terça-feira, 11 de julho de 2017

Exercícios

A ARANHA
Origenes Lessa

- Quer assunto para um conto? - perguntou o Eneias, cercando-me no corredor.
Sorri.
- Não, obrigado.
- Mas é assunto ótimo, verdadeiro, vivido, acontecido, interessantíssimo!
- Não, não é preciso... Fica para outra vez...
- Você está com pressa?
- Muita!
- Bem, de outra vez será. Dá um conto estupendo. E com esta vantagem: aconteceu... É só florear um pouco.
- Está bem... Então... até logo... Tenho que apanhar o elevador...
[..]
- Pois olhe. Foi com o Melo. Quem contou foi ele. Esse é o maior interesse do fato. Coisa vivida. Batata! Sem literatura. É só utilizar o material, e acrescentar uns floreios, para encher, ou para dar mais efeito. Eu ouvi a história, dele mesmo, certa noite, em casa do velho. Não sei se você sabe que o Melo é um violinista famoso. Um artista. [...]
- É um caso único no [...] - O Melo tinha uma fazenda, creio que na Alta Paulista. Passava lá enormes temporadas, sozinho, num casarão desolador. Era um verdadeiro deserto. E como era natural, distração dele era o violão velho de guerra. Hora livre, pinho no braço, dedada nas cordas. No fundo, um romântico, um sentimental. O pinho dele soluça mesmo. Geme de doer. Corta a alma. É contagiante, envolvente, de machucar. Ouvi-o tocar várias vezes. “A Madrugada que Passou”, “O Luar do Sertão”, e tudo quanto é modinha sentida que há por aí tira até lágrima da gente, quando o Melo toca...
[...]
E Eneias continuava.
[..]
- O Melo estava tocando... Inteiramente longe da vida. De repente, olhou para o chão. Poucos passos adiante, enorme, cabeluda, uma aranha caranguejeira. Ele sentiu um arrepio. Era um bicho horrível. Parou o violão para dar um golpe na bruta. Mal parou, porém, a aranha, com uma rapidez incrível, fugiu, penetrando numa frincha da parede, entre o rodapé e o soalho. O Melo ficou frio de horror. Nunca tinha visto aranha tão grande, tão monstruosa. Encostou o violão. Procurou um pau, para maior garantia, e ficou esperando. Nada. A bicha não saía. Armou-se de coragem. Aproximou-se da parede, meio de lado, começou a bater na entrada da fresta, para ver se atraía a bichona. Era preciso matá-la. Mas a danada era sabida. Não saiu. Esperou ainda uns quinze minutos. Como não vinha mesmo, voltou para a rede, pôs-se a tocar outra vez a mesma toada triste. Não demorou, a pernona cabeluda da aranha apontou na frincha... [...]
- Apareceu a pernona, a bruta foi chegando. Veio vindo. O Melo parou o violão, para novo golpe. Mas a aranha, depois de uma ligeira hesitação, antes que o homem se aproximasse, afundou outra vez no buraco. “Ora essa!” Ele ficou intrigado. Esperou mais um pouco, recomeçou a tocar. E quatro ou cinco minutos depois, a cena se repetiu. Timidamente, devargazinho, a aranha apontou, foi saindo da fresta. Avançava lentamente, como fascinada. Apesar de enorme e cabeluda, tinha um ar pacífico, familiar. O Melo teve uma ideia. “Será por causa da música?” Parou, espreitou. A aranha avançaria uns dois palmos...
- Desce!
- Eu vou na outra viagem.
