Literatura
Série: 2º ano
Romantismo – poesia
Sempre
houve temperamento e sensibilidade românticos. O estado de alma romântico pode
ser encontrado em qualquer época, caracterizando-se pelo amor à natureza, a
personalidade sonhadora, a fé, a liberdade, o saudosismo e a emoção.
A
palavra – chave em fins do século XVIII e no início do século XIX era
liberdade.
Os
burgueses pregavam o liberalismo econômico e a democracia no terreno preparado
pelos filósofos iluministas da primeira metade do século XVIII. Décadas depois,
a revolução toma conta da Europa. Os ideais de liberdade, igualdade e
fraternidade contagiam os setores populares.
O
novo público consumidor, de origem burguesa, dita os novos valores: apego as
tradições nacionais, o gosto pelas lendas e narrativas e narrativas de origem
medieval e pelo heroísmo; sacrifício e o sangue derramado, que evocavam os
recente passado revolucionário, e a afirmação das nacionalidades.
No
Brasil, o Romantismo se reveste de um marcante conteúdo nacionalista e de
exaltação dos elementos nacionais, pois corresponde ao momento de luta pela
emancipação politica e de afirmação da nossa nacionalidade. A literatura é
utilizada como arma de ação política e social, através da poesia revolucionaria
e abolicionista.
Características
·
Subjetivismo
e individualismo: o eu lírico ver o mundo unicamente por meio do seu mundo
interior;
·
Nacionalismo,
ao qual se relacionam:
a)
Culto
da idade média pelos europeus, na qual se encontram os elementos formadores da
nacionalidade de cada povo, os heróis das cruzadas, as damas, os monges, as
lendas, as crenças e tradições.
b)
Indianismo,
que, no Brasil, devido à ausência de uma passado medieval, foi um dos elementos
de sustentação do sentimento nacionalista, acentuado com a proximidade da
independência.
c)
Culto
à natureza, que, supervalorizada, não só constitui um refugio não contaminado
pela sociedade, como também é uma forma de exaltação da terra brasileira. A
natureza para os românticos era fonte de inspiração e está intimamente
vinculada aos sentimentos do poeta.
·
Evasão
ou escapismo, resultante do conflito do eu com a realidade, o que leva o
romântico a se evadir na aspiração por outro mundo – situado no tempo e no
espaço (paisagens novas, primitivas ou exóticas) – onde nele não encontre as
dificuldades da realidade a que está vinculado. Dai resultam:
·
Saudosismo
(infância, passado, pátria, entes queridos);
·
Sonho
(que permite a criação de um mundo pessoal e idealizado);
·
Consciência
da solidão (resultante da inadaptação ao munda e da crença de que é um
incompreendido);
·
Exagero,
isto é, o apelo aos extremos e o excesso de figuras de linguagem. O exagero,
somado à instabilidade e à ânsia de evasão, provocou o Mal do século, expressão
que caracterizara o estado de espírito de vários românticos que se entregaram a
uma excessiva melancolia e solidão e a um grande pessimismo que os conduziu à
exaltação da morte. O sobrenatural, o mórbido, a noite e o mistério da
existência estão presentes nos textos dos poetas da geração mal-do-século.
·
Idealização
do amor e da mulher. Somando o espiritualismo e temperamento sonhador, o poeta
romântico reveste a mulher de uma aura angelical, retratando-a como figura
poderosa e inacessível. Porém, apesar do espiritualismo, a poesia romântica
reflete muitas vezes um sensualismo bem material na descrição feminina.
A
linguagem romântica
A
linguagem romântica se caracteriza pelo transbordamento de expressão: poemas
extensos, repetições inúteis e recursos que revelam o estão emotivo do artista:
exclamações, reticencias, antíteses, metáforas e hipérboles.
São
palavras recorrentes no universo romântico: luar, amor, noite, saudade, verde,
ilusão, pranto, dor, suspiro, virgem, rosa, coração, sonhos, lágrima.
Os
românticos defendiam uma linguagem simples, mais coloquial e livre, imprimindo
à língua portuguesa um estilo próprio, que pudesse refletir a realidade do
nosso país.
