ROMANTISMO
1. DEFINIÇÃO: O Romantismo foi o
primeiro movimento literário brasileira da Era Nacional. Teve suas origens no
final do século XVIII, na Alemanha e Inglaterra. Na Alemanha, o movimento
pré-Romântico, Sturm und Drang
(Tempestade e Ímpeto), de acentuado caráter nacionalista, desencadeou o Romantismo. Goethe, com o seu Werther, romance que conta os
sofrimentos amorosos de um jovem e seu suicídio, foi responsável por uma onda
européia de emotividade e imitações.
Na Inglaterra, Sir Walter Scott escrever
romances históricos, uma tendência fundamental no Romantismo, e Lord Byron é a
expressão do ideal romântico: o poeta como libertador dos povos, pois, além de
escrever poesia ultrarromântica, participou das lutas pela independência da
Grécia.
Mas foi na França a responsável pela
divulgação das novas idéias, influenciadas, em grande parte, pela teoria do bom
selvagem de Jean-Jacques Rousseau, segundo a qual o homem nasce bom, mas a
sociedade civilizada o corrompe.
2.
CONTEXTO-HISTÓRICO:
a) na Europa:
à
Triunfo da burguesia;
à
Liberalismo econômico.
b) no
Brasil:
à Independência;
à Primeiro reinado;
à Abdicação;
à Regência;
à Segundo reinado;
à Revoltas internas;
à Guerra do Paraguai;
à Abolição;
à Proclamação da República.
3. CARACTERÍSTICAS:
à individualismo;
à subjetivismo;
à fuga da realidade através do sonho, da
morte, da natureza (indianismo) e do tempo;
à sentimentalismo;
à supervalorização do amor
4. DURAÇÃO (DIDÁTICA):
à 1836:
publicação do livro Suspiros poéticos
e saudades, de Gonçalves de Magalhães.
à 1881:
início do Realismo.
5.
PRODUÇÃO LITERÁRIA
5.1 – Poesia:
1ª geração: Nacionalista ou
Indianista
Destaques:
Gonçalves de Magalhães e Gonçalves Dias
2ª Geração: Byroniana,
Ultrarromântica ou Mal-do-século
Destaques:
Álvares de Azevedo, Junqueira Freire, Fagundes Varela, Casimiro de Abreu.
3ª geração: Condoreira ou
Hugoana
Destaques:
Castro Álvares, Sousândrade.
5.2
– Prosa:
a) Romances urbanos;
b) Romances
Indianistas;
c) Romances
Históricos;
d) Romances rurais;
e) Romances
regionais.
Destaques:
Joaquim Manuel de Macêdo, José de Alencar, Bernardo Guimarães, Visconde Taunay,
Franklin Távora, Manuel Antônio de Almeida.
5.3
- Teatro:
à Gênero dramático:
a)
Comédias de costumes
Destaques:
Martins Pena.
6. QUADRO COMPARATIVO
ARCADISMO
|
ROMANTISMO
|
Razão
|
Emoção
|
Convenções
|
Liberdade de
criação
|
Universalismo
|
Nacionalismo
|
Mitologia pagã
|
Religiosidade
cristã
|
Linguagem erudita
|
Linguagem popular
|
7. EXERCÍCIOS
1. I. Preferência pela realidade exterior sobre a interior.
II. Anteposição da fé à razão, com valorização da mística e da intuição.
III. Poesia descritiva de representação dos fenômenos da natureza.
Detalhismo.
IV. Gosto pelo pitoresco, pela descrição de ambientes exóticos.
V. Atenção do escritor aos detalhes para retratar fielmente o que
descreve.
Características gerais do Romantismo se acham expressas nas proposições:
II e IV
II e III
I e IV
II e V
II e III
I e IV
II e V
2. Não é próprio do Romantismo:
Explorar assuntos nacionais como
história, tradições, folclore;
Idealizar a mulher, tornando-a perfeita em todos os sentidos;
Explorar assuntos ligados à antigüidade clássica, imitando-lhe os poetas e prosadores;
Valorizar temas fúnebres e soturnos.
Idealizar a mulher, tornando-a perfeita em todos os sentidos;
Explorar assuntos ligados à antigüidade clássica, imitando-lhe os poetas e prosadores;
Valorizar temas fúnebres e soturnos.
3. De acordo com a posição romântica, é correto afirmar que:
A natureza é expressiva no
Romantismo e decorativa no Arcadismo.
Com a liberdade criadora implantada no Romantismo, as regras fixas do Classicismo caem e "o poema começa onde começa a inspiração e termina onde termina esta".
A visão do mundo romântica é centrada no sujeito, no "eu" do escritor, daí a predominância da função emotiva na linguagem do Romantismo.
Todas as alternativas anteriores estão corretas.
Com a liberdade criadora implantada no Romantismo, as regras fixas do Classicismo caem e "o poema começa onde começa a inspiração e termina onde termina esta".
A visão do mundo romântica é centrada no sujeito, no "eu" do escritor, daí a predominância da função emotiva na linguagem do Romantismo.
Todas as alternativas anteriores estão corretas.
4. Poderíamos sintetizar uma das características do Romantismo pela
seguinte aproximação de opostos:
Cultivando o passado, procurou
formas de compreender e explicar o presente.
Pregando a liberdade formal, manteve-se preso aos modelos legados pelos clássicos.
Embora marcado por tendências liberais, opôs-se ao nacionalismo político.
Voltado para temas nacionalistas, desinteressou-se do elemento exótico, considerando-o incompatível com exaltação da pátria.
Pregando a liberdade formal, manteve-se preso aos modelos legados pelos clássicos.
Embora marcado por tendências liberais, opôs-se ao nacionalismo político.
Voltado para temas nacionalistas, desinteressou-se do elemento exótico, considerando-o incompatível com exaltação da pátria.
5. A visão do mundo, nostálgica nos românticos, explica-se:
Pelas inúmeras guerras havidas
na época do Romantismo.
Pela inadaptação aos valores absolutistas implantados pela monarquia brasileira.
Pelo descontentamento da nobreza, que deixa o poder, e de parte da burguesia, que ainda não havia assumido ou que tivesse ficado à margem dele.
Pela contemplação de um Brasil conservador, baseado no latifúndio, no escravismo e na monarquia.
Pela inadaptação aos valores absolutistas implantados pela monarquia brasileira.
Pelo descontentamento da nobreza, que deixa o poder, e de parte da burguesia, que ainda não havia assumido ou que tivesse ficado à margem dele.
Pela contemplação de um Brasil conservador, baseado no latifúndio, no escravismo e na monarquia.
6. "Deus! Oh, Deus! Onde estás que não respondes? Em que mundo,
em qu'estrelas tu t'escondes Embuçado no céus? Há dois mil anos te mandei meu
grito, Que embalde desde então corre o infinito... Onde estás, senhor
Deus?..."
Esta é a primeira estrofe de um poema que é exemplo de:
Lirismo subjetivo, marcado pelo
desespero do pecador arrependido.
Lirismo religioso, exprimindo o anseio da alma humana em procura da divindade.
Lirismo romântico de tema político-social, exprimindo o anseio do homem pela liberdade.
Romantismo nacionalista repassado da saudade que atormenta o poeta do exílio.
Lirismo religioso, exprimindo o anseio da alma humana em procura da divindade.
Lirismo romântico de tema político-social, exprimindo o anseio do homem pela liberdade.
Romantismo nacionalista repassado da saudade que atormenta o poeta do exílio.
7. Assinale a alternativa que traz apenas características do
Romantismo:
idealismo, religiosidade,
objetividade, escapismo, temas pagãos.
predomínio do sentimento, liberdade criadora, temas cristãos, natureza convencional, valores absolutos.
egocentrismo, predomínio da poesia lírica, relativismo, insatisfação, idealismo.
idealismo, insatisfação, escapismo, natureza convencional, objetividade.
predomínio do sentimento, liberdade criadora, temas cristãos, natureza convencional, valores absolutos.
egocentrismo, predomínio da poesia lírica, relativismo, insatisfação, idealismo.
idealismo, insatisfação, escapismo, natureza convencional, objetividade.
8. UM ÍNDIO
"um índio descerá de uma estrela
colorida brilhante
de uma estrela que virá numa velocidade
estonteante
e pousará no coração do hemisfério sul na
américa
num claro instante
(...)
virá
impávido que nem muhammad ali
virá que eu vi
apaixonadamente como peri
virá que eu vi
tranqüilo e infalível como bruce lee
virá que eu vi
o aché do afoxé filhos de ghandi virá"
(Caetano Veloso)
O trecho anterior mostra, com uma visão contemporânea, determinado tipo
de tratamento dado ao índio brasileiro em certo período de nossa literatura.
Assinale a alternativa em que aparecem os nomes de dois autores que
manifestaram tal tendência.
Gonçalves de Magalhães e Álvares
de Azevedo
Castro Alves e Tobias Barreto
Fagundes Varella e Visconde de Taunay
Gonçalves Dias e José de Alencar.
Castro Alves e Tobias Barreto
Fagundes Varella e Visconde de Taunay
Gonçalves Dias e José de Alencar.
9. "A verdadeira poesia deve inspirar-se num entusiasmo natural
e exprimir-se com naturalidade, sendo simples, pastoril, bucolicamente ingênua
e inocente."
Esta afirmação caracteriza a estética __________ uma vez que exalta
elementos ligados à _________, opondo-se ao culto do interior que identifica o
___________.
As lacunas acima deverão ser preenchidas, respectivamente, com os
termos:
romântica, natureza,
Simbolismo
árcade, civilização, Romantismo
parnasiana, estética, Arcadismo
árcade, natureza, Romantismo
árcade, civilização, Romantismo
parnasiana, estética, Arcadismo
árcade, natureza, Romantismo
10. Machado de Assis representa a transição entre:
Arcadismo e Romantismo
Barroco e Romantismo
Romantismo e Realismo
Parnasianismo e Simbolismo
Barroco e Romantismo
Romantismo e Realismo
Parnasianismo e Simbolismo
11. "Quantas coisas (...) brotam ainda hoje, modas, bailes,
livros, painéis, primores de toda casta, que amanhã já são pó ou cisco? Em um
tempo em que não mais se pode ler, pois o ímpeto da vida mal consente folhear o
livro, que à noite deixou de ser novidade e caiu na voga; no meio desse
turbilhão que nos arrasta, que vinha fazer uma obra séria e refletida? Perca
pois a crítica esse costume em que está de exigir, em cada romance que lhe dão,
um poema."
As proposições anteriores, de José de Alencar, fazem alusão a um
problema característico do movimento romântico. Aponte-o:
o movimento romântico, afeito ao
lirismo e á sentimentalidade, busca realizar uma prosa fundamentalmente
impregnada de valores poéticos
o autor preocupa-se com satisfazer o gosto de um público pouco exigente no que diz respeito a obras de acabamento literário mais sofisticado
tendo em vista a caracterização da sociedade burguesa, o romance deve conter preferencialmente ação, que seja o retrato dos agitados tempos modernos
o autor, já que se reconhece gênio, e pelo público, é aceito como tal e deve nortear as multidões que o lêem com sua palavra sábia e simples
o autor preocupa-se com satisfazer o gosto de um público pouco exigente no que diz respeito a obras de acabamento literário mais sofisticado
tendo em vista a caracterização da sociedade burguesa, o romance deve conter preferencialmente ação, que seja o retrato dos agitados tempos modernos
o autor, já que se reconhece gênio, e pelo público, é aceito como tal e deve nortear as multidões que o lêem com sua palavra sábia e simples
O texto seguinte refere-se às questões 12 e 13.
"O problema da nacionalidade literária foi colocado, dentro da atmosfera do Romantismo, em termos essencialmente políticos. Misturadas literatura e política, a autonomia política transferia-se para literatura, e confundiram-se independência política e independência literária."
"O problema da nacionalidade literária foi colocado, dentro da atmosfera do Romantismo, em termos essencialmente políticos. Misturadas literatura e política, a autonomia política transferia-se para literatura, e confundiram-se independência política e independência literária."
12. Segundo o texto, para os românticos:
a autonomia política e a
autonomia literária foram duas faces de um mesmo processo de emancipação
autonomia política e autonomia literária mantiveram entre si uma relação de causa e efeito
a autonomia literária sempre se seguiu à emancipação política
emancipação política e emancipação literária foram processos que se concretizaram independentemente um do outro
autonomia política e autonomia literária mantiveram entre si uma relação de causa e efeito
a autonomia literária sempre se seguiu à emancipação política
emancipação política e emancipação literária foram processos que se concretizaram independentemente um do outro
13. Segundo o texto:
Romantismo foi uma escola
literária de atmosfera essencialmente política
no Romantismo, literatura e política interpenetram-se e exercem influência mútua, numa interdependência dialética
pode-se dizer que a política usou a literatura em suas campanhas, mas o inverso não é válido, pois a literatura não se valeu da política
independência política e independência literária são fenômenos distintos, que só se misturam em conseqüência de um erro de interpretação
no Romantismo, literatura e política interpenetram-se e exercem influência mútua, numa interdependência dialética
pode-se dizer que a política usou a literatura em suas campanhas, mas o inverso não é válido, pois a literatura não se valeu da política
independência política e independência literária são fenômenos distintos, que só se misturam em conseqüência de um erro de interpretação
14. A proposta de divisão dos romances alencarianos baseia-se num
critério:
cronológico
temático
estilístico
geográfico
temático
estilístico
geográfico
15. Assinale o poema de Gonçalves Dias que não apresenta a temática
indianista:
Ainda uma vez - Adeus
I-Juca Pirama
Marabá
Leito de Folhas Verdes
I-Juca Pirama
Marabá
Leito de Folhas Verdes
16. O lirismo social da poesia de Castro Alves:
tematiza a liberdade dentro,
principalmente, de um enfoque individualista
tematiza a liberdade exclusivamente referenciada ao negro escravizado
tematiza a liberdade tanto com um enfoque individualista como coletivo; e, em especial, referenciada ao negro escravizado
tematizava a liberdade de modo geral, e apenas acidentalmente referenciada ao negro escravizado
tematiza a liberdade exclusivamente referenciada ao negro escravizado
tematiza a liberdade tanto com um enfoque individualista como coletivo; e, em especial, referenciada ao negro escravizado
tematizava a liberdade de modo geral, e apenas acidentalmente referenciada ao negro escravizado
17. Poema castro-alivino que não aborda a temática social:
O Livro e a América
Vozes d’África
Ode ao Dous de Julho
n.d.a
Vozes d’África
Ode ao Dous de Julho
n.d.a
18. Qual a alternativa que apresenta grupos de classificação dos
romances alencarianos?
urbanos, indianistas, históricos
e regionalistas
urbanos, indianistas, históricos e psicológicos
urbanos, indianistas, psicológicos e satíricos
urbanos, históricos, psicológicos e trágicos
urbanos, indianistas, históricos e psicológicos
urbanos, indianistas, psicológicos e satíricos
urbanos, históricos, psicológicos e trágicos
19. Assinale a alternativa falsa. O Romantismo:
procura o elemento
nacional
propõe ruptura com o passado
foi introduzido no Brasil por Gonçalves de Magalhães
é a valorização do que é "nosso"
propõe ruptura com o passado
foi introduzido no Brasil por Gonçalves de Magalhães
é a valorização do que é "nosso"
REALISMO/NATURALISMO/
PARNASIANISMO
1. DEFINIÇÃO: O Realismo e o
Naturalismo, surgidos como reações ao sentimentalismo romântico iniciaram-se em
1881, respectivamente, com a publicação de Memórias
Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e O Mulato, de Aluísio de Azevedo; manifestações poéticas do
Parnasianismo já se faziam sentir desde 1870. Assinala-se o ano de 1893 como
início do Simbolismo e final, portanto, do Realismo. No entanto, essa data é
puramente didática, uma vez que, até as duas primeiras décadas desde século, é
possível encontrar produções orientadas por todas essas estéticas.
2. CONTEXTO
HISTÓRICO:
à Segunda Revolução
Industrial;
à Cientificismo: Socialismo
científico
Positivismo
Evolucionismo
Determinismo
à Conseqüências da
guerra do Paraguai;
à Libertação dos
escravos;
à Fim da Monarquia e
proclamação da República;
à Imigração
3. CARACTERÍSTICAS:
à objetividade;
à predomínio da razão;
à observação, análise
e denúncia dos males sociais;
à criação dos romances
de análise (Realismo);
à aceitação de
determinismos científicos (Naturalismo);
4. PRODUÇÃO
LITERÁRIA:
a)
Realismo: Machado de Assis, Raul Pompéia.
b)
Naturalismo: Aluísio Azevedo, Inglês de Sousa, Júlio Ribeiro, Adolfo Caminha,
Domingos Olímpio.
c)
Parnasianismo: Alberto de Oliveira, Raimundo Correia, Olavo Bilac.
5. QUADROS
COMPARATIVOS
QUADRO 1
ROMANTISMO
|
REALISMO/NATURALISMO
|
Subjetivismo
|
Objetivismo
|
Sentimentalismo
|
Materialismo,
racionalismo
|
Imaginação
|
Observação
da realidade
|
Volta
ao passado
|
Momento
presente
|
Individualismo
|
universalismo
|
PARNASIANISMO
|
Racionalismo
|
Objetivismo
|
Impessoalidade
|
Perfeição formal
|
QUADRO 2
REALISMO
|
INTERSECÇÃO
|
NATURALISMO
|
Análise
psicológica
|
Influência
do Positivismo e Determinismo
|
Análise
social
|
Romance
documental
|
Anticlericais
Antiburgueses
Antimonárquicos
Anti-românticos
|
Romance
científico, experimental
|
Expressões
indiretas
|
Retarto
real
|
Expressão
direta
|
6. ANÁLISE DOS LIVROS
DO PSS II
6.1 - Os melhores contos, de Machado de Assis
Dizem os críticos que Machado de Assis era
"urbano, aristocrata, cosmopolita, reservado e cínico, ignorou questões
sociais como a independência do Brasil e a abolição da escravatura. Passou ao
longe do nacionalismo, tendo ambientado suas histórias sempre no Rio, como se
não houvesse outro lugar.
A galeria de tipos e personagens que criou revela o
autor como um mestre da observação psicológica. ... Sua obra divide-se em duas
fases, uma romântica e outra parnasiano-realista, quando desenvolveu
inconfundível estilo desiludido, sarcástico e amargo. O domínio da linguagem é
sutil e o estilo é preciso, reticente. O humor pessimista e a complexidade do
pensamento, além da desconfiança na razão (no seu sentido cartesiano e
iluminista), fazem com que se afaste de seus contemporâneos."
Esta obra, Os Melhores contos de Machado de
Assis, é uma seleção dos melhores contos do autor e corresponde ao que de
melhor se escreveu no gênero, em língua portuguesa. Maior escritor brasileiro,
romancista cheio de artes e artimanhas, mestre da dubiedade, dando a entender,
muitas vezes, o contrário do que quis dizer, conhecedor profundo da alma
humana, o bruxo do Cosme Velho encontrou no conto um esplêndido terreno para as
suas bruxarias.
