domingo, 22 de junho de 2014

Estudo dos sermões



OBRAS LITERÁRIAS


ESTUDO DE ALGUNS SERMÕES,
DE PADRE ANTÔNIO VIEIRA.

01. Sermão da Primeira Dominga da Quaresma ( ou das Tentações)
Pregado em São Luís do Maranhão, no primeiro Domingo da Quaresma de 1653, o sermão das Tentações foi o resultado de um acordo, entre o padre Antônio Vieira e o Capitão – Mor, na tentativa de encontrar uma saída para os protestos dos colonos, contra o recente Diploma Real que mandava libertar todos os índios cativos. Esperava o orador – com este sermão – apaziguar os ânimos, e, ao menos, aliviar a situação dos escravos, sem contudo inviabilizar a economia local, a falta de mão-de-obra.
Na realidade, o sermão teve efeito instantâneo sobre os ouvintes, pois, naqueles tempos, a simples ameaça com o fogo do Inferno sempre resultava; entretanto, passado o impacto das palavras do padre sobre o auditório, e perante as dificuldades advindas da falta de serviçais, logo o instinto de sobrevivência vencia o medo, a tornar os colonos de novo autoritários e ciosos de seus direitos. Entre as autênticas pérolas deste brilhante sermão, podemos ressaltar a seguinte:
Que vós, que vossas mulheres, que vossos filhos, e que todos nós nos sustentássemos dos nossos braços; porque melhor é sustentar do suor próprio, que do sangue alheio”.
Muitas vezes – e por muitos – criticada, porque ignorada e ou incompreendida, a sobre-humana missão dos jesuítas no Brasil se ficou devendo, não apenas a evangelização, mas, principalmente, um conjunto de atos tratos e fatos, que impediram os silvícolas a serem dizimados, à semelhança do que aconteceu na América do Norte. A eles se deve – ainda – a fundação dos colégios (os equivalentes das universidades hoje) de Salvador e de Olinda, onde o padre Antônio Vieira estudou dos seis aos vinte e sete anos, e adquiriu a sua vasta erudição, que procurou transmitir a seus anos de teologia, filosofia e latim, matérias em que foi mestre. De qualquer modo, basta-nos a fato de Vieira ter efetuado todos os seus estudos no Brasil, para aquilatar do nível destes, que tanto prestígio e fama granjearam ao jesuíta, logo que ele - ... 33 anos – iniciou as suas pregações em Lisboa.

02.  Sermão de Santo Antônio (ou dos Peixes)
Entre os nove sermões chamados e Santo Antônio, é este o mais conhecido, e quiçá, o mais brilhante, se bem que inspirado no proceder do santo, como logo de início declara Vieira: “ Nas festas dos santos, é melhor pregar como eles, que pregar deles”.
Pregado a 13 de junho de 1654 – comemoramos o santo no dia do seu passamento – este sermão é como uma continuação do anterior. Passado o encanto do sermão da Tentações, os colonos logo esqueceram a ameaça do fogo do Inferno, e voltaram a exigir a posse dos escravos, sem qualquer controle dos jesuítas, pelo que o padre Antônio Vieira decidiu deslocar-se a corte de Lisboa, para tentar conseguir do monarca o cumprimento do diploma real. Antes, porém, achou por bem renovar a tentativa de – agora valendo-se de metáforas e alegorias – impressionar as “almas” de seus ouvintes, para conseguir algumas vantagens para os escravos, que eram, no fundo, a razão de seu apostolado.
Depois de dissertar sobre o tema: “Vós sois o sal da Terra”, o nosso eloqüente orador passou a discorrer acerca dos homens-peixes” para, a certa altura, desferir esta certeira assertiva:
“ A primeira coisa que me desedifica de vós – peixes – é que vós comeis uns aos outros. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comessem os grandes, bastaria um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande e para que vejais como estes comidos na terra são os pequenos, e pelos mesmos modos que vós vos comeis no mar
Com uma construção literária e argumentativa notável, o sermão louva algumas virtudes humanas e, principalmente, censura com severidade os vícios dos colonos. Este sermão (alegórico) foi pregado três dias antes de Padre António Vieira embarcar ocultamente (a furto) para Portugal, para obter uma legislação justa para os índios.
Todo o sermão é uma alegoria, porque os peixes são a personificação dos homens.

1. INTRODUÇÃO (Exórdio) - cap.I

             A partir do conceito predicável "vós sois o sal da terra": "Santo António foi sal da terra e foi sal do mar."

2. DESENVOLVIMENTO (Exposição e Confirmação) - cap. II a V

             "(...) para que procedamos com alguma clareza, dividirei, peixes, o vosso sermão em dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei as vossas atitudes, no segundo repreender-vos-ei os vossos vícios.".

2.1. LOUVOR DAS VIRTUDES

            "Começando, pois, pelos vossos louvores, irmãos peixes, ..."

2.1.1. LOUVORES EM GERAL - cap. II (1.º momento da Exposição)

a) "ouvem e não falam"
b) "vós fostes os primeiros que Deus criou"
c) "e nas provisões (...) os primeiros nomeados foram os peixes"
d) "entre todos os animais do mundo, os peixes são os mais e os maiores"
e) "aquela obediência, com que chamados acudistes todos pela honra de vosso Criador e Senhor"
f) "aquela ordem, quietação e atenção com que ouvistes a palavra de Deus da boca do seu servo António. (...) Os homens perseguindo a António (...) e no mesmo tempo os peixes (...) acudindo a sua voz, atentos e suspensos às suas palavras, escutando com silêncio (...) o que não entendiam."
g) "só eles entre todos os animais se não domam nem domesticam"

2.1.2. LOUVORES EM PARTICULAR - cap. III (1.º momento da Confirmação)

2.1.2.1. SANTO PEIXE DE TOBIAS

           "o fel era bom para curar da cegueira"; "o coração para lançar fora os demônios"

2.1.2.2. RÉMORA

            "(...) se se pega ao leme de uma nau da índia (...) a prende e amarra mais que as mesmas âncoras, sem se poder mover, nem ir por diante."

2.1.2.3. TORPEDO

             "Está o pescador com a cana na mão, o anzol no fundo e a bóia sobre a água, e em lhe picando na isca o torpedo, começa a lhe tremer o braço. Pode haver maior, mais breve e mais admirável efeito?"

2.1.2.4. QUATRO-OLHOS

              "e como têm inimigos no mar e inimigos no ar, dobrou-lhes a natureza as sentinelas e deu-lhes dois olhos, que direitamente olhassem para cima, para se vigiarem das aves, e outros dois que direitamente olhassem para baixo, para se vigiarem dos peixes."

2.2. REPREENSÃO DOS VÍCIOS

               "Antes, porém, que vos vades, assim como ouvistes os vossos louvores, ouvi também agora as vossas repreensões."

2.2.1. REPREENSÕES EM GERAL - cap. IV (2.º momento da Exposição)

a) "(...) é que vos comedes uns aos outros."
b) "Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos."
c) "Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande."

2.2.2. REPREENSÕES EM PARTICULAR - cap. V (2.º momento da Confirmação)

2.2.2.1. RONCADORES

               "É possível que sendo vós uns peixinhos tão pequenos, haveis de ser as roncas do mar?"

2.2.2.2. PEGADORES

                "Pegadores se chamam estes de que agora falo, e com grande propriedade, porque sendo pequenos, não só se chegam a outros maiores, mas de tal sorte se lhes pegam aos costados, que jamais os desferram."

2.2.2.3. VOADORES

                "Dizei-me, voadores, não vos fez Deus para peixes? Pois porque vos meteis a ser aves? (...) Contentai-vos com o mar e com nadar, e não queirais voar, pois sois peixes."

2.2.2.4. POLVO

                  "E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa (...) o dito polvo é o maior traidor do mar."

3. CONCLUSÃO (Peroração) - cap. VI

                   "Com esta última advertência vos despido, ou me despido de vós, meus peixes. E para que vades consolados do sermão, que não sei quando ouvireis outro, quero-vos aliviar de uma desconsolação mui antiga, com que todos ficastes desde o tempo em que se publicou o Levítico."

4. LOUVORES EM GERAL

4.1.São obedientes (obediência), ouvem e não falam: "aquela obediência, com que chamados acudistes todos pela honra de vosso Criador e Senhor"; "ouvem e não falam"
4.2. Foram os primeiros animais a serem criados:"vós fostes os primeiros que Deus criou"
4.3. São os mais numerosos e os mais volumosos: "entre todos os animais do mundo, os peixes são os mais e os maiores"
4.4. Não são domesticáveis, presos, virgens: "só eles entre todos os animais não se domam nem domesticam"

5. LOUVORES EM PARTICULAR

5.1. Peixe de Tobias:

a) Cura a cegueira

          à "(...) sendo o pai de Tobias cego, aplicando-lhe o filho aos olhos um pequeno do fel, cobrou inteiramente a vista;"

b) Expulsa os demônios

         à "(...) tendo um demônio chamado Asmodeu morto sete maridos a Sara, casou com ela o mesmo Tobias; e queimando na casa parte do coração, fugiu dali o demônio e nunca mais tornou;"

5.2. Rêmora: um peixe pequeno, mas tem muita força. Representa a soberba

a) A fraqueza e nada com que luz.

               à "(...) se se pega ao leme de uma nau da índia (...) a prende e amarra mais que as mesmas âncoras, sem se poder mover, nem ir por diante."
               à "Oh se houvera uma rêmora na terra, que tivesse tanta força como a do mar, que menos perigos haveria na vida, e que menos naufrágios no mundo!"
               à "(...) a virtude da rêmora, a qual, pegada ao leme da nau, é freio da nau e leme do leme”.

5.3 Torpedo: peixe que faz descargas elétricas para se defender. Representa a vingança.

a) Faz abanar, faz passar a douta, o bom e a virgindade do Espírito Santo.

                à"Está o pescador com a cana na mão, o anzol no fundo e a bóia sobre a água, e em lhe picando na isca o torpedo, começa a lhe tremer o braço. Pode haver maior, mais breve e mais admirável efeito? De maneira que, num momento, passa a virtude do peixezinho, da boca ao anzol, do anzol, à linha, da linha à cana e da cana ao braço do pescador"

5.4. Quatro Olhos: vê para cima e para baixo. Representa a capacidade de distinguir o bem do mal (céu/inferno).

a) A Vigilância, providência

                 à"Esta é a pregação que me fez aquele peixezinho, ensinando-me que, se tenho fé e uso da razão, só devo olhar direitamente para cima, e só direitamente para baixo: para cima, considerando que há Céu, e para baixo, lembrando-me que há Inferno" (Senão por amor a Deus (cima), então, por repúdio ao inferno (baixo))

6. REPREENSAÕES EM PARTICULAR (Capítulo V)

6.1. Roncadores: são pequenos, mas fazem muito barulho ( são simples, mas exibicionistas) exemplos de roncadores: São Pedro (quando renunciou a deus); Golias e Pilatos.

6.2. Pegadores: são pequenos e pegam-se aos maiores ( são frágeis e pegam-se aos poderosos) aprenderam a ser parasitas com os navegadores portugueses quando morre o "tubarão", morrem com ele os "pegadores" exemplos de pegadores: Herodes e a sua corte ( no sentido negativo); David e Santo António ( exemplos positivos porque se pegaram a deus)

6.3. Voadores: para além dos peixes querem ser aves ( simbolizam a presunção, o capricho e a ambição) os outros peixes morrem por causa da fome na fisga e no anzol; os voadores morrem nas velas, nas cordas e nas quilhas por causa da vaidade de voar aforismo: quem quer mais do que lhe convém, perde o que quer e o que tem exemplo de voadores: Simão; Ícaro; Santo Antônio ( teve asas mas voou para baixo em direção à humildade).

