domingo, 22 de junho de 2014

Pré-Modernismo



Pré-Modernismo
1. Contexto histórico
Na Europa, começo do século foi uma época de conturbação política. A disputa das nações desenvolvidas por mercados e por fontes de matéria-prima acabaria por conduzir a I Guerra Mundial, em 1914. O panorama social brasileiro, embora um pouco distante desse âmbito de luta internacional , não era menos complexo . 
Os fatos falam por si. Uma série de revoltas eclodiram em todo o país. Os motivos eram diversos, as situações eram bem diferentes, as reivindicações eram várias. Mas esses acontecimentos tiveram um papel decisivo na passagem da República da Espada (primeiros governos republicanos, que eram militares ) para a República do café-com-leite (predominantemente civil ) e no enfraquecimento da República Velha ( 1889-1930 ) . 
Em 1893, tem lugar no Rio de Janeiro a Revolta da Armada, levante de uma facção monarquista da Marinha brasileira, que, insatisfeita, com a República recém-proclamada (1889), exigia a renúncia do presidente Floriano Peixoto. O restante das Forças Armadas, contudo, colocou-se ao lado do governante, que contava anda com forte apoio civil, graças à sua imensa popularidade. A revolta foi sufocada após seis meses. 
Em 1896, estourou na Bahia a revolta de sertanejos que ficou conhecida como Guerra de Canudos. Inicialmente, foi encarada com desprezo pelo governo federal. Mas a persistência dos revoltosos e o arraigado apego à terra que demonstravam, obrigaram o Exército a uma ação mais dura. A propaganda oficial divulgava o fato como um levante de monarquistas, tentando, com isso, angariar a simpatia da população e o auxílio de forças militares dos diversos estados. No entanto, as causas mais profundas da Guerra eram outras: a miséria, o subdesenvolvimento, a opressão, o abandono a que a população da região estava relegada. Depois de um ano de renhida resistência, Canudos caiu em outubro de 1897. Mas os problemas sociais não foram resolvidos, e o misticismo e o cangaço continuaram sendo respostas populares à opressão e à miséria. 
Nos primeiros anos do século XX, as autoridades do Rio de Janeiro resolveram urbanizar e modernizar a cidade, que era a capital do país, muito populosa, e que contava com péssimas condições de higiene. O novo planejamento urbano, contudo, previa uma recolocação da moradia dos mais pobres, excluindo-os das benesses da modernização e desamparando grande parte da população, já massacrada pelo desemprego e pela carestia. A insatisfação popular explodiu quando o governo lançou a campanha de vacinação obrigatória. A verdadeira batalha que se travou no Rio de Janeiro, em 1904, opondo policiais aos pobres, recebeu o nome de Revolta da Vacina, tendo sido violentamente reprimida. 
Em 1910, os marinheiros de dois navios de guerra, liderados por João Cândido (o "Almirante Negro"), manifestaram-se contrários aos castigos corporais ainda costumeiramente aplicados a eles na Marinha: era a Revolta da Chibata. O próprio governo reconheceu a pertinência das reivindicações, pressionando a Marinha para que as atendesse. Os revoltosos foram anistiados, mas logo depois perseguidos, presos e torturados. 
Outro acontecimento importante do período foi a greve geral de 1917, ocorrida em São Paulo, organizada por trabalhadores anarco-sindicalista , reivindicando melhoria nos salários e nas condições de trabalho ( redução da jornada , segurança , etc . ) . 
Em seu conjunto, essas revoltas todas podem ser vistas como manifestações de uma nova paisagem social, na qual forças políticas até então tímidas (sertanejos, miseráveis, no cenário, imigrantes, soldados de baixa patente, entre outros ) começaram a marcar presença no cenário brasileiro . No terreno artístico, o período que vai do final do século XIX (aproximadamente 1870) até as primeiras décadas do século seguinte ( anos 20 ) recebe o nome geral de "belle époque". 
As transformações sociais, da passagem do século, experimentadas no Brasil, necessariamente impregnariam a literatura, principalmente em um momento em que uma das propostas artísticas em vigor toca justamente no ponto de uma retomada da literatura social. Assim, podemos falar mesmo em uma redescoberta do Brasil pela literatura. Um Brasil que, na verdade, sempre tinha existido, mas que fora até então presença excessivamente reduzida na literatura. 
Essa redescoberta pode ser notada a partir da renovação temática que se opera no âmbito literário. A preocupação com a realidade nacional ocupa não apenas as obras de ficção, mas também os ensaios, artigos e comentários eruditos, que ganham grande impulso na época. Um aspecto comum a essa produção intelectual é a crítica às instituições, tomadas como elementos de cristalização e acomodação de uma estrutura de poder que resultava na cegueira às reivindicações de vastas camadas da população brasileira. 
No terreno da ficção, ambientes antigos são explorados agora de forma a evidenciar seus aspectos mais tristes e pobres. O sertão, o interior, os subúrbios, que já apareciam antes em romances e natureza viviam em comunhão, agora são retratados como representações do atraso brasileiro. Da mesma forma, os personagens que figuraram nessas produções estão muito distantes dos modelos assumidos em estéticas anteriores: o sertanejo não é mais servil e ordeiro; o suburbano não é mais alegre e expansivo; o caipira não é mais saudável e trabalhador. A imagem que essas personagens passam a representar liga-as à decadência, ao desmazelo, à ignorância. 
Essa literatura que tematiza habitantes e ambientes de determinadas regiões, pode ser considerada regionalista. Mas , é bom que se perceba , trata-se de um regionalismo crítico, bastante diferente, por exemplo, da idealização romântica. 
Na visão dos representantes dessa corrente , a literatura tinha uma missão a cumprir como instrumento de denúncia social , explicitando as razões do nosso atraso , discutindo alternativas para ele . O progresso e o cosmopolitismo que caracterizava a auto-imagem de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo eram contrapostos ao subdesenvolvimento e à miséria estrutural de vastas regiões nacionais - nem sempre muito distantes dos centros populosos , como mostraram as obras tematizando o caipira e o morador dos subúrbios cariocas . 
Formalmente, os pré-modernistas caracterizar-se-ão por uma linguagem oscilante : expressões eruditas , francamente influenciadas pelo Parnasianismo , convivem com um vocabulário mais livre e popular , que tenta funcionar como registro de expressões regionais . Pode-se entender essa prática como uma ponte de ligação entre a linguagem dicionaresca e cientificista do século XIX e aquela, mais despojada, que caracterizaria a arte moderna do século XX. De certa forma, essa oscilação reflete ainda um contato crescente entre as culturas popular e erudita. 
Como dissemos, essa prática literária não chegou a se constituir em escola, estruturada e organizada em um programa estético definido. O Pré-Modernismo é, mais que um fato artístico, um momento importante do desenvolvimento das letras brasileiras. Seus autores mais significativos são: Euclides da Cunha, Lima Barreto, Monteiro Lobato, Augusto dos Anjos, Graça Aranha, entre outros. 
3. Resumindo.
                           INÍCIO: 1902 - Publicação de Os sertões, Euclides da Cunha.
TÉRMINO:  1992 - Semana de Arte Moderna
PAINEL DE ÉPOCA
·         Reflexão sobre a realidade brasileira.
·         Denúncia, protesto e compromisso social.
·         União do tradicional; com o moderno.
·         Momento de transição da literatura.
·         Momento de transição da literatura Acadêmica para literatura Moderna 
AUTORES
 