O
romantismo no Brasil
O
romantismo no Brasil se reveste de um expressivo cunho nacionalista. A Independência,
conquistada em 1822, reforçou a busca de elementos caracterizadores e
diferenciadores de nossa nacionalidade. Dai o forte sentimento de fidelidade a
pátria e as suas tradições e a criação de símbolos que pudessem ser incorporados a consciência nacional
e passassem a representar o país. Entre eles, o índio, a natureza e a
linguagem.
Início
do Romantismo se dá em 1836 com a obra Suspiros
poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães, que é o introdutor do
Romantismo - poesia no Brasil.
Contexto histórico
1808
– Chegada da família real no Rio;
1817
– Criação dos Correios;
1822
– Independência do Brasil;
1835
– Guerra dos Farrapos;
1841-
Dom Pedro II é imperador do Brasil;
1854
– 1ª estrada de ferro do Brasil;
1864
– Início da Guerra do Paraguai;
1870
– Término da Guerra do Paraguai;
1888
– Lei Áurea;
1889
– Proclamação da República.
A
vinda da família real para o RJ, em 1808, provocou uma serie de mudanças no
país: os portos são abertos ao comércio internacional, funda-se o Banco do
Brasil, criam-se os tribunais de Finanças e da Justiça, permite-se o
funcionamento de toda espécie de indústria, fundam-se a Academia Militar e a
Academia de Cirurgia, cria-se o curso de Direito, inaugura-se a Biblioteca Real
e a imprensa é definitivamente implantada.
O
militar, o comerciante, o artesão, o funcionário público, o homem de imprensa e
os empregados das firmas comerciais passam a compor de forma significativa a
sociedade da época. O convívio social é dinamizado pela vida dos salões e as
ruas ganham uma agitação nova. A literatura conta com avidez do público
feminino e o Romantismo se difunde com relativa facilidade.
O
desenvolvimento da nação foi acompanhado por um crescente sentimento
anticolonialista, do qual resultou a nossa independência, em 1822.
Romantismo
brasileiro
Como
não tivemos um passado medieval, fomos buscar no índio o símbolo da raça
brasileira – as virtudes do homem nacional, o elemento de autoafirmação e, de
certo modo, de oposição ao português.
Inspirando-se
nos procedimentos do cavaleiro medieval europeu, os escritores caracterizaram o
índio como um nobre, e não é difícil fazer certa analogia entre o castelo
medieval e a propriedade rural, bem como entre o heroísmo dos cavaleiros da
Idade Media e a bravura e o destemor dos colonizadores que adentravam a selva
brasileira em busca da riqueza do nosso solo.
A
opulência tropical da natureza brasileira era mias um dos símbolos românticos,
ao que se somava o mito da cordialidade brasileira, além do espírito pacifico
do nosso povo, apesar da Guerra do Paraguai e de inúmeras revoltas e revoluções
que perturbaram o Império, e posteriormente, os primeiros anos da República.
Outro
elemento de identificação nacional foi a linguagem. Nos períodos anteriores, os
escritores se mantiveram presos aos modelos portugueses. No romantismo, e
sobretudo com José de Alencar, a linguagem procura outro elemento nacional:
incorporam-se regionalismos, termos indígenas, expressões e construções do
feitio nacional.
Entretanto,
o nacionalismo romântico e a busca do passado impediram muitas vezes uma visão
objetiva da realidade brasileira, e permitiram uma fuga aos problemas do país e
do povo. A exaltação do índio, por exemplo, desviava a atenção de uma avaliação
crítica da escravatura.
Foi
apenas a partir de 1860, com Castro Alves, que a poesia se voltou para a
realidade política e social, ligando-se as lutas pelo abolicionismo e
denunciando o choque entre os símbolos e a realidade social.
Produção
literária do Romantismo brasileiro
É
rica e variada a produção literária do Romantismo brasileiro. Os principais
gêneros foram a poesia, o romance e o teatro.
Romance
Entre
os romancistas, destacam-se Joaquim Manuel de Macedo, Manuel Antônio de
Almeida, José de Alencar, Bernardo Guimaraes, Visconde de Taunay, Franklin
Távora e Machado de Assis (1ª fase).
