sábado, 22 de dezembro de 2012

Prova Final


1º ano - Prova Final


Antigamente

Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio.

E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia. As pessoas, quando corriam, antigamente, era para tirar o pai da forca, e não caíam de cavalo magro. Algumas jogavam verde para colher maduro, e sabiam com quantos paus se faz uma canoa. O que não impedia que, nesse entrementes, esse ou aquele embarcasse em canoa furada. Encontravam alguém que lhes passava a manta e azulava, dando às de vila-diogo.

Os mais idosos, depois da janta, faziam o quilo, saindo para tomar a fresca; e também tomavam cautela de não apanhar sereno. Os mais jovens, esses iam ao animatógrafo, e mais tarde ao cinematógrafo, chupando balas de altéia. Ou sonhavam em andar de aeroplano; os quais, de pouco siso, se metiam em camisa de onze varas, e até em calças pardas; não admira que dessem com os burros n'água.

Havia os que tomavam chá em criança, e, ao visitarem família da maior consideração, sabiam cuspir dentro da escarradeira. Se mandavam seus respeitos a alguém, o portador garantia-lhes: "Farei presente".

Outros, ao cruzarem com um sacerdote, tiravam o chapéu, exclamando: "Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo", ao que o Reverendíssimo correspondia:
"Para sempre seja louvado". E os eruditos, se alguém espirrava - sinal de defluxo - eram impelidos a exortar: "Dominus tecum". Embora sem saber da missa a metade, os presunçosos queriam ensinar padre-nosso ao vigário, e com isso metiam a mão em cumbuca. Era natural que com eles se perdesse a tramontana. A pessoa cheia de melindres ficava sentida com a desfeita que lhe faziam, quando, por exemplo, insinuavam que seu filho era artioso. Verdade seja que às vezes os meninos eram mesmo encapetados; chegavam a pitar escondido, atrás da igreja. As meninas, não: verdadeiros cromos, umas tetéias.

(...)

Mas isso tudo era antigamente, isto é, outrora.

Carlos Drummond de Andrade

1.    Pela leitura do texto, podemos notar que o autor:

A) utiliza um vocabulário próprio da época que pretende retratar, resgatando uma sociedade em seus hábitos e costumes.
B) procura transcrever objetivamente todos os aspectos que caracterizam uma sociedade num determinado tempo.
C) utiliza expressões pouco comuns ao nosso tempo de uma forma proposital, tentando confundir o leitor.
D) expressa seu saudosismo de maneira irônica, fazendo uso da linguagem para criticar uma sociedade distante no tempo daquela em que vivemos.

2.    Localize à direita o significado das expressões do texto que estão relacionadas à esquerda e faça a exata correspondência numérica.

( 1 ) tirar o cavalo da chuva                   (      ) aniversariar
( 2 ) tirar o pai da forca                          (      ) desconhecer
( 3 ) sem saber da missa a metade       (      ) desistir
( 4 ) meter a mão em cumbuca             (      ) estar com pressa
( 5 ) completar primaveras                     (      ) atrapalhar-se

A) 5 - 3 - 1 - 2 - 4
B) 3 - 1 - 2 - 5 - 4
C) 4 - 2 - 3 - 1 - 5
D) 3 - 5 - 2 - 4 – 1
 Leia o poema barroco abaixo e responda as questões propostas:

A Cristo Senhor Nosso crucificado,
estando  o poeta na última hora da sua vida

Gregório de Mattos.

Meu Deus, que estais pendente (pendurado) em um madeiro (cruz),
Em cuja lei protesto viver,
Em cuja santa lei hei de morrer
Animoso (cheio de ânimo), constante, firme, e inteiro. 

Neste lance, por ser o derradeiro,
Pois vejo a minha vida anoitecer,
É, meu Jesus, a hora de se ver
A brandura de um Pai manso Cordeiro.

Mui (muito) grande é vosso amor, e meu delito (pecado),
Porém pode ter fim todo o pecar,
E não o vosso amor, que é infinito.

Esta razão me obriga a confiar,
Que por mais que pequei, neste conflito
Espero em vosso amor de me salvar.

3.    Por que o poeta se mostra confiante em obter o perdão divino?
(      ) Porque o amor de Deus é grande e o nosso delito também, mas o delito tem fim e o amor de Deus não.
(      ) Porque o amor de Deus é grande e o nosso delito é pequeno também, mas o delito tem fim e o amor de Deus não.

4.    Que diferença o poeta mostra entre o pecado humano e o amor divino?

(      ) Porque o amor de Deus é infinito, mas o delito finito.
(      ) Porque o amor de Deus é finito, mas o delito infinito.