I) EUCLIDES DA CUNHA
·         Análise científica da sociedade brasileira: Os Sertões.
·         Diferenças da cultura litorânea e do interior.
·         Presença do determinismo na obra: o homem é vítima do processo social, geográfico.
·         A vida do sertanejo, sem fantasias.
II) GRAÇA ARANHA
·         Ajudou bastante os jovens da Semana de Arte Moderna de 22.
·         Consciência dos problemas do Brasil.
·         Ótica social.
·         Falou sobre o Espírito Santo.
·         Canaã 1902)
III) MONTEIRO LOBATO
·         Literatura Regionalista.
·         Critica severamente os problemas sociais.
·         Falou sobre o Vale do Paraíba.
·         Linguagem conservadora mas com idéias modernas.
·         Fala sobre costumes e hábitos do nosso povo: Jeca Tatu (1919).
·         Urupês (1918), Cidades Mortas (1919), Negrinha (1920)
IV) LIMA BARRETO
·         Cenas do dia-a-dia analisando a vida da pequena classe média.
·         Preocupação com a realidade brasileira.
·         Fala sobre o subúrbio carioca.
·         Nacionalista
·         Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1908),   Triste fim de
·         Policarpo Quaresma (1915). 

V) AUGUSTO DOS ANJOS
Formou-se em direito, mas foi sempre professor de Literatura. Nervoso, misantropo e solitário, este possível ateu morreu de forte gripe antes de assumir um cargo que lhe daria mais recursos.
Publicou apenas um único livro de poesias, Eu, mais tarde reeditado como Eu e outras poesias. Sua obra é cientificista, profundamente pessimista. Sua visão da morte como o fim, o linguajar e os temas usados por muitos são considerados como sendo de mau gosto, mas caracterizam sua poesia como única na literatura brasileira.
"Já o verme — este operário das ruínas — / Que o sangue podre das carnificinas / Come e à vida em geral declara guerra,"
Trabalhou, assim como parnasianos e simbolistas, com sonetos e verso decassílabo. Sua visão de mundo e a interrogação do mistério da existência e do estar-no-mundo marcam esta nova vertente poética. Há uma aflição pessoal demonstrada com intensidade dramática, além do pessimsmo. Constância da morte, desintegração e os vermes.
"A passagem dos séculos me assombra. / Para onde irá correndo minha sombra / Nesse cavalo de eletricidade?! / Quem sou? Para onde vou? Qual minha origem? / E parece-me um sonho a realidade."
Obra Principal:
·         Poesias - Eu (1912)
As Vanguardas Européias
                                              (início do século XX)
 
  I) FUTURISMO:
·         Lançado por Marinetti no manifesto “Le Futurisme”, 1909.
·         Surge entre o Simbolismo e a 1ª Guerra Mundial.
·         Exalta a vida moderna.
·         Culto da máquina e da velocidade.
·         Destruição do passado e do academicismo
·         Liberdade de expressão.
II) EXPRESSIONISMO:
·         Paralelo ao Futurismo e Cubismo.
·         Surge em 1910 pela revista “Der Sturn”.
·         A arte brota da vida interior; do íntimo do ser.
·         A obscuridade do ser é transportada para a expressão.
·         As telas retratam o patético, os vícios, os horrores, a guerra.
·         Protesta contra a violência e usa cores explosivas.
·         Reflete a crise de consciência gerada pela guerra.
III) CUBISMO
·         Decomposição da realidade em figuras geométricas.
·         Manifesta-se a partir de 1917, na literatura.
·         Seu divulgador foi Appolinaire.
·         Decomposição da imagem em diferentes planos.
·         Desintegração da realidade gerando uma poesia ausente de lógica.
·         Linguagem caótica.
IV) DADAÍSMO
·         Surge em 1916, em Zurique.
·         Promove um certo terrorismo cultural.
·         Contraria todos os valores vigentes até então.
·         Valoriza o niilismo (descrença absoluta)
·         Mundo ilógico.
·         Cultua a realidade mágica da infância.
·         Seu principal divulgador foi Tristan Tzara.
V) SURREALISMO
·         Surge em 1924 com o Manifesto Surrealista de André Breton.
·         Propõe que o homem se liberte da razão, da crítica, da lógica.
·         Adere a filosofia de Sigmund Freud.
·         Expressa o interior humano investigando o inconsciente.