Em quase meio século de atividade no gênero,
Machado deixou 205 contos, entre os quais dezenas de obras-primas, das melhores
escritas em qualquer época e país, que o colocam como uma espécie de pico solitário
da literatura universal.
Na obra, temos exemplos de narrativas em que a
“atmosfera” do diálogo é predominante e de narrativas em que o enredo, marcado
pela causalidade, define a arquitetura do conto. Os diversos narradores, ora em
terceira pessoa, ora protagonistas, ora participantes secundários, tendem,
quase sempre, a emitir opiniões e a se imiscuir no narrado. As personagens,
mesmo as de menor relevo na narrativa, têm sempre em si certa ambiguidade
própria do humano e que se constitui uma das características mais expressivas
da visão machadiana do mundo.
A atualidade das narrativas decorre, dentre outros
fatores, da multissignificação semântica que emerge do testemunho do escritor
sobre a realidade do seu tempo e que aborda o pathos do homem em todos os tempos. O autor consegue, através da
simulação do particular, atingir dimensões de universalidade: suas personagens
ultrapassam os próprios limites individuais, para se converterem em metonímias
do homem ocidental.
Dirigir-se eventualmente a um leitor hipotético,
nomeando-o e qualificando-o, é uma das estratégias dos narradores dos contos de
Machado. A técnica composicional dos contos tem correspondência com a
complexidade da alma humana que emerge das narrativas. Menções, alusões e
evocações de grandes autores da literatura universal permeiam as narrativas,
cujo cronotopo mais constante é o do Rio de Janeiro do Século XIX.
No início de sua carreira, o escritor não deu muita
importância ao gênero. O primeiro conto, publicado aos 19 anos, chamava-se Três
Tesouros Perdidos, e o segundo, O País das Quimeras só saiu três
anos depois (em 1862).
O exercício constante e persistente do gênero só se
realiza após 1864. Convidado a colaborar no Jornal
das Famílias, as suas histórias agradam tanto as leitoras que cada número
publica dois ou três trabalhos seus, obrigando-o a utilizar diversos
pseudônimos.
Os contos mais significativos de Machado de Assis,
considerado por muitos um dos mais importantes autores brasileiros, estão
compilados nesta obra.
O pleno domínio do gênero coincide com a grande crise
de sua vida, no final da década de 1870, levando-o à descrença, ao pessimismo e
ao temor da loucura. É a época das Memórias Póstumas de Brás Cubas e dos
contos de Papéis
Avulsos (1882), marcados pela inquietação diante da condição
humana, amargos, irônicos, sarcásticos, críticos impiedosos do bicho homem,
cheios de situações ambíguas, quando nada acontece, mas palpita uma riquíssima
carga de humanidade.
Obras-primas do quilate de Missa do Galo,
Uns Braços,
Dona Benedita, Pai contra
mãe, Cantiga de
Esponsais, O Alienista
e outros, onde a dificuldade é escolher o melhor do que, por sua condição, já
figura entre o melhor dos melhores.
6.1.1 – RESUMO
Grupo I – Explorando a alma feminina
Hábil observador da psicologia feminina, Machado aponta-lhes as graças, as
incertezas, os desencantos, as aspirações, os amores... Tendo como cenários os
salões em que conviviam os elementos das camadas mais privilegiadas, o escritor
consegue reconstruir o modo de vida, os arranjos casamenteiros, os casos de
adultério e o cotidiano dessa gente, com recursos das crônicas de costumes do
século XIX. Entre os contos que compõem esse grupo têm-se:
·
A Cartomante
Narrado em terceira pessoa, traz
o relato de um caso de adultério, envolvendo a bela Rita, seu marido Vilela e
seu amante Camilo, um amigo de infância de seu marido. Camilo recebe uma carta
anônima, informando-lhe que seu relacionamento com Rita já é conhecido de
todos. Isto o leva a não mais freqüentar a casa do amigo, fato que faz Rita
ficar temerosa de que Camilo não mais a amava. Consulta uma cartomante, que a
tranqüiliza, afirmando serem infundados seus temores. Quando os dois voltam a
se encontrar, Rita lhe conta a visita à cartomante; Camilo ri de sua
ingenuidade, diz-lhe que seria melhor consultar a ele do que a
cartomante.
Certo dia, Camilo recebe um
recado de Vilela: “Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora”. Camilo
fica temeroso e indeciso; porém, não ir apenas confirmaria as suspeitas de
Vilela, caso este tivesse recebido alguma denúncia. Resolve ir; quando passa em
frente à casa da cartomante, pára e faz uma consulta. A cartomante lhe assegura
que nada aconteceria, nada devia temer, pois o marido ignorava tudo.
Agora, mais tranqüilo e
confiante, chega à casa de Vilela e pergunta-lhe qual o motivo do recado:
“Vilela não lhe respondeu: tinha as feições decompostas; fez-lhe sinal, e foram
para uma saleta interior. Entrando, Camilo não pôde sufocar um grito de terror:
- ao fundo, sobre o canapé, estava Rita morta e ensangüentada. Vilela pegou-o
pela gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão”.
·
A Desejada das Gentes
Partindo de uma conversa, o
narrador-personagem, homem já de cabelos grisalhos, rememora um caso de amor
com uma certa Quitília, mulher de cerca de trinta anos, que jamais abriu seu
coração a qualquer um de seus inúmeros pretendentes, inclusive o narrador,
porque tinha verdadeira aversão ao casamento. As excentricidades dessa mulher,
no entanto, não deixam de revelar a existência de um verdadeiro amor pelo
narrador, tanto que eles se casam no último momento da vida dela, sem que
houvessem partilhado o leito nupcial.
·
Trio em Lá Menor
Narrado em terceira pessoa, o
conto segue o andamento musical, dividido em quatro movimentos: adágio
cantabile, allegro ma non troppo, allegro apassionato e minueto. Em busca
do verdadeiro amor, Maria Regina não consegue decidir-se entre um e outro de
seus dois pretendentes. Maciel, homem frívolo, conhecedor profundo do que a
sociedade oferecia para as boas e más línguas e que, principalmente, não
tardava a espalhar os fatos. Maciel era um moço de seus vinte e sete anos. Do
outro lado está Miranda, entrando nos cinqüenta, de fisionomia dura, homem
sério com seus encantos e enfados. A moça não conseguia decidir-se por nenhum
deles, com a particularidade de, na presença de um, ter a imaginação
constantemente voando para as qualidades do outro e vice-versa, e, assim, ambos
se completavam. Na sua busca pela perfeição, Maria Regina é condenada a ficar
sem nenhum deles.
·
Mariana
Tendo como motivo um
caso de amor, o narrador em terceira pessoa relata a volta de Evaristo para o
Rio de Janeiro, após dezoito anos na Europa, para onde partira depois do fim de
seu caso amoroso com Mariana. Ao retornar, volta ao mesmo lugar onde anos atrás
era correspondido em seu amor por essa mulher, casada com Xavier. Na mesma
sala, sob um retrato em que ela estava representada com vinte anos, Evaristo
sente reviver o amor, envolve-se no passado comovente, como se os tempos se
irmanassem. No passado, ela casa, ele o amante que convivia com a dúvida de se
saber amado ou não, Xavier o marido; no presente, Xavier à beira da morte, o
retrato da sala revivendo o passado e a mulher, indiferente. Após a morte de
Xavier, Evaristo tenta se encontrar com Mariana, mas ela não se deixa alcançar.
Mariana é um caso de relacionamento: amou o marido sinceramente, amou Evaristo
também sinceramente, a ponto de quase cometer suicídio por ele e, no final da
vida, dedicou-se sinceramente ao marido morto. Evaristo retorna à Europa a
tempo de assistir a um
espetáculo teatral que, por sinal, foi um fracasso, na mesma medida que seu
caso de amor. Só lhe restou a vida fútil.
·
D. Paula
D. Paula é um senhora viúva que
mora no alto da Tijuca e raramente sai de casa. A razão de estar na casa da
sobrinha no início do conto é para tentar salvar o casamento da moça.
Venancinha, a sobrinha, brigou muito feio com o marido devido ao ciúme dele,
porque o marido a julga apaixonada por outro homem. Realmente, Venancinha
estava sendo cortejada por Vasco Maria Portela, filho de um mesmo Vasco que
outrora havia cortejado a tia. Forçando uma confissão, D. Paula vai revivendo o
passado. Na medida em que flui o relato da sobrinha, o leitor vai conhecendo a
solidão amargurada da protagonista, que salvou sua sobrinha do mesmo tipo de
vida.
Grupo II – Os labirintos da mente
Os contos selecionados para ilustrar esse aspecto ressaltam estudos do caráter
humano. O escritor penetra analiticamente nos meandros da mente humana,
procurando ressaltar-lhes o inusitado da personalidade, casos com a avareza, o
sadismo, a busca pela perfeição, o aprendizado do vício, a revisão de valores.
Com a fluidez daqueles que conseguem conhecer os mais profundos labirintos da
alma humana, Machado conduz em linguagem clara e precisa alguns de seus
melhores contos de captação de atmosfera. Nesse grupo estão:
·
Uns Braços
Por meio de um episódio
doméstico, é revolvido o insólito de uma situação, misto de mistério,
sensualidade e insinuação. Ressalta do adolescente Inácio o desejo voltado para
o sensual, quando esse aprendiz de quinze anos iniciava-se no ofício de agente
ou de escrevente do solicitador Borges, na casa do qual vive. Ao querer escapar
à sedução da mulher de Borges, atraído principalmente pelos braços roliços da
moça, refugia-se na volúpia de um sonho e sente-se envolvido pelos braços da
mulher, D. Severina, elemento de sua obsessão. Ao deslocar o eixo da narrativa
de Inácio para D. Severina, o narrador faz coincidir devaneio e realidade. A
mulher contempla o rapaz adormecido e, talvez por se ter pressentido nos sonhos
do rapaz, aproxima-se dele e o envolve. O sonho coincide com a realidade e o
sonhado e a realidade coexistem no beijo selado: real (de D. Severina em
Inácio) e sonhado (de Inácio em D. Severina). O beijo constitui-se
concomitantemente em um devaneio e um tempo real e se torna a lembrança mais
concreta do episódio, no entanto, insólita porque o tempo transcorreu e as
lembranças confundem-se.
·
Um Homem Célebre
Pestana é um compositor de
polcas, famoso e popular. Assim que acaba de compor uma melodia, todos começam
a cantá-la ou entoá-la. Era um verdadeiro gênio, a inspiração caía-lhe solta,
sentava-se ao piano, depois de algumas poucas notas, mais uma polca era
composta e era só levá-la ao editor, colocar algumas rimas e o sucesso estava
garantido. Nos primeiros anos gostava deveras de suas composições, mas com o
passar do tempo seu esmerado senso crítico vinha à tona, ficava vexado,
enfastiado, tinha náuseas, verdadeira aversão por polcas. Sua intenção era
compor uma música que tivesse o veio clássico, inspirada em Beethoven, Gluck,
Bach, Shumann e outros, mas as notas vinham uma a uma e sempre saíam polcas.
Casou-se com uma viúva tísica que ia tossindo e morrendo, até que expirou nos
braços do marido. Pestana achou aí a verdadeira dor e tentou compor um réquiem
que lhe traduzisse os sentimentos, música que seria tocada em uma das missas
comemorativas da morte. Passam-se os dias e os meses e as mãos do compositor
não conseguem extrair a seqüência musical do requiem, sempre lhe saem
polcas. Frustrado, esse homem que buscou a vida toda a melodia que julgava
corresponder à perfeição, morreu sem compor nada semelhante aos grandes
clássicos, morreu compondo polcas.
·
A Causa Secreta
Em terceira pessoa, o narrador
onisciente constrói uma notável caracterização psicológica em que revela, ao
fazer o estudo da personagem Fortunato, o ápice do prazer que é conseguido na
contemplação da desgraça alheia. O motivo do conto é explicar o verdadeiro
sentido do termo sadismo. Fortunato, caracterizado como “figura esquisita”, sempre
é encontrado em ocasiões “estranhas” como em um acidente, à saída de um
hospital, assistindo a um dramalhão “cosido de facadas”, ou procurando estudar
anatomia e fisiologia, envenenando e dissecando animais. A amizade entre
Fortunato – solteiro e capitalista – e Garcia – estudante e depois médico –
começou em um acidente e evoluiu para sociedade em uma clínica, o primeiro
tomaria conta da parte financeira, o segundo, da médica. Nesse intervalo,
Fortunato casa-se com Maria Luísa, a mulher adoece e morre e à medida que
Garcia vai se tornando íntimo da família, só observa as excentricidades de
Fortunato como também se apaixona por Maria Luísa, mas trata-se de um amor
recolhido, apenas mostrado na explosão de lágrimas que Garcia teve diante do
caixão de Maria Luísa.
·
O Enfermeiro
Em flashback, o
narrador-personagem, à beira da morte, pede segredo a seu interlocutor e passa
a relatar o que se deu com ele anos atrás. Inicialmente contratado para ser
enfermeiro de um coronel rico, mas duro, ranzinza e velho despótico, que
padecia de “aneurisma, de reumatismo e de três ou quatro afecções menores”.
Sendo o narrador um homem educado segundo as tradições cristãs, tendo seus
quarenta e dois anos, sem família e vivendo de favor, sente-se disposto a mudar
de vida e aceita o encargo. O convívio entre paciente e enfermeiro passou por
estágios de degradação sucessiva: de uma aparente lua-de-mel, as relações foram
se deteriorando até que, em um acesso de fúria, o enfermeiro comete um
assassinato. A não ser por um pequeno e passageiro remorso/medo sentido pelo
narrador, o crime passa despercebido. A convivência com o crime poderia se
tornar insuportável no momento em que o criminoso é nomeado herdeiro universal
dos bens do coronel, mas o tempo e o dinheiro são ótimos remédios, o que
permite ao narrador ironicamente fazer uma emenda aos dizeres do “Sermão da
Montanha”, para corrigí-lo: “Bem-aventurados os que possuem...”.
·
O Diplomático
O invejoso despeito, a indecisão
e a imaginação sem freios são motivos para este conto. Narrado em terceira
pessoa, tem como protagonista um senhor, já entrado nos anos, o solteiro
Rangel. Trabalhava no escritório de um advogado, para quem copiava papéis e,
como invejava os homens, copiava-os também. Na imaginação, executava mil
proezas, mas na realidade era indeciso, não se dava a audácias. Falava bem,
escolhia as palavras e era um bom orador. O caso é que aos quarenta e um anos,
o homem andava enamorado e trazia nos bolsos uma carta de amor, endereçada à
jovem Joaninha. Duas ou três vezes tivera a oportunidade de declarar-se, mas,
por um ou outro motivo recolhia-se. A cena se passa em uma festa de São João na
casa de João Viegas, pai de Joaninha. Um dos convidados da família veio
acompanhado de um bonito rapaz de vinte e sete anos, o Queirós, empregado da
Santa Casa, que arrebatou a atenção de todos na festa com seus gestos naturais
e sua facilidade de conquistar as pessoas. Quem não gostou foi Rangel e se
mordeu de inveja, ao ver que todas as atenções do outro estavam voltadas para
Joaninha. Não houve forma de voltar atrás, uma só noite bastou para que Rangel
perdesse as esperanças porque Joaninha e Queirós já estavam de namorico e se
casaram depois de seis meses. Ao finalizar o conto, Machado resume as
principais características de seu protagonista escrevendo “Nem os
acontecimentos, nem os anos lhe mudaram a índole. Quando rompeu a guerra do
Paraguai, teve idéia muitas vezes de alistar-se como oficial de voluntários;
não o fez nunca; mas é certo que ganhou algumas batalhas e acabou
brigadeiro.”
·
Conto de Escola
O narrador, em primeira pessoa,
conta que preferia cabular aulas a estar na escola e aproveita para referir-se
a um certo Raimundo, colega de sala, pequeno e mole, de inteligência tarda, que
tinha grande medo do pai, o professor Policarpo. Este, por sua vez, era mais
exigente com o filho que com os demais alunos e, à falta de lições, era o
pequeno quem recebia castigos maiores. O episódio que o narrador se propõe a
contar situa-se historicamente no final da Regência, um período de grande
agitação política. Raimundo chamou o narrador, ofereceu-lhe uma moeda de prata
para que ele lhe fizesse as lições e evitasse, portanto, o castigo. No entanto,
o comportamento de Pilar, o narrador, e de Raimundo foi denunciado por um
colega, o Curvelo. Houve palmatória para ambos e a moedinha foi jogada na rua.
Pilar, no dia seguinte, procura reaver a moeda, mas a caminho da escola,
desviou-se para seguir o tambor da companhia do batalhão de fuzileiros, depois
vagabundeou por outros lugares e não foi à aula. No dia anterior, Raimundo e
Curvelo lhe deram o “primeiro conhecimento, um da corrupção, outro da
delação”.
·
Entre Santos
Escrito em primeira pessoa, narra
a experiência de um capelão que ouviu a conversa de santos da igreja que
assumiram a forma humana. Entre eles estavam S. Francisco de Paula, S. João
Batista e S. Francisco de Sales. A conversa girava em torno das observações que
os santos faziam dos fiéis, quando estes confessavam os pecados ou vinham pedir
favores. S. Francisco de Sales tomou a palavra e relatou o caso de um homem
avaro que estava perdendo a mulher, acometida de uma doença fatal. Mas a
avareza, sua própria e humana essência, não lhe permitiu prometer mais do que
rezas em profusão: ele não conseguiu superar seu maior pecado, mesmo amando
verdadeiramente a mulher. O homem perde-se nos meandros de sua auto-defesa,
contorna seus vícios com os mais ousados artifícios.
Grupo III – Contos teoria
Contos que buscam teorizar ou caracterizar genérica e filosoficamente os homens
em suas buscas ou em seus desafetos: “Um Apólogo”, “Adão e Eva”, “Viver!”, “O
Cônego ou Metafísica do Estilo”, que será transcrito na íntegra no final deste
bloco, são os contos desse grupo.
·
Um Apólogo
Apólogo é o nome dado a uma
narrativa curta, em prosa ou verso, que visa passar uma lição de moral.
Geralmente, tem como personagens seres inanimados que são dotados da “fala”
pelo escritor. No caso de Machado de Assis, seu famoso “Apólogo” tem por personagens
a agulha, a linha e um alfinete. A agulha é orgulhosa, porque cose, abre
caminho, é dirigida pelas mãos da costureira. Mas a linha lhe responde que é
ela quem vai ao baile, é ela quem dança, enquanto a agulha no final de seu
trabalho volta para a caixinha da costureira. Diante da conversa agressiva
entre agulha e linha, um alfinete resolve interferir e toma apalavra, dizendo à
pobre agulha: “Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é
que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu,
que não abro caminho pra ninguém. Onde me espetam, fico.” Para finalizar, o
narrador interfere e diz ter contado a história para um professor de melancolia
que lhe disse: “- também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária.”