Teatro
No
teatro, destacam-se: Martins Pena, França Junior e Artur Azevedo.
Poesia
A
poesia romântica divide-se em: três gerações
românticas:
·
Nacionalista/indianista
·
Mal do século
·
Condoreira
Principais
autores (poesia)
·
Gonçalves Dias (1ª geração)
Natureza
e saudade se entrelaçam na sua obra, como também a nostalgia, o retorno ao
passado e a exaltação da pátria.
As
lamentações pelo amor impossível, os anseios, as inquietações, os desencantos
caracterizam o lirismo amoroso do autor, que muitas vezes se identifica com a
atitude de vassalagem do trovador medieval.
Do
ponto de vista temático, o indianismo dominou toda a sua obra: idealizou o
indígena, ressaltando seu sentimento de honra e nobreza de caráter; descreveu o
índio como um herói, procurando torna-lo símbolo de toda uma raça, capaz de
categorizar o brasileiro em faze do europeu; exaltou a natureza em que viviam
os selvagens e procurou interpretar a psicologia do índio brasileiro.
Escreveu
diversos livros: Primeiros cantos (1846); Segundos cantos (1848), Sextilhas de
frei Antão (1848); Últimos cantos (1851), Os timbiras (1857).
Canção
do exílio
Minha
terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá.
Nosso
céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores.
Em
cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.
Minha
terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá; Em cismar –sozinho, à noite– Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.
Não
permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá; Sem que disfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu'inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá.
De Primeiros
cantos (1847)
|
1. O poema se constrói com a oposição aqui
(Coimbra, o lugar do exílio) e lá (o Brasil, patria distante). O que fica explícito
nessa comparação?
2. O olhar do poeta ora se volta para os céus da
pátria (estrelas), ora se volta para o solo (flores). Que elemento pode ser
considerado como intermediário entre esses dois modos de olhar?
3. De que maneira o poeta expressa seu sentimento
nacionalista?
4. Para o poeta, a pátria distante é plural, o
que é expresso pela repetição do advérbio MAIS. Em verso o poeta expressa que
essa natureza plural acaba por contagiar a maneira de viver e de ser romântica?
I-Juca
Pirama
No meio
das tabas de amenos verdores,
Cercadas de troncos - cobertos de flores,
Alteiam-se os tetos d’altiva nação;
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
Temíveis na guerra, que em densas coortes
Assombram das matas a imensa extensão.
Cercadas de troncos - cobertos de flores,
Alteiam-se os tetos d’altiva nação;
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
Temíveis na guerra, que em densas coortes
Assombram das matas a imensa extensão.
São rudos,
severos, sedentos de glória,
Já prélios incitam, já cantam vitória,
Já meigos atendem à voz do cantor:
São todos Timbiras, guerreiros valentes!
Seu nome lá voa na boca das gentes,
Condão de prodígios, de glória e terror!
Já prélios incitam, já cantam vitória,
Já meigos atendem à voz do cantor:
São todos Timbiras, guerreiros valentes!
Seu nome lá voa na boca das gentes,
Condão de prodígios, de glória e terror!
IV
Meu canto
de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo tupi.
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo tupi.
Da tribo
pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci;
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci;
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.
1.
Circule
do primeiro fragmento expressões que revelam idealização da natureza.
2.
Como
são caracterizados os índios timbiras?
3.
Justifique com passagem dos texto, a afirmação
de que o índio brasileiro era caracterizado como um individuo sentimental, com
grande senso de honra e menosprezo pelos covardes.
O
Romantismo é amor exuberante, exageros, sonhos e endeusamentos da mulher amada.
Gonçalves Dias, além do indianismo e saudosismo, expressou, como todo poeta
romântico, o sentimento amoroso na maior parte da sua obra.