6.4. Polvo: "irmão" polvo ( ironia) tem um capelo como um monge; tem raios como uma estrela; tem ausência de asas e espinha e é brando ( comparação; "aparência tão modesta", "hipocrisia tão santa" --> maior traidor do mar--> a igreja) exemplos de polvos: Judas (sentido negativo); Santo Antônio ( sentido positivo, sinceridade e verdade); critica aos portugueses( fingimento e engano).

03. Sermão da Sexagésima (ou do Evangelho)
O Sermão da Sexagésima versa sobre a arte de pregar em suas dez partes. Nele, Vieira usa de uma metáfora: pregar é semear
Traçando paralelos entre a parábola bíblica sobre o semeador que semeou nas pedras, nos espinhos (onde o trigo frutificou e morreu), na estrada (onde não frutificou) e na terra (que deu frutos), Vieira critica o estilo de outros pregadores contemporâneos seus que pregavam mal, sobre vários assuntos ao mesmo tempo (resultando em pregar em nenhum), ineficazmente e agradavam aos homens ao invés de pregar servindo a Deus.
Se com o sermão dos Peixes, Antônio Vieira se despediu, temporariamente, dos colonos de São Luís do Maranhão, no sermão da Sexagésima, pregado na Capela Real de Lisboa, em 1655, ele discorreu brilhantemente sobre a missão do semeador da palavra divina – que era -  e acerca das agruras por que os semeadores passavam, ilustrando-o com as vicissitudes por si suportadas no Maranhão, e estabelecendo o contraste com a suavidade da vida dos padres, que se ficavam pela capital do reino. Escolhido pelo próprio autor, para figurar em primeiro lugar, na obra em que publicou os seus sermões, decerto Viera considerava o sermão da Sexagésima o seu “primus inter pares”, portanto o melhor.
Neste sermão, o Paiaçu dos índios dá-nos uma lição de mestre, relativamente a arte de pregar. De bem falar, de bem dizer, e de melhor convencer, conferindo-lhe alto valor literário, e definindo, para nós, e para si mesmo, as normas e preceitos a que deve obedecer o bom orador, caracterizando o estilo que o imortalizou, e a que devemos tantas e tão belas peças do seu sermonário. Tido como repto à ordem, sua rival, que muitas dores de cabeça já lhe causara, e muitas mais ainda havia de provocar-lhe, o sermão da Sexagésima ficou-nos como que uma cartilha a que devemos recorrer para estudar a dialética e retórica.
Não era sem razão que o grande jesuíta ensinava: “O estilo pode ser muito claro e muito alto. Tão claro que entendam os que não sabem, e tão alto que tenham muito o que entender o que sabem... há de tomar o pregador uma só matéria; há de defini-la para que se conheça, há de dividi-la para que se destina; há de prova-la com a Escritura, há de declara=la com a razão, há de confirma-la com o exemplo; há de amplifica-la com as causas, com os efeitos, com as circunstâncias, com às conveniências, que se hão de seguir, com os inconvenientes que se hão de evitar; há de responder às dúvidas, há de satisfazer às dificuldades; há de impugnar e refutar, com toda a força da eloqüência, os argumentos contrários; e depois disto, há de colher, há de apertar, há concluir, há de persuadir, há de acabar”
04. Sermão do Bom ladrão ( ou da Audácia)
Pregado na igreja da Misericórdia, em Lisboa, na Quaresma de 1955, perante cortesãos e altos dignitários, este sermão temerário só poderia ter sido proferido pelo padre Antônio Vieira e, mesmo assim, antes que seus muitos inimigos tivessem minado o seu prestígio junto aos soberanos, o que – pour cause – logo viria a acontecer, porquanto, a sua frontalidade, a sua ousadia, e a sua verdade, atingiam terrivelmente grande parte da elite do tempo, então – como agora – já simpatizante das contas na Suíça.
Valendo-se do mote de uma carta de São Francisco Xavier a D. João III, afirmando que, na Índia portuguesa, se conjugava o verbo rapto ou roubar por todos os modos, Vieira desenvolveu o tema:
“ O que eu posso acrescentar pela experiência que tenho, é que não só do Cabo da Boa Esperança para lá, mas também das partes do Aquém, se usa igualmente a mesma conjugação. Conjugam por todos os modos o verbo rapio, porque furtam de todos os modos da arte.. tanto que lá chegam, começam a furtar pelo modo indicativo... furtam pelo modo imperativo... furtam pelo modo mandativo... furtam pelo modo optativo... furtam pelo modo conjuntivo... furtam pelo modo potencial... furtam pelo modo permissivo... furtam pelo modo infinitivo, porque não tem fim o furtar com o fim do governo, e sempre lá deixam raízes, em que se vão continuando os furtos”.
Em seguida, referindo-se aos príncipes (governantes), declara-os companheiros dos ladrões:
“São companheiros dos ladrões porque dissimulam; são companheiros dos ladrões por que os consentem; são companheiros dos ladrões porque lhes dão postos e os poderes; são companheiros dos ladrões porque talvez os defendem,e são, finalmente, seus companheiros porque os acompanham, e hão de acompanhar ao Inferno, onde os mesmos ladrões os levam consigo”.

05. Sermão da Epifania (ou do Evangelho)
Belíssima e genuína peça da oratória de Vieira, pregada na Capela Real, em Lisboa, no dia de Reis de 1662 – em que se comemora a festa da igreja em homenagem aos Reis Magos, logo após a chegada do padre à capital do reino. O sermão da Epifania revela-nos um Antônio Vieira causídico, autêntico discípulo de Cícero, manejando com muita habilidade os argumentos a favor das missões jesuíticas, invocando a memória de seu grande amigo, protetor das missões, e de si esmo – o falecido rei D. João IV – que tanta falta lhe iria fazer, normente agora, após sua expulsão do Maranhão pelos colonos.
Esta violência seria a primeira de uma série que se iria prolongar, porquanto os ventos passaram a ser contrários ao grande jesuíta. Com a mudança de governo, Antônio Vieira acabaria por ser deportado para a cidade do Porto, de onde respondeu às acusações apresentadas pelos colonos de São Luís, cuja conseqüência foi a privação do poder temporal dos jesuítas, e a proibição de Vieira – e só ele – retornar à sua província. Logo se seguiria o longo processo movido pela Inquisição ( a sua defesa é outra peça de invulgar valor), pelo qual acabou condenado a quatro anos de cárcere, doa quais cumpriu pouco mais de metade, nas instalações da companhia em Coimbra.

EXERCÍCIOS



Você vai ler, a seguir, um trecho do Sermão da Sexagésima, um dos mais importantes de Vieira. Nesse sermão, o autor, ao mesmo tempo em que desenvolve a temática religiosa de costume, aproveita para também discorrer sobre a arte de pregar por meio dos sermões. O texto é um exemplo da grande habilidade de pregador de Vieira.

“Fazer pouco fruto a palavra de Deus no Mundo pode preceder de um de três princípios: ou da parte do pregador, ou da parte do ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma alma se converter por meio de um sermão, há de haver três concursos: há de concorrer o pregador com a doutrina, persuadindo; há de concorrer o ouvinte com o entendimento, percebendo; há de concorrer Deus com a graça alumiando. Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelhos e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelhos e olhos, e é de noite, não de pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, , há mister espelho e há mister olhos. Que coisa é a conversão da alma, senão entrar um homem dentro em si e ver-se a si mesmo? Para esta vista são necessários olhos, é necessária luz e é necessário espelho. O pregador concorre com o espelho, que é a doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça; o homem concorre com os olhos, que é o conhecimento. Ora suposto que a conversão das almas por meio da pregação depende destes três concursos: de Deus, do pregador e do ouvinte , por qual deles havemos de entender que falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do pregador, ou por parte de Deus?

Primeiramente, por parte de Deus, não falta nem pode faltar. Esta proposição é de fé, definida no Concílio Tridentino, e no nosso Evangelho a temos. [...]

Sendo , pois, certo que a palavra de divina não deixa de frutificar por parte de  Deus, segue-se que ou é por falta do pregador ou por falta dos ouvintes. Por qual será? Os pregadores deitam a culpa aos ouvintes, mas não é assim. Se fora por parte dos ouvintes, não fizera a palavra de Deus muito grande fruto, mas não fazer nenhum fruto e nenhum efeito, não é por parte dos ouvintes. Provo. Os ouvintes, ou são maus ou são bons; se são bons, faz neles grande fruto a palavra de Deus; se são maus, ainda que não faça neles fruto, faz efeito. [...] a palavra de Deus é tão fecunda, que nos bons faz muito fruto e é tão eficaz que nos maus, ainda que não faça fruto, faz efeito; lançada nos espinhos não frutificou, mas nasceu até nos espinhos; lançada nas pedras não frutificou, mas nasceu até nas pedras. Os piores ouvintes que há na Igreja de Deus são as pedras e os espinhos. Por quê? – Os espinhos por agudos, as pedras por duras. Ou vintes d entendimentos agudos e ouvintes  de vontades endurecidas são os piores que há. Os ouvintes de entendimentos agudos são maus ouvintes, porque vêm só a ouvir sutilezas, a esperar galantarias, a avaliar pensamentos, e às vezes também a picar a quem não pica. [...]

 Mas os de vontade endurecidas ainda são piores, por que um entendimento agudo pode-se ferir pelos mesmo fios, e vencer-se uma agudeza com outra maior, mas contra vontades endurecidas nenhuma coisa aproveita a agudeza, antes dana mais, porque quanto as setas são mais agudas, tanto mais facilmente se despontam na pedra. [...]

[...] E com ouvintes de entendimentos agudos e os ouvintes de vontades endurecidas serem os mais rebeldes, é tanta a força da divina palavra, que , apesar da agudeza, nasce nos espinhos, e apesar da dureza, nasce nas pedras.

Pudéramos argüir ao lavrador do Evangelho de não cortar os espinhos e de não arrancar as pedras antes de semear, mas de indústria deixou no campo as pedras e os espinhos, para que se visse a força que semeava. É tanta a força da divina palavra, que, se cortar nem despontar espinhos, nasce entre espinhos. É tanta força da divina palavra, que, sem arrancar nem abrandar pedras, nasce nas pedras. [...] Tomai exemplo nessas mesmas pedras e nesses espinhos! Esses espinhos e essas pedras agora resistem ao semeador do Céu; mas virá tempo em que essas pedras o aclamem e esses mesmo espinhos o coroem.

Quando o semeador do Céu deixou o campo, saindo deste Mundo, as pedras se quebraram para lhe fazerem aclamações, e os espinhos se teceram para lhe fazerem coroa. E se a palavra de Deus até dos espinhos e das pedras triunfa. Se a palavra de Deus até nas pedras, até nos espinhos nasce; não triunfar dos alvedrios hoje a palavra de Deus, nem nascer nos corações, não é por culpa, nem por indisposição dos ouvintes.

Supostas estas duas demonstrações; suposto que o fruto e efeito da palavra de Deus, não fica, nem por parte de Deus, nem por parte dos ouvintes, segue-se por conseqüência clara, que fica por parte do pregador. E assim é. Sabeis cristãos, por que não faz fruto a palavra de Deus? – Por culpa dos pregadores. Sabeis pregadores, por que não faz fruta a palavra de Deus? – Por culpa nossa.”


Dicionário
 
Concurso: afluência, encontro.                                                         Agudo: perspicaz, sutil.
Concorrer: juntar-se, contribuir.                                           Argüir: acusar, censurar
Persuadir: convencer                                                            de indústria: de propósito
Mister: necessidade.                                                              Alvedrio: vontade própria
Concílio Tridentino: referência ao Concílio
de Trento , que deu origem ao movimento
da Contra – Reforma.




Responda as questões 1 a 6 sobre o trecho lido acima.

1. Logo no 1º parágrafo, Vieira apresenta na forma de pergunta o tema a ser desenvolvido: Por que a palavra de Deus faz tão pouco fruto? Como é de comum em sermões, o orador faz várias perguntas e ele mesmo responde, como meio de conduzir o raciocínio de seu ouvinte. Que causas Vieira atribui ao pouco fruto da palavra de Deus, isto é, ao fato de a pregação religiosa conseguir tão poucos adeptos?