Análise dos Livros do vestibular

1º livro: “O Pagador de Promessas”


Estrutura e características

Dias Gomes escreve, em 1959, o brasileiríssimo texto de O Pagador de Promessas. É o interessante retrato da miscigenação religiosa brasileira, tem em sua maior preocupação destacar a sincera ingenuidade e devoção do povo, em oposição a burocratização imposta pelo próprio sistema católico em sua organização interior. Se trata de uma obra de estatura excepcional. Décio de Almeida Prado refere-se a ela como "um instante de graça" por ter seu autor atingido um ápice, "aquela obra que congrega numa estrutura perfeita todos os seus dons mais pessoais".

         Nos moldes do "protagonismo" trágico, o herói da peça tem um único e inabalável desígnio, o de honrar uma promessa. A justiça desse acordo firmado com um poder celeste não pode ser contestada por um poder temporal. E é assim, com um único e irredutível argumento, que o campônio Zé do Burro justifica a sua determinação em levar uma cruz até o pé do altar para agradecer a salvação do seu amado burrico. Enfrenta a perda amorosa, a argumentação eclesiástica e a força da lei e acaba por vencer a todos na sua ingênua, mas sincera, imitação de Cristo.

         A essa estrutura simples, em que um único motivo impulsiona a ação e se sobrepõe a todos os outros elementos de composição do texto, corresponde uma expressão verbal verossímil e sem atavios literários. Respondendo à sugestão da mulher para que se contente em deixar a cruz na porta da igreja, Zé do Burro responde: "Eu prometi levar a cruz até dentro da igreja, tenho que levar. Andei sete léguas. Não vou me sujar com a santa por causa de meio metro." A habilidade de fazer com que o impulso nobre, quase extra-humano na sua pureza, se ajuste à fala coloquial permanece uma constante nas criações posteriores do dramaturgo.

         É uma obra escrita para teatro e é dividida em três atos, sendo que os dois primeiros ainda são subdivididos em dois quadros cada um.

         Após a apresentação dos personagens, o primeiro ato mostra a chegada do protagonista Zé do Burro e sua mulher Rosa, vindos do interior, a uma igreja de Salvador e termina com a negativa do padre em permitir o cumprimento da promessa feita.

         O segundo ato traz o aparecimento de diversos novos personagens, todos envolvidos na questão do cumprimento ou não da promessa e vai até uma nova negativa do padre, o que ocasiona, desta vez, explosão colérica em Zé do Burro.

         O terceiro ato é onde as ações recrudescem, as incompreensões vão ao limite e se verifica o dramático desfecho.

        A peça de Dias Gomes tem nítidos propósitos de evidenciar certas questões sÓcio-culturais da vida brasileira, em detrimento do aprofundamento psicológico de seus personagens. Assim, ganha força no drama a visão crítica quanto:

a) à intolerância da Igreja católica, personificada no autoritarismo do Padre Olavo, e na insensibilidade do Monsenhor convocado a resolver o problema;

b) à incapacidade das autoridades que representam o Estado - no episódio, a polícia - de lidar com questões multiculturais, transformando um caso de diferença cultural em um caso policial;

c) à voracidade inescrupulosa da imprensa, simbolizada no Repórter, um perfeito mau-caráter, completamente desinteressado no drama do protagonista, mas muito interessado na repercussão que a história pode ter;

d) ao grande fosso que separa, ainda, o Brasil urbano do Brasil rural: Zé do Burro não consegue compreender por que lhe tentam impedir de cumprir sua promessa; os padres, a polícia, a imprensa não conseguem compreender quem é Zé do Burro, sua origem ingênua, com outros códigos culturais, outras posturas. Além disso, a peça mostra as variadas facetas populares: o gigolô esperto, a vendedora de quitutes, o poeta improvisador, os capoeiristas. O final simbólico aponta em duas direções. Em primeiro lugar a morte do Zé do Burro mostra-se com fim inevitável para o choque cultural violento que se opera na peça: ninguém, entre as autoridades da cidade grande, é capaz de assimilar o sincretismo religioso tão característico de grandes camadas sociais no Brasil, especialmente no interior nordestino. Em segundo lugar, a entrada dos capoeiristas na igreja, carregando a cruz com o corpo, sinaliza para rechaçar a inutilidade daquela morte: os populares compreenderam o gesto de Zé do Burro.


Enredo

Primeiro ato

Primeiro quadro - A ação da peça tem início nas primeiras horas da manhã (4:30h), numa praça, em frente a uma igreja, em Salvador. O personagem denominado Zé do Burro carrega uma cruz e se aloja na frente da igreja. A seu lado Rosa, sua mulher, apresentada como tendo "sangue quente" e insatisfação sexual. Zé espera a igreja abrir para cumprir sua promessa, feita a Santa Bárbara. Aparecem no lugar, algum tempo depois, Marli e Bonitão: ela prostituta; ele, gigolô. Há uma clara relação de exploração e dependência entre eles. Encontrando Zé, Bonitão dirige-se a ele e percebe ser alguém ingênuo. Rosa, por sua vez, conversando com o gigolô, queixa-se de Zé, contando que ele, na sua promessa, dividiu suas terras com lavradores pobres. Percebendo a ingenuidade, Bonitão propõe-se a providenciar um local para Rosa descansar. Zé não só aceita, como incentiva. Saem os dois, Bonitão e Rosa, de cena.