·
Adão e Eva
O conto tem o pretexto inicial de
revelar a um grande lambareiro certa iguaria especial. Como o guloso
demonstrasse grande curiosidade para saber qual doce seria servido, os convivas
puseram-se a refletir sobre qual doce seria servido, os convivas puseram-se a
refletir sobre a curiosidade, recaindo a conversa sobre quem seria mais
curioso, o homem ou a mulher. Veloso, um juiz de fora, tomou a palavra e contou
sua versão sobre o episódio de Adão e Eva, invertendo o episódio bíblico e o
próprio ato da criação. Não fora, segundo ele, Deus quem criara o mundo, o
homem e a mulher, mas o diabo. Coubera a Deus somente dar-lhes “a alma, com um
sopro, e com outro os sentimentos nobres, puros e grandes. Nem parou nisso a
misericórdia divina; fez brotar um jardim de delícias, e para ali os conduziu,
investindo-os na posse de tudo (...) Vivereis aqui, disse-lhes o Senhor, e
comereis de todos os frutos, menos o desta árvore, que é da ciência do bem e do
mal”. O diabo revoltou-se e cuidou de devolver o insulto divino, mandando ao
paraíso uma serpente que deveria tentar Adão e Eva e fazê-los saborear o fruto
proibido. Mas tanto Eva quanto Adão acharam inúteis as tentações do Tinhoso e
concordaram que não havia poder, ciência ou qualquer outra coisa que lhes
valesse o paraíso. Deus ouviu e por intermédio do arcanjo Gabriel premiou a
obediência elevando-os à estância eterna, enquanto a terra ficava entregue às
obras do diabo. “Tendo acabado de falar, o juiz de fora estendeu o prato a D.
Leonor para que lhe desse mais doce, enquanto os outros convivas olhavam
uns para os outros, embasbacados; em vez de explicação, ouviam uma narração
enigmática, ou, pelo menos, sem sentido aparente...”
·
Viver!
O conto é construído sob a forma
de um diálogo, à maneira do teatro. Passa-se no final dos tempos e tem como
personagens Ahasverus, Prometeu e duas águias. Inicialmente, o judeu errante
medita e depois sonha. A conversa acontece no sonho de Ahasverus. Ao constatar
que ele é o último dos homens, e então pode morrer, já que as profecias dizem
que ele está condenado a vagar até enterrar o último homem. Ahasverus constata
a presença de Prometeu e os dois personagens mitológicos travam um diálogo em
que a vida é necessária e fundamental e que pela sua experiência, o errante
será o eleito para ser não o derradeiro homem sobre a terra, mas para ser o
primeiro entre os de uma nova raça que se anuncia, invertendo-se, portanto, as
predições.
AHASVERUS – Eia, fala, fala mais.
Conta-me tudo. Deixa-me desatar-te estas cadeias...
PROMETEU – Desata-as, Hércules
novo, homem derradeiro de um mundo, que vais ser o primeiro de outro. É o teu
destino; nem tu nem eu, ninguém poderá mudá-lo. És mais ainda que o teu Moisés.
Do alto do Nebo, viu ele, prestes a morrer, toda a terra de Jericó, que ia
pertencer à sua posteridade; e o Senhor lhe disse: ‘Tu a viste com teus olhos,
e não passarás a ela.’ Tudo passarás a ela, Ahasverus; tu habitarás Jericó.
AHASVERUS – Põe a mão sobre a
minha cabeça, olha bem para mim; incute-me a tua realidade e a tua predição;
deixa-me sentir um pouco da vida nova e plena... Rei disseste?
PROMETEU – Rei eleito de uma raça
eleita.
AHASVERUS – Não é demais para
resgatar o profundo desprezo em que vivi. Onde uma vida cuspiu lama, outra vida
porá uma auréola. Anda, fala mais... fala mais... (Continua sonhando. As duas
águias aproximam-se.)
ÁGUIA – Ai, ai, ai deste último
homem, está morrendo e ainda sonha com a vida.
A OUTRA – Nem ele a odiou tanto,
senão porque a amava muito.
·
O Cônego ou Metafísica do Estilo (texto integral)
— "VEM DO LÍBANO, esposa
minha, vem do Líbano, vem... As mandrágoras, deram o seu cheiro. Temos às
nossas portas toda casta de pombos..."
— "Eu vos conjuro, filhas de
Jerusalém, que se encontrardes o meu amado, lhe façais saber que estou enferma
de amor..."
Era assim, com essa melodia do
velho drama de Judá, que procuravam um ao outro na cabeça do Cônego Matias um
substantivo e um adjetivo... Não me interrompas, leitor precipitado; sei que
não acreditas em nada do que vou dizer. Di-lo-ei, contudo, a despeito da tua
pouca fé, porque o dia da conversão pública há de chegar.
Nesse dia, — cuido que por volta
de 2222, — o paradoxo despirá as asas para vestir a japona de uma verdade
comum. Então esta página merecerá, mais que favor, apoteose. Hão de traduzi-la
em todas as línguas. As academias e institutos farão dela um pequeno livro,
para uso dos séculos, papel de bronze, corte-dourado, letras de opala
embutidas, e capa de prata fosca. Os governos decretarão que ela seja ensinada
nos ginásios e liceus. As filosofias queimarão todas as doutrinas anteriores,
ainda as mais definitivas, e abraçarão esta psicologia nova, única verdadeira,
e tudo estará acabado. Até lá passarei por tonto, como se vai ver.
Matias, cônego honorário e
pregador efetivo, estava compondo um sermão quando começou o idílio psíquico.
Tem quarenta anos de idade, e vive entre livros e livros para os lados da
Gamboa. Vieram encomendar-lhe o sermão para certa festa próxima; ele que se
regalava então com uma grande obra espiritual, chegada no último paquete,
recusou o encargo; mas instaram tanto, que aceitou.
— Vossa Reverendíssima faz isto
brincando, disse o principal dos festeiros.
Matias sorriu manso e discreto,
como devem sorrir os eclesiásticos e os diplomatas. Os festeiros despediram-se
com grandes gestos de veneração, e foram anunciar a festa nos jornais, com a
declaração de que pregava ao Evangelho o Cônego Matias, "um dos ornamentos
do clero brasileiro". Este "ornamento do clero" tirou ao cônego
a vontade de almoçar, quando ele o leu agora de manhã; e só por estar ajustado,
é que se meteu a escrever o sermão.
Começou de má vontade, mas no fim
de alguns minutos já trabalhava com amor. A inspiração, com os olhos no céu, e
a meditação, com os olhos no chão, ficam a um e outro lado do espaldar da
cadeira, dizendo ao ouvido do cônego mil cousas místicas e graves. Matias vai
escrevendo, ora devagar, ora depressa. As tiras saem-lhe das mãos, animadas e
polidas. Algumas trazem poucas emendas ou nenhumas. De repente, indo escrever
um adjetivo, suspende-se; escreve outro e risca-o; mais outro, que não tem
melhor fortuna. Aqui é o centro do idílio. Subamos à cabeça do cônego.
Upa! Cá estamos. Custou-te, não,
leitor amigo? É para que não acredites nas pessoas que vão ao Corcovado, e
dizem que ali a impressão da altura é tal, que o homem fica sendo cousa
nenhuma. Opinião pânica e falsa, falsa como Judas e outros diamantes. Não
creias tu nisso, leitor amado. Nem Corcovados, nem Himalaias valem muita cousa
ao pé da tua cabeça, que os mede. Cá estamos. Olha bem que é a cabeça do
cônego. Temos à escolha um ou outro dos hemisférios cerebrais; mas vamos por
este, que é onde nascem os substantivos. Os adjetivos nascem no da esquerda.
Descoberta minha, que ainda assim não é a principal, mas a base dela, como se
vai ver. Sim, meu senhor, os adjetivos nascem de um lado, e os substantivos de
outro, e toda a sorte de vocábulos está assim dividida por motivo da diferença
sexual...
— Sexual?
Sim, minha senhora, sexual. As
palavras têm sexo. Estou acabando a minha grande memória psico-léxico-lógica,
em que exponho e demonstro esta descoberta. Palavra tem sexo.
— Mas, então, amam-se umas às
outras?
Amam-se umas às outras. E
casam-se. O casamento delas é o que chamamos estilo. Senhora minha, confesse
que não entendeu nada.
— Confesso que não.
Pois entre aqui também na cabeça
do cônego. Estão justamente a suspirar deste lado. Sabe quem é que suspira? É o
substantivo de há pouco, o tal que o cônego escreveu no papel, quando suspendeu
a pena. Chama por certo adjetivo, que lhe não aparece: "Vem do Líbano,
vem..." E fala assim, pois está em cabeça de padre; se fosse de qualquer
pessoa do século, a linguagem seria a de Romeu: "Julieta é o sol... ergue-te,
lindo sol." Mas em cérebro eclesiástico, a linguagem é a das Escrituras.
Ao cabo, que importam fórmulas? Namorados de Verona ou de Judá falam todos o
mesmo idioma, como acontece com o thaler ou o dólar, o florim ou a libra que é
tudo o mesmo dinheiro.
Portanto, vamos lá por essas
circunvoluções do cérebro eclesiástico, atrás do substantivo que procura o
adjetivo. Sílvio chama por Sílvia. Escutai; ao longe parece que suspira também
alguma pessoa; é Sílvia que chama por Sílvio.
Ouvem-se agora e procuram-se.
Caminho difícil e intrincado que é este de um cérebro tão cheio de cousas
velhas e novas! Há aqui um burburinho de idéias, que mal deixa ouvir os
chamados de ambos; não percamos de vista o ardente Sílvio, que lá vai, que
desce e sobe, escorrega e salta; aqui, para não cair, agarra-se a umas raízes
latinas, ali abordoa-se a um salmo, acolá monta num pentâmetro, e vai sempre
andando, levado de uma força íntima, a que não pode resistir.
De quando em quando, aparece-lhe
alguma dama — adjetivo também — e oferece-lhe as suas graças antigas ou novas;
mas, por Deus, não é a mesma, não é a única, a destinada ao eterno para este
consórcio. E Sílvio vai andando, à procura da única. Passai, olhos de toda cor,
forma de toda casta, cabelos cortados à cabeça do Sol ou da Noite; morrei sem
eco, meigas cantilenas suspiradas no eterno violino; Sílvio não pede um amor
qualquer, adventício ou anônimo; pede um certo amor nomeado e
predestinado.
Agora não te assustes, leitor,
não é nada; é o cônego que se levanta, vai à janela, e encosta-se a espairecer
do esforço. Lá olha, lá esquece o sermão e o resto. O papagaio em cima do
poleiro, ao pé da janela, repete-lhe as palavras do costume e, no terreiro, o
pavão enfuna-se todo ao sol da manhã; o próprio sol, reconhecendo o cônego,
manda-lhe um dos seus fiéis raios, a cumprimentá-lo. E o raio vem, e pára
diante da janela: "Cônego ilustre, aqui venho trazer os recados do sol,
meu senhor e pai." Toda a natureza parece assim bater palmas ao regresso
daquele galé do espírito. Ele próprio alegra-se, entorna os olhos por esse ar
puro, deixa-os ir fartarem-se de verdura e fresquidão, ao som de um passarinho
e de um piano; depois fala ao papagaio, chama o jardineiro, assoa-se, esfrega
as mãos, encosta-se. Não lhe lembra mais nem Sílvio nem Sílvia.
Mas Sílvio e Sílvia é que se
lembram de si. Enquanto o cônego cuida em cousas estranhas, eles prosseguem em
busca um do outro, sem que ele saiba nem suspeite nada. Agora, porém, o caminho
é escuro. Passamos da consciência para a inconsciência onde se faz a elaboração
confusa das idéias, onde as reminiscências dormem ou cochilam. Aqui pulula a
vida sem formas, os germens e os detritos, os rudimentos e os sedimentos; é o
desvão imenso do espírito. Aqui caíram eles, à procura um do outro, chamando e
suspirando. Dê-me a leitora a mão, agarre-se o leitor a mim, e escorreguemos
também.
Vasto mundo incógnito. Sílvio e
Sílvia rompem por entre embriões e ruínas. Grupos de idéias, deduzindo-se à
maneira de silogismos, perdem-se no tumulto de reminiscências da infância e do
seminário. Outras idéias, grávidas de idéias, arrastam-se pesadamente,
amparadas por outras idéias virgens. Cousas e homens amalgamam-se; Platão traz
os óculos de um escrivão da câmara eclesiástica; mandarins de todas as classes
distribuem moedas etruscas e chilenas, livros ingleses e rosas pálidas; tão
pálidas, que não parecem as mesmas que a mãe do cônego plantou quando ele era
criança. Memórias pias e familiares cruzam-se e confundem-se. Cá estão as vozes
remotas da primeira missa; cá estão as cantigas da roça que ele ouvia cantar às
pretas, em casa; farrapos de sensações esvaídas, aqui um medo, ali um gosto,
acolá um fastio de cousas que vieram cada uma por sua vez, e que ora jazem na
grande unidade impalpável e obscura.
— Vem do Líbano, esposa
minha...
— Eu vos conjuro, filhas de
Jerusalém...
Ouvem-se cada vez mais perto. Eis
aí chegam eles às profundas camadas de teologia, de filosofia, de liturgia, de
geografia e de história, lições antigas, noções modernas, tudo à mistura, dogma
e sintaxe. Aqui passou a mão panteísta de Spinoza, às escondidas; ali ficou a
unhada do Doutor Angélico; mas nada disso é Sílvio nem Sílvia. E eles vão
rasgando, levados de uma força íntima, afinidade secreta, através de todos os
obstáculos e por cima de todos os abismos. Também os desgostos hão de vir.
Pesares sombrios, que não ficaram no coração do cônego, cá estão, à laia de
manchas morais, e ao pé deles o reflexo amarelo ou roxo, ou o que quer que seja
da dor alheia e universal. Tudo isso vão eles cortando, com a rapidez do amor e
do desejo.
Cambaleias, leitor? Não é o mundo
que desaba; é o cônego que se sentou agora mesmo. Espaireceu à vontade, tornou
à mesa do trabalho, e relê o que escreveu, para continuar; pega da pena,
molha-a, desce-a ao papel, a ver que adjetivo há de anexar ao
substantivo.
Justamente agora é que os dous
cobiçosos estão mais perto um do outro. As vozes crescem, o entusiasmo cresce,
todo o Cântico passa pelos lábios deles, tocados de febre. Frases alegres,
anedotas de sacristia, caricaturas, facécias, disparates, aspectos estúrdios,
nada os retém, menos ainda os faz sorrir. Vão, vão, o espaço estreita-se. Ficai
aí, perfis meio apagados de paspalhões que fizeram rir ao cônego, e que ele
inteiramente esqueceu; ficai, rugas extintas, velhas charadas, regras de
voltarete, e vós também, células de idéias novas, debuxos de concepções, pó que
tens de ser pirâmide, ficai, abalroai, esperai, desesperai, que eles não têm
nada convosco. Amam-se e procuram-se.
Procuram-se e acham-se. Enfim,
Sílvio achou Sílvia. Viram-se, caíram nos braços um do outro, ofegantes de
canseira, mas remidos com a paga. Unem-se, entrelaçam os braços, e regressam
palpitando da inconsciência para a consciência. "Quem é esta que sobe do
deserto, firmada sobre o seu amado?", pergunta Sílvio, como no Cântico; e
ela, com a mesma lábia erudita, responde-lhe que "é o selo do seu
coração", e que "o amor é tão valente como a própria
morte".
Nisto, o cônego estremece. O
rosto ilumina-se-lhe. A pena cheia de comoção e respeito completa o substantivo
com o adjetivo. Sílvia caminhará agora ao pé de Sílvio, no sermão que o cônego
vai pregar um dia destes, e irão juntinhos ao prelo, se ele coligir os seus
escritos, o que não se sabe.
6.1.2 - Casa de Pensão, de Aluísio
de Azevedo
ROTEIRO BIOGRÁFICO
Aluísio
Azevedo (Aluísio Tancredo Gonçalvez de Azevedo), irmão do teatrólogo
Arthur Azevedo, nasceu em S. Luís do Maranhão, em 14 de abril de 1857 e morreu,
com 56 incompletos, em 21 de janeiro de 1913, na capital argentina. Era diplomata,
por concurso, desde 1895, tendo exercido funções em várias partes do mundo.
O
desenho e a caricatura eram a sua grande vocação. Acabou romancista.
"Fiz-me romancista, não por pendor, mas por me haver convencido da
impossibilidade de seguir a minha vocação que é a pintura. Quando escrevo,
pinto mentalmente. Primeiro desenho os meus romances, depois redijo-os."
(Aluísio Azevedo – Uma vida de romance – Raimundo de Menezes –
Liv. Martins Edit. P. 146). Foi um dos primeiros, entre nós, a procurar viver
ou sobreviver de sua profissão de escritor.
"Escrever tem sido até hoje aqui no Rio de Janeiro a minha grilheta, muito
pesada e bem pouco lucrativa..." (Apud Prosa de Ficção –
Lúcia Miguel Pereira – Liv. José Olympio Edit. – 1957 – 2ª ed. Pág. 143).
"Aluísio Azevedo é no Brasil talvez o único escritor que ganha o pão
exclusivamente à custa da sua pena, mas note-se que apenas ganha o pão: as
letras no Brasil ainda não dão para a manteiga..." (Valentim Magalhães –
apud Raimundo de Menezes – o.c.. pág. 29).
Por
isso, muitas vezes fabricou os seus romances para
(sobre)viver. Alguns de seus livros são de "pura inspiração
industrial", segundo expressão de José Veríssimo. (História de
Literatura Brasileira – Liv. Francisco Alves – Rio – 1916 – pág. 357).
Com alguma facilidade se pode notar o desnível que existe entre os seus
romances. De sua obra ficcional, bastante numerosa, o tempo,
crítico severo, selecionou algumas que ficaram e ficarão na literatura
naturalista brasileira. "De tudo isso só ficaram O Cortiço, O
Coruja, Filomena Borges e O Livro de uma Sogra,
são hoje a bem dizer, ilegíveis. Mas O Cortiço basta para lhe
assegurar a posição de primeiro plano da nossa literatura." (Prosa de
Ficção – Lúcia Miguel Pereira – Liv. José Olympio Edit. – Rio – 1957 –
2ª ed. Pág. 144).
"Casa
de Pensão e O Cortiço, assinalemos desde já, situam-se no
ponto mais alto da curva que descreve a evolução da obra de Aluísio
Azevedo." (Josué Montello – in A Literatura no Brasil –
vol II – pág. 61).
"Quer em O Cortiço quer em Casa de Pensão,
pôde realizar criações romanescas notáveis pela excelente fixação de alguns
tipos, pela movimentação das cenas e pelo jogo das situações dramáticas."
(Aspectos de Romance Brasileiro – Eugênio Gomes – Liv. Progresso
Edit. – Salvador – s.d. pág. 129).
Há
alguma concordância na seleção das duas melhores obras de Aluísio Azevedo,
conforme se pode ver pela crítica citada. Talvez o tempo tenha cometido uma
injustiça, esquecendo O Coruja, uma estória muito humana de uma
personagem tão bonita de alma e tão feia de corpo. Corre no livro uma lírica
visão do homem.
Diz
Josué Montello que "Alcides Maia foi o único grande crítico a chamar a
atenção para a alta importância de O Coruja, não apenas no panorama
restrito da bibliografia de Aluísio, mas dentro do panorama geral de nossa
literatura, ao afirmar que, na sua estranha personagem central, há uma criatura
de arte que roça pelo símbolo e não tem rival no romance brasileiro." (A
Literatura no Brasil – vol. II – pág. 62).
