sábado, 22 de dezembro de 2012

Poesias sobre a língua portuguesa


A língua

Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém - mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar,
para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.

Eugénio de Andrade

Os cajueiros da Guiné-Bissau

São plantados em pelotões
desfilam pela autoridade
que os fez plantar; são em parada,
sem o nordestino à vontade.

Os cajueiros são anarquistas,
nenhuma lei rege seus galhos
(o de Pirangi, em Natal,
é horizontal, cresceu deitado).


Como hoje esses cajueiros
que do seu Nordeste irredento
Salazar recrutou para a África ?
Já podem dar seu mau exemplo?

 João Cabral de Melo Neto, Agrestes, 1985


"Domingos Fernandes Calabar
Eu te perdôo!
Tu nâo sabias
Decerto o que fazias
Filho cafuz
De Sinhá Ângela do Arraial do Bom Jesus.
Se tu vencesses, Calabar!
Se em vez de portugueses,
- Holandeses!
Ai de nós!
Ai de nós sem as coisas deliciosas
Que em nós moram:
Redes,
Rezas,
Novenas,
Procissões - E essa tristeza, Calabar,
E essa alegria danada, que se sente
Subindo, balançando, a alma da gente,
Calabar, tu não sentiste
Essa alegria gostosa de ser triste!"

(Jorge de Lima) poeta brasileiro. Poemas.


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