Segundo quadro - Aos poucos, começa o movimento ao redor da praça. Aparecem a Beata, o sacristão e o Padre Olavo, titular da igreja. Zé explica a promessa: Nicolau foi ferido com a queda de uma árvore; estando para morrer, Zé fez a promessa. O burro - Nicolau é um burro! - salva-se. Ingenuamente, Zé revela ter usado as rezas de Preto Zeferino e feito a promessa num terreiro de candomblé, a Iansã, equivalente afro de Santa Bárbara. O padre fica escandalizado. Estabelece-se o conflito. O sincretismo Iansã - Santa Bárbara, natural para Zé do burro, é um grandioso pecado para o padre. A situação agrava-se com a revelação da divisão de terras. Impasse. O padre manda fechar a igreja e proíbe o cumprimento da promessa. Zé do burro fica atônico.

Segundo ato

Primeiro quadro - Duas horas mais tarde, já a movimentação no lugar é intensa. O Galego, dono do bar, abriu seu estabelecimento. Surgem Minha Tia, vendedora de acarajés, carurus e outras comidas típicas, Dedé Cospe-Rima, poeta popular, ao estilo repentista e o Guarda. Zé do burro quer cumprir a promessa. O Guarda tenta intervir. Rosa reaparece com "ar culpado". Chega o Repórter. Seguindo a linha do oportunismo sensacionalista, o repórter quer tirar vantagens da história de Zé do Burro. Quer torná-lo um mártir, para virar notícia. Enquanto isso descobre-se que Rosa transou com Bonitão. Marli faz um pequeno escândalo, denunciando a história Rosa-Bonitão.

Segundo quadro - Três da tarde, Dedé oferece poemas para Zé, a fim de derrotar o Padre. Aparecem, em momentos subseqüentes, o capoeirista Mestre Coca e o policial, o Secreta, chamado por Bonitão, ficando ambos, por enquanto, nas cercanias. Zé começa a perder a paciência e arma uma gritaria. O padre reage. Chega o Monsenhor, autoridade da igreja, propondo a Zé uma solução: ele, Monsenhor, na qualidade de representante da Igreja, pode liberar Zé da promessa, dando-a por cumprida. Zé não aceita, dizendo que promessa foi feita à Santa e só ela poderia liberá-lo. Segue o impasse. Zé explode novamente e avança com a cruz sobre a Igreja. O padre fecha a porta. Zé, já desesperado, bate com a cruz na porta. O drama é total.

Terceiro ato

Entardecer. Muita gente na praça e nos arredores da Igreja. Há uma roda de capoeira. O Galego, oportunista, oferece comida grátis a Zé, pois a história está trazendo movimento ao seu bar. O Secreta, no bar, avisa que a polícia prenderá Zé, ameaçando os capoeiristas, caso eles interfiram. Marli volta. Ofende Rosa, ofende Zé. O protagonista parece mudar de atitude. Resolve ir embora "à noite". Rosa quer ir embora já. Conta que Bonitão avisou a polícia. Retorna o repórter, que tenta montar um verdadeiro circo em torno do Zé, com o objetivo de vender o jornal. Chega Bonitão e convida Rosa para ir com ele. Zé pede a ela para ficar. Rosa hesita, a princípio, mas, em seguida, vai com Bonitão. Mestre Coca avisa Zé sobre a chegada da polícia. Zé está perplexo: "Santa Bárbara me abandonou". Da igreja saem o Sacristão, o Guarda, o Padre e o Delegado. Tensão da cena acentua-se. Zé ainda tenta, ingênua e inutilmente, explicar alguma coisa. Ao ser cercado, puxa uma faca. As autoridades reagem. Os capoeiristas também. Briga e confusão. De repente, um tiro espalha gente para todos os lados. Zé é mortalmente ferido. Mestre Coca olha para os companheiros, que entendem a mensagem. Os capoeiristas tomam o corpo do Zé colocam-no sobre a cruz e, ignorando padre e polícia entram na igreja, carregando a cruz.


EXERCÍCIOS
1. (Herriot- 2009) - Quanto a Estrutura da peça O Pagador de Promessas, é possível afirmar:
I – O Drama é construído a partir de três atos, cada um deles dividido em dois quadros.
II – Os Terceiro (último) Ato apresenta um desfecho trágico: O Pagador de promessas é atingido por uma bala de revólver, que o impede de pagar sua promessa.
III – A recusa do Padre em não permitir que Zé-do-Burro pague a promessa nos dois Atos iniciais demonstra, de forma individual, uma intolerância que deve ser encarada numa extensão maior: a intolerância universal.

Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s):

a) I        b) II       c) III       d) I e III       e) II e III

2. (Herriot - 2009) - Dividida em três atos – sendo os dois primeiros subdivididos em dois quadros cada um –, a peça O pagador de promessas estrutura-se de forma simples, apresentando unidade de ação, tempo e espaço e pouco explorando a psicologia das personagens.