Como eu te amo
Como se ama o silêncio, a luz, o aroma,
O orvalho numa flor, nos céus a estrela,
No largo mar a sombra de uma vela,
Que lá na extrema do horizonte assoma;
Como se ama o clarão da branca lua,
Da noite na mudez os sons da flauta,
As canções saudosíssimas do nauta,
Quando em mole vaivém a nau flutua,
Como se ama das aves o gemido,
Da noite as sombras e do dia as cores,
Um céu com luzes, um jardim com flores,
Um canto quase em lágrimas sumido;
Como se ama o crepúsculo da aurora,
A mansa viração que o bosque ondeia,
O sussurro da fonte que serpeia,
Uma imagem risonha e sedutora;
Como se ama o calor e a luz querida,
A harmonia, o frescor, os sons, os céus,
Silêncio, e cores, e perfume, e vida,
Os pais e a pátria e a virtude e a Deus:
Assim eu te amo, assim; mais do que podem
Dizer-to os lábios meus, — mais do que vale
Cantar a voz do trovador cansada:
O que é belo, o que é justo, santo e grande
Amo em ti. — Por tudo quanto sofro,
Por quanto já sofri, por quanto ainda
Me resta de sofrer, por tudo eu te amo.
Como se ama o silêncio, a luz, o aroma,
O orvalho numa flor, nos céus a estrela,
No largo mar a sombra de uma vela,
Que lá na extrema do horizonte assoma;
Como se ama o clarão da branca lua,
Da noite na mudez os sons da flauta,
As canções saudosíssimas do nauta,
Quando em mole vaivém a nau flutua,
Como se ama das aves o gemido,
Da noite as sombras e do dia as cores,
Um céu com luzes, um jardim com flores,
Um canto quase em lágrimas sumido;
Como se ama o crepúsculo da aurora,
A mansa viração que o bosque ondeia,
O sussurro da fonte que serpeia,
Uma imagem risonha e sedutora;
Como se ama o calor e a luz querida,
A harmonia, o frescor, os sons, os céus,
Silêncio, e cores, e perfume, e vida,
Os pais e a pátria e a virtude e a Deus:
Assim eu te amo, assim; mais do que podem
Dizer-to os lábios meus, — mais do que vale
Cantar a voz do trovador cansada:
O que é belo, o que é justo, santo e grande
Amo em ti. — Por tudo quanto sofro,
Por quanto já sofri, por quanto ainda
Me resta de sofrer, por tudo eu te amo.
1. O eu – lírico utiliza comparações para
expressar o seu sentimento amoroso. Que elementos, bem ao gosto do estilo
romântico, predominam nessas comparações?
2. A religiosidade está presente no poema.
Destaque um verso em que exemplifica essa afirmação.
3. Em que estrofe o nacionalismo romântico está
presente por meio de uma comparação?
4. O saudosismo está claramente presente em que
verso?
·
Gonçalves de Magalhães (1ª geração)
Conhecido também como Visconde de
Araguaia, Domingos José
Gonçalves de Magalhães nasceu no Rio de Janeiro no dia 13 de
agosto de 1811. Tornou-se importante na literatura brasileira por ter publicado
“Suspiros poéticos e saudades” (1837), marcando assim o início romantismo brasileiro.
Formou-se
em Medicina, e exerceu alguns cargos públicos no Rio Grande do Sul e no
Maranhão, mas não seguiu a profissão, preferindo ingressar na carreira
diplomática. Ocupou vários cargos na Europa, inclusive o de cônsul brasileiro
em Viena, na Áustria. Servindo em Paris, em 1833, e tendo contato com as idéias
ali emergentes, lançou a revista literária “Niterói”, juntamente com Araújo
Porto Alegre e Torres Homem, onde publicou um manifesto do romantismo, o
“Discurso sobre a História da Literatura no Brasil”, e outros artigos
importantes para a definição do movimento Romântico no Brasil.
No
mesmo ano em que publicou sua obra-prima, Gonçalves de Magalhães retornou ao
Brasil, passando a lecionar filosofia no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro.
Depois disto, o poeta dedicou-se ao gênero dramático, escrevendo algumas peças,
como “Antônio José” ou “O Poeta e a Inquisição” (1838), tragédia em três atos
sobre a vida e a morte na fogueira deste desventurado dramaturgo brasileiro e
“Olgiato” (1839).
Uma
obra que despertou grande polêmica entre os críticos liderados por José de
Alencar foi a “Confederação
dos Tamoios”, poema épico que marcou o retorno ao classicismo. Essa obra
foi severamente criticada, pois ela não representava os ideais do romantismo.
