicalidade, descritivismo e imagens sensoriais.
            Um dos pontos altos de sua obra poética é o Romanceiro da Inconfidência (1953), que lhe custou pesquisas históricas e no qual revela seu amor à pátria e sua admiração pelos mártires da Inconfidência Mineira.


Modernismo – 3ª fase

Contexto histórico

            No Brasil, o período que se estende de 1945 a 1985 é marcado por uma série de fatos que causaram profundas transformações e traumas na sociedade brasileira.

Da queda de Getúlio aos anos JK (1945 – 1956)

            Em 1945, Getúlio Vargas é deposto, depois de 15 anos de governo ditatorial. Eurico Gaspar Dutra assume a presidência, promulga-se uma nova Constituição, e o país retoma os princípios democráticos.
            Embora deposto, Getúlio matem o prestigio e vence as eleições de 1950. A forte oposição ao seu governo leva-o a se suicidar na madrugada de 24 de agosto de 1954. João Café Filho assume o poder.

Os anos JK (1956 – 1960)

            Juscelino Kubitschek assume a presidência em janeiro de 1956 e dá início ao seu projeto de realizar 50 em 5: constrói hidrelétrica e estradas, incentiva a instalação de fabricas de automóveis, aviões e navios e constrói Brasília, para onde mudaria a capital do país em 1960.
            O clima democrático, renovador e moderno do seu governo favorece as artes: surgem a Bossa Nova e o Cinema Novo, o teatro passa por profundas transformações, com o trabalho desenvolvido pelo Teatro de Arena e pelo Teatro Brasileiro de Comedia. A literatura se renova, sobretudo com Clarice Lispector e Guimaraes Rosa.
É também o grande momento da crônica, com Fernando Sabino, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos e Drummond.
            Em janeiro de 1961, JK passa a faixa para Jânio Quadros.

Jânio, Jango e a ditatura (1961 – 1964)

            Jânio Quadro renuncia 7 meses depois. Joao Goulart (Jango) assume o governo, sob o sistema parlamentarista, com a chefia do Executivo a cargo do 1º ministro e do Conselho de Ministros, restando ao presidente apenas a função de chefe de Estado.
            Com o fim do regime parlamentarista em 1963, João Goulart resolve tomar medidas de caráter econômico e social, entre elas a regulamentação da remessa de lucros para o exterior, o projeto de reforma agraria e a nacionalização de algumas empresas multinacionais. Um golpe militar, em 1º de abril de 1964, financiado pelos Estados Unidos e grupos econômicos brasileiros (como Organizações Globo), depõem o presidente. O general Castelo Branco assume a presidência da República.

Os anos de autoritarismo (1964 – 1984)

            De 1964 a 1984, o Brasil foi governado por militares: Castelo Branco (64-67), Costa e Silva (67-69), Garrastazu Médici (69-74), Ernesto Geisel (74-79) e João Baptista de Figueiredo (79-84).
            Trata-se de uma dos períodos mais tristes da nossa história, com a supressão das liberdades democráticas, a cassação de mandatos políticos, a censura a imprensa e aos meios de comunicação e o assassinato de opositores ao regime. No plano econômico, a dívida externa era de $ 3 bilhões em 1964 e no ano de 1984 saltou para mais de $ 100 bilhões. A inflação era de 74% em 1964 e em 1984 era de 200%. A insatisfação do povo e dos empresários e a crescente crise econômica levaram à abertura politica e a entrega do poder aos civis.

A produção literária da terceira fase

Prosa

Em linhas gerais, verifica-se na prosa posterior a 1945:

·         Negação do compromisso com a narrativa referencial, ligada a acontecimentos e à representação realista da realidade.
·         O espaço exterior passa para 2º plano; a narrativa se centra no espaço mental das personagens, realçando-lhes as características psicológicas.
·         Altera-se a linguagem romanesca tradicional. O texto deixa de ser a narrativa de aventura para se tornar uma aventura de narrativa. A continuidade temporal é abalada, desfazendo-se a ordem cronológica e, muitas vezes, fundindo-se presente, passado e futuro.
·         A prosa urbana enfoca conflitos do indivíduo diante da sociedade e a prosa regionalista renova a sua temática e forma de expressão.
·         Desenvolve-se o realismo fantástico, no qual se acentua a distância entre a realidade objetiva ea expressão artística, através de uma linguagem altamente simbólica, situando a narrativa entre o estranho e o maravilhoso.