Seu enredo pode ser resumido da seguinte maneira:

I - Após muitas discussões, Zé-do-Burro, ao tentar entrar à força na igreja, é morto. Por fim, é posto em cima da cruz e conduzido para dentro da igreja por alguns simpatizantes de sua causa.
II - Com o restabelecimento do animal, Zé-do-Burro põe-se a cumprir a promessa, primeiramente dividindo suas terras com os lavradores mais pobres do que ele.
III - Depois caminhando rumo a Salvador, até onde deveria levar uma imensa cruz de madeira para colocá-la no altar da Igreja de Santa Bárbara.
IV - Zé-do-Burro e sua mulher Rosa vivem em uma pequena propriedade a sete léguas de Salvador. Um dia, Zé-do-Burro vai a um terreiro de candomblé a fim de fazer uma promessa a Inçam (Santa Bárbara) para que esta salvasse Nicolau, seu burro de estimação que havia sido atingido por um raio.
V - Esta segunda parte de sua promessa, no entanto, é impossibilitada pela resistência do padre Olavo que, ao saber o local onde Zé-do-Burro havia feito a promessa, não permite que ele entre na igreja com sua cruz.

A seqüência correta dos fatos é:

a) IV, II, III, V e I     b) IV, III, II, V e II     c) III, IV, II, V e I
d) II, IV, III, V e I     e) IV, II, III, I e V

3. (Herriot - 2009) - A peça de Dias Gomes tem nítidos propósitos de evidenciar certas questões socioculturais da vida brasileira, em detrimento do aprofundamento psicológico de seus personagens. Assim, ganha força no drama a visão crítica quanto:

I - à intolerância da Igreja católica, personificada no autoritarismo do Padre Olavo, e na insensibilidade do Monsenhor convocado a resolver o problema;
II - a capacidade das autoridades que representam o Estado - no episódio, a polícia - de lidar com questões multiculturais, transformando um caso de diferença cultural em um caso policial;
III - à voracidade inescrupulosa da imprensa, simbolizada no Repórter, um perfeito mau-caráter, completamente desinteressado no drama do protagonista, mas muito interessado na repercussão que a história pode ter.
IV - ao grande fosso que separa, ainda, o Brasil urbano do Brasil rural: Zé do Burro não consegue compreender por que lhe tentam impedir de cumprir sua promessa; os padres, a polícia, a imprensa não conseguem compreender quem é Zé do Burro, sua origem ingênua, com outros códigos culturais, outras posturas.
V - Além disso, a peça não mostra as variadas facetas populares: o gigolô esperto, a vendedora de quitutes, o poeta improvisador, os capoeiristas. O final simbólico aponta em duas direções.

São falsas as afirmações:

a) I, III e IV     b) II e V     c) II, III e V     d) I, II e V      e) I, III e V

4. (Herriot- 2009) - A morte de Zé-do-Burro:

I - Em primeiro lugar, mostra-se com fim inevitável para o choque cultural violento que se opera na peça: ninguém, entre as autoridades da cidade grande, é capaz de assimilar o sincretismo religioso tão característico de grandes camadas sociais no Brasil, especialmente no interior nordestino.
II - Em segundo lugar, a entrada dos capoeiristas na igreja, carregando a cruz com o corpo, sinaliza para rechaçar a inutilidade daquela morte: os populares compreenderam o gesto de Zé do Burro.
III – Em terceiro lugar, deixa claro que distância cultural unida à intransigência forma um binômio mortal capaz de desintegrar o homem comum.

São corretas:

a) I e III     b) I e II     c) Só a I     d) I, II e III      e) Só a II

5. (Herriot – 2009) - Observe o excerto:

BONITÃO: Espere. Não adianta andar depressa...
MARLI: É melhor discutirmos isso em casa.
BONITÃO: (Alcança-a e obriga a parar torcendo-lhe violentamente o braço) Não, vamos resolver aqui mesmo. Não tenho nada que discutir com você...
MARLI: (Livra-se dele com um safanão, mas seu rosto se contrai dolorosamente) Estúpido!
BONITÃO: Ande, vamos deixar de mas-mas. Passe pra cá o dinheiro.
MARLI: (Tira do bolso do vestido um maço de notas e entrega a ele) Não podia esperar até chegar em casa?
BONITÃO: (Chega mais para perto do jato de luz e conta as notas, rapidamente) Só deu isto?
MARLI: Só. A noite hoje não foi boa. Você viu, o "castelo" estava vazio.
BONITÃO: E aquele galego que estava conversando com você quando cheguei?

MARLI: Uma boa conversa. Queria se fretar comigo. Ficou mangando a noite toda e não se resolveu...
BONITÃO: (Mete subitamente a mão no decote de Marli e tira de entre os seios uma nota) Sua vaca! Ele faz menção de dar-lhe um bofetão, ela corre e refugia-se atrás da cruz. Zé-do-Burro desperta de sua semi-sonolência.

a) O diálogo caracteriza o discurso indireto, aspecto comum na maoria das peças teatrais por se tratar de uma tendência estrutural do gênero dramático.
b) Marli e Bonitão terão uma importância capital no desenrolar da ação uma vez que ambos demonstram, pela prática de vida que levam, total apoio a Zé-do-Burro, uma vez que não dependem da igreja sob nenuma ótica.
c) O casal apresenta total dependência psicológica e material um do outro, inclusive no que se refere a sobrevivência de ambos.
d) Bonitão é cafetão, Marli prostituta. O par representa a intrasigência social já que a prática de vida que levam é rejeitada por todos, inclusive a Igreja.
e) A dependência existente entre Bonitão e Marli chega ao fim a partir do momento em que Rosa se deixa trair pelo assédio do Bonitão.