2. Vieira costuma desenvolver seus sermões com raciocínios complexos e lógicos, fazendo uso freqüente de metáforas, comparações e alegorias. Nesse sermão, por exemplo, ele constrói correspondências alegóricas, que podem ser assim esquematizadas:

É necessário

Releia o primeiro parágrafo do texto e estabeleça as relações: a quem correspondem os elementos olhos, espelhos e luz?

3. Na busca de identificar o responsável pelo pouco fruto da palavra de Deus, o autor de imediato inocenta a Deus. Que argumento ele utiliza para isso?

4. Sendo Deus inocentado, a culpa passa a ser ou do pregador ou dos ouvintes. Valendo-se da alegoria do trigo, o autor afirma que, se a semente não vinga, quando semeada, tal fato não advém da qualidade da semente, mas dos espinhos e das pedras do solo. Traduza o significado dos elementos que participam nessa alegoria:

a)      a semente:
b)      os espinhos:
c)      as pedras:

5. No final do texto, chega-s a uma conclusão sobre a atribuição da responsabilidade pela pouca conversão de fiéis à religião.

a)      Qual é essa conclusão?
b)      Por que se pode afirmar que nesse sermão é um exercícios de metalinguagem?

6. Considerando as duas tendências estéticas encontradas no Barroco – cultismo e conceptismo - , qual delas predomina nesse sermão de Vieira? Por quê?

Questões sobre vida e obra de
 Pe. Antônio Vieira.




7. (UFOP) Sobre o Sermão da Sexagésima, de Antônio Vieira, é incorreto dizer que: 

a) obedece rigorosamente às regras mais fundamentais da retórica para o púlpito, não descuidando de qualquer detalhe.
b) pode ser definido como “uma profissão de fé oratória”, uma vez que aí ele expõe claramente os princípios de sua arte de pregar. 
c) jamais se rende ao cultismo predominante na época, uma vez que o critica de forma precisa e clara. 
d) combina de modo bastante feliz as regras clássicas de um discurso pagão aos princípios religiosos da doutrina cristã. 
e) utiliza uma parábola do Evangelho de São Mateus como uma metáfora que se desdobra em inúmeras variações.


8. (UFOP) Considerando o texto do Sermão da Sexagésima, de Antônio Vieira, é incorreto afirmar que: 

a) é um discurso oratório no qual se percebem com nitidez o exórdio, o desenvolvimento e a peroração. 
b) em seu exórdio, o orador é bastante simples, indo diretamente ao tema do sermão sem maiores circunlóquios. 
c) em seu desenvolvimento, o sermão apresenta um perfeito equilíbrio entre narração e argumentação. 
d) sua argumentação não dispensa procedimentos conceptistas tais como o silogismo, o paradoxo e o exemplo. 
e) Vieira se exime de induzir os seus ouvintes, fazendo com que o sermão perca muito de sua eficácia.

9. Sob o ponto de vista literário, a Companhia de Jesus está comprometida principalmente:
a) com o conceptismo.
b) com o movimento poético do Renascimento.
c) com o cultismo.
d) com o movimento poético do Quinhentismo.
e) auxiliando a Reforma Protestante.
10. "Quem ama, porque conhece, é amante; quem ama, porque ignora, é néscio. Assim como a ignorância na ofensa diminui o delito, assim no amor diminui o merecimento. Quem, ignorando, ofendeu, em rigor não é delinqüente; quem, ignorando, amou, em rigor não é amante."
Há no fragmento de um dos sermões do Padre Antônio Vieira, várias características barrocas. Aponte aquela que não condiz com o texto apresentado:
a)jogo de idéias.
b) jogo de palavras.
c) predominância cultista.
d) inteligência dialética.

 “Quando jovem, Antônio Vieira acreditava nas palavras, especialmente nas que eram ditas com fé. No entanto, todas as palavras que ele dissera, nos púlpitos, na sala de aula, nas reuniões, nas catequeses, nos corredores, nos ouvidos dos reis, clérigos, inquisidores, duques, marqueses, ouvidores, governadores, ministros, presidentes, rainhas, príncipes, indígenas, dessas milhões de palavras ditas com esforço de pensamento, poucas – ou nenhuma delas – havia surtido efeito. O mundo continuava exatamente o de sempre. O homem, igual a si mesmo.”
(MIRANDA, Ana. Boca do Inferno)

11. (FATEC) “... milhões de palavras ditas com esforço de pensamento”. Essa passagem do texto faz referência a um traço da linguagem barroca presente na obra de Vieira; trata-se do:

a)      Gongorismo, caracterizado pelo jogo de idéias;
b)      Cultismo, caracterizado pela exploração da sonoridade das palavras;
c)      Cultismo, caracterizado pelo conflito entre fé e razão;
d)     Conceptismo, caracterizado pelo vocabulário preciosista e pela exploração de aliterações;
e)      Conceptismo, caracterizado pela exploração das relações lógicas, da argumentação.

12. “Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão em xadrez de palavras. Se de uma parte está branco, da outra há de ser estar negro; se de uma parte está dia, da outra há de estar noite; se de uma parte dizem luz, da outra hão de estar sombra; se de uma parte dizem desceu, da outra hão de dizer subiu. Aprendamos do céu o estilo da disposição, e também das palavras”

No excerto acima, o Padre Vieira, condenando o abuso de ___________, critica alguns excessos do estilo _________ .

a)      antíteses – barroco
b)      metáforas – arcádicos
c)      metonímias – romântico
d)     antíteses – arcádico
e)      metonímias – barroco

13. Relacione:

A.    Sermão da Epifania
B.     Sermão da Sexagésima
C.     Sermão de Santo Antônio aos Peixes
D.    Sermão do Bom Ladrão
E.     Sermão das Tentações
I - Contra os furtos. Defende a devolução dos bens alheios;
II – Contra a escravidão dos índios. O autor defende a manifestação da graça de Cristo;
III – Contra a fúria dos colonos por causa do Diploma Real;
IV – Contra a ambição dos colonos maranhenses;
V – Contra a falta de cuidado com a propagação do evangelho.

a)      I – C; II - E; III – D; IV – B; V – A.
b)      I – D; II – A; III – E; IV – C; V – B.
c)      I – A; II – B; III – C; IV – D; V – E.
d)      I – D; II – B; III – A; - IV – E; V – C.
e)      I – B; II – C; III – A; IV – D; V – E.

14. “Os senhores poucos, os escravos muitos; os senhores rompendo galas, os escravos despidos e nus; os senhores banqueteando, os escravos perecendo à fome; os senhores nadando em ouro e prata, os escravos carregados de ferros; os senhores tratando-os como brutos, os escravos adorando-os e temendo-os como deuses; os senhores em pé apontando para o açoite, como estátuas da soberba e da tirania, os escravos prostrados com as mãos atadas atrás, como imagens valíssimas da servidão e espetáculos de extrema miséria.[...]”

Vieira faz dos seus sermões uma arma em defesa das causas políticas e sociais. O que ele condena nesse extrato de sermão?
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15. Leia atentamente o fragmento do Sermão de Santo Antônio ( ou dos Peixes), de Padre Antônio Vieira:

A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário era menos mal. Se os pequenos comesse os grandes, bastará um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande [...]. Os homens, com suas más e perversas cobiças, vêm a ser como os peixes que se comem uns aos outros. Tão alheia cousa é não só da razão, mas da mesma natureza, que, sendo criados do mesmo elemento, todos cidadãos da mesma pátria, e todos  finalmente irmãos, vivais de  vos comer”.


O texto de Vieira contém algumas características do Barroco. Dentre as alternativas abaixo, assinale aquela em que NÃO se confirmam essas tendências estéticas:

a)      a utilização da alegoria, da comparação, como recursos oratórios, visando à persuasão do ouvinte;
b)      a tentativa de convencer o homem do século XVII, imbuído de práticas e sentimentos comuns ao semipaganismo renascentista, a retomar o caminho do espiritualismo medieval, privilegiando os valores cristãos;
c)      a presença do discurso dramático, recorrendo ao princípio horaciano de “ensinar deleitando” – tendência didática e moralizante, comum à Contra – Reforma;
d)     o tratamento do tema principal – a denúncia à cobiça humana – através do conceptismo, ou jogo de idéias;
e)      o culto do contraste, sugerindo a oposição bem x mal, em linguagem simples, concisa, direta e expressiva da intenção barroca de resgatar os valores greco-latinos.

16. Assinale abaixo a alternativa em que a metalinguagem aparece como recurso discursivo nos sermões do Padre Antônio Vieira:

a) “ O estilo era que o Pregador explicasse o Evangelho: hoje o Evangelho há de ser a explicação do Pregador. Não sou eu o que hei de comentar o texto; o texto é o que me há de comentar a mim. Nenhuma palavra direi que não seja sua, porque nenhuma cláusula tem que não seja minha”. (Sermão da Epifania)
b) “Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra, o que faz o sal”. (Sermão de Santo Antônio)
c) “Supostas essas duas demonstrações; suposto que o fruto e efeitos da palavra de Deus, não fica, nem por parte de Deus, nem por parte dos ouvintes, segue-se por conseqüência clara que fica por parte do pregador”. ( Sermão da Sexagésima)
d) “ Este Sermão, que hoje se prega na Misericórdia de Lisboa, e não se prega na Capela Real, parecia-me a mim, que lá se havia de pregar e não aqui. Porque o texto em que se funda o mesmo sermão, todo pertence à Majestade daquele lugar e nada à piedade deste”. ( Sermão do Bom Ladrão)
e) “Dizei-me, Cristão, se vos víreis em poder de um tirano que vos quisesse tirar a vida pela Fé de Cristo; que havíeis de fazer? Dar a vida, e mil vidas. Pois o mesmo é dar a vida pela Fé de Deus, que dar a vida pelo serviço de Deus” (Sermão da Primeira Dominga da Quaresma)

17. O sermão de Santo Antônio ou dos Peixes é um dois mais significativos da arte oratória do Padre Antônio Vieira. O pregador em São Luís do Maranhão, no ano de 1654. Com relação a esse sermão, analise as afirmativas abaixo:
I. O pregador o fez com o objetivo de encontrar solução para o problema dos índios, barbaramente escravizados pelos colonos;
II. O jesuíta finge dirigir-se aos peixes e não aos homens para recriminar a má vida dos espectadores, que se recusavam ao seguir os ensinamentos cristãos;
III. O orador critica os pregadores que distorcem a palavra de Deus, utilizando-a com o simples propósito de agradar aos ouvintes do sermão.

É correto o que se afirma em:

a)      II e III
b)      I e III
c)      Todas
d)     I e II
e)      I



18. (FUVEST – SP) A respeito do Padre Antônio Vieira, pode-se afirmar:

a) Embora vivesse no Brasil, por sua formação lusitana, não se ocupou de problemas sociais;
b) Procurava adequar os textos bíblicos às realidades de que tratava;
c) Dada sua espiritualidade, demonstrava desinteresse por assuntos mundanos;
d) Em função do seu zelo para com Deus, utilizava-o para justificar todos os acontecimentos políticos e sociais;
e) Mostrou-se tímido diante dos interesses dos poderosos.

19. A estrutura dos sermões é formada por:

a)      Exórdio e peroração;
b)      Introdução, tema e conclusão;
c)      Exórdio (tema e exposição), argumentação e peroração;
d)     Argumentação e tema;
e)      Exposição e demonstração.

