Para
responder às questões de 01 a
07, leia o texto abaixo.
Essa mocidade de hoje...
Realmente não está
fácil educar filhos hoje em dia. Não ouvem nossos conselhos e seguem caminhos estranhos,
geralmente perigosos. Coisas do fim de século, explicam.
Meu filho mais velho, por
exemplo.
Deu de cheirar. Não entendo
onde pegou esse vício terrível. Acredito que foi na leitura de velhos romances
portugueses, ele, um apaixonado por primeiras edições.
Minha mulher o defende. Diz
que não faz mal. Brigamos muito por causa disso. Um cunhado, médico, também
assegura que não prejudica a saúde. É quando muito um mal social, insiste. Pode até ser,
concordo, afinal milhares de jovens estão fazendo o mesmo em todo o
mundo, mas quem agüenta uma pessoa espirrando o tempo todo? Até nas igrejas ele
abre sua caixa (que não sei como chama) e aspira o rapé. Tento proibir:
– Meu filho, você vive molhando
os outros, pregando sustos,
irritando. Abandone esse vício
espalhafatoso, incômodo. Seria melhor fumar charuto.
Ele nem liga, sempre
espirrando, em conduções, velórios,
conferências, teatros, em
toda parte. Não consegue se
livrar desse pó maldito. É um dependente. Quando vai pedir emprego, para
desinibir, cheira.
– Estou me apresentando
para... atchim!.
– O senhor está resfriado?
– Não. – Atchim, atchim,
atchim etc.
Sai, claro, desempregado
como entrou. Espirro não é forma de comunicação, não é argumento, não vale como
currículo.
Apaixonou-se e foi
pedir a mão
da moça em casamento.
Disseram-me que foram onze atchins
consecutivos. Uns altos, outros baixos, uns fragmentados, outros explosivos,
mas tudo muito monótono. O futuro sogro até que se conteve a princípio, mas
quando o viu tirar automaticamente do bolso a caixa de rapé, perguntou:
– O senhor é viciado nisso?
– Sou – ele confessou de
cabeça baixa.
E o sogro disse não.
Outro filho meu também está
se desviando. Evita pais e parentes. Não gosta de estudar, de ler, mora no
mundo da Lua. Noite alta, salta a janela de casa e desaparece. Descobrimos isso
e o forçamos a contar o que faz na rua até madrugada. Negou-se peremptoriamente. Ameaçou até suicidar-se com gás se insistíssemos.
Mas não recuamos e
procuramos descobrir o que leva esse insensato a sumir dessa maneira.
– Pra mim tem música nisso –
suspeitou a mãe.
– Música? É, pode ser –
admiti. – Ele anda tão alheio a tudo...
Tinha razão. Descobrimos. O
maroto anda fazendo serenata! Meu filho, seresteiro! Comprou um violão às escondidas!
Agora vive fazendo barulho ao pé
de janelas, nas
madrugadas, despertando
pessoas que precisam acordar cedo para
o trabalho. E exposto alucinado ao sereno, à garoa, ao chuvisqueiro, que tão
mal fazem aos pulmões. Muitos seresteiros, sabe-se, morrem de pneumonia, isso
quando – eles que se cuidem – não são abatidos por tiros de garrucha por pais,
irmãos e namorados das moças que pretendem agradar. Ou mesmo por vizinhos
furiosos. As gazetas sempre trazem casos assim.
E por fim
tem o menorzinho. Esse se viciou nessa tal
de lanterna mágica.
Conhecem, não? Chegou recentemente da Europa e está à venda
nas lojas do centro. É um aparelho óptico que amplia e projeta imagens
iluminadas. O menino fica numa sala escura com amiguinhos o dia
inteiro vendo essas imagens.