6. (Herriot) – 2009) - A partir do texto:

BONITÃO: Eu espero. Sua esposa me contou a caminhada que fizeram, o senhor carregando nas costas essa cruz através de léguas e léguas, para cumprir uma promessa. Isso me comoveu.
: Mas não é justo. Não foi o senhor quem fez a promessa.
ROSA: Ele está querendo ajudar, Zé.
: Mas não é direito. Eu prometi cumprir a promessa sozinho, sem ajuda de ninguém. E essa história de dormir no hotel não está no trato.
BONITÃO: E sua senhora está no trato?
: Rosa? Não, ela pode ir.
BONITÃO: Nesse caso, se quiser que eu leve sua senhora... ao menos ela descansa enquanto espera pelo senhor.
: Você quer, Rosa? Quer ir esperar por mim no hotel? (Volta-se para Bonitão) É hotel decente?
BONITÃO:(Fingindo-se ofendido) Ora, o senhor acha que ia indicar...
: Desculpe, é que sempre ouvi dizer que aqui na cidade...
BONITÃO: Pode confiar em mim.
: É longe daqui?
BONITÃO: Não, basta subir aquela ladeira...
ZÉ: Que é que você diz, Rosa?
ROSA: (Percebendo o jogo de Bonitão) Quero não, Zé. Prefiro ficar aqui com você.
: Ainda agora mesmo você estava se queixando.
BONITÃO: Não é pra menos. Deve estar exausta. Sete léguas.
: Afinal de contas, você tem razão, a promessa é minha, não é sua. Vá com o moço, não tenha acanhamento.
BONITÃO: Eu vou com ela até lá, apresento ao porteiro, que é meu conhecido - sim, porque uma mulher sozinha, o senhor sabe, eles não deixam entrar - depois volto para lhe dizer o número do quarto. Daqui a pouco, depois de cumprir a sua promessa, o senhor vai pra lá.
: Se o senhor fizesse isso, era um grande favor. Eu não posso me afastar daqui.
BONITÃO: Nem deve. Primeiro, Santa Bárbara.
ROSA: Zé, é melhor eu ficar com você...
: Pra que, Rosa? Assim você vai logo descansar numa boa cama, não precisa ficar aí deitada nesse batente frio...
BONITÃO: Um perigo! Pode pegar uma pneumonia.
ROSA: (Inicia a saída. Pára, hesitante. Pressente o perigo que vai correr. Procura, com o olhar, fazer Zé-do-Burro compreender o seu receio) Zé...
: Ahn, sim. (Enfia a mão no bolso, tira um maço de notas) Pode ser que precise pagar adiantado...
ROSA:(Recebe o dinheiro. Encara o marido) Talvez seja melhor, depois de entregar a cruz, você mandar também rezar uma missa em ação de graças...

a) Esse momento é crucial para as vidas de Zé e Rosa pois demarca o início do fim de um relacionamento de oito anos entre ambos, estremecido definitivamente pela promessa feita pelo Zé.
b) O momento é decisivo para as pretenções do Bonitão que se enamorara de Rosa e sentiu por ela uma grande atração movida pela sinceridade e bons propósitos.
c) Auxiliar Rosa era um ato de humanidade que o Bonitão resolveu praticar na tentativa de aliviar suas dores e cansaço, frutos de uma longa viagem e noites mal dormidas.
d) Zé, na sua igenuidade não vê nem um mal em Rosa ser levada a um hotel pelo Bonitão, no que é correspondido plenamente pelo Cafetão.
e) O “sangue quente” de Rosa a faz hesitante num primeiro momento. Depois que ela cede aos caprichos do Bonitão é movida pelo remorso e arrependimento.
7. (Herriot -2009) – Observe o texto:

: Mas mesmo que soubesse, eu não deixava de fazer a promessa. Porque quando vi que nem as rezas do preto Zeferino davam jeito...
PADRE: Rezas?! Que rezas?!
: Seu vigário me disculpe... mas eu tentei tudo. Preto Zeferino é rezador afamado na minha zona: Sarna de cachorro, bicheira de animal, peste de gado, tudo isso ele cura com duas rezas e três rabiscos no chão. Todo o mundo diz... e eu mesmo, uma vez, estava com uma dor de cabeça danada, que não havia meio de passar... Chamei preto Zeferino, ele disse que eu estava com o Sol dentro da cabeça. Botou uma toalha na minha testa, derramou uma'garrafa dágua, rezou uma oração, o sol saiu e eu fiquei bom.
PADRE: Você fez mal, meu filho. Essas rezas são orações do demo.
: Do demo, não senhor.
PADRE: Do demo, sim. Você não soube distinguir o bem do mal. Todo homem é assim. Vive atrás do milagre em vez de viver atrás de Deus. E não sabe se caminha para o céu ou para o inferno.
: Para o inferno? Como pode ser, Padre, se a oração fala em Deus?
(Recita) "Deus fez o Sol. Deus fez a luz, Deus fez toda a claridade do Universo grandioso. Com sua Graça eu te benzo, te curo. Vai-te Sol, da cabeça desta criatura para as ondas do Mar Sagrado, com os santos poderes do Padre do Filho e do Espírito Santo". Depois rezou um Padre Nosso e a dor de cabeça sumiu no mesmo instante.