20. O sermo artifex é um método utilizado por Vieira que:

a) constrói o texto com precisão semântica e rigor sintático, em busca de uma persuasão eficaz;
b) tem como característica apenas criticar as causas políticas;
c) era utilizado para construir apenas os seus poemas;
d) mantém o texto difícil de ser interpretado por usar termos específicos do clero;
e) que se preocupa somente com o aspecto formal do texto

Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos, um estilo tão empeçado, um estilo tão dificultoso, um estilo tão afectado, um estilo tão encontrado a toda a arte e a toda a natureza? Boa razão é também esta. O estilo há de ser muito fácil e muito natural. Por isso Cristo comparou o pregar ao semear: Exiit qui seminat, seminare( saiu o semeador a semear).  [...]
 Já que falo contra os estilos modernos, quero alegar por mim o estilo do mais antigo pregador que houve no mundo. E qual foi ele? O mais antigo pregador que houve no mundo foi o céu. Coeli enarrant gloriam Dei, et opera manuum ejus annuntiati firmamentum (Os céus narram a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras das suas mãos) , diz David. Suposto que o céu é pregador, deve de ter sermões, e deve de ter palavras [...]
  E quais são estes sermões e estas palavras do céu? As palavras são as estrelas, os sermões são a composição, a ordem, a harmonia e o curso delas. Vede como diz o estilo de pregar do céu, com o estilo que Cristo ensinou na terra. Um e outro é semear: a terra semeada de trigo, o céu semeado de estrelas.
 O pregar há de ser como quem semeia, e não como quem ladrilha ou azuleja. Ordenado, mas como as estrelas: Stallae manentes in ordine suo. Todas as estrelas estão por sua ordem; mas é ordem que faz influência, não é ordem que faça lavor. Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão em xadrez de palavras. Se de uma parte está branco, da outra há de estar negro; se de uma parte está dia, da outra há de estar noite; se de uma parte dizem luz, da outra hão de dizer sombra; se de uma parte dizem desceu, da outra hão de dizer subiu: Basta que não havemos de ver num sermão duas palavras em paz? Todas hão de estar em fronteira com o seu contrário?
 Aprendamos do céu o estilo da disposição, também o das palavras. Como hão de ser as palavras? Como as estrelas. As estrelas são muito distintas e muito claras. Assim há de ser o estilo da pregação: muito distinto e muito claro. E nem por isso temais que pareça o estilo baixo: as estrelas são muito distintas e muito claras e altíssimas [...]
 Sim, Padre. Porém esse estilo de pregar não é pregar culto.
  Mas fosse! Este desventrado estilo que hoje se usa, os que o querem honrar, chamam-lhe culto; os que o condenam, chamam-lhe escuro, mas ainda lhe fazem muita honra. O estilo culto não é escuro; é negro, e negro boçal, e muito cerrado. É possível que somos portugueses, e havemos de ouvir um pregador em português, e não havemos de entender o que diz?
21. De acordo com o texto responda as seguintes questões:
a) Quais devem ser, segundo o “Sermão da Sexagésima”, as duas características de estilo de um sermão?
__________________________________________________________________
b) Além de utilizar a imagem do semeador, Vieira compara o sermão ao céu estrelado. Que características do céu devem ser imitadas nos sermões? _________________________________________________________________________________________________
c) Para Vieira, como deve ser a linguagem do sermão: ornamentada ou eficiente? Explique.
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d) No final do fragmento, Vieira nomeia o estilo que condena:
d.1. Qual é esse estilo?_______________
d.2. O que o adjetivo desventrado significa quando qualifica o estilo criticado? __________________________________________________________________
d.3. Qual é o grande defeito desse estilo tão mencionado por Vieira? __________________________________________________________________


ANÁLISE LITERÁRIA SOBRE O LIVRO
O CORAÇÃO ROUBADO
por Tacianne Feitosa*


TÓPICOS SOBRE CRÔNICA:
A crônica é um gênero literário que, a princípio, era um "relato cronológico dos fatos sucedidos em qualquer lugar"1, isto é, uma narração de episódios históricos. Era a chamada "crônica histórica" (como a medieval). Essa relação de tempo e memória está relacionada com a própria origem grega da palavra, Chronos, que significa tempo. Portanto, a crônica, desde sua origem, é um "relato em permanente relação com o tempo, de onde tira, como memória escrita, sua matéria principal, o que fica do vivido".
Características:
1. Ligada à vida cotidiana;
2. Narrativa informal, familiar, intimista;
3. Uso da oralidade na escrita: linguagem coloquial;
4. Sensibilidade no contato com a realidade;
5. Síntese e leveza;
6. Uso do fato como meio ou pretexto para o artista exercer seu estilo e criatividade;
7. Diz coisas sérias por meio de uma aparente conversa fiada;
8. Uso do humor;
9. Brevidade;
10. É um fato moderno: está sujeita à rápida transformação e à fugacidade da vida moderna.

A OBRA:
O Coração Roubado e outras crônicas” é uma obra capaz de tornar a leitura patê da vida do leitor, pois está repleta de textos curtos, fáceis de serem compreendidos, associando diversão e reflexão. Assim, o leitor se prende ao que está escrito e ainda é levado a questionar sobre as ocorrências do cotidiano nas quais ele está inserido. O leitor é levado a refletir sobre suas próprias ações. Em alguma das histórias ele vai se encaixar.
A obra é dividida em três momentos:
1. Situações embaraçosas: apresenta fatos do cotidiano que nos fazem mergulhar num mar de complicações. São coisas que acontecem que não podemos evitar, mas nos encrencamos de alguma maneira.
2. Flashes da vida moderna: mostra-nos como certos elementos da modernidade podem trazer benefício ao homem e, ao mesmo tempo, podem suscitar certos males. A máquina do tempo é algo surpreendente, mas pode transformar a realidade atual de forma drástica. Há modernidades que geram complicações.
3. Figurinhas carimbadas: que apresenta histórias sobre os chatos insistentes que nos perseguem n dia a dia, e o pior é que na sabemos como nos livrar deles.

PARTE I: SITUAÇÕES EMBARAÇOSAS

Quem nunca passou por uma, levante a mão.

01. O coração roubado:
    
  O cronista estava no fim do primário, quando seu pai lhe deu de presente o livro O Coração Roubado. A dedicatória feita pelo pai encantou o menino que, de tanto apego ao livro, o levava todos os dias para o grupo escolar onde estudava. O livro foi roubado! Ao sair da sala de aula o menino viu seu presente no meio dos cadernos de Plínio, o melhor e mais dedicado aluno da sala. Sem demora pegou o livro de volta. Cresceu duvidando do caráter de Plínio e aumentando seu ódio pelo suposto ladrão que se tornara advogado e, em seguida, desembargador. Um dia, já adulto, sentiu saudades do livro e foi lê-lo. Ao olhar a dedicatória, percebeu algo diferente escrito: “Ao meu filho Plínio, com todo amor e carinho do seu pai”.
       A vida é realmente uma ironia, o destino, muito mais.

02. Gnomos na gaveta:
     
 O cronista diz que teve um parente que via sempre diante dele um gnomo andando de bicicleta, fazendo gestos obscenos e gritando desaforado: “-Cafajestinho!”. Conta também que tinha um amigo chamado Egydio que mantinha um gnomo preso dentro de uma gaveta. A esposa do escritor queria que ele ganhasse dinheiro escrevendo sobre esoterismos, mas ele era materialista, o que o levou a escrever um livro cujo título era: Não acredito em gnomos. Estudou tudo sobre o assunto, criou a história, mas não pôde escrevê-la porque um homenzinho de 5 centímetros ficava perturbando sua paciência. O gnomo não parava de andar de bicicleta sobre a mesa.
       O ato de escrever é visto aqui como forma de ganhar dinheiro; explorar um tema modista para obter recursos financeiros.

03. O pingo:
     
 Um famoso escritor disse ao cronista deste texto que passava mais tempo cuidando da casa do que lendo ou escrevendo livros. O narrador achou estranho, mas lembrou que, certa vez, se incomodou com um pingo que caía sobre sua testa sempre que ia dormir, acabando por espantar seu sono e sua tranqüilidade para escrever. Fez tudo para resolver o problema, até que um conserto da encanação pôs fim ao incômodo. O problema é que ele continuou a ter insônia e só dormia quando sua esposa pingava água sobre sua testa com um contagotas.
       Todo ser humano está sujeito à dependência. Ela é mostrada aqui de forma caricatural.

04. A última entrevista:
      
Texto em terceira pessoa que conta sobre um repórter que queria ser renomado, não importando o que teria que fazer para alcançar seu objetivo. O sonhador ficou imaginando o que perguntaria a um ET ou para Santos Dumont, e o que conversaria com Van Gogh. Lembrou também que algumas entrevistas são perigosas (como entrevistar um fugitivo). Outras são muito audaciosas, como quando ele conseguiu invadir um avião pilotado por um suicida que voaria até acabar o combustível e a máquina cair. A entrevista foi ótima, rendeu prêmio. Mas o pai do repórter teve que ir receber o troféu no lugar do filho.
     O texto nos faz refletir sobre o trabalho do repórter e o preço dos nossos sonhos.

05. Uma noite de cão:
    
Um amigo chamado Ramalho sempre chegava repentinamente na casa do cronista para repousar, era um homem meio incômodo, mas um bom amigo. Sempre trazia algo para comer. Desta vez trouxe um frango. Enquanto Ramalho e o cronista conversavam na sala, a dona da casa foi preparar a mesa. Mas a cachorra Virgínia Woolf prendeu o frango nos dentes e foi para a sala. O cronista teve muito trabalho para esconder a situação perante a visita, que não atentava para o que acontecia. Mas a cadela foi dominada e o frango recuperado. Ramalho devorou toda a carne da ave, deixando o peito completo para a cachorrinha.
       Crônica que trabalha com humor burlesco a questão das situações embaraçosas que podemos enfrentar.

06.Ah! Ah! Ah!
      
As crises de riso que nos atacam em certos momentos são a base temática desta crônica. Várias situações são narradas, tais como: uma deputada que riu durante o discurso, o amigo Boanerges que teve um ataque de riso num velório, Lima que riu durante o casamento. O cronista conta que fez uma palestra e, durante sua defesa, caiu na gargalhada. Em pouco tempo o salão da palestra estava cheio de pessoas rindo, mesmo sem compreender o assunto. O prefeito exaltou o palestrante pela explosão de comédia e não pelo conteúdo ministrado.
      O texto satiriza o besteirol típico dos brasileiros.

07. O violonista mora ao lado:
      
Um violonista sem talento era vizinho do cronista na pensão em que moravam. O instrumentista resolveu visitar o escritor e disparou a tocar violino. O cronista quase explodiu de tanto horror e preferiu mudar de pensão. Outra vez uma bela moça pediu ao narrador para que ele revisasse um romance que ela tinha escrito. Interessado em flertar assumiu a missão. Mas o livro era terrível. Ele chegou a pensar que tudo isso era um castigo por ter ajudado a moça com segundas intenções. Livrou-se dela. Descobriu que um novo morador chagava ali na vizinhança...o antigo violonista.
       Temas trabalhados: o azar, as atitudes impulsivas e as fracassadas tentativas de fuga.

08. A missivista suicida:
        O cronista fala sobre a relação entre o ouvinte de rádio ou cronista de jornal e seus ouvintes e leitores. Conta que trabalhou numa rádio, aveludando os textos emitidos pelo locutor. O trabalho estava indo bem, até que recebeu uma missivista (carta suicida) que dizia: “Diga para o Luís voltar já para casa senão tomo veneno. Ele ouve o programa, assinado: Julinha da Bela Vista”. O cronista escreveu sobre esta situação e vários homens chamados Luís passaram a ligar para a rádio. Certa vez, alguém chamado Leão pediu que as pessoas ligassem para ele, a fim de acabar com a sua solidão. O cronista tentou ajudar, mas todos se confundiram e passaram a incomodar o leão do zoológico.
       Relato sobre as coincidências, azares e benefícios que as palavras provocam. Há ainda uma sátira relacionada à futilidade de certos programas de rádio e a demência de certos ouvintes.

PARTE II: FLASHES DA VIDA MODERNA

Uma câmera na mãe e nenhuma idéia na cabeça.