5.    Quais as características do Barroco presente nesse texto:

(      ) Cultismo e conceptismo.          
(      ) Religiosidade e Uso de contraste (antítese).

TEXTO

Sermão vigésimo sétimo

Os senhores poucos, os escravos muitos; os senhores rompendo galas, os escravos despidos e nus; os senhores banqueteando, os escravos perecendo à fome; os senhores nadando em ouro e prata, os escravos carregados de ferros; os senhores tratando-os como brutos, os escravos adorando-os e temendo-os como deuses; os senhores em pé apontando para o açoite, como estátuas da soberba e da tirania, os escravos prostrados com as mãos atadas atrás como imagens vilíssimas da servidão e espetáculos da extrema miséria.

(VIEIRA, Pe. Antônio. Sermão vigésimo sétimo. In: AMORA, Antônio Soares, org. Sermões, 2 ed. São Paulo, Cultrix, 1981, p. 58.)

6.    No texto, verificam-se os seguintes traços do barroco:

    I.  A presença de um grande número de antíteses.
   II.  A predominância dos aspectos denotativos da linguagem.
III.  A utilização do recurso da hipérbole para melhor traduzir o sofrimento dos escravos.
IV.  O envolvimento político do jesuíta.

                   Estão corretas apenas as afirmativas:

a)I e II.        b)III e IV.          c)II e III.         d)I e IV.         e)I e III.

7.    O trecho a seguir vincula-se ao conceptismo barroco:

“Sendo, pois, certo que a palavra divina não pode deixar de frutificar por parte de Deus, segue-se que ou é por falta do pregador ou por falta dos ouvintes. Por qual será? (...) Os ouvintes ou são maus ou são bons; se são bons, faz neles grande fruto a palavra de Deus; se são maus, ainda que não faça fruto, faz efeito. (...) a palavra de Deus é tão fecunda, que nos bons faz muito fruto e é tão eficaz que nos maus, ainda que não faça fruto, faz efeito; lançada nos espinhos não frutificou, mas nasceu até nos espinhos; lançada nas pedras não frutificou, mas nasceu até nas pedras.” (Padre Antônio Vieira. Sermão da Sexagésima).

Nesse trecho, NÃO ocorre o (a)

a)  elogio da natureza para justificar um ideal pagão de vida.
b)  uso de estruturas oracionais que enfatizam as relações de causa, condição e consequência.
c)  apelo à repetição de palavras e ideias.
d)  progressão gradual do raciocínio, com vistas ao convencimento do ouvinte ou leitor.
e)  uso de antíteses e metáforas.


Veja a imagem abaixo abordada em sala de aula e que consta no Módulo VII – Parte II, e responda o que se pede:


http://img2.mlstatic.com/psique-e-cupido-anjo-mulher-nua-pintor-berger-na-tela-repro_MLB-O-2942288212_072012.jpg
Disponível em: < http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-440331858-psique-e-cupido-anjo-mulher-nua-pintor-berger-na-tela-repro-_JM>. Acesso em: 26 de novembro de 2012.


8.    Relacione os elementos descritos à função atribuída a Cupido na mitologia.


9.    Por que Cupido é sempre caracterizado com um ser com olhos vendados?



Leia o texto abaixo e responda:


“Com os anos, Marília, o gosto falta,
e se entorpece o corpo já cansado:
triste, o velho cordeiro está deitado,
e o leve filho, sempre alegre, salta. 
A mesma formosura
é dote que só goza a mocidade:
rugam-se as faces, o cabelo alveja,
mal chega a longa idade.
Que havemos de esperar Marília bela? 
que vão passando os florescentes dias? 
As glórias que vêm tarde, já vêm frias, 
e pode, enfim, mudar-se a nossa estrela.
Ah! não, minha Marília,
aproveite-se o tempo, antes que faça
o estrago de roubar ao corpo as forças, 
e ao semblante a graça!”



(Tomás Antônio Gonzaga)


10.  Com base nestes versos, assinale a alternativa correta.

a)    Apesar de sua idade já muito avançada, o eu lírico ainda se mostra disposto ao amor.
b)    Marília deve acompanhar o poeta em sua velhice, mesmo que isso traga recordações inglórias da juventude.
c)    O eu lírico faz um chamamento à sua musa para juntos viverem o tempo presente de suas juventudes.
d)    O poema explora o motivo da mulher inacessível e misteriosa, desejada por um homem cansado e doente.
e)    Resta aos amantes a doçura da contemplação dos filhos, expressa em “o velho cordeiro está deitado, /e o leve filho, sempre alegre, salta”.

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