Mas não
há dúvida para a crítica atual que O Cortiço ficou
definitivamente como sua obra-prima: apesar do caráter documental que o livro
apresenta, como romance, supera o ocasional e o informativo, pela criação de
personagens vivos, pela linguagem expressiva, pela superação das exagerações da
escola naturalista.
No
melhor da obra literária de Aluísio Azevedo, nota-se a influência, quase sempre
benéfica, dentro do campo de criação romanesca, de Zola e do autor de O
Crime do padre Amaro, Eça de Queirós. Quando o autor parece escapar dos
dois, torna-se um pobre "produtor de folhetins". (Alfredo Bosi
– História Concisa da Literatura Brasileira – Cultrix – S.
Paulo – 1970 – pág. 209).
Pode-se
classificar a obra de ficção do autor no seguinte quadro didático:
Românticos:
Uma
Lágrima de Mulher (1879)
Condessa
de Vésper (1882) (com o título de Memórias de um Condenado)
Girândola de Amores (1882) (com o título de Mistério da Tijuca)
Filomena
Borges (1884)
A
Mortalha de Alzira (1894)
Demônios
(1893) (Contos)
Realistas
O Mulato
(1881)
Casa de
Pensão (1884)
O Coruja
(1885)
O Homem
(1887)
O
Cortiço (1890)
Livro de
uma Sogra (1895)
Entrando
para a diplomacia em 1895, encerrou definitivamente a sua carreira literária,
em completo desencanto. Hoje, o que lhe dá renome, é a sua obra literária...
Enredo
de Casa de Pensão
Amâncio (Da
Silva Bastos e Vasconcelos), rapaz rico e provinciano, abandona o Maranhão e
segue de navio para o Rio de Janeiro (a Corte) a fim de se encaminhar nos
estudos e na vida. É um provinciano que sonha com os deslumbramentos da Corte.
Chega cheio de ilusões e vazio de propósitos de estudar... A mãe fica chorosa e
o pai, indiferente, como sempre fora no trato meio distante com o filho. O
rapaz tinha que se tornar um homem.
Amâncio
começa morando em casa do sr. Campos, amigo do Pai, e, foçado, se matricula na
Escola de Medicina. Ia começar agora uma vida livre para compensar o tempo em
que viveu escravizado às imposições do pai e do professor, o implacável Pires.
Por
convite de João Coqueiro, co-proprietário de uma casa de pensão, junto com a
sua velhusca mulher Mme. Brizard, muda-se para lá. É tratado com as maiores
preferências: os donos da pensão queriam aproveitar o máximo de seu dinheiro e
ainda arranjar o seu casamento com Amélia, irmã de Coqueiro. Um sujo jogo de
baixo interesses, sobretudo de dinheiro. Naquele ambiente, tudo concorreria
para fazer explodir a super-sensualidade do maranhense.
"Ele, coitado, havia fatalmente de ser mau, covarde e traiçoeiro: Na
ramificação de seu caráter e sensualidade era o galho único desenvolvido e
enfolhado, porque de todos só esse podia crescer e medrar sem auxílios exteriores."
(pág. 166)
A casa
de pensão era um amontoado de gente, em promiscuidade generalizada, apesar da
hipócrita moralidade pregada pelo seu dono: havia miséria física e moral, clara
e oculta. Com a chegada de Amâncio, a pensão passou a arapuca para prender nos
seus laços o jovem, inesperto e rico estudante: pegar o seu dinheiro e casá-lo
com a irmã do Coqueiro. Para alcançar o fim, todos os meios eram absolutamente
lícitos. Amélia, principalmente quando da doença do rapaz, se desdobrou nos
mais íntimos cuidados. Até que se tornou, disfarçadamente, sua amante. Sempre
mantendo as aparências do maior respeito exigido dentro da pensão pelo João
Coqueiro...
O pai de
Amâncio morre no Maranhão. A mãe chama o filho. Ele pretendo voltar, logo que
terminarem os seus exames de medicina. Era preciso que o filho voltasse para
vê-la e ver os negócios que o pai deixara. Mas o rapaz está preso à casa de
pensão e a Amélia: este o ameaça e só permite sua ida ao Maranhão, depois do
casamento. Amâncio prepara sua viagem às escondidas. Mas, no dia do embarque,
um oficial e justiça acompanhado de policiais o prende para apresentação à
delegacia e prestação de depoimentos. Amâncio é acusado de sedutor da moça.
João Coqueiro prepara tudo: o caso foi entregue ao famigerado e chicanista Dr.
Teles de Moura. Aparecem duas testemunhas contra o rapaz. Começa o enredado
processo: uma confusão de mentiras, de fingimentos, de maucaratismo contra o
jovem rico e desfrutável para os interesses pecuniários de Mme. Brizard e
marido. Há uma ressonância geral na imprensa e, na maioria, os estudantes se
colocam ao lado de Amâncio. O senhor Campos prepara-se para ajudar o seu
protegido, mas Coqueiro lhe faz chegar às mãos uma carta comprometedora que
Amâncio escrevera à sua senhora, D. Hortênsia. E se coloca contra quem não
soube respeitar nem a sua casa...
Três
meses depois de iniciado o processo, Amâncio é absolvido. O rapaz é
levado em triunfo para um almoço, no Hotel Paris.
"Amâncio passava de braço a braço, afagado, beijado, querido, como uma
mulher famosa." (317). Todo mundo olhava com curiosidade e admiração o
estudante absolvido. E lhe atiravam flores, Ouviam-se vivas ao estudante e à
Liberdade. Os músicos alemães tocaram a Marselhesa. Parecia um carnaval
carioca.
Em outro
plano, Coqueiro, sozinho, vendo e ouvindo tudo. A alma envenenada de raiva. Em
casa o destampatório da mulher que o acusava de todo o fracasso. As testemunhas
reclamavam o pagamento do seu depoimento. Um inferno dentro e fora dele.
Chegaram cartas anônimas com as maiores ofensas. Um homem acuado...
Pegou,
na gaveta, o revólver do pai. E pensou em se matar. Carregou a arma. Acertou o
cano no ouvido. Não teve coragem. Debaixo da sua janela, gritavam injúrias pela
sua covardia e mau caráter... No dia seguinte, de manhã, saiu sinistro. Foi
ao Hotel Paris. Bateu no quarto II, onde se encontrava o estudante
com a rapariga Jeanete. Esta abriu a porta. Amâncio dormia, depois da festa e
da bebedeira, de barriga para cima. Coqueiro atirou a queima-roupa. Amâncio
passa a mão no peito, abre os olhos, não vê mais ninguém. Ainda diz uma
palavra: "mamãe" ... e morre.
Coqueiro
foi agarrado por um policial, ao fugir. A cidade se enche de comentários.
Muitos visitam o necrotério para ver o cadáver de Amâncio. Vendem-se retratos
do morto. Um funeral grandioso com a presença de políticos, notícias e
necrológicos nos jornais, a cidade toda abalada. A tragédia tomou conta de
todos.
A
opinião pública começa a flutuar, a mudar de posição: afinal, João Coqueiro
tinha lavado a honra da irmã...
Quando
D. Ângela, envelhecida e enlutada, chega ao Rio de Janeiro, se viu no meio da
confusão, procurando o filho. Numa vitrine, ela descobriu o retrato do filho
"na mesa do necrotério, com o tronco nu, o corpo em sangue. Uma legenda:
"Amâncio de Vasconcelos, assassinado por João Coqueiro, no Hotel
Paris..."
O
Estilo da Época
A obra
de Aluísio de Azevedo que ficou na literatura brasileira é o seu romance
naturalista. "Dominava a cena artística brasileira o sistema de idéias
estéticas implantado pela poderosa geração de 1870, e que constituíram o complexo
estilístico do Realismo-Naturalismo-Parnasianismo." (Afrânio Coutinho
– Introdução à Literatura Brasileira – Rio de Janeiro – 1964 –
2ª ed.-pág. 207).
O
realismo tende para uma visão biológica do homem; o
naturalismo, para uma visão patológica: um homem dominado pelo
animalesco, marcado por taras e degenerecências, produto fatal da
hereditariedade, uma apenas máquina sujeita às leis físico-químicas. Os
greco-latinos acreditavam na fatalidade (Moira) a quem estavam sujeitos os
mesmos deuses. A ciência pseudo-ciência do século XIX ensinou ao naturalistas a
crença na hereditariedade. O personagem de tragédia que era escravo
da fatalidade se torna escravo da hereditariedade para os naturalistas. Uma das
confusões mais comuns entre eles era a da ciência com a literatura.
Se o realismo nos deu um romance-documental, o naturalismo -
verdadeiro laboratório – nos deu um romance-experimental, na mesma
linha do Roman expérimental de Zola (1880).
"Entendemos que um romancista deve ser ao mesmo tempo um observador e
um experimentador. O observador expõe os fatos tais quais os
observou, estabelece o terreno sólido em que se vão mover os personagens e
acontecimentos; em seguida surge o experimentador e faz experiências, isto é,
faz seus personagens se movimentarem em determinado enredo, de modo a patentear
que a sucessão dos fatos é a exigida pelo determinismo das coisas
estudadas." (Zola – apud Nelson Werneck Sodré – O Naturalismo no
Brasil – Edit. Civilização Brasileira – Rio de Janeiro – 1965 – pág.
33).
Nessa
fidelidade a uma pseudo-realidade está o erro fundamental de um naturalista
como Aluísio de Azevedo. A pressa com que realizou a sua obra romanesca –
apesar do seu inegável talento – o fez fiel demais às formas e fórmulas do
naturalismo a tal ponto que o romance mostre nitidamente os andaimes e as
outras marcas de sua fabricação. Os personagens se movem dentro do
romance como verdadeiros robôs, teleguiados por forças mecânicas,
dentro do seu meio, obedientes às forças atávicas, sem nenhuma liberdade de ser
e de agir. O naturalista se esqueceu de "que os sinais exteriores são
apenas uma parte da realidade, não podendo a literatura, pois, pelo
levantamento apenas dos dados colhidos pela observação, dos dados exteriores,
reproduzir a realidade; em segundo lugar, não compreendia que a realidade
humana, que é o domínio de que a literatura se ocupa, não está nos indivíduos,
mas na sociedade; finalmente, que a realidade não está no patológico, no
anormal, no excepcional, mas no normal, no comum, no típico." (Nelson
Werneck Sodré – ib. pág. 37-38).
Dentro
do naturalismo, cabem afirmações tão dogmáticas quanto incompletas e, hoje,
erradas, para uma concepção moderna do homem, como estas:
"O
romance deve ser um estudo de um curioso caso fisiológico"; "dados um
homem forte e uma mulher insatisfeita, procurar neles as besta...";
"fazer em dois corpos vivos o que o cirurgião faz em cadáveres..."
(Zola – Apud Nelson Werneck Sodré – ib. pág. 19). Ou: "o vício e a virtude
são os produtos químicos como o açúcar e o vitríolo" (Taine);
"precisamos acanalhar a arte" (Courbet) (apud id. Ib. pág. 19).
O
naturalismo está plenamente representado
em Casa
de Pensão:
1)
Desde a abertura do romance, Amâncio aparece marcado fatalisticamente
pela escola e pela família: uma e outra o encheram de revolta. Por causa de um
castigo justo ou injusto, "todo o sentimento de justiça e da honra que
Amâncio possuía, transformou-se em ódio sistemático pelos seus
semelhantes..." (Casa de Pensão – pág. 25). O leite que o
menino mamou na ama negra também está contagiado e irá marcá-lo. O médico
dizia: "Esta mulher tem reuma no sangue e o menino pode vir a sofrer para
o futuro." (ib. pág. 28). Amâncio é uma cobaia, um campo de experimentação
nas mãos do romancista. Nele o fisiológico é muito mais forte do que o
psicológico. É o determinismo que vai acompanhar toda a
carreira do personagem.
2)
O sentido documental e experimental do romance naturalista, renunciando
ao sentimentalismo e à evasão, procura construir tudo sobre a realidade. A
estória do romance se baseia num caso real, o caso do estudante
Capistrano, até nos pormenores. Leiamos um resumo dos acontecimentos.
"O
emocionante caso de polícia, logo conhecido e popularizado sob a epígrafe de
"Questão Capistrano", envolve dois jovens e estudantes da Escola
Politécnica, antes da tragédia, grande e inseparáveis amigos: João Capistrano
da Cunha e Antônio Alexandre Pereira.
O tão
debatido "Affaire Capistrano", que o povo e os jornais da época
consagram, divide o público e nascem então acesas polêmicas. O carioca da época
não fala noutra coisa, não discute outro assunto , não se preocupa senão com os
dois processos criminais apesar de rotineiros, em que se misturam a honra de
uma moça e o homicídio do seu sedutor.
O caso
principia trivialmente assim: dona Júlia Clara Pereira é modesta professora de
piano, que, naquele ano de 1875, mora com os dois filhos Antônio Alexandre
Pereira, estudante de engenharia, e Júlia Pereira, de 20 anos, em pequena casa
da Rua Silva Manuel, nº 10. A pobre viúva baiana luta com inauditas
dificuldades para prover a pequena família. As aulas de piano é que lhes mantêm
as despesas da casa e dos estudos. A habitação apresenta-se em péssimo estado e
resolvem alugar outra, no ano seguinte, bem maior e mais cômoda, na Rua do
Alcântara, nº 71, e que, além do pavimento térreo, tem o sótão em forma de
chalé.
Como a
nova moradia possui alguns quartos a mais, deliberam alugá-los, montando assim
uma casa de pensão, muito comum naqueles tempos. Dessa maneira podem auferir
outros lucros para os gastos sempre crescentes. Os dois primeiros pensionistas
são colegas do filho: Mariano de Almeida Torres e João Capistrano da Cunha,
rapazes procedentes do Paraná, tidos e haviados como de bom comportamento e
acolhidos no seio da família Pereira sob o maior carinho e confiança.
Em
pouco, no convívio diário, nasce o namoro entre o estudante Capistrano e a jovem
Júlia. O idílio pega fogo... Voraz concupiscência encarrega-se do resto... Uma
noite – naquela de 13 para 14 de janeiro de 1876 – acontece o imprevisto: o
rapaz não se contém e demanda o quarto da moça, desonrando-a às brutas,
violentado-a...
Na manhã
seguinte, a jovem, entre lágrimas, conta à mãe o que lhe acontecera. A viúva
não tem dúvidas: vai às falas com o moço. Este, como sói acontecer em casos
desse jaez, dá um pretexto qualquer, procura adiar o compromisso do enlace para
data bem remota, quando, então, reparará o dano causado. Enquanto isso, dias e
meses decorrem sem nenhuma atitude do namorado, frio e indiferente ao
cumprimento da palavra empenhada.
Quando
menos se espera, sai de casa e não volta mais. Some de uma vez. Todos ignoram-lhe
o paradeiro. Deixa, apenas, na pensão a roupa, os livros, a mala... A mãe e o
tutor da vítima apressam-se em procurar a delegacia de polícia mais próxima
para a respectiva queixa. Comparecem acompanhados do advogado dr. Jansen de
Castro Júnior, e exigem 50 contos de indenização pelos danos causados!
O
inquérito tem o seu seguimento natural. Concluído, é enviado a Juízo. Os
jornais se encarregam de divulgá-lo num noticiário pormenorizado e profuso,
enchendo colunas e colunas, dias e dias seguidos, a explorar morbidamente a
curiosidade pública. A população apaixona-se pelo caso, tornado assim de
repente, para conseguir fácil casamento... Outros, mais exaltados, são de
opinião contrária, julgam-no digno de pena severíssima.
O
indiciado João Capistrano da Cunha, acolitado por três bons advogados, drs.
Busch Varela e Duque Estrada Teixeira e conselheiro Saldanha Marinho, comparece
à barra do Tribunal, no dia 17 de novembro. Figura como promotor público
interino o dr. Ferreira de Oliveira, que produz veemente acusação. A colossal
massa popular, que enche o salão, vibra. Contradita-se o defensor do réu, dr.
Busch Varela. À réplica do promotor, respondem os outros dois patronos: dr.
Duque Estrada Teixeira e conselheiro Saldanha Marinho, que conseguem a absolvição
do seu constituinte, após calorosos debates, ovacionando os diversos advogados,
e, à saída, prorrompe em palmas ao absolvido, carregado em triunfo pelos
colegas. Oferecem-lhe ainda um banquete em regozijo, no Hotel Paris
O
desfecho tem viva repercussão na sociedade fluminense. A viúva e o irmão da
vítima não se conformam com tão injustiça e iníqua sentença. Desesperado, o
jovem Antônio Alexandre Pereira passa três dias pensando no que deve fazer.
Precisa
tomar atitude. A idéia fixa aflige-o, mortifica-o: necessita lavar a honra da
família tão rudemente ofendida. Resolve fazer justiça com as próprias mãos.
Impõe-se uma lição de mestre ao impune autor da desgraça da irmã, que chora,
dia e noite, envergonhada e entre a profunda prostração.
O
acadêmico adquire uma arma de 25 cápsulas por 22$000 – uma tragédia atrai outra
tragédia – e sai à procura do amigo da véspera. Encontra-o em olena na Rua da
Quitanda, fronteiro ao nº 128, cerca das 10 da manhã, quando se dirige à casa
do seu correspondente, um negociante da Rua de São Pedro. Pelas costas alveja-o
com cinco tiros e fere-o gravemente com apenas um no pulmão esquerdo. O rapaz
corre para o interior do armazém, fugindo a novo disparo e logo cai sem forças
ao chão. Está morto!
O agressor
tenta, em vão, escapar, quando é preso em flagrante por Augusto César de
Mascarenhas, que passa na ocasião, e entrega-o à Justiça.
O pulmão
da vítima achava-se atrofiado, podendo morrer em breve tempo, constataram os
médicos na autópsia.
A
rapaziada da Politécnica exalta-se e promove uma série de homenagens ao colega
morto: veste-se de luto, chora, vai incorporada ao enterro, que se transforma
em apoteose pública, carregado a mão, por estudantes e políticos que comparecem
concitados pela astúcia partidária de Saldanha Marinho, um dos advogados do
morto. O próprio Visconde do Rio Branco, diretor da Escola, suspende as aulas
por dois dias.
O
processo de homicídio corre os trâmites legais. O acadêmico Antônio Alexandre
Pereira senta-se no banco dos réus a 20 de janeiro de 1877. É defendido pelo
mesmo advogado que figurara no caso da irmã, o dr. Jansen de Castro Júnior. Os
debates atraem mais gente que no episódio anterior do defloramento. Agora a
coisa é outra: as antipatias populares, até ontem contra a família Pereira,
transforma-se então em simpatias pelo assassino... O mesmo júri, que absolve o
primeiro, absolve o segundo! Inocenta-o por unanimidade de votos! Também uma
salva de palmas acolhe o veredictum no Tribunal. É o acusado carregado em
triunfo pelos mesmos colegas, que ovacionaram o morto da véspera...