01. Fila nos bancos:
     
 Conta sobre um assaltante que entregou um bilhete à moça do caixa do banco. O recadinho pedia que ela guardasse todo o dinheiro na maleta dele naturalmente. Quando o ladrão já estava com a quantia, chegou um amigo seu e começou a conversar, atrapalhando o assalto. O ladrão acabou tendo que deixar o dinheiro com a mocinha. Enquanto narra o assalto, o cronista discute sobre todos os incômodos que uma fila de banco proporciona.
       A narrativa é entremeada (a história do assalto e as situações irritantes vividas pela esposa do narrador em filas de banco são contadas simultaneamente). A crônica também ressalta a esperteza da moça do caixa.

02. Ele comprou tudo que Van Gogh pintou:
      
Um cientista reinventou a máquina do tempo. Fez vários testes: enviou uma garrafa de vinho para o passado, uma galinha e até um bêbedo, o Gera, que voltou feliz por ter ido ao carnaval referente ao ano da canção “Ó nega do cabelo duro qual é o pente que te penteia?”. A intenção do cientista não era fazer sucesso com a máquina, e sim, voltar ao ano de 1889 e comprar toda a obra de Van Gogh. Volta, encontra o pintor sem orelha, compra tudo e ainda dá um conselho para que o pobre artista louco invista em ações no novo invento, o telefone. Ao retornar para o presente, ninguém conhecia mais as telas nem o nome de Van Gogh, todo o dinheiro gasto em telas foi em vão. O nome do pintor só constava numa enciclopédia como o homem que enriqueceu graças à compra de ações da Companhia Telefônica. O cientista apagou a memória do pintor nos anais do mundo.
       A modernidade traz vantagens, mas pode acarretar certos problemas para o momento presente. Os arranques da modernidades devem ser pensados, planejados e discutidos para que não terminem prejudicando o momento atual.

03. Essa mocidade de hoje...
     
 O cronista começa o texto discutindo sobre as intempéries da juventude. Conta sobre um filho que é viciado em cheirar pó e não tem conseguido progredir por causa deste impedimento. Outro filho vive no mundo da lua e da música. O moço pula a janela durante a noite para fazer serenata nas janelas das pessoas que precisam dormir para acordar cedo e trabalhar no dia seguinte. O filho menor é viciado em lanterna mágica, um aparelho óptico que amplia e projeta imagens iluminadas. “Pó que vicia, ritmos anti-sociais, máquinas diabólicas. Caluda!” O cronista reclama dos males do nosso século.
       O nosso século tem sido um berço de criação de invenções que não ajudam o jovem a se concentrar, ao contrário, muitas coisas afastam a mocidade do foco da vida real e os jovens se iludem, ou querem fugir das coisas do presente.
       Quanto mais o tempo passa, maior é a quantidade de vícios que estão diante dos jovens.

04. Cães de apartamento:
      
Virgínia Ebonny Spots era uma dálmata muito elegante que morava na cobertura do cronista. Mas, os vaivens da vida fizeram com que a família se mudasse para um pequeno apartamento e a cadela ficou apertada num espaço limitado, além de sofrer o desprezo dos que não concordavam com a permanência de animais em condomínio. Virgínia terminou morrendo idosa. Noutro dia seu Barcelos conversou com o cronista, solicitando que este não contasse aos vizinhos que ele também tinha uma poodle, a Janete. Quando alguém questionava sobre os latidos no andar, o cronista respondia que o som vinha do apartamento 26, mas não era cachorro, era seu Barcelos que tinha mania de imitar bichos. Assim, Janete foi poupada e o síndico foi no 26 apostar quem fazia melhor imitação.
       As regras dos prédios ferem os sentimentos e individualidades dos moradores.

05. Marketing oportunista:
      
O texto ressalta o fato de que as coisas do passado ou do futuro é que fazem sucesso. Escrever sobre o presente não vende. Ele recebeu até um conselho para escrever sobre dinossauros: seria um triângulo amoroso, dois homens e uma mulher, sendo que todos eles perseguidos por um dinossauro no meio do Viaduto do Chá. O cronista achou um absurdo, mas, durante a noite sonhou com dinossauros pela cidade servindo de outdoors ambulantes de diversas empresas. Outros animais foram presos para simular a fúria e captura deles e outros ainda faziam campanha na rua contra a violência e exploração do pobre bicho quase em extinção. No dia seguinte, o cronista acorda e considera que história com dinossauros no meio da cidade é coisa de louco, “mas quem não é hoje em dia?”.
       O texto trata sobre a elaboração de um livro comercial.

06. Brilhantes currículos:
     
 O cronista se revolta por ter sido recusado numa vaga de um emprego por conta do seu currículo que foi considerado pobre. Ele apenas apresentou informações básicas, que valorizavam sua capacidade como profissional. Os eventos menos interessantes foram poupados. Um tempo depois sua esposa noticia que há um emprego à vista, bastando apenas enviar a carta e o currículo. Para evitar negativas, o cronista preenche os espaços com as informações mais banais e inusitadas. Mesmo com toda cultura minuciosamente descrita nas intermináveis folhas ele perdeu a vaga, pois quem a preencheu foi o candidato que apresentou uma única linha escrita no seu currículo: “Sobrinho do Ministro Azambuja Ribeiro”.

07. Desculpe, foi engano:

       O texto trata dos telefonemas por engano. O cronista relata vários episódios em que a pessoa do outro lado da linha insistia numa ligação sem sentido entre os falantes, mesmo estando totalmente equivocado. Por fim, uma ligação por engano termina trazendo para o cronista a possibilidade de trabalhar no ramo de vendas de computadores e a sorte de um bom negócio.
       A crônica enfatiza a situação das confusões cometidas por equívocos via fone, a impaciência dos interlocutores, a questão da sorte e do azar que se pode alcançar por meio de ocorrências incomuns.
08. Táxi! Táxi!
       Nesta crônica temos uma abordagem envolvendo a vida de quem dirige táxi ou de quem precisa deles para se locomover.  O cronista fala sobre  antigo nome dado aos taxistas - chauffeur, fala sobre brigas com taxistas que votavam em candidatos opostos ao do passageiro, taxistas astrólogos, carros com aparatos holywoodianos e ainda taxistas que passavam o tempo todo falando asneiras. Notou então que o motorista passou do ponto desejado e se surpreendeu com a resposta do taxista: “_Perdão. Estava pensando na quantidade de passageiros doidos que sobem no meu carro”.
       O pensamento que temos a respeito dos outros pode ser exatamente o pensamento que os outros tem de nós.
       Toda profissão tem suas vantagens, seus males, seus benefícios e seus tédios.
09. O nocaute inesquecível:
       O cronista uma vez surpreendeu seus colegas de serviço. Ele trabalhava num Departamento de Esportes da TV Tupi, Sumaré. Todos assistiam a uma disputa de pesos médios. Enquanto seus colegas apostavam no lutador Tommy, o cronista afirmou com toda certeza que Jack estava preparando um gancho para o quarto assalto. Jack já estava decaído. Tommy parecia que já estava com coroa de vencedor, quando, no quarto assalto, Jack soltou um gancho elástico e eliminou seu adversário. Os colegas de trabalho ficaram tão admirados com a perspicácia do cronista que ele foi convidado para ser comentarista de lutas de boxe. O cronista não aceitou, e mais, já tinha assistido aquela luta anteriormente umas duas ou três vezes.
       O narrador engana os personagens da história e chega até a enganar o leitor, que só no final descobre que o cronista já sabia do resultado da luta. Será que é possível obter algum resultado benéfico na vida apenas lançando um dado de sorte?

ATE III: FIGURINHAS CARIMBADAS

Quanto não pagaríamos para esquecer certos tipos inesquecíveis

01. Memórias urbanas:

       O cronista inicia o texto falando sobre a memória. Faz um levantamento de tudo que lembra desde os seus três anos de idade até o presente, vivendo em São Paulo: os recantos da cidade, o filme sem sucesso que ele fez, o livro que escreveu e o anúncio de um cola-tudo que produziu. Finalmente decidiu fazer um livro de memórias que se passam no futuro pelo fato de ser mais tranqüilo e não ter que ficar lembrando de histórias do passado. É uma crônica de humor bizarro.

02. Adão Flores, o detetive:

       Adão era um detetive esquisito que atendia os clientes dentro do seu carro. Além de detetive ele era empresário, só contratava quem soubesse cantar Sabra Dios. A sua secretária Maralice já vivia no banco de trás do automóvel. Um dia um homem solicitou que Adão prendesse Ramon Diaz, que, inclusive, já tinha sido artista contratado do detetive Flores. Na hora de prender o acusado de roubo, Adão pagou para que o moço cantasse Sabra Dios. O homem cantou, mas foi preso mesmo assim, levando apenas o dinheiro desta última apresentação. Adão termina dizendo que “São Paulo não é mais a mesma. Nem ele”.
       O autor ironia o tipo humano caricatural.

03. Ódio à primeira vista:

       Conta a história de Moacir e Guanabara que se odiaram desde o dia em que foram apresentados, mas não havia um motivo exato para esse ódio. A cidade conhecia a discórdia entre os dois, que se agravou quando ambos se apaixonaram por Suzaninha. Ele recusou o amor dos dois por não suportar o repetitivo tema do ódio recíproco. Um dia, sem querer, os dois inimigos descobriram que nasceram na mesma cidade – Serraninha. Por causa disso, ficaram amigos e formaram uma dupla caipira – Moacir e Guanabara.
       O texto trabalha a questão dos enganos que cometemos e as surpresas que a vida pode nos revelar.

04. Gente que vai à feira:

       O cronista conta que odiava ir à feira quando era criança. A mãe lhe comprava muitas coisas, mas a chateação era a mesma. Na mocidade, instalaram uma feira perto de onde morava, trazendo incômodo. Depois de casado, sua esposa foi lhe ensinando a apreciar a feira. Ele passou a ver que todo tipo de pessoa freqüenta esse ambiente, que já virou um tipo de shopping aberto. Lá no meio das barraquinhas uma moça pediu um autógrafo ao cronista. Ele logo imaginou que o motivo do seu sucesso tinha sido um livro que publicou. Quando uma fila de supostos fãs estava formada disputando a famosa assinatura do escritor, alguém gritou: “- Ele é o doutor Lilico da novela das 7. Conte o final pra gente, conte”
       A feira é o retrato brasileiro do muito (variação de produtos e objetos) e do pouco (cultura).

05. O gordo da Augusta:

      Um dia o cronista estava andando pela Augusta e um gordo o confundiu com um certo Laranjeira. Depois do engano ter sido esclarecido, o cronista disse que muitas pessoas já cometeram erros por falarem com uma pessoa pensando que ela é um amigo. Por fim, outro homem surgiu abraçando o cronista, chamando-o de Laranjeira e ainda zombando do gordo Mendonça que há alguns dias atrás confundiu um qualquer com o inesquecível Laranjeira. Não sabia o moço que também estava cometendo o mesmo erro. Todos nós estamos sujeitos ao erro, confusão e enganos.

06. Procurando Telma Ternura:

      O narrador precisava de uma reportagem que emocionasse muitos leitores. Decidiu então falar sobre Telma Ternura, a ex-rainha da pornografia paulista. Procurou desesperadamente a velhinha, até encontrá-la numa antiga mansão dos barões do café. Ela exigiu dinheiro para ser entrevistada. O repórter vendeu tudo que tinha, pagou à velha, obteve o material. Ao entregar tudo ao editor, este lhe informou que Telma já havia falecido há 20 anos. Revoltado por ter sido enganado, voltou ao casarão e exigiu falar com a mulher. Os novos inquilinos da casa informaram que ela tinha ido embora e que era charlatã, enganava para ganhar dinheiro, já tinha até se passado por Greta Garbo.
       Os artifícios da esperteza não são típicos da juventude, e sim, da necessidade.