O texto acima:

a) Apenas apresenta o primeiro encontro de Zé com o Padre onde ficam claros os propósitos de Zé-do-Burro em carregar uma cruz por 7 léguas.
b) Nada se vê a respeito do sincretismo religioso, que normalmente é aceito pelas camadas mais populares, mas mal visto pela Igreja e sua direção doutrinária.
c) É um momento fundamental para a negativa do Padre em impedir o cumprimento da promessa que desencadeará o fio narrativo da peça e o surgimento do dualismo intransigência X sessão.
d) A ingenuidade do Zé não lhe permite alcançar a força dos dogmas religiosos, mesmo assim ela sabe que pravelecerá e sua promessa será paga.
e) Confrontos religiosos sempre existirão. No caso, temos os dois lados de uma mesma moeda degladeando-se. A conjutura estabelece o princípio da eterna luta entre Davi X Golias, com o inevitável desfecho: mais uma vez Davi suplanta Golias.

08. (Herriot - 2009) - Aparentemente, em O Pagador de Promessas, de Dias Gomes, a religiosidade é a tônica:


: Foi então que comadre Miúda me lembrou: por que eu não ia no candomblé de Maria de Iansan?
PADRE: Candomblé?!
: Sim, é um candomblé que tem duas léguas adiante da minha roça. (Com a consciência de quem cometeu uma falta, mas não muito grave) Eu sei que seu vigário vai ralhar comigo. Eu também nunca fui muito de freqüentar terreiro de candomblé. Mas o pobre Nicolau estava morrendo. Não custava tentar. Se não fizesse bem, mal não fazia. E eu fui. Contei pra
Mãe-de-Santo o meu caso. Ela disse que era mesmo com Iansan, dona dos raios e das trovoadas. Iansan tinha ferido Nicolau... pra ela eu devia fazer uma obrigação, quer dizer: uma promessa. Mas tinha que ser uma promessa bem grande, porque Iansan, que tinha ferido Nicolau com um raio, não ia voltar atrás por qualquer bobagem. E eu me lembrei então que Iansan é Santa Bárbara e prometi que se Nicolau ficasse bom eu carregava uma cruz de madeira de minha roça até a Igreja dela, no dia de sua festa, uma cruz tão pesada como a de Cristo.
PADRE: (Como se anotasse as palavras) Tão pesada como a de Cristo. O senhor prometeu isso a...
: A Santa Bárbara.
PADRE: A Iansan!
: É a mesma coisa...

Isso se deve ao fato:

a) de que toda promessa tem uma base religiosa. Não seria diferente a de Zé-do-Burro que é feita a Iansã/Santa Bábara.
b) de haver uma real tentativa do autor demonstrar a existência do sincretismo religioso na bahia.
c) que se sobressai na obra a intransigência da Igreja Católica como prova de uma intransigência universal que se manifesta num leque de situações.
d) de que é comum forças maiores se unirem contra as menores em defesa de seus objetivos e ideais.
e) natural de ser o homem um ser religioso por excelência e que não pode viver sem um princípio de prática de fé.

9.(Herriot – 2009) - Leia o texto com atenção:
                                  
SACRISTÃO: E Nicolau... quero dizer, o burro, ficou bom?

ZÉ: Sarou em dois tempos. Milagre. Milagre mesmo. No outro dia já estava de orelha em pé, relinchando. E uma semana depois todo o mundo me apontava na rua: - "Lá vai Zé-do-Burro com o burro de novo atrás!" (Ri) E eu nem dava confiança. E Nicolau muito menos. Só eu e ele sabíamos do milagre. (Como que retificando) Eu, ele e Santa Bárbara.
PADRE: (Procurando inicialmente controlar-se) Em primeiro lugar, mesmo admitindo a intervenção de Santa Bárbara, não se trataria de um milagre, mas apenas de uma graça. O burro podia ter-se curado sem intervenção divina.
ZÉ: Como, Padre, se ele sarou de um dia prô outro...
PADRE: (Como se não o ouvisse) E além disso, Santa Bárbara, se tivesse de lhe conceder uma graça, não iria fazê-lo num terreiro de candomblé!

É possível deduzir que:

a) Realmente o milagre aconteceu, pois Nicolau rapidamente se recupera do acidente.
b) Já que Zé-do-Burro realmente cria, para ele o milagre era um fato consumado.
c) A cura do burro é um exemplo de que outras curas podem acontecer, basta que haja um pedido e uma promessa a ser paga.
d) As curas são uma realidade. É só  alguém se dirigir  a um terreiro e faça uma promessa a Iansã.
e) Zé-do-Burro creu, alcançou a graça e resolveu pagar a promessa; o Padre por sua vez, um homem da religião, demonstra em todo tempo sua incredulidade.

10. (Herriot – 2009) - Zé-do-Burro, um sertanejo, carrega nas costas uma imensa cruz por mais de sete léguas, até a Igreja de Santa Bárbara, em Salvador, para pagar uma promessa. Tudo o que ele quer é depositar a cruz dentro da igreja e pagar assim sua promessa, mas as coisas não serão tão fáceis.

(01) - Herói absolutamente sem máculas, puro, honrado, casto, etc. etc., é brutalmente destruído por uma sociedade corrupta, gananciosa, mentirosa.

(02) - Em um dado momento, a prostituta reclama que seu gigolô levou todo seu dinheiro e diz que é justo que fique ao menos com algum. Afinal, ela é que tinha trabalhado. E retruca o gigolô: E desde quando trabalhar dá direito a alguma coisa? Quem lhe meteu na cabeça essas idéias? Está virando comunista? – Percebe-se uma nota socialista subentendida.

(04) - A história se passa em uma Salvador contemporânea e movimentada, com carros, trânsito, buzina, até merchandising. Entretanto, o personagem principal e sua esposa parecem saídos diretamente da Idade Média. A genialidade de Dias Gomes está em mostrar isso de forma sensível e simples.