Publicou ainda “Os Mistérios” (1858), “Ucrânia” (1862) e “Cânticos Fúnebres”
(1864). Depois disto, o poeta dedicou-se quase exclusivamente ao ensaio e a
filosofia, tendo publicado “Opúsculos Históricos e Literários” (1865), “A Alma
e o Cérebro” (1876) e “Comentários e Pensamentos” (1880).
Gonçalves
de Magalhães faleceu em Roma, em 10 de Julho de 1882, como ministro
plenipotenciário do Brasil junto à Santa Sé.
A Tristeza
Triste sou como o salgueiro
Solitário junto ao lago,
Que depois da tempestade
Mostra dos raios o estrago.
De dia e noite sozinho
Causa horror ao caminhante,
Que nem mesmo à sombra sua
Quer pousar um só instante.
Fatal lei da natureza
Secou minha alma e meu rosto;
Profundo abismo é meu peito
De amargura e de desgosto.
À ventura tão sonhada,
Com que outrora me iludia,
Adeus disse, o derradeiro,
Té seu nome me angustia.
Do mundo já nada espero,
Nem sei por que inda vivo!
Só a esperança da morte
Me causa algum lenitivo.
Solitário junto ao lago,
Que depois da tempestade
Mostra dos raios o estrago.
De dia e noite sozinho
Causa horror ao caminhante,
Que nem mesmo à sombra sua
Quer pousar um só instante.
Fatal lei da natureza
Secou minha alma e meu rosto;
Profundo abismo é meu peito
De amargura e de desgosto.
À ventura tão sonhada,
Com que outrora me iludia,
Adeus disse, o derradeiro,
Té seu nome me angustia.
Do mundo já nada espero,
Nem sei por que inda vivo!
Só a esperança da morte
Me causa algum lenitivo.
No álbum de um jovem
amigo
Amigo, eu parto, e deixo-te saudoso.
Pois que sempre tua alma bem formada
Minhas vozes ouviu, vozes sinceras;
Pois que sempre os conselhos da experiência
Com prazer escutaste,
Inda que às vezes duros;
No momento do adeus recebe, atende
Esta, de amor, não lisonjeira prova.
É qual sereno rio a mocidade,
Que as imagens retrata, e não conhece
O bem, e o mal, e as ilusões do mundo:
É como verde, flácida vergôntea,
Que a forma toma que o cultor lhe imprime,
E boa, ou má, não mais depois se muda.
Quem, como tu, da Pátria longe vive,
Longe dos paternais, úteis ditames,
Assaz tem que lutar, se à glória aspira.
Filósofos não faltam que te instruam;
Mas da vida, nas páginas de um livro,
Não se aprende a ciência.
Estuda, sim estuda, mas pratica
Dignas ações de ti; e eu te asseguro,
Pois que a Natura te protege, e inspira,
Qu'inda um dia serás brilhante estrela
Entre os astros que a Pátria nossa adornam.
A Deus praza que a Pátria não iludas,
E os votos de teus pais, e dos amigos.
A todo o instante que este livro abrires,
Lendo estes versos, dize: hei um amigo.
Pois que sempre tua alma bem formada
Minhas vozes ouviu, vozes sinceras;
Pois que sempre os conselhos da experiência
Com prazer escutaste,
Inda que às vezes duros;
No momento do adeus recebe, atende
Esta, de amor, não lisonjeira prova.
É qual sereno rio a mocidade,
Que as imagens retrata, e não conhece
O bem, e o mal, e as ilusões do mundo:
É como verde, flácida vergôntea,
Que a forma toma que o cultor lhe imprime,
E boa, ou má, não mais depois se muda.
Quem, como tu, da Pátria longe vive,
Longe dos paternais, úteis ditames,
Assaz tem que lutar, se à glória aspira.
Filósofos não faltam que te instruam;
Mas da vida, nas páginas de um livro,
Não se aprende a ciência.
Estuda, sim estuda, mas pratica
Dignas ações de ti; e eu te asseguro,
Pois que a Natura te protege, e inspira,
Qu'inda um dia serás brilhante estrela
Entre os astros que a Pátria nossa adornam.