07. O rei do boca livre:

       É a história de um homem que era penetra de todas as festas elegantes. Por se portar como perfeito cavalheiro se passava por celebridade, mas sempre se mantinha no caminho mais tramitado pelos garçons.  O penetra sumiu por uns tempos, até que apareceu numa foto compondo a mesa principal da festa da Convenção de Gerentes Lojistas. Um tempo depois, houve uma festa em homenagem ao cronista e lá estava o boca livre, também posando para a foto. O ilustre penetra não se contentava mais com comes e bebes, queria flashes.
       A crônica é uma comédia sobre penetras.

08. Os furtos e o furtado:

        Narra, em terceira pessoa, sobre o Furtado, homem sério, sisudo, clássico no vestir e de bom comportamento. O cronista nos conta que quando eram crianças o Furtado começou a roubar pequenos objetos. Como foi pego no flagra pelo cronista, tornaram-se confidentes. Furtado não se considera cleptomaníaco, pois roubava produtos para uso próprio. Um dia, decidiu desabafar com o cronista, relatando suas últimas aventuras no furto. Depois de tudo, Furtado pediu ao cronista para não escrever um texto sobre este episódio. Mas ele escreve. Confiar integralmente nos outros é bem difícil.

09. O Pra Lua

       O Pra Lua é um nome dado a um  indivíduo que solicitou uma biografia ao cronista. A crônica inteira é uma síntese da vida do O Pra Lua cheia de acontecimentos ora bons ora ruins. O texto trata de sorte, azar, o destino do homem, o acaso, tudo que a humanidade ainda questiona, sem ter certeza de nada.



LEITURA



O Coração Roubado
 
Eu cursava o ultimo ano do primário e como já estava e com o diplominha garantido, meu pai me deu um presente muito cobiçado: O coração, famoso livro do escritor italiano Edmondo de Amicis, best-seller mundial do gênero infanto-juvenil. Na página de abertura lá estava à dedicatória do velho, com sua inconfundível letra esparramada. Como todos os garotos da época, apaixonei-me por aquela obra-prima e tanto que a levava ao grupo escolar da Barra Funda para reler trechos do recreio.
 Justamente no último dia de aula, o das despedidas, depois da festinha de formatura, voltei para a classe a fim de reunir meus cadernos e objetos escolares, antes do adeus. Mas onde estava O coração? Onde? Desaparecera. Tremendo choque. Algum colega na certa o furtara. Não teria coragem de aparecer em casa sem ele. Lá informar a diretoria quando, passando pelas carteiras, vi a lombada do livro, bem escondido sob uma pasta escolar. Mas... era lá que se sentava o Plínio, não era? Plínio, o primeiro da classe em aplicação e comportamento, o exemplo para todos nós.
Inclusive o mais limpinho, o mais bem penteadinho, o mais tudo. Confesso, hesitei. Desmarcar um ídolo?Podia ser até que não acreditassem em mim. Muitos invejavam o Plínio. Peguei o exemplar e o guardei em minha pasta. Caladão. Sem revelar a ninguém o acontecido. Lembro do abraço que Plínio me deu à saída. Parecia estar segurando as lagrimas. Balbuciou algumas palavras emocionadas. Mal pude retribuir, meus braços se recusavam a apertar o cínico.
  Chegando em casa minha mãe estranhou que eu não estivesse muito feliz. Já preocupado com o ginásio? Não, eu amargava minha primeira decepção. Afinal, Plínio era um colega que devíamos imitar pela vida afora, como costumava dizer a professora. Seria mais difícil sobreviver sem o seu exemplo. Por outro lado, considerava se não errara em não delatá-lo. “Vocês estão todos enganados, e a senhora também, sobre o caráter de Plínio. Ele roubou meu livro e depois ainda foi me abraçar...”
Curioso, a decepção prolongou-se ao livro de Amicis, verdadeira vitrina de qualidades morais dos alunos de uma classe de escola primária. A história de um ano letivo coroado de belos gestos. Quem sabe o autor não conhecesse a fundo seus próprios personagens. Um ingênuo como nossa professora. Esqueci-o.
Passado muitos anos reconheci o retrato de Plínio num jornal. Advogado, fazia rápida carreira na Justiça. Recebia cumprimentos. Brrr. Magistrado de futuro o tal que furtara meu presente de fim de ano! Que toldara muito cedo minha crença na humanidade! Decidi falar a verdade. Caso alguém se referisse a ele, o que passou a acontecer, eu garantia que se tratava de um ladrão. Se roubava já no curso primário, imaginem agora... Sempre que o rumo de uma conversa levava às grandes decepções, aos enganos de falsas amizades, eu contava, a quem quisesse ouvir, o episódio do embusteiro do Grupo Escolar Conselheiro Antônio Prado, em breve desembargador ou secretário de Justiça.
- Não piche assim o homem – advertiu-me minha mulher.
- Por que não? É um ladrão?
- Mas quando pegou seu livro era criança.
- O menino é o pai do homem – rebatia, vigorosamente.
Plínio fixara-se como um marco para mim. Toda vez que o procedimento de alguém me surpreendia, a face oculta de uma pessoa era revelada, lembrava-me irremediavelmente dele. Limpinho. Penteadinho. E com a mão de gato se apoderando de meu livro.
Certa vez tomaram a sua defesa:
- Plínio, um ladrão? Calúnia! Retire-se de minha presença.
Quando o desembargador Plínio já estava aposentado, mudei-me para o meu endereço atual. Durante a mudança alguns livros despencaram de uma estante improvisada. Um deles O coração, de Amicis. Saudades. Havia quantos anos não o abria? Quarenta ou mais? Lembrei da dedicatória de meu falecido pai. Ele tinha letra boa. Procurei-a na página de rosto. Não a encontrei. Teria a tinta se apagado? Na página seguinte havia uma dedicatória. Mas não reconheci a caligrafia paterna.
“Ao meu querido filho Plínio, como todo amor e carinho do seu pai.”



Fila nos Bancos

O cliente engravatado sorriu e entregou à simpática caixa do banco um cartão, escrito à máquina: “Vá enchendo a maleta. Comporte-se com naturalidade. Estou segurando uma arma. Obrigado”
Não freqüento agências bancárias, serviço assumido por minha mulher. Perder nas filas tempo que emprego escrevendo resultaria  em prejuízo financeiro. No geral a consorte volta exausta e indignada com alguma coisa. A espera, que ás vezes começa a quilômetros do guichê, sempre expõe a alguma convivência desagradável. A impaciência, o lento passo a passo suscitam inimizades. A maioria força o diálogo oferecendo balas, caramelos e biscoitos. “Experimente, são deliciosos”. Por educação ela aceitou uma dessas delícias: sofreu na fila mesmo uma cólica violente, não suporta nada que tenha coco. Uma vovó levava no colo uma criança que amou minha mulher à primeira vista e quis mudar de peito. “Segure ela um pouquinho, gostou da senhora.” Embora não houvesse reciprocidade, minha cara-metade foi gentil. Aconteceu exatamente o que vocês estão adivinhando. Ou sentindo o odor.
Mas eu contava a história do ladrão de banco.
A caixa nem olhou para os lados para que o assaltante não pensasse que ela pedia socorro. Diante dela, o falso cliente mantinha o mesmo sorriso imóvel. A maleta preta já estava aberta sobre o guichê. Hesitou. Então ele parou de sorrir e mexeu o braço armado. Ela depositou o primeiro maço de notas de dez na maleta.
Em época de eleições não é seguro revelar o nome de seu candidato nas filas, diz-me minha mulher. Já vi gente se sair mal por isso. Brigar é uma forma de preencher o tempo. Ela se queixa em especial dos portadores de mau hálito, justamente os chegados às confidências cara a cara. Companheiro de filas para alguns é como padre em confessionário. Mas há coisas piores. Uma tarde minha mulher voltou da agência possessa. Um cavalheiro atrás dela, fumando um charuto, perguntou-lhe: “Não está sentindo um cheiro de queimado?” Distraidamente ele fizera um furo em seu vestido. Sabem quanto me custou a distração?
Além das confissões constrangedoras, também há aquelas correntistas que pedem conselhos – não sobre aplicações. Depois da narração de uma história trágica, perguntam ansiosamente como se a uma velha amiga: “ Em meu lugar o que a senhora faria? Devo fazer isto ou aquilo? Devo permitir que minha filha saia com ele?”. Outro dia minha mulher chegou em casa trêmula. Uma mãe desesperada, da qual nem lembrava, acercara-se dela, ameaçadoramente, no banco: “Fiz o que aconselhou e sabe qual o resultado? Minha filhinha há três meses desapareceu com o cafajeste...”
Mas eu contava a história do ladrão de banco.
A caixa foi colocando os maços de dinheiro dentro da maleta preta. Lentamente, o que irritava o assaltante. Atrás dele a fila crescia. E a fila também ao lado. O assalto praticado por um homem só porém prosseguia, a cada segundo mais tenso em meio ao movimento da agência, protegida por guardas fardados.
- O mais chato são certos encontros – garantiu minha mulher. – Gente que não vemos há décadas e das quais nem lembramos mais.
Como a saudade atua nos músculos! Ela mostrou-me o vestido amassado. Uma vizinha de infância, pesando uns 80 quilos, quase a matara comprimindo-a entre os braços. Isso enquanto lambuzava-lhe o rosto com beijos prolongados. Até seus cabelos ficaram em estado lamentável. Despregou-se um botão, Nada mais inconveniente que topar com antigos conhecidos em hora errada!
Mas eu contava a história do ladrão de banco.
Subitamente um cavalheiro aproximou-se do assaltante com um palmo de sorriso. Colocou-se entre ele e a moça.
- Batista, você! Há quanto tempo! Ainda esta semana conversei com seu tio no supermercado! Me dê um abraço, amigão! Mas, o que é isso? Vai sair por aí com esse baú cheio de dinheiro? Não tem medo de ladrões, não?
Batista olhou para o chão, mas não viu o buraco algum para esconder-se.
A caixa, sorrindo, ao amigo dele:
- Seu Batista não vai sair com esse dinheiro, não; ele veio depositar.









* Tacianne Feitosa é graduada em letras pela UFCG e autorizou a reprodução desse material.

Cartas Chilenas,
de Tomás Antônio Gonzaga

1.      Noções Gerais
                  

                   Cartas Chilenas é um conjunto de poemas, escritos em versos decassílabos e brancos, com uma metrificação parecida com a da epopéia, e circularam anonimamente em Vila Rica, entre 1787 e 1788, seus versos assumem um tom satírico.
                   É uma obra satírica, constituindo poema truncado e inacabado (13 cartas), na qual um morador de Vila Rica ataca a corrupção do Governador Luís da Cunha Menezes. Aponta as irregularidades de seu governo, configurando o ambiente de Vila Rica ao tempo da preparação política da Inconfidência Mineira. Em julho deste ano de 1878, Cunha Menezes deixaria o governo de Minas, em favor do Visconde de Barbacena.
                   Onde se deveria ler Portugal, Lisboa, Coimbra, Minas e Vila Rica, lê-se Espanha, Madrid, Salamanca, Chile e Santiago. Os nomes aparecem quase sempre deformados: Menezes é Minésio. Há apelidos e topônimos inalterados, como: Macedo, a ermida do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, a igreja do Pilar. O autor se dá o nome de Critilo e chama o destinatário de Doroteu. Finalmente, os fatos aludidos são facilmente identificados pelos leitores contemporâneos.
                   A matéria é toda referente à tirania e ao abuso de poder do Governador Fanfarrão Minésio, versando a sua falta de decoro, venalidade, prepotência e, sobretudo, desrespeito à lei. Afirmam alguns que o poema circulava largamente em Vila Rica em cópias manuscritas.
                   Critilo (Tomás Antônio Gonzaga) aplica-se de tal modo na sátira, que a beleza mal o preocupa. Os versos brancos concentram-se no ataque. Sente-se um poeta capaz de escrever no tom familiar que caracteriza o realismo dos neoclássicos, com certa inclinação para a pintura da vida doméstica.
                   Para Critilo, o arbitrário Governador constituía, de certo modo, atentado ao equilíbrio natural da sociedade.
                   Entretanto, não se nota nas Cartas nenhuma rebeldia contra os alicerces do sistema colonial, nem mesmo uma revolta contra o colonizador; apenas se critica a má administração do governador Cunha Menezes.
                   Seu significado político, todavia, permanece. Literariamente, é a obra satírica mais importante do século XVIII brasileiro e continua sendo o índice de uma época.
Sendo anônimo o poema e tendo permanecido inédito até 1845, houve dúvida quanto à sua autoria, embora a tradição mais antiga apontasse Gonzaga sem hesitação. Falou-se depois em Cláudio, em Alvarenga Peixoto, em colaboração etc. Estudos empreendidos neste século, culminando pelos de Rodrigues Lapa, vieram dar prati­camente a certeza da atribuição a Gonzaga.
                   É tida como uma das mais curiosas sátiras de todos os tempos em Literatura Brasileira (junto com Antônio Chimango). Quem assina essas cartas é um certo Critilo, que escreve a um amigo, Doroteu. O contexto também era diverso, já que o clima de opressão e a tensão política deveriam se asilar no apócrifo.
                   As Cartas têm em Cunha Menezes (no texto, batizado com o singelo nome de Fanfarrão Minésio) o seu protagonista. Além do viés satírico, a obra constitui um interessante quadro dos costumes daquela época e um registro precioso do que era a corrupção no Brasil já desde os tempos da Colônia. Critilo, por sua vez, escreve do Chile.