- Dito e feito... - continuou Eneias. - A bicha ficou titubeante, como tonta. Depois, moveu-se lentamente, indo se esconder outra vez. Quando ele recomeçou a tocar, já foi com intuito de experiência. Para ver se ela voltava. E voltou. No duro. Três ou quatro vezes a cena se repetiu. A aranha vinha, a aranha voltava. Três ou mais vezes. Até que ele resolveu ir dormir, não sei com que estranha coragem, porque um sujeito saber que tem dentro de casa um bicho desses, venenoso e agressivo, sem procurar liquidá-lo, é preciso ter sangue! No dia seguinte, passou o dia inteiro excitadíssimo. Isto sim, dava um capítulo formidável. Naquela angústia, naquela preocupação. “Será que a aranha volta? Não seria tudo pura coincidência?” Ele estava ocupadíssimo com a colheita. Só à noite voltaria para o casarão da fazenda. Teve que almoçar com os colonos, no cafezal. Andou a cavalo o dia inteiro. E sempre pensando na aranha. O sujeito que fizer o conto pode tecer uma porção de coisas em torno dessa expectativa. À noite, quando se viu livre, voltou para casa. Jantou às pressas. Foi correndo buscar o violão. Estava nervoso. “Será que a bicha vem?” Nem por sombras pensou no perigo que havia ter em casa um animal daqueles. Queria saber se “ela” voltava. Começou a tocar como quem se apresenta em público pela primeira vez. Coração batendo. Tocou. O olho na fresta. Qual não foi a alegria dele quando, quinze ou vinte minutos depois, como um viajante que avista terra, depois de uma longa viagem, percebeu que era ela... o pernão cabeludo, o vulto escuro no canto mal iluminado.
- Desce!
- Sobe!
- Desce!
- Sobe!)
- A aranha surgiu de todo. O mesmo jeito estonteado, hesitante, o mesmo ar arrastado. Parou a meia distância. Estava escutando. Evidentemente, estava. Aí, ele quis completar a experiência. Deixou de tocar. E como na véspera, quando o silêncio se prolongou, a caranguejeira começou a se mover pouco a pouco, como quem se desencanta, para se esconder novamente. É escusado dizer que a cena se repetiu nesse mesmo ritmo uma porção de vezes. E para encurtar a história, a aranha ficou famosa. O Melo passou o caso adiante. Começou a vir gente da vizinhança, para ver a aranha amiga da música. Todas as noites era aquela romaria. Amigos, empregados, o administrador, gente da cidade, todos queriam conhecer a cabeluda fã de “O Luar do Sertão”, e de outras modinhas. E até de música boa. Chopin... Eu não sei qual é... O curioso é que o Melo tocava todas as noites. Havia ocasiões em que custava a aparecer. Mas era só tocar a “Gavota”, ela surgia. O curioso é que o Melo se tomou de amores pela aranha. Ficou sendo a distração, a companheira e Ela, com E grande. Chegou até a pôr-lhe nome, não me lembro qual. E ele conta que, desde então, não sentiu mais a solidão incrível da fazenda. Os dois se compreendiam, se irmanavam. Ele sentia quais as músicas que mais tocavam a sensibilidade “dela”... Pois bem, uma noite, apareceu um camarada de fora, que não sabia da história. Cheio de prosa, de novidades. Os dois ficaram conversando longamente, inesperada palestra de cidade naqueles fundos de sertão. Às tantas, esquecido até da velha amiga, o Melo tomou do violão, velho hábito que era um prolongamento de sua vida. Começou a tocar, distraído. Não se lembrou de avisar o amigo. A aranha quotidiana apareceu. O amigo escutava. De repente, seus olhos a viram. Arrepiou-se de espanto. E, num salto violento, sem perceber o grito desesperado com que o procurava deter o hospedeiro, caiu sobre a aranha, esmagando-a com o sapatão cheio de lama. O Melo soltou um grito de dor. O rapaz olhou-o. Sem compreender, comentou:
- Que perigo, hein?
O outro não respondeu logo. Estava pálido, numa angústia mortal nos olhos.
- E justamente quando eu tocava a “Gavota de Tarrega, a que ela preferia, coitadinha...