A Deus praza que a Pátria não iludas,
E os votos de teus pais, e dos amigos.
A todo o instante que este livro abrires,
Lendo estes versos, dize: hei um amigo.
·
Álvares de Azevedo (2ª geração)
Sua
obra, influenciada pela sua personalidade adolescente, revela ambiguidade, indecisão:
ora aspira aos amores virginais e idealiza a mulher; ora a descreve erotizada e
degradada. Brumas, visões, sonhos e sentimentalidade cedem lugar muitas vezes
ao realismo humorístico, ao cinismo e a irreverencia. Revelando uma dúbia
declinação pela mãe e pela irmã, a imagem punitiva da mãe talvez tivesse
contribuído para a sua oscilação entre o erotismo e a imoralidade.
Foi
o poeta brasileiro que mais se deixou influenciar pelo mal do século,
influenciado sobretudo pela leitura de autores com Byron e Musset: a temática
do tédio e da morte, o ceticismo e o culto do funéreo atravessaram toda a sua
obra; a angústia, a descrença e o satanismo estão presentes ate mesmo no
lirismo amoroso, no qual o amor e a felicidade se mostram como coisas
inatingíveis.
Livros:
Lira dos vinte anos (1853), Noite na taverna (1855) e Macário (1855).
Adeus,
Meus Sonhos!
Adeus, meus sonhos, eu pranteio e
morro!
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!
Misérrimo! Votei meus pobres dias
À sina doida de um amor sem fruto,
E minh'alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve em luto.
Que me resta, meu Deus? Morra comigo
A estrela de meus cândidos amores,
Já não vejo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores!
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!
Misérrimo! Votei meus pobres dias
À sina doida de um amor sem fruto,
E minh'alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve em luto.
Que me resta, meu Deus? Morra comigo
A estrela de meus cândidos amores,
Já não vejo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores!
1. Que palavras e expressões do poema
caracterizam o chamado mal do século?
2. Identifique a causa principal do desejo de
morrer manifestado pelo eu – lírico.
3. Um dos sonhos do eu – lírico é o da realização
amorosa. Entretanto, ao utilizar a metáfora ‘estrela’, na última estrofe,
revela a impossibilidade de realizar o seu sonho. Explique essa afirmação.
4. Identifique os versos que repetem a
ideia do vazio interior que deixa o eu – lírico sem motivações para a vida.
·
Junqueira Freire
Autor
de Inspirações do claustro (1855), pertencente também à segunda geração. Sua
obra tem pouca importância estética e é marcada pelo sentimento religioso, o
erotismo frustrado e a obsessão pela morte.
·
Fagundes Varela
Cultivou
temas de todas as gerações: o pessimismo, a morbidez, a natureza, a poesia
amorosa, além de se mostrar contrário à monarquia e à escravidão. Escreveu
também poemas religiosos, de inspiração bíblica, apesar de criticar a Igreja da
poesia.
Cântico do calvário
À memória de meu Filho
morto a 11 de dezembro de 1863
morto a 11 de dezembro de 1863
Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro.
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro.
Eras a messe de um dourado estio.
Eras o idílio de um amor sublime.
Eras a glória, a inspiração, a pátria,
O porvir de teu pai! - Ah! no entanto,
Pomba, - varou-te a flecha do destino!
Eras o idílio de um amor sublime.
Eras a glória, a inspiração, a pátria,
O porvir de teu pai! - Ah! no entanto,
Pomba, - varou-te a flecha do destino!
Astro, - engoliu-te o temporal do
norte!
Teto, - caíste!- Crença, já não vives!
Correi, correi, oh! lágrimas saudosas,
Legado acerbo da ventura extinta,
Dúbios archotes que a tremer clareiam
A lousa fria de um sonhar que é morto!
Teto, - caíste!- Crença, já não vives!
Correi, correi, oh! lágrimas saudosas,
Legado acerbo da ventura extinta,
Dúbios archotes que a tremer clareiam
A lousa fria de um sonhar que é morto!
1. Sabendo que o calvário é o nome da colina
onde Jesus foi crucificado, o que o poeta pretendeu indicar com o titulo do
poema?