Em
rápidos traços, eis as duas tragédias que abalam o Rio de Janeiro daqueles
tempos: a famosa "Questão Capistrano", que vai, sete anos depois,
inspirar o romancista Aluísio Azevedo no enredo do livro a que dará a epígrafe
de "Casa de Pensão".
(Raimundo de Menezes – Aluísio de Azevedo – Uma vida de romance –
Liv. Martins Editora – S. Paulo – 1958 – pág. 147 a 150).
3)
Os personagens, na sua totalidade, são retratados sob o ângulo patológico:
são casos anormais.
Amâncio
aparece como um super-excitado sexualmente, condicionando proximamente pelo
ambiente da casa de pensão e remotamente pelo sangue e pela educação; Mme.
Brizard e Coqueiro se apresentam como gananciosos a ponto de fazerem negócio à
base da cunhada e irmã; Nini sofre de crises agudas de loucura histérica,
estrebuchando e caindo diante de Amâncio; Lúcia e o marido se mostram também
tipos esquisitos, ela pelo sexo e ele por estranho alheamento. Amélia também se
mete, de cambulhada, nessa enxurrada de sujeiras tentando um bom negócio de
sexo e dinheiro... A própria D. Hortênsia, mulher do Campos, manifesta sinais
de insatisfação sexual: apesar das negativas iniciais diante das propostas...
Essas personagens, quase todas, poderiam mudar-se da Casa de Pensão para
outro romance do autor, mais exagerado, ao sentido naturalista: O Homem.
E se dariam muito bem no novo ambiente ainda mais patológico. A
casa de pensão não se parece com um pequeno e confuso hospital? Os seus
moradores são, em geral, verdadeiros doentes;
4)
Quebra-se o esquema romântico da vitória do bem sobre o mal, do triunfo do(s)
herói(s). Tudo se mistura na vida, trigo e joio, ninguém consegue separá-los,
perde-se a consciência do bem e do mal. Afinal, quem é o bom e quem é o mau?
Se, até certo momento, a opinião pública esteve ao lado de Amâncio, quem nos
garante que, para o final, não estaria já mudando para o apoio a João Coqueiro?
Se o assassino for a julgamento, defendido pelo inteligente e chicanista Dr.
Teles, certamente será também absolvido...
Além
disso, não existem ideais a que aspiram os personagens: eles
ficam reduzidos ao terra a terra, aos aspectos, fisiológicos e animalescos, aos
grandes egoísmos que fazem os homens sórdidos e vis. Não há, em ninguém, traço
algum de grandeza, nem nos personagens principais, nem nos secundários. Essa
visão negativista e materialista exclui qualquer consciência moral no
julgamento dos atos e personagens. E, dentro do quadro de pensamentos e ações
do casal Mme. Brizard e João Coqueiro, o que se faz é praticar o princípio de
que os fins justificam os meios. Assim, o homem ficar reduzido a um amontoado
de contradições, de secreções, de completo materialismo e mecanicismo. Tudo é
esquematizado de acordo com uma obediência cega à lei de causalidade:
ficam eliminadas as ações e reações pessoais para dar lugar às reações de
massa, sem liberdade. Os personagens não se movem, são movidos e levados, cada
um, para o seu desenlance.
5) Uma
técnica comum ao escritor naturalista é o abuso dos pormenores
descritivo-narrativos de tal modo que a estória caminha devagar, lerda e até
monótona. É a necessidade de ajuntar detalhes para se dar ao leitor uma
impressão segura de que tudo é pura realidade. Essas minúcias se estendem a
episódios, a personagens e a ambientes. Num episódio, por exemplo, há minúcias
de tempo, local e personagens. E móveis de uma sala até os objetos mais miúdos.
"Campos entrou no seu escritório e foi sentar-se à secretária. Defronte
dele, com uma gravidade oficial, empilhavam-se grandes livros de escrituração
mercantil. Ao lado, uma prensa de copiar, um copo de água, sujo de pó, e um
pincel chato; mais adiante, sobre um mocho de madeira preta muito alto, via-se
o Diário deitado de costas e aberto de par em par..." (pág. 13).
Um
retrato:
"Seus olhos, pequenos e de cor duvidosa, conservavam a mesma penetração e
a mesma fluidez incisiva de ave de rapina; sua boca, estreita, bem guarnecida e
quase sem lábios, tinha o mesmo riso arqueado, mal seguro e frio, de quem
escuta e observa. Era de altura regular, compleição ética, rosto comprido, de
um moreno embaciado, pouca barba, pescoço magro, nariz agudo, mãos pálidas e
secas, voz doce e cabelo muito crespo, de colorido incerto, entre castanho e
ruivo. Tinha vinte e sete anos, mas aparentava, quando muito, vinde e
dois..." (pág. 55, 56 – É João Coqueiro).
Descrição
da casa de pensão:
"A
casa tinha dois andares e uma boa chácara no fundo. O salão de visitas era no
primeiro. Mobília antiga, um tanto mesclada; ao centro, grande lustre de
cristal, coberto de filó amarelo. Três largas janelas de sacada, guarnecidas de
cortinas brancas, davam para a rua; do lado oposto, um enorme espelho de
moldura dourada e gasta, inclinava-se pomposamente sobre um sofá de molas; em
uma das paredes laterais, um detestável retrato a óleo de Mme. Brizard, vinte
anos mais moça, olhava sorrindo para um velho piano, que lhe ficava fronteiro;
por cima dos consolos, vasos bonitos de louça da Índia, cheios de areia até à
boca..." (pág. 96). E a descrição continua pela página seguinte.
Ainda
um outro retrato: Amélia em dia de festa:
"E
de fato Amélia nesse dia estava encantadora. Vestia fustão branco, sarapintado
de pequenas flores cor-de-rosa. O cabelo, denso e castanho, prendia-se-lhe no
toutiço por um laço de seda azul, formando um grande molho flutuante, que lhe
caía elegantemente sobre as costas. O vestido curto, muito cosido ao corpo,
enluvava-lhe as formas, dando-lhe um ar esperto de menina que volta do colégio
a passar férias com a família. Era muito bem feita de quadris e de ombros.
Espartilhada, como estava naquele momento, a volta enérgica da cintura e a
suave protuberância dos seios, produziam nos sentidos de quem a contemplava de
perto uma deliciosa impressão artística..." (pág. 97 – E a descrição
continua...)
E
o tísico do quarto nº 7:
"O
homem estava muito aflito, debatendo-se contra os lençóis, no desespero da sua
ortopnéia.
A cabeça
vergada para trás, o magro pescoço estirado em curava, a barba tesa, piramidal,
apontando para o teto; sentiam-se-lhe por detrás da pele empobrecida do rosto
os ângulos da caveira; acusavam-lhe os ossos por todo o corpo; os olhos,
extremamente vivos e esbugalhados, de uma fixidez inconsciente, pareciam saltar
das órbitas, e, pelo esvazamento da boca toda aberta, via-se-lhe a língua dura
e seca, de papagaio, e divisavam-se-lhe as duas filas da dentadura..."
(pág. 219 – A descrição continua...)
O
capítulo XVI começa com um longo e minucioso pesadelo de Amâncio...
6)
O naturalista manifesta tendência reformadoras: quando
apresenta um mundo inferior, cheio de taras e doenças, com os seus personagens
marcantemente anormais, a sua preocupação é a melhoria das condições sociais e
geradoras de todo esse quadro clínico muito ruim. O narrador em terceira
pessoa, onisciente e onipotente, de vez em quando faz seus comentários à
margem.
"O
que se lança ao peito da amante desde logo arde e evapora, porque aí o fogo é
por demais intenso; o que se atira ao de um estranho gela-se de pronto na
indiferença e na aridez; mas, tudo aquilo que um filho semeia no coração
materno, brota, floreja e produz consolações. Neste não há chama que devore,
nem frio que enregele, mas um doce amornecer, suave e fecundo, como a palidez
de um seio intumescido e ressumbrante de leite..." (pág. 43).
"Assim sucede sempre aos filhos educados à portuguesa, cujos pais sentem
vexames de lhes patentear o seu amor." (pág. 167)
7) Com
relação ao vocabulário o romancista naturalista manifesta preferências por
palavras científicas ou pseudo-científicas na busca de exprimir-se com o máximo
de exatidão. Vejamos alguns exemplos:
"Conseguiram fazê-lo viver, mas sempre fraquinho, anêmico, muito propenso
aos ingurgitamentos escrofulosos..." (pág. 29).
"... não se contrai ao fartum insalubre das variolóides..."
(190)
"... no desespero de sua ortopnéia..." (219)
"... na sua distanasia." (220)
"... desde a ponta dos dedos até os bíceps" (237)
"... boca devastada por uma anodontia horrorosa."
(299)
Aspectos
Sociais
Como
em O Cortiço, Aluísio de Azevedo se torna excepcionalmente rico na
criação de personagens coletivos: a casa de pensão, tão comum ainda
hoje, no Brasil inteiro, tem vida, uma vida estudante, nas páginas do romance.
Aluísio conhecia, de experiência própria, esse ambiente feito de tantos quartos
e tantos inquilinos, tão numerosos e tão diferentes, nivelados pela
mediocridade e em fácil decadência moral. O autor faz alguns retratos com
evidentes traços caricaturais (a sua velha mania ou vocação para a
caricatura...), mas fiéis e verdadeiros. Tudo se movimenta diante do leitor: a
casa de pensão é um mundo diferente, gente e coisas tomam aspectos novos, as
pessoas adquirem outros hábitos, informadas ou deformadas por essa vida
comunitária tão promíscua. Aí se encontram e se desencontram, se amontoam e se
separam tantos indivíduos transformados em tipos, conhecidos, às
vezes, apenas pelo número do quarto. No "Cortiço" o meio
social é mais baixo; na "Casa de Pensão" é médio.
Às
doenças morais (promiscuidades, hipocrisia, desonestidades, sensualismos
excitados e excitantes, ódios, baixos interesses, dinheiro...) se misturam
também doenças físicas (o tuberculoso do quarto 7 que morre na casa de pensão,
a loucura e histerismo de Nini...). Foi o que encontrou Amâncio na "Casa
de Pensão" de Mme. Brizard. Fora para o Rio de Janeiro, para estudar.
E, num ambiente como esse, quem seria capaz de estudar? É verdade que o rapaz
já trazia a sua mentalidade burguesa do tempo: o que ele buscava não era
uma profissão, mas apenas um diploma e um título
de doutor. Ele, sendo rico, não precisaria da profissão, mas, por vaidade, de
um status, de um anel no dedo e de um diploma na parede. Essa mania
de doutor, doença que pegou no Brasil, já foi magistralmente
caricaturada em deliciosa carta de Eça de Queirós ao nosso Eduardo Prado:
"A nação inteira se doutorou. Do norte ao sul do Brasil, não há, não
encontrei senão doutores! Doutores com toda a sorte de insígnias, em toda a
sorte de funções!! Doutores com uma espada, comandando soldados; doutores com
uma carteira, fundando bancos: doutores com uma sonda, capitaneando navios;
doutores com uma apito, comandando a polícia; doutores com uma lira, soltando
carnes; doutores com um prumo, construindo edifícios; doutores com balanças,
ministrando drogas; doutores sem coisa alguma, governando o Estado! Todos
doutores..." (A Correspondência de Fradique Mendes – Lello e
Irmão Edit. Porto – 1952 – pág. 235). O próprio Aluísio de Azevedo abandonou a
Província para buscar sucessos na Corte (Rio de Janeiro) e, certamente também,
um título de doutor...
Que
vocação tinha Amâncio para a medicina?
"Não se trata aqui de fazer um médico, trata-se de fazer
um doutor, seja ele do que bem quiser! Não se trata de ganhar
uma profissão, trata-se de obter um título. Tu não
precisas de meios de vida, precisas é de uma posição na sociedade." (Casa
de Pensão – pág. 43). A saída de Amâncio de seu meio provincial, por
necessidade de estudar, produz uma pletora no Rio de Janeiro de tantos e tão
diversos tipos de estudantes, provenientes dos mais variados pontos do nosso
imenso país: no Rio eles aprendem com facilidade, com verdadeiros professores,
as artes não de estudar, mas de passar de ano. Coqueiro foi quem instruiu seu
protegido Amâncio nos truques dos apadrinhamentos e protecionismos especiais
(pistolões) para ser aprovado, apesar da maré cheia de sua ignorância.
Como
conseqüência do meio e das intenções dos donos da pensão, acontece, de modo
fatalístico, a sedução de Amélia. O fato tem repercussões sociais: quase toda a
classe estudantil fica a favor do estudante, vítima do meio, dos ardis de todos
(Mme. Brizard e Coqueiro), da própria Amélia... dos camarões. No apoio a
Amâncio estava um apoio também ao machismo, mas de ... conquistador.
Amâncio aparece sempre condicionado e pré-determinado para o seu final trágico,
por causa do extremo sensualismo. É o erótico que tenta conquistar
até a mulher de seu protetor, o Campos. O erotismo é apontado como um dos
nossos defeitos, por excesso, em Bandeirantes e Pioneiros (Paulo
Prado). Sobre os excessos sexuais e suas doenças, Gilberto Freyre (Casa
Grande e Senzala) faz um trocadilho muito significativo: "no Brasil,
antes da civilização, tivemos a sifilização..."
Mme. Brizard e João Coqueiro são apresentados ao leitor como antipáticos e
condenáveis, pela sua ganância de dinheiro, pelo seu mau caráter: ambos estão
comprometidos gravemente no verdadeiro negócio de vender ou
alugar Amélia. Ela era o meio de arrancar dinheiro fácil do rico Amâncio. A
culpa principal é, sem dúvida, a própria Amélia, pivô da tragédia. Refletindo
os seus próprios problemas familiares, Aluísio Azevedo aponta também erros da
educação caseira e escolar. O pai do autor o tratava com certa distância, como
o pai de Amâncio que era secarrão, sem diálogo, duro em apoiar os métodos
coercitivos e antipedagógicos do prof. Pires. Tanto o pai como o professor
ficaram como verdadeiros espantalhos e deixaram marcas na formação do rapaz,
tornando-o recalcado e hipócrita. Por seu lado, D. Ângela se mostra sempre
muito submissa ao marido, à moda antiga, e muito sentimental no relacionamento
com seu filho. Então, os extremos, materno e paterno, se juntam para deformar
para sempre a educação de Amâncio.
Outro
fator decisivo na corrupção final do estudante é o dinheiro fácil com que ele
se engolfa em farras e boêmia e se afasta dos livros. É com razão que Lúcia
Miguel Pereira sintetiza toda a dinâmica do romance em duas palavras
fundamentais:
"Na Casa de Pensão, tudo gira em torno da cupidez da
carne ou do dinheiro, inoculada em todas as personagens
pela herança mórbida ou pela sociedade". (Prosa de Ficção –
Liv. José Olympio Edit. – Rio de Janeiro – 1957 – 2ª ed. – pág. 152).
Ainda
como exemplo desse vento social que sopra por todo o romance e pelos outros
melhores do autor, note-se o estudo que faz dosmovimentos de massa, as
flutuações da opinião pública, a posição a favor de Amâncio e, para o fim, uma
clara insinuação de que já começa a tomar partido a favor de Coqueiro e sua
irmã. O autor não aprofunda esse seu estudo de psicologia de massa,
mas apresenta, apesar de superficial, um quadro interessante e válido.
Se o
romance continuasse..., o leitor pode deduzir, com bastante garantia, a massa
popular estaria pressionando o júri para a absolvição de João
Coqueiro, por legítima defesa da honra da irmã.
Linguagem
Não se
pode dizer que a lingua(gem) do romance é regionalista; pelo
contrário, o padrão da língua usada é geral e o torneio frasal, a estrutura
morfo-sintática é completamente fiel aos padrões da velha gramática portuguesa.
Como
Machado de Assis, Aluísio Azevedo também usa alguns recursos desconhecidos da língua
portuguesa do Brasil, principalmente na língua oral. Assim, por exemplo, o caso
da apossínclise. É uma posição especial do pronome oblíquo que não
escutamos no Brasil, mas é comum até na língua popular de Portugal. São
exemplos de apossínclise: "Há anos que me não encontro
com o amigo." (Há anos que não me...) "Seme não
engano, você está certo." Creio que este lusitanismo reflete o tempo: era
moda brasileira imitar a sintaxe portuguesa. Tenho exemplos de Alencar, Joaquim
Manuel de Macedo, Martins Pena, Machado de Assis... Em Casa de Pensão essa
posição pronominal é um hábito comum. Pode-se definir o fenômeno de colocação
como o faz Caldas Aulete:
"Apossínclise:
intercalação de alguma ou algumas palavras entre o verbo e o pronome
complemento átono, como, por exemplo: "o que lhe eu contei, em vez
de: o que eu lhe contei..." (Edit. Delta S.A. – Rio – 1964 –
5ª ed. in verbete).
O hoje
esquecido gramático português, antigamente muito em voga, Cândido de
Figueiredo, publicou uma obra em três volumes com este título: "O que
se não deve dizer".
Como
são muitos os exemplos colhidos no romance, exemplifiquemos apenas:
"Que se não deixasse levar pelos pândegos..." (55)
"... o que lhe não desejo" (56)
"Amâncio já se não lembrava" (62)
"... porque ela se não desprendesse logo" (73)
"São dessas coisas que se não explicam" (103)
"... hás de ver que te não faltará nada" (104)
"Amâncio já os não distinguia" (119)
"... já se não preocupa" (127)
"... já se não podia conter" (143)
"... de tal modo que se não pode levantar da cama" (169)
"... que se não deixasse visgar..." (205)
"Que ela já o não deixava sair" (234)
"Se
me não engano" (334)
O
tratamento usado pelo autor também é diferente do comum no Brasil (exceto Rio
Grande do Sul, por exemplo): tu em vez de você. Os
personagens, quando se ratam por iguais, empregam sempre a Segunda pessoa do
singular.
"Bem, de acordo, respondeu Coqueiro, mas é preciso deixar esse tratamento
de senhor. Entre rapazes não deve haver cerimônias mal entendidas;
somos colegas, temos de ser amigos, por conseguinte tratemo-nos desde já
por tu" (56).
"Mesmo escrevendo o diálogo quase sempre em norma culta,
Aluísio soube fixar algumas características dos níveis mais
baixos..." (Dino Preti – Siciolinguística – Cia Edit.
Nacional – S. Paulo – 1974 – pág. 137). Conforme a situação e o status do
personagem, a linguagem desce a níveis inferiores.
O
vocabulário do autor, às vezes, soa esquisito aos nossos ouvidos. Maria de
Lourdes Teixeira cita alguns exemplos:
À página
56 encontramos esta frase: "... continuava a parolar com embófia".
Ora, o substantivo embófia ou sua variante, empófia,
de origem asiática e muito encontrável em frei João dos Santos, em sua
obra Etiópia Oriental, não me parece usado no Brasil. Da mesma
forma, o verbo aiar (gemer), particularmente caro a
Castilho, e que jamais vi em nossos autores, lá está na página 63:
"Amâncio, muito prostrado, mole, a virar-se de uma para outra banda,
aia-va sempre". Na página 65 aparece o adjetivo retardia (empregado
com freqüência por Filinto Elíseo), em lugar de retardatário, tardo, vagaroso.