(Omelete em Bombaim, 1946.)


1.     Dos elementos da narrativa (personagens, narrador, lugar, tempo e espaço) e dos tipos de narrativas (conto, crônica, novela e romance) podemos observar alguns pormenores. Nesse contexto, como o narrador ficou sabendo da história?

a)    Através de um amigo chamado Eneias.
b)    Através de um viajante.
c)    Através do rádio.
d)    Através das aulas na escola.
e)    Todas as respostas.

2.     O que havia de surpreendente na historia de Melo?

a)    Uma vida simples no campo.
b)    Uma aranha que saia do esconderijo quando escutava violão.
c)    Um cachorro adestrado.
d)    O viajante que pegou a aranha.
e)    A aranha que sabia tocar piano.

3.     A aranha teve um papel positivo ou negativo na vida de Melo?

a)     Negativo, pois não acrescentou nada a sua vida.
b)    Negativo, pois ela fazia dançar para as pessoas verem.
c)    Positivo, porque ela ficou como companheira de Melo.
d)    Positivo, pois  ele fez guizado de aranha.
e)    Positivo, porque ela sabia desenhar letras na sua teia.

4.     Na frase: “Estas ameaças são reais principalmente para quem não tem noção desses perigos e que acredita que é perfeitamente seguro partilhar informações pessoais nas redes sociais, deixando-as visíveis para qualquer utilizador da Internet.”. Há um exemplo claro de:

a)    Subjetivismo.
b)    Denotação.
c)     Conotação.
d)    Estrangeirismo
e)    Figuras de linguagem

Leia o texto musical que tem a mesma temática das Cantigas do Trovadorismo e responda o que se pede:

Verônica, me sinto tão só
Quando não estais junto a mim
Verônica, eu quero dizer
Que te amo tanto
Que não posso mais
Que te quero tanto, amor

Quero teus olhos, olhar
Quero tua boca, beijar

 

5.     O texto acima é exemplo de uma: 

a) Cantiga de maldizer, porque zomba do amor correspondido.
b) Cantiga de amigo, porque o eu – lírico é uma mulher que sofre por um homem.
c) Cantiga de escarnio, pois critica o amor sentido pela outra pessoa.
d) Cantiga de amor, porque o eu – lírico é um homem que sofre por uma mulher.
e) Todas as respostas.

Leia o texto e responda o que se pede:

Todas as cartas de amor
Fernando Pessoa

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam carta de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas)

6.     O poeta utiliza uma figura de linguagem no verso: “Também escrevi em meu tempo cartas de amor, como as outras, [...]. Qual figura de linguagem está presente no verso citado?

a)    Metonímia.
b)    Catacrese.
c)    Comparação.
d)    Sinestesia.
e)    Onomatopeia.

Veja a imagem e responda o que se pede:


7.     A qual movimento literário pertence o teatro de Gil Vicente?

a)    Quinhentismo.
b)    Trovadorismo
c)    Barroco.
d)    Classicismo.
e)    Humanismo.

Veja a imagem abaixo e responda o que se pede:

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8.     A qual movimento literário pertence a poesia lírica de Luís Vaz de Camões?

a)    Classicismo.
b)    Trovadorismo
c)    Barroco.
d)    Quinhentismo.
e)    Humanismo.

Leia o texto do Quinhentismo e responda o que se pede:


Texto 1"Dali houvemos vista de homens que andavam pela praia, cerca de sete ou oito, segundo os navios pequenos disseram, porque chegaram primeiro. Ali lançamos os batéis e esquifes à água e vieram logo todos os capitães das naves a esta nau do Capitão-mor e ali conversaram. E o Capitão mandou no batel, a terra, Nicolau Coelho para ver aquele rio; e quando começou a ir para lá acudiram, à praia, homens, aos dois e aos três. Assim, quando o batel chegou à foz do rio estavam ali dezoito ou vinte homens, pardos, todos nus, sem nenhuma roupa que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos e suas setas. Vinham todos rijos para o batel e Nicolau Coelho fez-lhes sinal para que deixassem os arcos e eles os pousaram. Mas não pôde ter deles fala nem entendimento que aproveitasse porque o mar quebrava na costa."
Batel e esquife: barcos pequenos.