2. Qual era o significado do filho na
vida do poeta?
3. Transcreva o verso em que o poeta
indica ser o filho a sua fonte de inspiração.
4. Que metáforas o poeta emprega para nomear
a morte?
·
Casimiro de Abreu
Dois
temas marcam a sua obra: o saudosismo (da pátria, da família, do lar, da
infância) e o lirismo amoroso. Em sua poesia lírico – amorosa encontramos a
imagem da mulher meiga e idealizada. Sua oscilação entre a sentimentalidade e
os impulsos eróticos o conduz a uma malicia mascarada, fruto do temor de
transgredir os limites da moralidade do seu tempo e da necessidade de descrever
sentimentos e situações adolescentes, mais imaginativas que reais. Ambos os
temas são marcados pelo pessimismo decorrente do mal – do século.
Amor e medo
Quando eu te vejo e
me desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca, ó bela,
Contigo dizes, suspirando amores:
— "Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!"
Da luz de fogo que te cerca, ó bela,
Contigo dizes, suspirando amores:
— "Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!"
Como te enganas! meu
amor, é chama
Que se alimenta no voraz segredo,
E se te fujo é que te adoro louco...
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo...
Que se alimenta no voraz segredo,
E se te fujo é que te adoro louco...
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo...
Tenho medo de mim, de
ti, de tudo,
Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes.
Das folhas secas, do chorar das fontes,
Das horas longas a correr velozes.
Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes.
Das folhas secas, do chorar das fontes,
Das horas longas a correr velozes.
O véu da noite me
atormenta em dores
A luz da aurora me enternece os seios,
E ao vento fresco do cair das tardes,
Eu me estremece de cruéis receios.
A luz da aurora me enternece os seios,
E ao vento fresco do cair das tardes,
Eu me estremece de cruéis receios.
1. Segundo o eu – lírico, como a sua amada
interpreta o seu medo de se declarar apaixonado?
2.
O medo de amar faz com que o eu – lírico adote que tipo de atitude?
3. Como o eu - lírico caracteriza seu
próprio medo?
4. O medo do eu – lírico é restrito ao
amor? Justifique.
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor!
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus
— Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
................................
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
— Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!
Qual
característica romântica está presente nesse poema?
·
Castro Alves
Dois
temas marcam a sua obra: a poesia social e a poesia lírica. Sua obra social se
caracteriza pelos temas abolicionistas e de libertação dos povos; incorpora o
negro, de forma definitiva, na literatura, apresentado-o como herói e como um
ser amoroso, ativo, sofredor, esperançoso, oprimido e lutador. Fazia poesia
para ser declamada. Sua poesia tem muita antítese, hipérbole, apostrofes e
metáforas grandiosas que o fazem grande na poesia condoreira, pois foi
influenciado por Victor Hugo e Lamartine.
O condorerismo vem de uma ave dos Alpes Andinos chamada condor, cujo vôo
é símbolo de liberdade.
IV
Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras
mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a
orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa nos
elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No
entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E ri-se a
orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
V
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
Quem são
estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...
São os
filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .
Existe um
povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...
Auriverde
pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
1. A que são
comparados os movimentos dos negros no convés?
2.
Como são produzidos os sons dessa dança macabra?
3.
Apostrofe é uma figura de linguagem que consiste em
dirigir-se o orador a uma pessoa ou coisa real ou fictícia, solicitando
intervenção. Circule algumas apostrofes do inicio da 5ª parte.
4.
O poeta dignifica os negros, descrevendo-os, no
final da 5ª parte, como eram antes de serem escravizados. O que os caracterizam
antes de se tornarem ‘míseros escravos’?
5.
Qual o motivo da indignação do poeta expressado na
6ª parte?
O
"adeus" de Teresa
A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus
E amamos juntos E depois na sala
"Adeus" eu disse-lhe a tremer co'a fala
E ela, corando, murmurou-me: "adeus."
Uma noite entreabriu-se um reposteiro. . .
E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus
Era eu Era a pálida Teresa!
"Adeus" lhe disse conservando-a presa
E ela entre beijos murmurou-me: "adeus!"