Entre os romancistas surgidos em 45, destacam – se: João Guimarães Rosa e Clarice Lispector.

Poesia

            A partir de 1945, a poesia brasileira adquire preocupações estéticas, com a chamada geração de 45. Esta procurou restaurar a disciplina expressiva, o estudo da poética e a investigação verbal. Daí a retomada de formas poéticas tradicionais ao lado do verso livre, agora mais trabalhado ritmicamente e sob certo rigor e preocupação artesanal.
            Destacam-se: João Cabral de Melo Neto, Afonso Félix de Souza e Thiago de Melo.
            A partir de 1950, surgem as novas tendências, como o Concretismo, a Poesia – práxis e o Poema/processo. Na década de 1970, surge a poesia marginal, que só a partir de 1980 começa a ser objeto de apreciações críticas.

Teatro

            A encenação da peça Vestido de noiva, peça de Nelson Rodrigues e dirigida por Ziembinski, em 1943, é um marco na renovação do teatro brasileiro. Outro passo é dado com a fundação do Teatro Brasileiro de Comédia (1948) e do Teatro de Arena (1953). Surgem importantes nomes na dramaturgia nacional, como Gianfrancesco Guarnieri (Eles não usam black tie), Oduvaldo Vianna Filho (Chapetuba Futebol Clube) e Augusto Boal (Revolução na América do Sul).
            Na década de 1960, surgem o grupo Opinião, liderado por Denoy de Oliveira, Ferreira Gullar e Oduvaldo Viana Filho e o Teatro Oficina, liderado por José Carlos Martinez Correa.
            Além desses autores, destacam-se: Jorge Andrade (A moratória), Ariano Suassuna (Auto da Compadecida), Plínio Marcos (Navalha na carne), Dias Gomes (Odorico, O Bem-Amado) e Chico Buarque de Holanda (Gota d’água, em parceria com o paraibano Paulo Pontes).

Crônica

            A crônica foi um dos gêneros que mais se renovou a partir do final da década de 1940, registrando a fala do povo e sua psicologia e retratando o cotidiano, com humor, ironia e lirismo, numa perspectiva crítica e reveladora. Destacam-se: Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, Fernando Sabino e Carlos Drummond de Andrade.

Autores

Clarice Lispector


            Na obra dela, a caracterização da personagem e as ações são elementos secundários. Importa-lhe captar a vivência interior das personagens e a complexidade de seus aspectos psicológicos. Dai resultando numa narrativa introspectiva e o monólogo interior, em que muitas vezes percebe-se o envolvimento do narrador, ficando difícil estabelecer as fronteiras entre narrador e personagens. Essa centralização na consciência contribui para a digressão, a fragmentação dos episódios e o desencadeamento do fluxo de consciência, isto é, a expressão direta dos estados mentais, nos quais parece se manifestar diretamente o inconsciente, do que resulta certa perda da sequência lógica.
            Na trilha filosófica do Existencialismo, Clarice enfatiza a angústia do homem diante de sua liberdade para escolher o custo que deseja dar a sua vida.
            As narrativas de Clarice Lispector quase sempre focalizam um momento de revelação, um momento especial em que a personagem se defronta subitamente com a verdade: chamado de epifania. Essa epifania é uma manifestação espiritual súbita, provocada por uma experiência que, a princípio, mostra-se simples e rotineira. Os objetos mais simples, os gestos mais banais e as situações mais cotidianas provocam uma iluminação repentina na consciência da personagem.
            Alguns livros dela: Perto do coração selvagem (1944), Laços de família (1960). Além disso, escreveu crônicas e literatura infantil.