Jaulas de macacos, parques de
diversões, trens, balões, banquetes, caras de reis e navios. Imagens coloridas
que parecem ter dimensões e movimento. A impressão é que os garotos esquecem o
lar, se afastam do mundo, rompem com a realidade. Podem
imaginar uma coisa assim? O aparelho causa hipnose, fixação mórbida, idiotiza,
e talvez possa cegar. Li que a
lanterna mágica, projetando cerca
de dez imagens por minuto,
acaba causando sérias perturbações no cérebro dos jovens, levando inclusive
ao enlouquecimento. Sim, ao enlouquecimento!
Pó que vicia, ritmos
anti-sociais, máquinas diabólicas. Caluda!
Este fim de século ameaça
destruir nossos jovens.
São Paulo de Piratininga,
1893.
REY, Marcos.
Essa mocidade de hoje... In: O coração roubado e outras crônicas. São Paulo:
Ática, 2003, p. 50-53. (Para Gostar de Ler, v. 19)
01(UFPB-2010).
O texto “Essa mocidade
de hoje...” tematiza
a dificuldade de se
educar os jovens
do século XIX. Segundo o narrador, essa dificuldade decorre
da
a)
autoridade descabida dos pais que cerceiam a liberdade dos filhos.
b)
autonomia dos jovens que se mostram alheios aos ensinamentos dos pais.
c)
falta de liberdade dos jovens para escolherem os seus caminhos na vida.
d)
tolerância excessiva das mães que sempre defendem as atitudes dos filhos.
e)
influência negativa dos amigos sobre o comportamento desses jovens.
02.
(UFPB-2010) Considerando o ponto de vista do narrador em relação ao
comportamento do filho mais velho, no
primeiro parágrafo, é correto afirmar:
a)
O comportamento do filho não causa estranhamento aos pais, visto que suas atitudes são “coisas do fim
do século, [...]”.
b)
A Literatura desvirtua todos os jovens, levando-os à prática de atos estranhos.
c)
A leitura de “velhos romances portugueses” aparece como vilã, por ter incitado
o filho mais velho a um vício.
d)
O narrador não se ressente do comportamento do filho – “Deu de cheirar” –, por
entender que isso é normal entre jovens.
e)
A Literatura, de modo geral, não é aconselhável para os jovens, porque estimula
a desobediência aos pais.
03.
(UFPB-2010) No fragmento “O maroto
anda fazendo serenata!”
(linha 31), o
termo destacado pode ser substituído,
sem alteração de sentido, por:
a)
tratante
b)
astuto
c)
velhaco
d)
preguiçoso
e)
mentiroso
04.
(UFPB-2010) No segundo parágrafo,
os elementos de
coesão textual destacados
– “o”, “disso”,
“ele” – referem-se, respectivamente, a:
ATENÇÃO:
Julgue em (V) para as verdadeiras e (F) para as falsas, as
questões de 05 a 07.
05.
(UFPB-2010) No primeiro parágrafo, o emprego de determinadas palavras sugere o
modo como o narrador se relaciona com os fatos narrados. Considerando esse
aspecto, identifique as afirmativas corretas:
( )O termo Realmente (linha 1) revela a
convicção do narrador acerca da dificuldade de
educar os filhos.
( )O termo geralmente (linha 2) sugere que o
narrador julga perigosos todos os caminhos que os filhos seguem.
( )A
forma verbal explicam
(linha 2), na terceira
pessoa do plural,
indica que o
narrador atribui a responsabilidade por aquilo que diz a
outras pessoas.
( )Os adjetivos estranhos
(linha 2), perigosos (linha 2) e terrível (linha 3) expressam, gradativamente, a
seriedade com que o narrador trata o problema.
( )A forma verbal acredito (linha 3), na
primeira pessoa do singular, expressa o julgamento do narrador acerca
do
motivo que levou o filho ao vício.
06.
(UFPB-2010) Considerando o modo como o narrador conduz o relato, identifique as
afirmativas corretas:
( ) Recorre a sequências narrativas para
justificar a sua opinião acerca da educação dos
filhos.
( ) Faz uso de expressões próprias da língua
falada.
( ) Utiliza-se do discurso direto para dar
mais expressividade à sua narração.