Na página 66: "o homem do lixo entrava, e saía, familiarmente, com o seu
gigo às costas".
Gigo,
em vez de cesto ou cabaz, vocábulo aquele muito
usado por Ramalho Ortigão nas Farpas. Na mesma página se refere a
"uma escova de fato", em lugar de escova de roupa, forma aquela não
brasileira e que dá azo a duplo sentido. E linhas abaixo: "encontrou uma
rapariguita de alguns dezesseis anos", frase cuja construção nada tem de
brasileira, parecendo antes coligida de autor português. Na página 105 o
romancista menciona uma "corbelha de farinha"; isto é, a nossa
familiar e nacionalíssima farinheira. Lembre-se a propósito que tal
expressão, corbelha, de boa linhagem vernácula mas admitida em uso
no Brasil através do francês, é encontrada em Diniz, no Hissope, e
em Castilho, nas Geórgicas. Na página 121 lá está, por sinal que na
boca de uma francesa – Madame Brizard – certo ditado arcaico português que se
encontra na Eufrosina, de Jorge Ferreira de Vasconcelos: "por
aí não irá o fato às filhoses". No clássico citado: "não vay por ahi
o gato aos filhós." Logo na página seguinteAluísio emprega o
substantivo godilhão, em lugar de nó, grumo,
ou qualquer outro sinônimo de uso corrente no Brasil: "formar-lhe
godilhões na garganta". Na página 192 ressalta em certa frase outro
vocábulo estranho e ouvidos nacionais: "A sua primeira idéia foi chamar o
Pereira e mostrar-lhe a mulher no latíbulo do amante". O substantivo latíbulo,
que me lembre nunca encontrado em outro autor brasileiro (e que significa
"antro de pecado, esconderijo da perdição), é muito
usado por Bernardes da Nova Floresta e por outros clássicos
portugueses.
(Esfinges de Papel – Edart – S. Paulo – 1966 – pág. 138).
"A
obra de Aluísio Azevedo, portanto, revela-se útil, sobretudo como documento da
língua e da cultura de nossa sociedade, nas décadas de 80 e 90, ainda muito
impregnadas da influência portuguesa. Além disso a rudeza dos temas que abordou
nos permite o conhecimento de uma linguagem afetiva popular, que em muito
contribui para a retratação dos níveis de fala de suas personagens". (Dino
Preti – ib. pág. 140).
Técnicas
Narrativas
O
problema da criação de um personagem romanesco vira mistério até para o próprio
autor. Criado o personagem, ninguém sabe, nem o seu criador, até onde trabalhou
a sua imaginação e onde começa a simples observação da realidade circunstante.
O personagem se pode identificar com esta ou aquela pessoa real? Ou nasceu
totalmente da imaginação onipotente do romancista? Nem um extremo nem outro
pode corresponder à realidade da criação literária
"O
ficcionista pode usar uma pessoa que conheceu como ponto de partida para a
composição duma personagem, mas tendo o cuidado de evitar a fotografia servil.
É justamente durante esse processo de despistamento ou então
no minuto em que o autor resolve criar uma personagem sua, sua mesmo, que
o computador insidiosamente começa a mandar-lhe mensagens, e o
autor corre o risco de usar esses elementos com orgulho demiúrgico, convencido
de que está mesmo criando do nada..." (Érico Veríssimo – Aguilar – vol.
III – pág. 83). Note-se que o computador a que se refere Érico
Veríssimo é o fantástico inconsciente...
Em Casa
de Pensão, o autor escolheu o seu ponto-de-vista narrativo: a terceira
pessoa do singular, um narrador onisciente e onipotente, fora do elenco dos
personagens. Como um observador atento e minucioso dentro das próprias fórmulas
apertadas do naturalismo. No caso deste romance, Aluísio Azevedo trabalhou
muito servilmente sobre os fatos absolutamente reais. (Ver Estilo de
época). Temos portanto um romance à clef, romance de chave,
porque os personagens, sob nomes fictícios, escondem pessoas reais. Assim
podemos identificar os figurantes principais.
Amâncio
da Silva Bastos e Vasconcelos = João Capistrano da Silva,
estudante, acusado de sedução. Foi absolvido.
Amélia
ou Amelita = Júlia Pereira, a moça seduzida, pivô da tragédia.
Mme.
Brizard = é uma viúva, dona da casa de pensão: D. Júlia Clara Pereira, mãe
da moça e do rapaz, assassino.
João
Coqueiro = Janjão = Antônio Alexandre Pereira, irmão da moça Júlia Pereira
e assassino de João Capistrano. Foi também absolvido.
Dr.
Teles de Moura = Dr. Jansen de Castro Júnior, advogado da família da moça.
João
Capistrano foi acusado como incurso nas penas do art. 222, do Código Criminal
do Império: "Ter cópula carnal por meio violento ou ameaças, com qualquer
mulher honesta. Penas: de prisão por três ou doze anos, e de dotar a
ofendida."
O autor
toma visível posição a favor de Amâncio e contra Amélia, João Coqueiro e Mme.
Brizard: (Raimundo de Menezes – Aluísio Azevedo – Uma vida de romance –
Liv. Martins Edit. – S. Paulo – 1958 – pág. 151). O mesmo autor me informa que
o romance já estava, em semente, em Casa de Cômodos (pág.
342).
A
narrativa não obedece a uma ordem cronológica: o cap. I coloca o leitor diante
de Amâncio e Campos, já no Rio de Janeiro. Depois é que o autor volta ao
Maranhão para contar alguma coisa, o que é fundamental dentro das fórmulas
naturalistas, da vida e da educação do personagem. Recorda a escola e a
família, o leite que mamou da ama negra, leite contaminado, a dura opressão do
professor e do pai... tudo para condicionar fatalisticamente o
personagem e fazê-lo chegar, sem liberdade, aonde tinha que chegar. São os
truques repetidos pela escola naturalista. (Veja-se, por exemplo, o mesmo determinismo em O
Missionário de Inglês de Sousa). Essa volta é uma técnica comum que
hoje se chama flash back, palavra tomada de empréstimo ao cinema.
Depois,
a narrativa caminha, de modo geral linearmente e os episódios se passam só no
Rio de Janeiro. Amâncio não faz viagens, planeja apenas a volta à Província:
viagem que não chega a realizar pelos incidentes que o leitor conhece. Um
pequeno paralelo que se fizesse entre o autor e Machado de Assis (lembrem-se de
que Memórias Póstumas de Brás Cubas é da mesma data que O
Mulato (1881) mostraria que Aluísio, diferente do romancista carioca,
não faz descidas em profundidade na alma dos personagens. Eles se forma
superficialmente sem pesquisas psicológicas, uma das características do autor
de D. Casmurro. Sem desvalorizar o maranhense, pode-se afirmar que
Machado de Assis realizou uma obra muito mais orgânica, até mesmo por vocação,
por maior talento. Aluísio escreveu sob pressão ou opressão, enquanto tinha
necessidade de sobreviver e até contrariado porque, segundo sua própria
confissão, tina a vocação da pintura, do desenho, da caricatura, não da
literatura. Acabada a necessidade premente de sobreviver, parou de escrever,
definitivamente, engolfando-se na diplomacia.
Como
narrador fora da estória, como já foi observado em outro lugar, o autor costuma
fazer algumas observações marginais, inclusive como intenções críticas, sobre
educação, sobre os personagens, sobre os fatos.
Pareceu-me feliz o corte final na narrativa para fechar o romance: não fez
nenhum comentário a mais, o que seria excrescente. Já noCortiço, Aluísio
Azevedo ainda acrescenta à tragédia final de Bertoleza um pequeno e inútil
comentário. Terminando como terminou deixa ao leitor o trabalho de perguntar o
que irá acontecer ainda, como ficarão as coisas, sobretudo a situação de João
Coqueiro. Será ou não absolvido? Se os fatos reais nos dão uma resposta (o
assassino foi absolvido), o romance deixa em aberto. A mãe de Amâncio também
desaparece com o final do romance numa atitude indecifrável: quais foram as
suas reações diante do retrato do filho morto? Indecifrável no texto da
narrativa e mito fácil para o sentimento e a imaginação de qualquer leitor.
Como um
naturalista jura fidelidade à vida e à realidade, segundo as suas concepções de
vida e de realidade, o final está de acordo: não há uma vitória do(s) herói(s),
não há um fecho feliz. Quem é que diz que a vida obedece aos nossos desejos
planos?
Crítica
1)
"O autor começa entrando logo em cheio na ação do seu romance e, uma vez
penetrando no círculo em que vivem os seus personagens, não se afasta mais
deles, como que saturado de todos os elementos constitutivos do ambiente físico
e moral da famosa casa de pensão, assunto do seu livro. Como trabalho de
observação, o romance tem tudo quanto é lícito desejar em uma composição desta
ordem. Fundando-se em um fato verdadeiro, que a cidade do rio de Janeiro
presenciou há anos, compreende-se que a lógica dos caracteres mais dramáticos
dessa história não podia falhar. Tendo, além disto, o romancista vivido em
estabelecimentos da natureza do que descreve, estava perfeitamente habilitado a
dar toda a unidade possível à vida do grupo humano que se encarregou de
estudar................................"
"A
Casa de Pensão é um microcosmo: todos os elementos que o constituem,
por um processo felicíssimo de cerebração inconsciente, atraem-se, repelem-se,
aglutinam-se e dão, por último, uma sensação que pode muito bem ser comparada à
reminiscência, em dias febricitantes e de hiperestesia mnemônica, de sucessos
presenciados em alguma parte." (Obra Crítica de Araripe Jr. –
M.E.C – Casa de Rui Barbosa – Rio – 1960 – vol. II – pág. 84 e 85).
2)
"Ele trouxe à nossa ficção mais justo sentimento da realidade, arte mais
perfeita de sua figuração, maior interesse humano, inteligência mais clara dos
fenômenos sociais e da alma individual, expressão mais apurada, em suma, uma
representação menos defeituosa da nossa vida, que pretendia definir. Dos que
aqui por vocação ou mero instinto de imitação demasiado comum das nossas
letras, seguiram o naturalismo e se nele ensaiaram, o que mais cabalmente
realizou este feito da nossa doutrina literária foi Aluísio Azevedo, com uma
obra de mérito e influência consideráveis..." (História da Literatura
Brasileira – José Veríssimo – Liv. Francisco Alves – Rio – 1916 – pág.
336).
3)
"Na Casa de Pensão, tudo gira em torno da cupidez da
carne ou do dinheiro, inoculada em todas as personagens pela herança mórbida ou
pela sociedade. Entretanto, e nisso reside a prova do talento de romancista de
Aluísio Azevedo, tomados em conjunto, esses bonecos de engonço adquirem
inesperada vitalidade. Se a vida interior é quase nula, a vida de relação é
ativa e real. Desde que se trate de contatos superficiais, a narrativa se movimenta,
ganha força e nervo... Da soma das criaturas e duas dimensões surge uma
entidade nova – a casa de pensão, com os seus moradores de uma psicologia
especial, pobres criaturas desenraizadas pela enxurrada da vida, provenientes
dos meios os mais diversos, que adquirem uma espécie de alma comum, feita pela
solidariedade negativa que as une." (Prosa de Ficção – Lúcia
Miguel Pereira – Liv. José Olympio Edit. – Rio – 1957 – 2ª ed. pág. 152 – 153).
4)"
Em Casa de Pensão, realmente, há qualidades marcantes de
ficcionista, e o ambiente, o das habitações coletivas, conhecido do autor, e a
marca que deixa nas criaturas, também por ele experimentada, ficam
excelentemente representadas.".....
"Aluísio Azevedo é um exemplo, no naturalismo brasileiro, do escritor que
trabalha constrangido pela fórmula e que vacila entre o desgregamento
romântico, a que se submete demasiado facilmente, embora lamentando o fato, e o
espartilho naturalista, que o deixa peado, a que obedece a contragosto." (História
da Literatura Brasileira – Nelson Werneck Sodré – Liv. José Olympio
Edit. – Rio – 1960 – 3ª ed. – pág. 360 – 361).
5)
"Em Casa de Pensão – cronologicamente, o
primeiro grande romance de Aluísio, depois de O Mulato, o
romancista marca a transição de dois ambientes: o do Maranhão, de que provinha,
e o do Rio de Janeiro, a que se adaptara. Este livro, pelo aglomerado humano
que esboça, é uma espécie de preparação para a experiência mais profunda e mais
ampla de O Cortiço. Nele encontramos o Aluísio aprimorado, senhor
da técnica da narração, mestre da fixação de tipos e caracteres, a conduzir o
drama ou aventura de seus personagens com o rigor da justa medida. Não há
excessos em suas páginas. O próprio desfecho que poderia parecer arbitrário, é
uma transposição do caso real para o romance." (Aluísio Azevedo – Josué Motello – Agir – 1963 – pág. 11 –
12).
6)
"Em Casa de Pensão, de 1884, que firmam melhor as
qualidades do escritor. Nesse romance mostra-se ele mais senhor do ofício. A
apresentação dos personagens, a descrição das cenas, a evolução do enredo, são
realizados com maior senso de objetividade e equilíbrio. Reveste-se de toda a
sobriedade o momento em que Amâncio se apresenta a Campos, interrompendo-lhe a
correspondência para o norte. Nem são destituídos de vida episódios de boêmia
carioca. Muitos personagens exsudam vida, como aquele Campos ou a esposa,
Hortênsia. Não se isenta, entretanto, de lacunas. Há criaturas, como João
Coqueiro ou Amelinha, em cujos perfis o autor se gasta em tintas naturalistas e
que acabam por se afogar no convencionalismo. Há outros, como Amâncio, de que
temos a impressão de que vivem de real vida para logo em seguida sentirmos
baldos de realidade." (A Literatura Brasileira – O Realismo –
João Pacheco – Edit. Cultrix – S. Paulo – 1963 – pág. 135).
7)
"Não resta dúvida que a obra de Aluísio Azevedo resiste
ao tempo e ao desgaste das escolas, por revelar força criadora incomum em nossa
ficção e por se conjugarem nela a observação da realidade brasileira com seus
problemas sociais, a experiência humana e o conhecimento artesanal. E todos
esses atributos impulsionados por intensa vibração participante, bem típica não
só do temperamento do autor como de sua filiação naturalista.
Respeitadas as características de cada um e as conseqüentes diferenciações,
pode-se dizer que as obras de Aluísio Azevedo, José de Alencar e
Machado de Assis constituem as colunas de resistência do romance brasileiro do
passado. E nessa trindade de valores o lugar ocupado pelo maranhense tem, além disso,
especial significação historiográfica, sendo ele como é o tal como o concebeu
Zola, com os seus postulados: a crítica da sociedade, "a ciência dos
temperamentos", a anatomia dos caracteres, a patologia das paixões, a
determinação exata das circunstâncias, as finalidades éticas e, de acordo com o
pensamento de Eça de Queirós, os ideais de justiça e verdade."
(Maria
de Lourdes Teixeira – ibidem – pág. 139).
EXERCICIOS SOBRE CASA DE PENSÃO
1. (Carlos-2009)“Defronte dele, com uma gravidade oficial,
empilhavam-se grandes livros de escrituração mercantil. Ao lado, uma prensa de
copiar, um copo d água, sujo de pó, e um pincel chato; mais adiante, sobre um
mocho de madeira preta, muito alto, via-se o Diário deitado de costas e aberto
de par em par.
Tratava-se de fazer a correspondência para o Norte. Mal, porém, dava
começo a uma nova carta, lançando cuidadosamente no papel a sua bonita letra,
desenhada e grande,[...] (p.01) ” Nesse trecho do livro Casa de Pensão, pode-se afirmar que:
a)
existe
um desprezo pela técnica descritiva.
b)
predomina
a descrição sobre a narração no trecho “Tratava-se
de fazer a correspondência para o Norte.”
c)
é
clara na passagem “Ao lado, uma prensa de
copiar, um copo d’ água, sujo de pó, e um pincel chato” a presença da zoomorfização.
d)
o
fragmento é revestido pela técnica narrativa-descritiva, característica
marcantenos textos Realistas/Naturalistas.
e)
predomina
a narração sobre a descrição no trecho “Ao
lado, uma prensa de copiar, um copo d água, sujo de pó, e um pincel chato”.
2. (Carlos-2009) “Era de vinte anos, tipo do Norte, franzino,
amornado, pescoço estreito, cabelos crespos e olhos vivos e penetrantes, se bem
que alterados por um leve estrabismo.”(p. 01-02) No livro Casa de Pensão, essa é a primeira
descrição que se tem sobre:
a)
o
antagonista João Coqueiro.
b)
o
protagonista Sr. Campos.
c)
o
antagonista Amâncio Vasconcelos.
d)
o
protagonista João Coqueiro.
e)
o
protagonista Amâncio Vasconcelos.
3. (Carlos-2009) “- Foi há seis anos, observou o moço,
limpando o suor que lhe corria abundantemente pelo rosto.” (p. 02). A
oração sublinhada:
a) faz parte da fala da
personagem.
b) trata-se de uma
oração intercalada, referindo-se a onisciência do narrador.
c) trata-se de uma
oração reduzida, referindo-se a onisciência do narrador.
d) trata-se da fala do
narrador provando a sua participação como personagem.
e) classifica-se como um
aposto numerativo.
4. (Carlos-2009) “A casa de Luís Campos era na Rua Direita. Um
desses casarões do tempo antigo, quadrados e sem gosto, cujo ar severo e
recolhido está a dizer no seu silêncio os rigores do velho comércio
português.” (AZEVEDO, Aluizio. Casa de Pensão. p-03). Na parte sublinhada,
percebe-se uma figura de linguagem predominante:
a) metonímia b) catacrese c) sinestesia d) prosopopéia e) paronomásia
5. (Carlos-2009) Sobre
a “Questão Capistrano”, é falsa a alternativa:
a) O caso principia trivialmente
assim: dona Júlia Clara Pereira é modesta professora de piano, que mora com os
dois filhos Antônio Alexandre Pereira, estudante de engenharia, e Júlia
Pereira, de 20 anos, em pequena casa. A pobre viúva baiana luta com inauditas
dificuldades para prover a pequena família. As aulas de piano é que lhes mantêm
as despesas da casa e dos estudos. A habitação apresenta-se em péssimo estado e
resolvem alugar outra, no ano seguinte, bem maior e mais cômoda, e que, além do
pavimento térreo, tem o sótão em forma de chalé.
b) É o emocionante caso de polícia, logo conhecido e popularizado
sob a epígrafe, envolve dois jovens e estudantes da Escola Politécnica, antes
da tragédia, grande e inseparáveis amigos: João Capistrano da Cunha e Antônio
Alexandre Pereira.
c) O tão debatido "Affaire
Capistrano", que o povo e os jornais da época consagram, divide o público
e nascem então acesas polêmicas. O carioca da época não fala noutra coisa, não
discute outro assunto, não se preocupa senão com os dois processos criminais
apesar de rotineiros, em que se misturam a honra de uma moça e o homicídio do
seu sedutor.
d) Foi o
namoro entre o estudante Capistrano e a jovem Júlia. Uma noite, no ano de
1876, acontece o imprevisto: o rapaz não
se contém e demanda o quarto da moça, violentado-a brutalmente.
e) Caso ocorrido no Rio de Janeiro e recriado por Aluizio Azevedo
como forma de alongar o enredo do livro. O fato real é trágico, porém o autor
de Casa de Pensão, transforma-o num
fato irônico, o que distancia o real do fictício.