João Guimarães Rosa

Embora de caráter regionalista, a obra dele supera o regionalismo tradicional, que ora idealizava o sertanejo, ora se comprazia com aspectos meramente pitorescos, com o realismo documental ou com a transcrição da linguagem popular e coloquial.
Essa superação deve-se à riqueza de sua linguagem e ao caráter universal das questões morais e metafisicas presentes em sua obra.
Criando um estilo absolutamente novo na ficção brasileira, Guimarães Rosa estiliza o linguajar do sertanejo, recria e inventa palavras, mescla arcaísmos com vocabulários eruditos, populares e modernos, combina de maneira original palavras, prefixos e sufixos, constrói uma sintaxe peculiar e explora as possibilidades sonoras da linguagem, por meio de aliterações, onomatopeias, hiatos, ecos, homofonias, etc.
No cerne dessa linguagem nova, na qual a prosa e a poesia se confundem, estão as indagações universais do homem: o sentido da vida e da morte, a existência ou não de Deus e do diabo, o significado do amor, do ódio e da ambição etc.
O romance mais famoso dele foi Grande sertão: veredas que contem várias narrativas dentro da narrativa principal, casos e episódios nos quais, muitas vezes, o real se cruza com o fantástico.

João Cabral de Melo Neto

A poesia para ele não é fruto de um momento de inspiração, mas resultado de um esforço cerebral, um trabalho de artesão da palavra. Preocupado com a organização do texto, a concisão e a precisão da linguagem, o poeta busca a palavra objetiva, exata, enxuta, para a concretização do poema, que mantem sob contenção a musicalidade fácil e repudia o exagero metafórico.
Seu 1º livro foi Pedra do sono (1942) e reúne 20 poemas curtos, escritos aos 20 anos, nos quais predominam as imagens surrealistas.
O engenheiro (1945) e Psicologia da composição (1947) contem poemas sobre o fazer poético, isto é, poemas metalinguísticos.
A ênfase no social se dá com os livros O cão sem plumas (1950), O rio (1954) e Morte e vida Severina (1956). O cão sem plumas tem como tema o rio Capibaribe, com sua poluição e a população miserável que habita suas margens. Morte e vida Severina – cujo subtítulo é Auto de Natal pernambucano – relata a trajetória de Severino, retirante nordestino que se encaminha para o Recife, encontrando apenas a seca, a subnutrição e a morte por onde passa.
Desencantado com a vida e mesmo pensando em se entregar a morte, Severino recebe a notícia do nascimento de uma criança, símbolo da resistência da vida Severina, o que lhe dá novo alento.
Paisagens com figuras (1956) focaliza as regiões da Espanha e de Pernambuco.
Uma faça só lâmina (1956), com reflexões sobre o ato de escrever.
Quaderna (1961), de temática amorosa.
Serial (1961) tem temática social, precedendo a obra Auto do frade (1984), cuja personagem principal é Frei Caneca.

Do Concretismo aos Poetas da Internet

Poema concreto




1. Que expressão central do poema evoca a possibilidade de uma narrativa?R. Uma vez.

2. Quais as palavras repetidas que, produzindo uma aliteração, contribuem para a sonoridade do poema? R. vez, foz, voz, fala, bala, vala.

3. O poema não foi construído com versos da leitura. Explique. R. Esse poema não é tradicional, ele pode ser lido em vários sentidos, do meio para cima ou para baixo, a partir de qualquer palavra que se queira tomar por início.

4. O poeta demonstra uma intenção geométrica na construção do poema. Explique. R. Há 2 ângulos que se encontram num eixo vertical.

5. Que substantivos do poema sintetizam os 3 momentos de um conflito geralmente presentes em uma narrativa (complicação, clímax e desenlace)? R. Fala, bala, vala.




Concretismo

A poesia concreta surge em 1952, tendo como principal veiculo de divulgação a revista Noigrandres. Esta palavra, segundo Augusto de Campos, significa antídoto contra o tedio.
Além do nome da revista, denominou também o grupo concretista liderado pelos irmãos Augusto e Haroldo de Campos e por Décio Pignatari. Em 1956, esse grupo realiza a Exposição de Arte Concreta, no Museu de Arte Moderna de São Paulo.
Com influências de Mallarmé, Apollinaire, Ezra Pound, Joyce, Cummings, Oswald de Andrade e João Cabral de Melo Neto, a poesia concreta apresenta como características principais:

a)    O poema como resultado de investigação verbal;
b)    Incorporação do espaço gráfico como elemento estrutural do poema;
c)    Ampliação do poema pela comunicação não – verbal;
d)    Máxima valorização da palavra em si, contra o verso como unidade rítmica convencional;
e)    Rejeição do lirismo;
f)     Valorização do som, da forma visual e da carga semântica da palavra e suas funções – relações no poema;
g)    Ampla utilização de recursos tipográficos;
h)   Possibilidades de múltiplas leituras, pela abolição do verso tradicional: leitura vertical, horizontal, diagonal etc.;
i)     Utilização do ideograma, como símbolos da escrita chinesa como modelo de composição.