Texto 2:"Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, com uma alcatifa aos pés, por estrado, e bem vestido com um colar de ouro muito grande ao pescoço [...] Acenderam-se tochas e entraram; e não fizeram nenhuma menção de cortesia nem de falar ao Capitão nem a ninguém. Mas um deles viu o colar do Capitão e começou a acenar com a mão para a terra e depois para o colar, como a dizer-nos que havia ouro em terra; e também viu um castiçal de prata e da mesma forma acenava para terra e para o castiçal como que havia, também, prata. Mostraram-lhe um papagaio pardo que o Capitão aqui traz; tomaram-no logo na mão e acenaram para terra, como que os havia ali; mostraram-lhe um carneiro e não fizeram caso dele; mostraram-lhe uma galinha e quase tiveram medo dela e não lhe queriam pôr a mão; e depois a pegaram como que espantados."
alcatifa: tapete grande para revestir o chão.

Texto 3: "De ponta a ponta é toda praia rasa, muito plana e bem formosa. Pelo sertão, pareceu-nos do mar muito grande, porque a estender a vista não podíamos ver senão terra e arvoredos, parecendo-nos terra muito longa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro nem prata, nem nenhuma coisa de metal, nem de ferro; nem as vimos. Mas, a terra em si é muito boa de ares, tão frios e temperados, como os de Entre-Douro e Minho, porque, neste tempo de agora, assim os achávamos como os de lá. Aguas são muitas e infindas. De tal maneira é graciosa que, querendo aproveitá-la dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem. Mas o melhor fruto que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente; e esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar."

             (In: Cronistas e viajantes. São Paulo: Abril Educação, 1982. p. 12-23. Literatura Comentada.)

9.     Segundo Pêro Vaz de Caminha, usando o modo da descrição da cena, como também a argumentação, Nicolau Coelho não conseguiu comunicar-se oralmente com os índios. O que alegou como causa?

a)    O cantar dos passarinhos na mata.
b)    O som das ondas quebrando na praia.
c)    O som das cigarras anunciando chuva.
d)    O som dos cavalos trotando.
e)    O som dos aviões da II Guerra Mundial.

Veja a tela abaixo do pintor Caravaggio chamada de A crucificação de São Pedro e responda:

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10.  Essa tela tem uma característica do Barroco presente também nos textos, qual é?

a)    O uso de denotação.
b)    A informação sobre sua morte.
c)    A discussão de como se iria morrer.
d)    Uso de Onomatopeias.
e)    O jogo do claro e escuro. Uso de antíteses.

11.  Uma resenha de filme (ou de um álbum de música ou afins) é um texto relacionado a o filme em estudo em que se dá uma opinião sobre o mesmo, usando a argumentação e a criticidade seja ela positiva ou negativa. Dos textos abaixo, marque qual é uma resenha de um filme.

a)    Era uma vez uma menina pobre que morava na casa de uma senhora má.
b)    Mataram 2 assaltantes no bairro de Mangabeira.
c)    O filme O conde de Monte Cristo baseia-se no romance de mesmo nome do escritor francês Victor Hugo. Esse filme segue fielmente o que está na narrativa, sendo impecavelmente reconhecido pela crítica como um best seller. (Análise do Professor Marconildo Viegas).
d)    Abortar é um dos crimes mais horríveis praticados contra um ser humano indefeso, como é o caso dos bebês anencéfalos.
e)    Todas as respostas.


Veja a tela e responda o que se pede:

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Essa tela é representativa de um movimento literário medieval em que a poesia era musicalizada. Esse movimento literário é chamado de:

a)    Classicismo.
b)    Trovadorismo
c)    Barroco.
d)    Quinhentismo.
e)    Humanismo


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