6. (Carlos-2009) Associe
as personagens de Casa de Pensão com
as personagens do caso Capistrano, acontecimento base para a criação do livro.
(1) Amâncio da Silva Bastos e Vasconcelos
(2) Amélia (Amelita)
(3) Mme. Brizard
(2) Amélia (Amelita)
(3) Mme. Brizard
(4) João Coqueiro (Janjão)
(5) Dr. Teles de Moura
(5) Dr. Teles de Moura
( )
Dr. Jansen de Castro Júnior: advogado da família da moça.
( )
João Capistrano da Silva: estudante, acusado de sedução. Foi absolvido.
( ) D.
Júlia Clara Pereira: mãe da moça e do rapaz, assassino. É uma viúva, dona da
casa de pensão.
( )
Antônio Alexandre Pereira: irmão da moça Júlia Pereira e assassino de João
Capistrano. Foi também absolvido.
(
) Júlia Pereira: a moça
seduzida, pivô da tragédia.
7. (Carlos-2009) “Acho apenas que devia estender
a sua teoria até o estudo de certas ciências... como a Medicina... Sim! (...)”. A partir desse trecho do livro Casa de Pensão, revela-nos que o autor
observa:
a) que naquele momento, ou seja, no século XIX, estava marcado pelo
apogeu da ciência. Todas as ciências ganharam importância social. Só era levado
em consideração aquilo que pudesse ser provado pelas teorias e hipóteses
observáveis pela ciência.
b) que naquele momento, ou seja, no século XVIII, estava marcado pelo
apogeu da ciência. Todas as ciências ganharam importância social. Só era levado
em consideração aquilo que pudesse ser teorizado pelas filosofias ou hipóteses
observáveis pela ciência.
c) a importância do aprofundamento intelectual por parte de cada
indivíduo como forma de ascensão social e base para capitalismo. Isso é
retratado no livro pelo interesse de João Coqueiro pela medicina.
d) a importância do aprofundamento intelectual por parte de cada
indivíduo, característico do Naturalismo, como forma de ascensão social e base
para capitalismo. Isso é retratado no livro pelo interesse de Amâncio
Vasconcelos pela medicina e sua busca pela faculdade no Rio de Janeiro para a
sua formação tão desejada.
e) a critica feita à Ciência, uma vez que o que vigorava na época era o
estudo da Filosofia. Assim, o campo científico não tinha valor. Todas as
correntes científico-filosóficas surgidas no século XIX, principalmente o
Determinismo, são criticadas no livro Casa
de Pensão.
8. (Carlos-2009) “Apesar de inteligente e de
brasileiro, Campos nunca logrou espantar de sua casa o ar triste que a
ensombrecia. À mesa, quando raramente se palestrava, era sempre com muita
reserva; não havia risadas expansivas, nem livres exclamações de alegria. Os
hóspedes, pobre gente de província, faziam uma cerimônia espessa; o
guarda-livros poucas vezes arriscava a sua anedota e, só se determinava a isso,
tendo de antemão escolhido um assunto discreto e conveniente”. (p.03).
No trecho: “Apesar de inteligente
e de brasileiro...”, pode-se examinar:
I. que era um defeito Campos ser
brasileiro.
II. que ser brasileiro e inteligente
são coisas incompatíveis.
III. refere-se, apenas, a
nacionalidade de Campos.
IV.
busca, pelo
meio da ironia, caracterizar Luís de Campos.
V. faz uma crítica a sociedade da
época, sendo esta, formada por homens reservados, como é o caso de Campos.
Qual(is) está(ão) correta(s):
a)
I e IV b)
II, III e V c) III e IV d) IV e) I, II, IV e V
Leia o texto que segue refere-se as questões de 9 a 14.
Aos
sete anos entrou para a escola. Que horror !
O mestre, um tal Antônio Pires, homem grosseiro, bruto, de cabelo duro e
olhos de touro, batia nas crianças por gosto, por um hábito do ofício. Na aula
só falava a berrar, como se dirigisse uma boiada. Tinha as mãos grossas, a voz
áspera, a catadura selvagem ; e quando metia para dentro um pouco mais de
vinho, ficava pior. Amâncio, já na Corte, só de pensar no bruto, ainda sentia
os calafrios dos outros tempos, e com eles vagos desejos de vingança. Um malquerer
doentio invadia-lhe o coração, sempre que se lembrava do mestre e do pai.
Envolvia-os no mesmo ressentimento, no mesmo ódio surdo e inconfessável. Todos
os pequenos da aula tinham birra do Pires.
Nele enxergava o carrasco, o tirano, o inimigo e não o mestre ; mas,
visto que qualquer manifestação de antipatia redundava fatalmente em castigo,
as pobres crianças fingiam-se satisfeitas ;riam muito quando o beberrão dizia
alguma chalaça e afinal, coitadas ! iam-se habitualmente ao servilismo e à mentira.
Os pais ignorantes, viciados pelos costumes bárbaros do Brasil,
atrofiados pelo hábito de lidar com escravos, entendiam que aquele animal era o
único professor capaz de “endireitar os filhos”. Elogiavam-lhe a rispidez,
recomendavam-lhe sempre que “não passasse a mão” pela cabeça dos rapazes e que,
quando fosse preciso, “dobrasse por conta dele a dose de bolos”.
Ângela, porém, não era dessa opinião :não podia admitir que seu querido
filho, aquela criaturinha fraca, delicada, um mimo de inocência e de graça, um
anjinho, que ela afagara com tanta ternura e com tanto amor, que ela podia
dizer criada com os seus beijos - fosse lá apanhar palmatoadas de um brutalhão
daquela ordem “Ora ! isso não tinha jeito ! ”
Mas o Vasconcelos saltava-lhe logo em cima : “Que deixasse lá o pequeno
com o mestre!... Mais tarde ele havia de agradecer aquelas palmatoadas!” Assim
não sucedeu. Amâncio alimentou sempre contra o Pires o mesmo ódio e a mesma
repugnância. Verdade é que também fora sempre tido e havido pelo pior dos meninos
da aula, pelo mais atrevido e insubordinado. Adquiriu tal fama com o seguinte
fato :
Havia na escola um rapazito, implicante e levado dos diabos, que se
assentava ao lado dele e com quem vivia sempre de turra. Um dia pegaram-se mais
seriamente .Amâncio teria então oito anos. Estava a coisa ainda em palavras,
quando entrou o professor, e os dois contendores tomaram à pressa os seus
competentes lugares.
Fez-se respeito. Todos os meninos começaram a estudar em voz alta, com
afetação. Mas, de repente, ouviu-se o estalo de uma bofetada. Houve rumor. O
Pires levantou-se, tocou uma campainha, que usava para esses casos, e sindicou
do fato.
Amâncio foi o único acusado.
- Sr. Vasconcelos !- gritou o mestre - porque espancou o senhor aquele
menino ?
Amâncio respondera humildemente que o menino insultara sua mãe .
- É mentira ! protestou o novo acusado.
Amâncio repetiu o insulto que recebera. Toda a escola rebentou em
gargalhadas.
- Cale-se, atrevido !berrou o professor encolerizado, a tocar a
campainha.- Mariola! Dizer tal coisa em pleno recinto de aula!
E, puxando a pura força o delinqüente para junto de si, ferrou-lhe meias
dúzia de palmatoadas. Amâncio, logo que se viu livre, fez um gesto de raiva.
- Ah ! ele é isso?! Exclamou o professor. - Tens gênio, tratante ?! Ora
espera ! isso tira-se !
E voltando-se para o rapazito que levou a bofetada, entregou-lhe a
férula e disse-lhe que aplicasse outras tantas palmatoadas em Amâncio. Este
declarou fortemente que se não submetia ao castigo. O professor quis submetê-lo
à força; Amâncio não abriu as mãos. Os dedos pareciam colados contra a palma.
O professor, então, desesperado com semelhante contrariedade, muito
nervoso, deixou escapar a mesma frase que pouco antes provocara tudo aquilo.
Amâncio recuou dois passos e soltou uma nova bofetada, mas agora na cara do
próprio mestre. Em seguida deitou a fugir, correndo. Um “ Oh “formidável encheu
a sala . O Pires, rubro de cólera, ordenou que prendessem o atrevido. A aula
ergueu-se em peso, com grande desordem.
Caíram bancos e derramaram-se tinteiros. Todos os meninos abraçaram sem
hesitar a causa do mestre, e Amâncio foi agarrado no corredor quando ia
alcançar a rua. Mas, quatro pontapés puseram em fugida os dois primeiros
rapazes que lhe lançaram os dedos. Dois outros acudiram logo e o seguraram de
novo, depois vieram mais três, mais oito, vinte, até que todos os quarenta ou
cinqüenta estudantes o levaram à presença do Pires, alegres, vitoriosos,
risonhos, como se houvessem alcançado uma glória.
Amâncio sofreu novo castigo; serviu de escárnio aos seus condiscípulos
e, quando chegou à casa, o pai, informado do que sucedera na escola, deu-lhe
ainda uma boa sova e obrigou-o a pedir perdão, de joelhos, ao professor e ao
menino da bofetada
Desde esse instante, todo o sentimento de justiça e de honra que Amâncio
possuía, transformou-se em ódio sistemático pelos seus semelhantes. Ficou
fazendo um triste juízo dos homens.
Pois se até seu próprio pai,
diretamente ofendido na questão, abraçara a causa do mais forte!....
(AZEVEDO, Aluísio. Casa de Pensão. P. 8-10)
9. (Carlos-2009)
No trecho “O mestre, um tal Antônio Pires, homem grosseiro,
bruto, de cabelo duro e olhos de touro, batia nas crianças por gosto, por um
hábito do ofício. Na aula só falava a berrar, como se dirigisse uma boiada.
Tinha as mãos grossas, a voz áspera, a catadura selvagem ; e quando metia para
dentro um pouco mais de vinho, ficava pior.”, revela-nos
uma característica fundamental dos textos naturalistas:
a)
A introspecção psicológica na descrição da
personagem.
b)
A comparação entre personagens com animais, a
antropozoomorfização.
c)
A descrição das personagens sem mostrar seus
defeitos físicos.
d)
As qualidades dadas às personagens nunca são ruins.
e)
Retoma os ideais românticos quanto à descrição.
10. (Carlos-2009)
Ainda sobre o trecho da questão anterior, percebe-se
a animalização, no seguinte trecho:
a)
O mestre, um tal Antônio Pires, homem grosseiro,
bruto...”;
b)
“e quando metia para dentro um pouco mais de vinho, ficava pior.”
c)
“Tinha as mãos grossas, a voz
áspera...”;
d)
“...batia nas crianças por gosto, por um hábito do ofício.”
e)
“... e olhos de touro... Na aula só falava a berrar, como se dirigisse
uma boiada.”;
11. (Carlos-2009)
“Assim não sucedeu. Amâncio alimentou sempre contra o Pires o mesmo ódio
e a mesma repugnância”. O trecho que não explica a
antipatia de Amâncio contra Pires é:
a) “Nele enxergavam o carrasco, o
tirano, o inimigo e não o mestre ;”
b)
“E, puxando a pura força o delinqüente para junto de si, ferrou-lhe
meias dúzia de palmatoadas. Amâncio, logo que se viu livre, fez um gesto de
raiva.”
c)
“Amâncio foi o único acusado.”
d) “E voltando-se para o rapazito
que levou a bofetada, entregou-lhe a férula e disse-lhe que aplicasse outras
tantas palmatoadas em Amâncio.”
e)
“Amâncio respondera humildemente que o menino insultara sua mãe .”
12. (Carlos-2009) “Desde esse instante, todo o
sentimento de justiça e de honra que Amâncio possuía, transformou-se em ódio
sistemático pelos seus semelhantes. Ficou fazendo um triste juízo dos homens.
- Pois se até seu próprio pai,
diretamente ofendido na questão, abraçara a causa do mais forte!...”
A partir do trecho acima, julgue em verdadeiro (V) ou falso (F) as
proposições a seguir:
I.
A reflexão feita, surge após as palmatoadas que
Amâncio recebe do professor Pires.
II.
Amâncio decepciona-se com sua mãe, pois ela o
castiga após ter desrespeitado o
Professor Pires.
III.
O menino
despreza a figura paterna, a partir do momento em que ele “abraçara a causa do mais
forte!...”
IV.
O
fato modifica profundamente o seu caráter e visão de mundo, marcando na obra
uma das teses naturalistas: o homem é um produto do meio.
V.
Para Amâncio, a figura paterna não perdeu o seu
valor; aumentou, quando este apoiou o professor Pires, pois o menino sabia que
tudo aquilo era para a formação de seu caráter.
A sequencia correta é:
a)
F / F / V / F / V
b)
V / F / V / F / V
c)
V / F / V / V / F
d)
F / V / F / F / F
e)
F / F / V / V / F
13. (Carlos-2009)
A figura de linguagem predominante no trecho
destacado: “... recomendavam-lhe sempre
que “ ‘não passasse a mão’ pela cabeça dos rapazes...” é:
a)
Metonímia b) Catacrese c)
Sinestesia d) Metáfora
e) Paradoxo
14. (Carlos-2009)
A figura de linguagem predominante no trecho: “Os pais ignorantes, viciados pelos
costumes bárbaros do Brasil, atrofiados pelo hábito de lidar com escravos,
entendiam que aquele animal era o único professor capaz de “endireitar os
filhos”.
a)
sinédoque b)
ironia c) eufemismo d) prosopopéia e) alegoria
15. (Carlos-2009) “O quarto respirava todo um ar triste de desmazelo e boêmia. Fazia má
impressão estar ali: o vômito de Amâncio secava-se no chão, azedando a
ambiente; a louça, que servira ao último jantar, ainda coberta de gordura
coalhada, aparecia dentro de uma lata abominável, cheia de contusões e comida
de ferrugem”. A característica naturalista predominante nesse trecho é:
a) Predileção por temas escabrosos;
b) Denúncia da sociedade burguesa;
c) Linguagem crua, chocante, sensorial e direta;
d) Legitimação do discurso literário pelo científico;
e) Determinismo.
16. (Carlos-2009) “Na Casa de Pensão, tudo gira em torno da cupidez da
carne ou do dinheiro, inoculada em todas as personagens pela herança
mórbida ou pela sociedade". (Prosa de Ficção – Liv. José
Olympio Edit. – Rio de Janeiro – 1957 – 2ª ed. – pág. 152).
A partir da citação acima, pode-se
concluir que:
a) Um dos fatores
decisivos na corrupção final de Amâncio é o dinheiro fácil com que ele se
engolfa em farras e boêmias e se afasta dos livros;
b) Amâncio aparece
sempre condicionado e pré-determinado para o seu final trágico, por causa do
extremo sensualismo É o erótico que Amâncio consegue conquistar até a
mulher de seu protetor, o Campos.
c) O autor aprofunda o
seu estudo na psicologia de massa, e apresenta, com bastantes detalhes um
quadro interessante e válido dos movimentos de massa.
d) Amâncio não se preocupa
em ganhar dinheiro no Rio de Janeiro, mas apenas em estudar e se tornar um bom
profissional.
e) Tudo parte da
filosofia positivista, onde o homem se revela a partir do meio em que vive, do
momento em que se encontra e por sua herança genética.
17. (Carlos-2009)
Sobre a linguagem de Casa de
Pensão:
a) pode-se afirmar que predomina a linguagem regional.
b) não pode-se dizer que a lingua(gem) do romance é regionalista;
pelo contrário, o padrão da língua usada é geral e o torneio frasal, a
estrutura morfo-sintática é completamente fiel aos padrões da velha gramática
portuguesa.
c) não existe imitação no modo de falar do português europeu.
d) a linguagem regionalista está presente em toda a obra, pois, trata-se
da mudança de um personagem da região Nordeste para o Sul do Brasil, o que
interfere na sua comunicação.
e) a linguagem do livro é científica, pois a obra é Naturalista, e com
pouco teor literário.
18. (Carlos-2009)
Não percebe-se a apossínclese em:
a) "Que se não deixasse levar pelos pândegos..." (55)
b) "... o que lhe não desejo" (56)
c) "Amâncio já se não lembrava" (62)
d) "... porque ela se não desprendesse logo" (73)
e) “...o vômito de
Amâncio secava-se no chão” (38)
19. (Carlos-2009)
Em Casa de
Pensão, os personagens, na sua totalidade, são retratados
sob o ângulo patológico: são casos anormais. A alternativa que não condiz
com essa característica é:
a) Amâncio aparece como um
super-excitado sexualmente, condicionando proximamente pelo ambiente da casa de
pensão e remotamente pelo sangue e pela educação;
b) Mme. Brizard e Coqueiro se
apresentam como gananciosos a ponto de fazerem negócio à base da cunhada e
irmã;
c) Nini sofre de
crises agudas de loucura histérica, estrebuchando e caindo diante de Amâncio.
Lúcia e o marido se mostram também tipos esquisitos, ela pelo sexo e ele por
estranho alheamento;
d) Amélia também se mete, de
cambulhada, nessa enxurrada de sujeiras tentando um bom negócio de sexo e
dinheiro... A própria D. Hortênsia, mulher do Campos, manifesta sinais de
insatisfação sexual: apesar das negativas iniciais diante das propostas;
e) Amélia é descrita em determinado momento como
encantadora. Vestida de um fustão branco, sarapintado de pequenas flores
cor-de-rosa. O cabelo, denso e castanho, prendia-se-lhe no toutiço por um laço
de seda azul, formando um grande molho flutuante, que lhe caía elegantemente
sobre as costas.
20. (Carlos-2009)
Sobre o livro Casa de Pensão, veja as proposições:
I. Amâncio só mantém afeições amorosas com Amélia;
II. Existe uma atração sexual partindo da Sra. Hortênsia para Amâncio;
III. Janete, irmã de um dos seus colegas de faculdade, é o grande amor
de Amâncio;
IV. D. Ângela é retratada muitas vezes como uma mulher sensual;
V. Amâncio não desonrou a irmã de Janjão.
VI. Existe uma afeição amorosa entre Lúcia e Amâncio.
Está(ao) correta(s):
a) I, III e VI
b) II, V e VI
c) II e VI
d) V
e) III, IV e V
f) V e VI
21. (UFCG – adaptada) Dê a soma dos
itens corretos:
(01) O
narrador-observador, em 3ª pessoa, intercala fatos já acontecidos com
comentários próprios sobre as ações das personagens; em algumas passagens esses
‘comentários’ se manifestam com linguagem bastante irônica.
(02) O protagonista, Amâncio, acadêmico de
medicina no Rio de Janeiro, evita com veemência dedicar-se à leitura dos textos
científicos, mas lê romances de José de Alencar e deseja produzir poesias
byronianas,
(04) Não há
preocupação em descrever o cotidiano de agrupamentos humanos, porque a
motivação deste enredo se baseia em um fato verídico que abalou o Rio de
Janeiro em 1876, conhecido como a “Questão Capistrano”.