1.1 – Prólogo e Dedicatória das Cartas Chilenas

PRÓLOGO:
Amigo leitor, arribou a certo porto do Brasil, onde eu vivia, um galeão, que vinha das Américas espanholas. Nele se transportava um mancebo, cavalheiro instruído nas humanas letras. Não me foi dificultoso travar, com ele, uma estreita amizade e chegou a confiar-me os manuscritos, que trazia. Entre eles encontrei as Cartas Chilenas, que são um artificioso compêndio das desordens, que fez no seu governo Fanfarrão Minésio, general de Chile.
Logo que li estas Cartas, assentei comigo que as devia traduzir na nossa língua, não só porque as julguei merecedoras deste obséquio pela simplicidade do seu estilo, como, também, pelo benefício, que resulta ao público, de se verem satirizadas as insolências deste chefe, para emenda dos mais, que seguem tão vergonhosas pisadas.
Um D. Quixote pode desterrar do mundo as loucuras dos cavaleiros andantes; um Fanfarrão Minésio pode também corrigir a desordem de um governador despótico.
Eu mudei algumas coisas menos interessantes, para as acomodar melhor ao nosso gosto. Peço-te que me desculpes algumas faltas, pois, se és douto, hás-de conhecer a suma dificuldade, que há na tradução em verso. Lê, diverte-te e não queiras fazer juízos temerários sobre a pessoa de Fanfarrão. Há muitos fanfarrões no mundo, e talvez que tu sejas também um deles, etc.
... Quid rides ? mutato nomine, de te
Fabula narratur...
                   Horat. Sat lª, versos e .

DEDICATÓRIA:

Ilmos. e exmos. senhores,
Apenas concebi a idéia de traduzir na nossa língua e de dar ao prelo as Cartas Chilenas, logo assentei comigo que Vv. Exas. haviam-de ser os Mecenas a quem as dedicasse. São Vv. Exas. aqueles de quem os nossos soberanos costumam fiar os governos das nossas conquistas: são por isso aqueles a quem se devem consagrar todos os escritos, que os podem conduzir ao fim de um acertado governo.
Dois são os meios porque nos instruímos: um, quando vemos ações gloriosas, que nos despertam o desejo da imitação; outro, quando vemos ações indignas, que nos excitam o seu aborrecimento. Ambos estes meios são eficazes: esta a razão porque os teatros, instituídos para a instrução dos cidadãos, umas vezes nos representam a um herói cheio de virtudes, e outras vezes nos representam a um monstro, coberto de horrorosos vícios.
Entendo que Vv. Exas. se desejarão instruir por um e outro modo. Para se instruírem pelo primeiro, têm Vv. Exas. Os louváveis exemplos de seus ilustres progenitores. Para se instruírem pelo segundo, era necessário que eu fosse descobrir o Fanfarrão Minésio, em um reino estranho! Feliz reino e felices grandes que não têm em si um modelo destes!
Peço a Vv. Exas. que recebam e protejam estas cartas. Quando não mereçam a sua proteção pela eloqüência com que estão escritas, sempre a merecem pela sã doutrina que respiram e pelo louvável fim com que talvez as escreveu o seu autor Critilo.
Beija as mãos
De Vv. Exas.
O seu menor criado..

1.2 – Divisão da obra

Carta 1ª: Em que se descreve a entrada que fez
Fanfarrão em Chile;

Carta 2ª: Em que se mostra a piedade que Fanfarrão fingiu no princípio do seu governo, parachamar a si todos os negócios
Carta 3ª:  Em que se contam as injustiças e violências que Fanfarrão executou por causa de
uma cadeia, a que deu princípio.
Carta 4ª: Em que se continua a mesma matéria
Carta 5ª: Em que se contam as desordens feitas nas festas que se celebraram nos desposórios
do nosso sereníssimo infante, com a sereníssima infanta de Portugal.
Carta 6ª: Em que se conta o resto dos festejos.
Carta 7ª: Há tempo, Doroteu, que não prossigo
Do nosso Fanfarrão a longa história.
Carta 8ª: Em que se trata da venda dos despachos e contratos
Carta 9ª: Em que se contam as desordens que Fanfarrão obrou no governo das tropas.
Carta 10ª: Em que se contam as desordens maiores que Fanfarrão fez no seu governo.
Carta 11: ªEm que se contam as brejeirices de Fanfarrão.
Carta 12ª

Carta 13ª:
...............................................................................
...............................................................................
...............................................................................
...............................................................................
Ainda, caro amigo, ainda existem
Os vestígios dos templos suntuosos
Que a mão religiosa do bom Numa
Ergueu o Marte e levantou a Jano.
5 – Ainda, ainda lemos que elegera,
Para estas divindades, sacerdotes,
E que muitas donzelas consagrara,
Afim de conservar-se, aceso, o fogo,
Em o templo de Vesta, sobre as aras.
10 – Também, também sabemos que este sábio,
Para ter mais conceitos entre o seu povo,
Fingiu que a ninfa Egéria, sendo noite,
Vinha falar com ele, e que, benigna,
A forma do goveno lhe inspirava.
15 – O mesmo fez Sertório, que dizia
Que nada executa, que não fosse
Ensinado por uma branca cerva,
Que, a deusa caçadora lhe mandara.
Mafoma, o vil Mafoma, astuto segue
20 – Também este sistema: ao seu ouvido
Acostuma a chegar-se a mansa pomba.
A nação, ignorante, se convence
De que este seu profeta conhecia
Os segredos do céu, por este meio.
25 – Não há, meu Doroteu, não há um chefe,
Bem que perverso seja, que não finja,
Pela religião, um justo zelo,
E, quando não o faça por virtude,
Sempre, ao menos, o mostra por sistema.


Carta 1ª (fragmentos)

Não cuides, Doroteu, que vou contar-te
por verdadeira história uma novela
da classe das patranhas, que nos contam
verbosos navegantes, que já deram
ao globo deste mundo volta inteira.
Uma velha madrasta me persiga,
uma mulher zelosa me atormente
e tenha um bando de gatunos filhos,
que um chavo não me deixem, se este chefe
não fez ainda mais do que eu refiro.

.....................................................................

Tem pesado semblante, a cor é baça,
o corpo de estatura um tanto esbelta,
feições compridas e olhadura feia;
tem grossas sobrancelhas, testa curta,
nariz direito e grande, fala pouco
em rouco, baixo som de mau falsete;
sem ser velho, já tem cabelo ruço,
e cobre este defeito e fria calva
à força de polvilho que lhe deita.
Ainda me parece que o estou vendo
no gordo rocinante escarranchado,
as longas calças pelo embigo atadas,
amarelo colete, e sobre tudo
vestida uma vermelha e justa farda.





2.      Análise da 3ª carta

                   A narrativa desta carta inicia pela descrição de tempos escuros, um anoitecer prematuro, clara alusão a fatos políticos adversos.

“Todos em casa estão, e todos buscam
Divertir a tristeza, que nos peitos
Infunde a tarde, mais que a noite feia.”

                   Dirceu, o destinatário da missiva, certamente estaria ao abrigo da intempérie, entregue aos clássicos. Outros cidadãos estariam com suas famílias e o autor narra por solidão. Reafirma que o Governador, mal iniciada a gestão, já se entregara a desmandos, aparenta uma brandura com os condenados que não seria condizente com a lei ou o bom senso. Os grilhões enferrujam, o carrasco está ocioso, não há ordem no governo. Mas o governador está edificando uma nova cadeia, um monumento que conservasse seu nome... Mas seria um edifício magnífico construído do sofrimento alheio. Seria o a execração para seu autor. O governador projetou um prédio baseado em sua arrogância, não correspondendo à necessidade e aos recursos da vila. Os versos que se seguem descrevem a fachada do edifício; eu os transcrevo no tópico seguinte, apontando os elementos arquitetônicos correspondentes.

                   Em seguida Critilo, personagem autor da carta, diz que o encarregado da obra, desqualificando-o, nem tinha bem onde morar no corte, e que a edificação se destinaria a negros que viviam em cabanas. A referência que se faz então, comparando o governador a uma sereia, fundamenta-se na retórica d o gênero, construindo uma depreciação pela monstruosidade., pela desproporção e louvando a harmonia, que não é encontrada no governador nem na edificação (pelo tamanho exagerado).

“Na sabia proporção é que consiste
A boa perfeição das nossas obras.”

                   Critilo ainda menciona a Doroteu que a obra consome todos os recursos do senado (da câmara) privando a municipalidade. O governador ainda exige empréstimo de mão-de-obra (escravos) de quem os tem, manda prender pessoas mais humildes para os forçar ao trabalho na obra, captura quilombolas e usa de outros expedientes ilegais para conseguir trabalhadores. Critilo ressalta as ilegalidades cometidas, em passagem que denota sua instrução nas leis. Aproveitando sempre para atacar o governador em sua ignorância jurídica:

“O grande Salomão lamenta o povo
Que sobre o trono tem um rei menino;
Eu lamento a conquista a quem governa
Um chefe tão soberbo e tão estulto
Que, tendo já na testa brancas repas,
Não sabe, ainda, que nasceu vassalo.”

                   Diz na carta que a situação parece de guerra, tamanha a prática de exceção: prisões, confiscos, extorsão, abuso de poder. Abuso da chibata, empregada acima e além do modo previsto em lei. A carta finda o a narrativa de um castigo, ilegal e injusto, aplicado a um negro; chibata e tronco de forma cruel e humilhante, o que certamente teria comovido em excesso a Doroteu, pelo que a narrativa se interrompe.

“Que açoitar, Doroteu, em outra parte
Só pertence aos senhores, quando punem (…)
No pelourinho a escada já se assenta,
Já se ligam dos réus os pés e os braços,
Já se descem calções e se levantam
Das imundas camisas rotas fraldas,
Já pegam dois verdugos nos zorragues,
Já descarregam golpes desumanos,
Já soam os gemidos e respingam
Miúdas gotas de pisado sangue.(…)
Dos cem açoites, que no meio estava,
Mas outra nova conta se começa.
Os pobres miseráveis já nem gritam. (…)
Mas tu, prezado amigo, tens o peito,
Dos males que já leste, magoado,
Por isto é justo que suspenda a história,
Enquanto o tempo não te cura a chaga.