Passaram tempos sec'los de delírio
Prazeres divinais gozos do Empíreo
... Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse - "Voltarei! descansa!. . . "
Ela, chorando mais que uma criança,
Ela em soluços murmurou-me: "adeus!"
Quando voltei era o palácio em festa!
E a voz d'Ela e de um homem lá na orquestra
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei! Ela me olhou branca surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!
E ela arquejando murmurou-me: "adeus!"
A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus
E amamos juntos E depois na sala
"Adeus" eu disse-lhe a tremer co'a fala
E ela, corando, murmurou-me: "adeus."
Uma noite entreabriu-se um reposteiro. . .
E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus
Era eu Era a pálida Teresa!
"Adeus" lhe disse conservando-a presa
E ela entre beijos murmurou-me: "adeus!"
Passaram tempos sec'los de delírio
Prazeres divinais gozos do Empíreo
... Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse - "Voltarei! descansa!. . . "
Ela, chorando mais que uma criança,
Ela em soluços murmurou-me: "adeus!"
Quando voltei era o palácio em festa!
E a voz d'Ela e de um homem lá na orquestra
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei! Ela me olhou branca surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!
E ela arquejando murmurou-me: "adeus!"
1.
O
tema de um texto é aquilo que pode ser, geralmente, resumido em uma ou duas
palavras. Qual o tema desse poema?
2. Podemos destacar no poema cinco campos
lexicais: o prazer, as reações emotivas, o espaço físico, a festa, o tempo.
Quais palavras ser referem a cada um desses campos lexicais?
3. O assunto de um texto (temática) é o
seu resumo em uma frase ou pequeno parágrafo. Qual o assunto desse poema?
4. Esse poema é rico em hipérbatos
(inversão da ordem natural dos termos de uma oração ou das orações no período)
e hipérboles (exagero de ideias ou sentimentos. Destaque:
a)
Um
hipérbato que realça a ideia de arrebatamento do primeiro encontro, alem da
própria valsa, seu ritmo e seus passos.
b)
Uma
hipérbole que realça a ideia de intensidade amorosa havida entre os dois,
mantendo a ideia de arrebatamento expressa na primeira estrofe.
·
Sousândrade
Sua
obra é a parte, pois ele é um fenômeno da segunda geração romântica. Ele tem
como característica a fuga a lugares – comuns, a renovação da linguagem, evitou
o egocentrismo e a alienação típica dos de sua época, tem uma linguagem
discursiva, explicativa, como também uma inquietação metafísica e existencial
moderna.
Seu
livro ‘Guesa errante’ (Guesa significa errante, sem lar) é a sua obra mais
significativa. Na mitologia colombiana, guesa é um jovem destinado a ter o
coração arrancado em sacrifício ao deus Sol, depois de peregrinar dos 10 aos 15
anos. No longo poema de 13 cantos, o
poeta descreve as suas viagens, fazendo reflexões predominantemente sociais.
Toma partido dos povos indígenas contra a corrupção e opressão colonialista e
critica a sociedade capitalista.
Dá meia - noite
Sousândrade
Dá meia-noite em céu azul-ferrete
Formosa espádua a lua
Alveja nua,
E voa sobre os templos da cidade.
Nos brancos muros se projetam sombras;
Passeia a sentinela
À noite bela
Opulenta da luz da divindade.
O silêncio respira; almos frescores
Meus cabelos afagam;
Gênis vagam,
De alguma fada no ar andando à caça.
Adormeceu a virgem; dos espíritos
Jaz nos mundos risonhos -
Fora eu os sonhos
Da bela virgem... uma nuvem passa.
Dá meia-noite em céu azul-ferrete
Formosa espádua a lua
Alveja nua,
E voa sobre os templos da cidade.
Nos brancos muros se projetam sombras;
Passeia a sentinela
À noite bela
Opulenta da luz da divindade.
O silêncio respira; almos frescores
Meus cabelos afagam;
Gênis vagam,
De alguma fada no ar andando à caça.
Adormeceu a virgem; dos espíritos
Jaz nos mundos risonhos -
Fora eu os sonhos
Da bela virgem... uma nuvem passa.
CADÊ AS RESPOSTAS
ResponderExcluir