(08) Amâncio esbofeteia um
colega de classe e o professor em defesa de D. Ângela, sendo por isto
severamente castigado. Este fato modifica profundamente o seu caráter e visão
de mundo, marcando na obra uma das teses naturalistas: o homem é um produto do
meio.
(16)
A
carta do velho Vasconcelos, recebida por Amâncio na pensão, desencadeia uma
reação extremamente emotiva no rapaz, até então movido por um profundo desprezo
pela figura paterna.
(32) O senhor Campos prepara-se para
ajudar o seu protegido, mas Coqueiro lhe faz chegar às mãos uma carta
comprometedora que Amâncio escrevera à sua senhora, D. Hortênsia. E se coloca
contra quem não soube respeitar nem a sua casa.
Soma: _________
Soma: _________
22. (Carlos-2009) O trecho:
“E, pela manhã, quando Amâncio , ao seguir para as aulas, lhe foi dar o
beijo favorito, ela muito amuada, voltou o rosto, resmungando “que a deixasse”.
O rapaz prometeu que “ia pensar”
e à noite daria uma resposta”.
(AZEVEDO, Aluisio. Casa de Pensão)
Os termos destacados, nos informa que o discurso é:
a)
Direto, pela fala da personagem ser pronunciada por ela mesma;
b)
Indireto – livre, por aparecer tanto a fala da personagem e sua
reprodução por parte do narrador
c)
Indireto, pelo fato do narrador reproduzir o que a personagem
falou.
d)
Indireto, por apresentar um diálogo entre o narrador e a
personagem.
e)
Direto, por existir uma reprodução da fala da personagem.
6.1.3 – Os Melhores poemas, de Olavo Bilac.
PARNASIANISMO
1 – CONTEXTUALIZAÇÃO
O
Parnasianismo é a manifestação poética do Realismo, embora
ideologicamente não tenha todos os pontos de contato com os romancistas
realistas e naturalistas. É uma estética preocupada com a “arte pela arte”, com
seus poetas à margem das grandes transformações do final do século XIX e início
do século XX.
Sua
denominação é uma alusão às antologias publicadas na França a partir de 1866
com o título Le Parnase Contemporain. O Parnasianismo ocorreu apenas
no Brasil e na França, não tendo sido cultivado em outros países. A origem da
palavra Parnasianismo associa-se ao Parnaso
grego, segundo a
lenda, um monte da Fócida, na Grécia central, consagrado a Apolo (deus do sol
da beleza) e às musas, era freqüentado por poetas em busca de inspiração.
A
escolha do nome já comprova o interesse dos parnasianos pela tradição
clássica. Acreditavam que, assim, estariam combatendo os exageros
de emoção e
fantasia do
Romantismo e,
ao mesmo tempo, garantindo o equilíbrio desejado, por se apoiarem nos modelos
clássicos. A presença dos elementos clássicos na poesia parnasiana não ia além
de algumas referências a personagens da mitologia e de um enorme esforço de equilíbrio
formal. Por se afirmar que não passava de um verniz que revestiu
artificialmente essa arte, como forma de
garantir-lhe
prestígio entre a camadas letradas do público consumidor brasileiro. Apesar de
contemporâneos, o Parnasianismo difere do Realismo e do Naturalismo.
Enquanto
esses movimentos se propunham a analisar e a compreender o homem, o
Parnasianismo se distancia da
realidade e se volta para si
mesmo. Defendendo o princípio da “arte pela arte”, os parnasianos
achavam que o objetivo
maior da arte não é
tratar de problemas humanos e sociais, mas alcançar a “perfeição” em sua
construção: rimas, métrica, imagens, vocabulário seleto, equilíbrio e contenção
emocional. A primeira publicação considerada parnasiana é a obra Fanfarras
(1882), de Teófilo Dias,
contudo, o
papel de implantação
do ideário Parnasianismo coube à tríade formada por
Olavo Bilac, Raimundo Correia
e Alberto
de Oliveira.
2. CARACTERÍSTICAS DO
PARNASIANISMO
a) Preocupação
formal: Revela-se na busca da palavra exata ou preciosismo vocabular. Há
preferência por sonetos e versos decassílabos ou alexandrinos (com versos
de 12 sílabas poéticas); por rimas ricas ou
raras; e por chaves de
ouro – versos que concluem a idéia com um belo efeito. Todo esse rigor
formal evidencia o tecnicismo dos poetas parnasianos.
b) Contenção
lírica: A arte poética deve estar subordinada à razão e a objetividade;
a razão predomina sobre a emoção, pois esta última pode comprometer a eficiência
técnica do poeta, logo, nada de temas intimistas, confessionais. Vale ressaltar
que alguns
poetas parnasianos
deixam-se trair por uma índole romântica.
c) Arte pela arte:
O parnasiano não admite o caráter utilitário e de engajamento da arte. O
único compromisso assumido é com a beleza que, para eles, está na
elaboração formal. Por isso, os poetas se isolam na “torre de marfim”,
alienando-se da realidade de seu próprio tempo.
d) Preferência por
temas descritivos: A poesia toma
como temas paisagens,
vasos, estátuas, templos, cenas históricas. Esse aspecto faz com que haja uma aproximação
entre a poesia e as artes plásticas. São comuns comparações entre o fazer
poético e o de um escultor, ou pintor, por exemplo. Os temas universais
como o amor, a
beleza, as artes, o tempo são
tratados de maneira
impessoal.
e) Revalorização
da cultura clássica: “Na concepção parnasiana, são freqüentes as metáforas
inspiradas em lendas e histórias da Antigüidade Clássica, novamente, a tradição
greco-latina torna-se o ideal de beleza, distinguindo-se os parnasianos dos
românticos.”
f) Metapoesia
(Metalinguagem) Falar da criação poética, da própria poesia artísticas:
g) É importante
ressaltar é comum encontrarmos o predomínio da ordem indireta (hipérbato).
APRECIAÇÃO DOS
TEXTOS.
I - Profissão de Fé –
O Labor Poético.
[...]
Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.
Imito-o. E, pois, nem de Carrara
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.
Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.
Corre; desenha, enfeita a imagem,
A idéia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
Azul-celeste.
Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.
Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito:
E horas sem conta passo, mudo,
O olhar atento,
A trabalhar longe de tudo
O pensamento.
Notas de Vocabulário.
ourives: artesão que fabrica
jóias com metais e pedra preciosas.
Carrara: região da Itália
rica m mármore.
ônix: pedra com variedade
de cores, inclusive a cor preta.
cinzel: instrumento de aço,
com uma das extremidades
cortantes, usado por
escultores.
cingir: rodear, colocar em
torno de.
altear: elevar, tornar
alto.
engastar: encravar em ouro,
prata etc.
rubim: ou rubi, pedra
preciosa vermelha.
lavor: trabalho manual de
caráter artístico e artesanal.
Becerril: nome de um famoso
artesão.
perícia: habilidade.
I - Via Láctea
(soneto XIII) –
Amor e Distanciamento.
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no
entanto,
Que para ouvi-las, muitas vezes
desperto
E abro as janelas, pálido de
espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e
em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem quando estão contigo?”
E eu vos direi: “Amai para
entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender
estrelas”.
II - Nel Mezzo Del
Camin
Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu
vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha...
E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.
Hoje, segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece.
Nem te comove a dor da despedida.
E eu, solitário, volto a face, e
tremo.
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo
III – Satânia –
Sensualidade.
Nua, de pé, solto os cabelos às costas
Sorri. Na alcova perfumada e quente,
Pela janela como um rio enorme
Profusamente a luz do meio-dia
Entra e se espalha palpitante e viva.
Entra, parte-se em feixes rutilantes,
Aviva as cores das tapeçarias,
Doura os espelhos e os cristais
inflama.
Depois, tremendo, como a arfar,
desliza
Pelo chão, desenrola-se, e, mais leve,
Como uma onda vaga preguiçosa e lenta
Vem lhe beijar a pequena ponta
Do pequenino pé macio e branco.
Sobe... cinge-lhe a perna longamente;
Sobe... – e que volta sensual descreve
Para abranger todo o quadril! –
prossegue,
Lambe-lhe o ventre. abraça-lhe a
cintura
Morde-lhe os bicos túmidos dos seios
Corre-lhe a espádua, espia-lhe o
recôncavo
Da axila, acende-lhe o coral da boca,
E antes de se ir perder na escura
noite,
Na densa noite dos cabelos negros,
Pára, confusa, a palpitar diante
Da luz mais bela dos seus grandes
olhos.
E aos mornos beijos, às carícias
ternas
Da luz, cerrando levemente os cílios,
Satânia os lábios úmidos encurva,
E da boca na púrpura sangrenta
Abre um curto sorriso de volúpia...
Notas de Vocabulário
alcova: quarto de dormir;
rutilante: muito brilhante,
resplandecente;
arfar: ansiar, ofegar;
túmido: saliente,
proeminente; espádua: ombro;
recôncavo: cavidade funda;
gruta;
coral: cor
vermelho-amarelada, característica das colônias
de coral;
Satânia: feminino de Satã: o
demônio, o tentador;
volúpia: grande prazer dos
sentidos.
Exercícios
TEXTO 1
Pixinguinha
Tu és divina e
graciosa, / Estátua majestosa do amor / por Deus esculturada /e formada com
ardor / da alma da mais linda flor, / de mais ativo olor, / que na vida é
preferida pelo
beija-flor. / Se Deus
me fora tão clemente
aqui neste ambiente
de luz, / formado numa tela deslumbrante e bela, / teu coração junto ao meu
lanceado / pregado e crucificado sobre a rosa cruz / do arfante peito seu. / Tu
és a forma ideal, / estátua magistral, oh! Alma perenal do meu primeiro amor.
TEXTO 2
SINFONIA
Meu coração, na
incerta adolescência, / outrora, Delirava e sorria aos raios matutinos / Num
prelúdio incolor, como o
allegro da /
aurora,Em sistros e clarins, em pífanos e sinos. / Meu coração, depois pela
estrada sonora / Colhia a cada passo os amores e os hinos, / E ia de beijo em
beijo, em lasciva demora, / Num voluptuoso adágio de harpas e violinos. / Hoje,
meu coração, num scherzo de ânsias, / Arde em flautas e oboés, na inquietação
da tarde, / E entre esperanças foge e entre saudades erra ... (...)
O texto 1 é a letra de uma canção
popular de Pixinguinha, gravada no início do século XX; o texto 2 é um
poema parnasiano de Olavo Bilac, do século XIX. Apesar do tempo
que os separa, o texto 1 aproxima-se do texto 2 pelo registro do
seguinte aspecto:
a) mal-do-século e espiritualismo.
b) nativismo e bucolismo.
c) uso de palavras raras.
d) referências à mitologia.
e) objetividade e racionalismo.
“Torce, aprimora, alteia,
lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima
Como um rubim.
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima
Como um rubim.
Quero a estrofe
cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito”.
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito”.
(Olavo Bilac, “Profissão de Fé”, Poesias)
2. (FUVEST) Nos versos acima, a atividade poética é comparada ao
lavor do ourives, porque, para o autor:
a) a poesia é preciosa como um rubi;
b) poeta é um burilador;
c) na poesia não pode faltar a rima;
d) o poeta não se assemelha a um artesão;
e) o poeta emprega a chave de ouro.
a) a poesia é preciosa como um rubi;
b) poeta é um burilador;
c) na poesia não pode faltar a rima;
d) o poeta não se assemelha a um artesão;
e) o poeta emprega a chave de ouro.
3. (FUVEST) Pode-se inferir do texto acima que, para Olavo Bilac,
o ideal da forma literária é:
a) a libertação
b) a isometria
c) a estrofação
d) a rima
e) a perfeição
a) a libertação
b) a isometria
c) a estrofação
d) a rima
e) a perfeição
4. (FUVEST) Dentre as seguintes passagens, extraídas de
poemas de outros autores, assinale aquela que pode ser considera-da uma
reiteração da proposta contida no fragmento de “Profissão de Fé”.
a) “Este verso, apenas um arabesco / em torno do elemento essencial - inatingível”.
b) “Assim eu quereria o meu último poema / Que fosse terno dizendo as coisas, mais simples e menos intencionais”
c) “Musa (...) dá-me o hemistíquio d’ouro, a imagem atrativa,/ rima (...) / a estrofe limpa e viva”
d) Mundo mundo vasto mundo,/ se eu me chamasse Raimundo / seria uma rima, não seria uma solução”
e) “Catar feijão se limita com escrever: / joga-se os grãos na água do alguidar / e as palavras na folha de papel”
a) “Este verso, apenas um arabesco / em torno do elemento essencial - inatingível”.
b) “Assim eu quereria o meu último poema / Que fosse terno dizendo as coisas, mais simples e menos intencionais”
c) “Musa (...) dá-me o hemistíquio d’ouro, a imagem atrativa,/ rima (...) / a estrofe limpa e viva”
d) Mundo mundo vasto mundo,/ se eu me chamasse Raimundo / seria uma rima, não seria uma solução”
e) “Catar feijão se limita com escrever: / joga-se os grãos na água do alguidar / e as palavras na folha de papel”
5. (FUVEST) Indique, dentre os versos abaixo, aquele que,
sob o ponto de vista da métrica, tem a mesma contagem de sílabas do verso:
Do ourives, saia da oficina:
a) “A natureza apática esmaece”
b) “Minha terra tem palmeiras”
c) “Dobra o sino... soluça um verso de Direceu...”
d) “Não morrrerás, Deusa sublime”
e) “São Paulo! comoção de minha vida...”
Do ourives, saia da oficina:
a) “A natureza apática esmaece”
b) “Minha terra tem palmeiras”
c) “Dobra o sino... soluça um verso de Direceu...”
d) “Não morrrerás, Deusa sublime”
e) “São Paulo! comoção de minha vida...”
6. (UF-ES) O ideal parnasiano do culto da “arte pela arte”
significa que o objeto do poeta é criar obras que expressem:
a) um conteúdo social, de interesse universal.
b) a noção do progresso de sua época.
c) uma mensagem educativa, de natureza moral.
d) uma lição de cunho religioso.
e) o Belo, criado pelo perfeito uso dos recursos estilísticos.
a) um conteúdo social, de interesse universal.
b) a noção do progresso de sua época.
c) uma mensagem educativa, de natureza moral.
d) uma lição de cunho religioso.
e) o Belo, criado pelo perfeito uso dos recursos estilísticos.
7. (CFET-PA) Todas as afirmações abaixo estão corretas, com
exceção de:
a) O Parnasianismo é a manifestação poética do Realismo, mais voltada para o concreto.
b) Os parnasianos assumiram o sentimentalismo quanto à observação da realidade, pregando uma atitude pessoal.
c) Os parnasianos, negando a emoção, cultuam a Razão e revalorizam a Antigüidade Clássica.
d) O Parnasianismo é uma estética preocupada com a arte pela arte, a poesia pela poesia.
e) Os parnasianos fixam-se na observação de regras poéticas e têm, por isso, uma linguagem rebuscada e artificial.
a) O Parnasianismo é a manifestação poética do Realismo, mais voltada para o concreto.
b) Os parnasianos assumiram o sentimentalismo quanto à observação da realidade, pregando uma atitude pessoal.
c) Os parnasianos, negando a emoção, cultuam a Razão e revalorizam a Antigüidade Clássica.
d) O Parnasianismo é uma estética preocupada com a arte pela arte, a poesia pela poesia.
e) Os parnasianos fixam-se na observação de regras poéticas e têm, por isso, uma linguagem rebuscada e artificial.
8. (UF-PA) À subjetividade romântica os parnasianos contrapuserem
a impessoalidade objetiva; Bilac, parnasiano por exce-lência, por vezes foge do
rigorismo objetivista de sua escola como, por exemplo, nos versos em que o eu
do poeta se manifesta claramente. É o que se vê em:
a) Fernão Dias Paes Leme agoniza. Um lamento / Chora largo, a rolar na longa voz do vento.
b) Pára! Uma terra nova ao teu olhar fulgura! / Detém-te! Aqui, de encontro a verdejantes plagas.
c) E eu, solitário, volto a face, e tremo, / Vendo o teu vulto que desaparece.
d) Chega de baile. Descansa! / Move a ebúrnea ventarola.
e) E ei-la, a morte! E ei-lo, o fim! A palidez aumenta; Fernão Dias se esvai, numa síncope lenta.
a) Fernão Dias Paes Leme agoniza. Um lamento / Chora largo, a rolar na longa voz do vento.
b) Pára! Uma terra nova ao teu olhar fulgura! / Detém-te! Aqui, de encontro a verdejantes plagas.
c) E eu, solitário, volto a face, e tremo, / Vendo o teu vulto que desaparece.
d) Chega de baile. Descansa! / Move a ebúrnea ventarola.
e) E ei-la, a morte! E ei-lo, o fim! A palidez aumenta; Fernão Dias se esvai, numa síncope lenta.
9. (UM-SP) Assinale a alternativa que não se aplica à
estética parnasiana.
a) predomínio da forma sobre o conteúdo.
b) tentativa de superar a sentimento romântico.
c) constante presença da temática da morte.
d) correta linguagem, fundamentada nos princípios dos clássicos.
e) predileção pelos gêneros fixos, valorizando o soneto.
a) predomínio da forma sobre o conteúdo.
b) tentativa de superar a sentimento romântico.
c) constante presença da temática da morte.
d) correta linguagem, fundamentada nos princípios dos clássicos.
e) predileção pelos gêneros fixos, valorizando o soneto.
Outros Poemas
A velhice
Olha estas velhas
árvores, mais belas
Do que as árvores moças, mais amigas
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...
O homem, a fera e o inseto, à sombra dela
Vivem, livres da fome e de fadigas:
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo. Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,
Na glória de alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
Do que as árvores moças, mais amigas
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...
O homem, a fera e o inseto, à sombra dela
Vivem, livres da fome e de fadigas:
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo. Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,
Na glória de alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
Língua Portuguesa
Última flor do Lácio,
inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
Um beijo
Foste o beijo melhor
da minha vida,
Ou talvez o pior...Glória e tormento,
Contigo à luz subi do firmamento,
Contigo fui pela infernal descida!
Morreste, e o meu desejo não te olvida:
Queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,
E do teu gosto amargo me alimento,
E rolo-te na boca malferida.
Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,
Batismo e extrema-unção, naquele instante
Por que, feliz, eu não morri contigo?
Sinto-te o ardor, e o crepitar te escuto,
Beijo divino! e anseio, delirante,
Na perpétua saudade de um minuto...
Ou talvez o pior...Glória e tormento,
Contigo à luz subi do firmamento,
Contigo fui pela infernal descida!
Morreste, e o meu desejo não te olvida:
Queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,
E do teu gosto amargo me alimento,
E rolo-te na boca malferida.
Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,
Batismo e extrema-unção, naquele instante
Por que, feliz, eu não morri contigo?
Sinto-te o ardor, e o crepitar te escuto,
Beijo divino! e anseio, delirante,
Na perpétua saudade de um minuto...
não tem os gabaritos.. infelizmente.
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