Essas características, somadas a outras características inovadoras da prosa, da arquitetura, da música e das artes plásticas começam a caracterizar o Pós – Modernismo.
Participaram também desse movimento: José Lino Grünewald, Pedro Xisto e Ronaldo Azeredo.
A partir de 1956, o movimento começa a declinar, mas suas contribuições estão ainda hoje presentes na literatura brasileira.



Neoconcretismo

Em 1959, o poeta Ferreira Gullar lidera uma dissidência dos artistas concretos do RJ. Por meio de um manifesto publicado no Jornal do Brasil, propõe uma poesia mias social, mais comunicativa e voltada par aos problemas do país, reagindo contra os excessos formais do movimento concretista, do qual participara.
O movimento se intitulou Neoconcretismo, o que era um equivoco, já que sua intenção era social e de ação politica.
Participaram: Ferreira Gullar, Affonso Ávila, Thiago de Melo, José Paulo Paes e Jamil Haddad.

Texto  para leitura (sem exercícios)

Não há vagas

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

- porque o poema, senhores,
   está fechado:
   "não há vagas"

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

    O poema, senhores,
    não fede
    nem cheira 



Poesia – práxis

Dois manifestos inauguraram a Poesia – práxis (que em grego significa ação), movimento liderado por Mário Chamie. O 1º foi um pré – manifesto publicado no Diário de Notícias do RJ, em 1959, preconizando que o poema objetiva na unidade PALAVRA – CORPO - ESPAÇO – FORMA. O 2º é um manifesto didático, que aparece como posfácio do livro Lavra – lavra (1962).

A poesia – práxis se autodefine como um processo literário marcado por:

a)    Considerar a sintaxe não como decorrente de um código gramatical estabelecido, mas como resultado original da transformação a que o poeta submete a palavra;
b)    Objetivar que a forma – conteúdo do texto seja uma estrutura aberta, de tal modo que o leitor possa intervir crítica e criativamente no texto, exercendo a função de coautoria.

Repudiando a palavra – coisa do Concretismo, o poeta – práxis considera a palavra – energia, a palavra como um corpo vivo que gera outras no contexto do Chamie, participaram do movimento Antônio Carlos Cabral, Carlos Eduardo Brandao, Yvone Giannetti Fonseca etc.

Poema – processo

O movimento foi liderado por Wlademir Dias-Pino, e vai de 1967 a 1974, ano que seu líder publica um manifesto pondo fim ao movimento, que já se esgotar antes.
Utilizando elementos não – linguísticos para a composição dos seus trabalhos, os representantes do poema – processo foram mais desenhistas e pintores do que propriamente escritores. Utilizaram, além da palavra, fotografias, desenhos, gráficos e colagens.

Poesia marginal dos anos 70

Contornando o bloqueio sistemático das editoras, que consideram que não é lucrativo publicar poetas desconhecidos, surgem, no início da década de 70, pequenos livros mimeografados ou impressos por outros processos. Por estarem a margem das editoras, serem produzidos e vendidos pelos próprios autores, deu-se a eles o nome de poesia marginal.

Ainda que alguns deles tenham assimilado influências do Concretismo, a vantagem é que esse grupo representou uma volta ao discurso, com uma linguagem coloquial, e aos temas do cotidiano, ora manifestando problemas pessoais ou sociais.
Não chegaram a construir um movimento organizado com novas propostas estéticas, e poucos foram os que, pela qualidade dos seus trabalhos, entraram no circuito das editoras, deixando de ser marginais.
Autor: Paulo Leminski.