( ) Estabelece diálogo com seu leitor,
sobretudo, através de frases interrogativas.
( ) Limita-se a narrar os fatos, sem emitir
juízo de valor.
07.
(UFPB-2010) Com relação ao gênero desse texto, identifique as afirmativas
corretas:
( ) Trata-se de uma crônica jornalística cuja intenção é
informar o leitor acerca das
atitudes dos jovens do século XIX.
( ) É um conto literário cuja narrativa
apresenta os fatos em ordem cronológica.
( ) Constitui uma crônica literária com narrador em primeira pessoa, apresentando
seu ponto de vista sobre a educação dos filhos.
( )Trata-se de um artigo de opinião, em que
o narrador dispensa os recursos literários.
( )É uma crônica literária em que o narrador
aborda uma problemática ainda atual nos dias de hoje.
08.
(PSS/UFPA-2006) Os gêneros literários constituem modelos aos quais se deve
submeter a criação artística.
Deles
NÃO se deve considerar como verdadeiro:
(A)
Segundo concepção clássica, são três os gêneros literários.
(B) Embora a obra literária possa encerrar
emoções diversas, podendo haver intersecção de
elementos
líricos, narrativos e dramáticos, há sempre a prevalência de uma destas
modalidades.
(C)
A criação poética, de caráter lírico, privilegiará os diálogos dos personagens.
(D)
Novelas, crônicas, romances e contos são espécies literárias de caráter
narrativo.
(E) O discurso literário é considerado dramático
quando permite, em princípio, ser
representado.
09
(PRISE/UEPA-2006) Assinale a alternativa que
indica corretamente os gêneros literários dos
textos
abaixo relacionados, na seqüência em que estão dispostos:
I-
“O Dr. Mamede, o mais ilustre e o mais eminente dos alienistas, havia pedido a
três de seus colegas e a quatro sábios que se ocupavam de ciências naturais,
que viessem passar uma hora na casa de
saúde por ele dirigida para que lhes pudesse mostrar um de seus
pacientes.” (Guy de Maupassant)
II-
“Todas as noites o sono nos atira da beira de um cais
E
ficamos repousando no fundo do mar.
O
mar onde tudo recomeça...
Onde
tudo se refaz...
Até
que, um dia, nós criaremos asas.
E
andaremos no ar como se anda na terra.”
(Mário
Quintana)
III-
Oh! Que famintos beijos na floresta!
E
que mimoso choro que soava!
Que
afagos tão suaves, que ira honesta,
Que
em risinhos alegres se tornava!
O
que mais passam na manhã e na sesta,
Que
Vênus com prazeres inflamava,
Melhor
é experimentá-lo que julgá-lo;
Mas
julgue-o quem não pode experimentá-lo.
(Luiz
de Camões)
IV-
‘Velha: E o lavrar, Isabel?
Isabel:
Faz a moça mui mal feita,
corcovada, contrafeita,
de feição de meio anel;
e faz muito mau carão,
e mau costume d’olhar.
Velha: Hui! Pois jeita-te ao fiar
Estopa ou linho ou algodão;
Ou tecer, se vem à mão.
Isabel: Isso é pior que lavrar.”
(Gil
Vicente)
Glossário:
Lavrar: costurar.
De feição de meio anel: de rosto emoldurado por (cabelo) cachos
cortados pela metade.
Carão: cara, semblante.
Hui! Pois jeita-te: Pois te acostuma.
a)
Narrativo – Épico – Lírico – Dramático.
b)
Dramático – Lírico – Épico – Narrativo
c)
Narrativo – Lírico – Épico – Dramático
d)
Dramático – Épico – Narrativo – Lírico
e)
Épico – Dramático – Narrativo – Lírico
10.
Disponível em: http://adubandoavida.wordpress.com/2008/06/20/propagandas/
a) Quais os tipos de texto presentes no texto acima?
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
b) Qual nome do gênero em questão?
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c) Aparece, no texto, a ironia. Identifique-a o explique seu
funcionamento.
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
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