3.        A casa da Câmara e Cadeia (Museu da Inconfidência)

                   Observe-se a detalhada descrição da fachada feita por Critilo:

“Ora, pois, doce amigo, vou pintar-te
Ao menos o formoso frontispício.
Verás se pede máquina tamanha
Humilde povoado, aonde os grandes
Moram em casas de madeira a pique.
Em cima de espaçosa escadaria
Se forma do edifício a nobre entrada
Por dois soberbos arcos dividida;
Por fora destes arcos se levantam
Três jônicas colunas, que se firmam
Sobre quadradas bases e se adornam
De lindos capitéis, aonde assenta
Uma formosa, regular varanda;
Seus balaústres são das alvas pedras
Que brandos ferros cortam sem trabalho.
Debaixo da cornija, ou projetura,
Estão as armas deste reino abertas
No liso centro de vistosa tarja.
Do meio desta frente sobe a torre
E pegam desta frente, para os lados,
Vistosas galerias de janelas
A quem enfeitam as douradas grades.”


4.      Personagens

a)      Critilo

                   O Autor da carta, supostamente Tomás Antonio Gonzaga, que escreve ao amigo narrando os eventos ocorridos em Chile, para se referir a tudo que acontece na Capitania. O que se pode notar, pelo texto, em análise interna, é o letramento do personagem e sua instrução em leis.
                   Tomás Antonio Gonzaga nasceu em 1744, Porto (Portugal), e faleceu em 1810, em Moçambique (África). Era filho e neto de brasileiros. Completou sua educação, na Universidade de Coimbra, onde ingressou em 1761, bacharelando-se em Leis. Em 1782 sendo nomeado ouvidor em Vila-Rica (Minas Gerais), desempenhou este cargo com simpatia e agrado e era consultado pelos governadores em todos os negócios difíceis e complicados. Envolve-se na Conjuração Mineira, preso a 21-5-1787, removido para a prisão da ilha das Cobras, tem seus bens confiscados. Sofre pena de desterro, enviado a 23-51792, para a costa oriental da África, sentença de 10 anos de degredo.


b)      Doroteu

                   O destinatário da carta, alegadamente o poeta Cláudio Manuel da Costa, mas é um personagem criado como destinatário genérico, um interlocutor culto e também versado em lei e que notaria as referências de Critilo à literatura clássica e práticas jurídicas do reino.                                               
                   Cláudio Manuel da Costa (Vargem do Itacolomi, 5 de junho de 1729 — Vila Rica, 4 de junho de 1789). Filho de João Gonçalves da Costa, português, e Teresa Ribeira de Alvarenga, mineira, nasceu na atual cidade de Mariana. Tornou-se conhecido principalmente pela sua obra poética e pelo seu envolvimento na inconfidência mineira, advogado de prestígio, fazendeiro abastado, cidadão ilustre, pensador de mente aberta e mecenas do Aleijadinho. Estudou cânones em Coimbra e há quem acredite que ele tenha traduzido a obra de Adam Smith para o português, mas isso nunca foi muito bem fundamentado. Entre 1753 e 54, exerceu advocacia em Vila Rica, onde também exerceu o importante cargo de secretário do Governo. Aos sessenta anos foi comprometido na chamada Conjuração Mineira. Preso, morreu em circunstâncias obscuras, no dia 4 de julho de 1789, quando teria se suicidado na prisão.

d) Governador

                   O governador de Chile (Fanfarrão Minésio) com toda certeza se refere a Cunha Menezes, nobre português sem formação jurídica que, segundo o missivista, se prestou a inúmero desmandos na gestão de seu cargo na Capitania. O autor usa intermináveis apóstrofes depreciativas ao personagem: “o nosso chefe” (com ironia), “louco chefe”, “chefe tão soberbo”, etc. Todos os recursos retóricos para a degradação do personagem são empregados pelo autor, nesta carta, os argumentos nesse sentido são a ignorância jurídica e a falta de fundamentos nas atitudes de sua gestão. O personagem encarna e sintetiza todo mal da Capitania, estendendo a seus subordinados os mesmos vícios.
                   Luís da Cunha Menezes, que governou de 1783 a 1788. Menezes, que era alvo de gozação perante o povo, se tornaria famoso pela forma com que tratava os seus desafetos. Foi no seu governo que a Coroa Portuguesa instituiu a histórica e temida (e famosa) Derrama, quando a metrópole exigia de seus súditos até aquilo que eles não eram capazes de possuir.


5.      Eventos

                   Os principais eventos narrados são referentes à construção do Edifício da antiga Casa da Câmara e Cadeia, hoje sede do Museu da Inconfidência. Foi construído de 1785 a 1855 e é um dos mais belos espécimes da arquitetura brasileira do período colonial. Suas paredes, no primeiro pavimento, atingem dois metros de espessura. A obra foi considerada faraônica e demandou mão de obra e recursos que exauriram as finanças públicas e dilapidaram inclusive os recursos privados por extorsões e violências abusivamente praticadas. 


                                               
EXERCÍCIOS

INSTRUÇÃO: As questões de números 01 a 03 tomam por
base um trecho do poema satírico Cartas Chilenas, do poeta
neoclássico Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), e um fragmento do poema João Boa-Morte, cabra marcado para morrer, do poeta neoconcretista Ferreira Gullar (1930).

Cartas Chilenas

Os grandes, Doroteu, da nossa Espanha
têm diversas herdades: umas delas
dão trigo, dão centeio e dão cevada;
as outras têm cascatas e pomares,
com outras muitas peças, que só servem,
nos calmosos verões, de algum recreio.
Assim os generais da nossa Chile
têm diversas fazendas: numas passam
as horas de descanso, as outras geram
os milhos, os feijões e os úteis frutos,
que podem sustentar as grandes casas.
(...)
Amigo Doroteu, és pouco esperto;
as fazendas que pinto não são dessas
que têm para as culturas largos campos
e virgens matarias, cujos troncos
levantam, sobre as nuvens, grossos ramos.
Não são, não são fazendas onde paste
o lanudo carneiro e a gorda vaca,
a vaca, que salpica as brandas ervas
com o leite encorpado, que lhe escorre
das lisas tetas, que no chão lhe arrastam.
Não são, enfim, herdades, onde as loiras,
zunidoras abelhas de mil castas,
nos côncavos das árvores já velhas,
que bálsamos destilam, escondidas,
fabriquem rumas de gostosos favos.
Estas quintas são quintas só no nome,
pois são os dois contratos que utilizam
aos chefes, ainda mais que o próprio Estado.
Cada triênio, pois, os nossos chefes
levantam duas quintas ou herdades,
e, quando o lavrador da terra inculta
despende o seu dinheiro, no princípio,
fazendo levantar, de paus robustos,
as casas de vivenda e, junto delas,
em volta de um terreiro, as vis senzalas,
os nossos generais, pelo contrário,
quando estas quintas fazem, logo embolsam
uma grande porção de loiras barras.

(Tomás Antônio Gonzaga, Cartas Chilenas.
 1.ª edição: 1788-1789.)

João Boa-Morte

Vou contar para vocês
um caso que sucedeu
na Paraíba do Norte
com um homem que se chamava
Pedro João Boa-Morte,
lavrador de Chapadinha:
talvez tenha morte boa
porque vida ele não tinha.
Sucedeu na Paraíba
mas é uma história banal
em todo aquele Nordeste.
Podia ser em Sergipe,
Pernambuco ou Maranhão,
que todo cabra da peste
ali se chama João
Boa-Morte, vida não.
Morava João nas terras
de um coronel muito rico.
Tinha mulher e seis filhos,
um cão que chamava “Chico”,
um facão de cortar mato,
um chapéu e um tico-tico.
Trabalhava noite e dia
nas terras do fazendeiro.
Mal dormia, mal comia,
mal recebia dinheiro;
se recebia não dava
pra acender o candeeiro.
João não sabia como
fugir desse cativeiro.

(Ferreira Gullar, João Boa-Morte, cabra marcado para morrer.
1.a edição: 1962.)

01. No fragmento das Cartas Chilenas, a identidade das personagens censuradas pelo eu-poemático é fragmentada em expressões como “os grandes”, “os generais” e “os chefes”. Em João Boa-Morte, embora o enunciador revele ter um nome, sua identidade também se coletiviza e ele
perde a individualidade, absorvida pela situação descrita no poema. Com base nessa opção,

a) explique por que motivo essa personagem deixa de ser individualizada e acaba assumindo uma dimensão tipicamente coletiva;

b) transcreva os dois versos de João Boa-Morte, em que o eu-poemático reconhece essa coletivização da identidade.

02. Aspectos da métrica e da rima costumam ser diferenciais de certos períodos literários. Esses recursos podem ligar os poemas de Gonzaga e de Ferreira Gullar com o
Neoclassicismo, de um lado, e com a transposição de temas para a literatura de cordel, de outro. Tendo em vista essas possibilidades,

a) aponte as diferenças entre os dois poemas, quanto ao número de sílabas métricas e quanto ao emprego de rimas;

b) identifique um par de expressões rimadas, na segunda estrofe do poema de Ferreira Gullar, que remete à região onde é típica a literatura de cordel.

03. Em João Boa-Morte, o vocábulo “cativeiro” enfatiza o tipo de tratamento, próprio da escravidão, dispensado pelo fazendeiro ao seu empregado. Nas Cartas Chilenas, o eupoemático denuncia a corrupção das autoridades, mas, em certo momento, faz também uma referência à escravidão.
Relendo o texto de Gonzaga,

a) destaque o verso desse poema que contém essa alusão a elementos ligados à escravidão;

b) indique a palavra, no verso encontrado, que resume a opinião do eu-poemático quanto à escravidão, justificando sua escolha.


04.  Apontar a alternativa correta:
a)Tomás Antônio Gonzaga cultivou a poesia satírica em O Desertor. 
b)Na obra Cartas Chilenas, temos uma sátira contra a administração de Luís da Cunha Menezes. 
c) Nessa obra o autor se disfarça sob o nome de "Doroteu" 
d)Para maior disfarce, o autor de Cartas Chilenas faz passar a ação na cidade do Rio de Janeiro. 

05. Leia com atenção o trecho abaixo retirado de Cartas Chilenas:
Aqui o povo geme e os seus gemidos
Não podem, Doroteu, chegar ao trono.
E se chegam, sucede quase sempre
O mesmo que sucede nas tormentas,
Aonde o leve barco se soçoba
Aonde o grande nau resiste ao vento,

Através de um ditado popular, é possível reproduzir as idéias dos versos acima: Assinale-o

a)      A corda sempre arrebenta do lado mais fraco.
b)      Deus ajuda a quem cedo madruga.
c)      Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.
d)     Gato escaldado tem medo de água fria.
e)      Macaco velho não põe a mão em cumbuca.

05) Escreva os termos que preenchem corretamente as lacunas do texto abaixo:

“As Cartas chilenas são importante documento histórico sobre o século _________________________, ao fazer a sátira ao então governador de Mina Gerais, tratado nas Cartas pelo pseudônimo de _________________________, O remetente assinava com o nome de _________________________, o destinatário era _________________________”

06. Tanto Tomás Antônio Gonzaga como Cláudio Manuel da Costa podem ser reconhecidos sob o disfarce de dois pseudônimos: um lírico, Outro satírico. Quais os pseudônimos de Gonzaga? E os de Cláudio Manuel da Costa? (especifique o lírico e o satírico).

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

07. Leia, com atenção, o texto abaixo, selecionado das Cartas Chilenas.

“Chegou à nossa Chile a doce nova
de que real infante recebera
bem digna do leito, casta esposa.
Reveste-se o baxá de um gênio alegre
E, para bem furtar os seus desejos,
Quer que, a despesas do Senado e do povo,
Arda em grandes festins a terra toda.”

GONZAGA, T. A. Cartas Chilenas. p. 829.


No texto das Cartas Chilenas, há críticas severas e bem atuais à forma de organização política do Brasil, na qual não se estabelecem limites entre o público e o privado. Explique como o fragmento da Carta V, citado acima, deixa clara essa crítica.

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