Bons poetas, com ou sem rótulos

Vários poetas merecem destaque pela qualidade dos seus trabalhos, como: Adélia Prado, Affonso Romano de Sant’Anna, Armindo Trevisan, Lindolf Bell, Manoel de Barros, Mário Faustino, Mário Quintana, Marcus Accioly, Naura Machado, Olga Savary.

Poetas da internet – a poesia virtual marginal

É grande o número de poetas que criam páginas na internet para a divulgação dos seus poemas. Como é fácil obter gratuitamente um espaço para criar páginas, qualquer pessoa pode divulgar os seus poemas em publicações virtuais.
Porém, publicar poemas na internet não significa ser um poeta e tampouco assegura que eles serão lidos por um grande número de pessoas.

As vertentes pós – modernas e as tradicionais

A falta de um distanciamento histórico e a pluralidade das formas que a literatura assume dificultam a localização da pós – modernidade. Portanto, há textos mesclados tanto na forma pós – moderna, quanto ligados aos recursos tradicionais das narrativas, muitas vezes em um mesmo autor.

Prosa política

Durante a ditadura militar, um dos meios de se contornar a ação da censura sobre os veículos de comunicação foi o texto literário. Muitos escritores procuravam denunciar a violência política e social ora em obras que se confundiam com relatos jornalísticos, baseadas em fatos reais ou fictícios, ora através da narrativa de situações absurdas e irreais que refletissem metaforicamente a situação do país. Assim, temos:

a)    Romance – reportagem: Antonio Callado, Ignacio de Loyola Brandao, José Louzeiro, Roberto Drummond.
b)    Ignacio de Loyola Brandao, José J. Veiga, Moacyr Scliar, Murilo Rubiao.

Prosa urbana

A desumanidade, a violência, a solidão, a marginalização, o vazio associado à vida moderna, a hipocrisia social, o conflito de classes e outros males das metrópoles são a matéria de obras ficcionais de Dalton Trevisan, Luiz Vilela, Ricardo Ramos e Rubem Fonseca, este último é um hiper – realista pelo exagero proposital com que enfatiza a patologia humana.

Prosa intimista

A observação psicológica das personagens, a introspecção, o entrelaçamento do lirismo com o realismo, na mesma linha de Clarice Lispector, caracterizam as narrativas de Autran Dourado, Josué Montello, Lygia Fagundes Telles, Osman Lins e outros.
Ao lado desses gêneros, manteve-se a prosa regionalista, com Ariano Suassuna, Bernardo Élis, Mário  Palmério entre outros. E  a prosa memorialista ou autobiográfica, com Jorge Amado, Pedro Nava, Érico Veríssimo etc.
Há outros que continuam a produzir durante a vida, como Chico Buarque de Holanda, Antonio Torres, Domingos Pellegrini Jr., Edilberto Coutinho, Ivan Angelo, João Antonio, João Ubaldo Ribeiro, Marcelo Rubens Paiva, Nélida Piñon, Sergio Sant’Anna etc.

A crônica

A crônica é um dos gêneros mais cultivados no país, assim como o conto, tendo espaço nos jornais de grande circulação, destacando-se Affonso Romano de Sant’Anna, Carlos Heitor Cony, Fernando Sabino e Luís Fernando Veríssimo.

A literatura de massas

No final do século XX, o desenvolvimento da edição industrial provocou a inflação de uma produção de subliteratura, com personagens estereotipadas e narrativas padronizadas em moldes que visam agradar a certos tipos de leitores que as devoram, já que não exigem muita reflexão. Neste contexto, enquadram-se os livros da chamada literatura esotérica, prestigiada pela própria insegurança do indivíduo em sua tentativa de entender as razoes de estar em um mundo complexo rapidamente mutável e que busca em textos pouco profundos respostas inexistentes para o seu destino e comportamento. O valor estético e imaginativo dessas obras é bastante contestável, geralmente com justa razão. Entretanto, esse fenômeno permitiu o aparecimento de obras interessantes, particularmente no gênero de ficção científica e do romance policial.


3 comentários:

  1. excelente trabalho ( fonte de pesquisa ) sobre o modernismo.Parabéns , professor.

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  2. Professor o senhor conseguiu criar um ótimo esquema de estudo, parabéns

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