(08) – Desde o começo da peça, Zé-do-Burro e sua esposa falam que caminharam sete léguas até chegar à Igreja. É sete léguas pra cá, sete léguas pra lá, etc. etc. Mas, na primeira vez que mencionam esse número para um soteropolitano, a reação deste é imediata e chega até a interromper o primeiro:

Sete léguas? Quantos quilômetros?

O leitor, empolgado, quase tem vontade de dizer: mas era justamente isso que eu queria perguntar desde o início da peça!

Mas os sertanejos também não sabem. Quilômetros fazem tão pouco sentido pra eles quanto léguas pra nós.

(16) - Em uma única frase (sete léguas), Dias Gomes delineou perfeitamente o enorme fosso que separava seus heróis sertanejos dos habitantes da moderna Salvador - e da massa dos seus leitores.

(32) Rosa, a esposa de Zé-do-Burro, está dividida entre ajudar seu marido a pagar sua promessa ou ir embora com o amante, com quem já transou, em um quarto de hotel, no começo da peça.

De longe, o amante faz gestos para ela, chama para que venha com ele. Ela olha para seu marido, sentado na porta da igreja, consumido por sua promessa. Sim, pode até ser um bom homem, mas quem quer viver assim?

Por fim, a tentação vence e, "quase que como atraída por um imã", ela começa a caminhar na direção do amante.

A soma das verdadeiras é:

a) 31     b) 48     c) 30     d) 63     e) 40

11. (Herriot – 2009) - O Pagador de Promessas, de Dias Gomes, critica a diferença entre Brasil urbano e o Brasil rural: os padres, a polícia, a imprensa não conseguem compreender quem é Zé do Burro, sua origem ingênua, com outros códigos culturais, outras posturas.
I - Os choques entre a crença ingênua e a religião dogmática; a credulidade simples e a armação maliciosa; a sinceridade das intenções e a completa distorção dos fatos; a inocência e a malícia; a verdade e seu falseamento são alguns dos componentes do embate entre a cultura do campo e a da cidade, cuja raiz é a má vontade que coloca a incomunicabilidade como obstáculo intransponível a dividir as pessoas.
II - Zé-do-Burro é a vítima-símbolo do criminoso, agressivo, massacrante e cruel sistema social e político de que até a religião se torna instrumento.
III - Zé do Burro é o dono de um pequeno pedaço de terra no Nordeste do Brasil. Seu melhor amigo é um burro. Quando este adoece, Zé faz uma promessa a uma mãe-de-santo do Candomblé: se seu burro se recuperar, irá doar sua terra aos pobres e carregará uma cruz desde sua terra até a Igreja de Santa Bárbara em Salvador, dando espaço para especulações sobre Reforma Agrária.
Estão corretas:
a) Apenas a I     b) Somente a II     c) I, II e III     d) I e II     c) II e III
12. (Herriot – 2009) - Leia o texto abaixo e responda ao que se pede:
ROSA: Sei lá... só sei que sete vezes amaldiçoei aquele dia em que fui roubar caju com ele na roça dos padres...
BONITÃO: Ah, foi assim...
ROSA: A gente faz cada besteira...
BONITÃO: Quanto tempo faz?
ROSA: Oito anos...
BONITÃO: E você casou com ele?
ROSA: Casei.
BONITÃO: Sem gostar?
ROSA: (Depois de um tempo) Gostava, sim. Sabe, na roça, o homem é feio, magro, sujo e mal vestido. Ele até que era dos melhores. Tinha um sítio.
BONITÃO: E daí?
ROSA: Daí, eu achei que ele garantia tudo que eu queria da vida: homem e casa. A gente quando é franga, com licença da palavra, tem merda na cabeça
BONITÃO: (Algo interessado) Ele tem um sítio, é?
ROSA: Tinha, agora tem só um pedaço. Dividiu o resto com os lavradores pobres.
BONITÃO: Por quê?
ROSA: Fazia parte da promessa.
BONITÃO: Que é que está esperando? Virar santo?
ROSA: Não brinque. Pelo caminho tinha uma porção de gente querendo que ele fizesse milagre. E não duvide. Ele é capaz de acabar fazendo. Se não fosse a hora, garanto que tinha uma romaria aqui, atrás dele.

Deduz-se da leitura do excerto:

(01) – Rosa manisfesta a verdade de que casou com Zé-do-Burro apenas pela possibilidade de uma vida menos sacrificada.
(02) – Há, por parte da mulher, o entendimento de que Zé-do-Burro era fiel aos seus princípios religiosos.
(04) – “A gente quando é franga, com licença da palavra, tem merda na cabeça”. A expressão contem uma metáfora e uma hipérbole.
(08) – “A gente quando é franga” explica a origem himilde de Rosa, a ponto de se comparar a uma penosa.
(16) – O fato de Zé-do-Burro dividir parte de seu sítio comprova que ele ela um áduo defensor da Reforma Agrária.

A soma das erradas é:

a) 25          b) 30          c) 07          d) 16          e) 24

13. (Herriot – 2009) - O Texto a seguir:

PADRE: E foi por ele, por um burro, que fez essa promessa?
ZÉ: Foi... é bem verdade que eu não sabia que era tão difícil achar uma igreja de Santa Bárbara, que ia precisar andar sete léguas pra encontrar uma, aqui na Bahia...
BONITÃO: (Que assistiu a toda a cena, um pouco afastado, solta uma gargalhada grosseira) Ele se estrepou.
Padre Olavo olha-o, surpreso, como se só agora tivesse notada a sua presença, Bonitão pára de rir quase de súbito, desarmado pelo olhar enérgico do padre.
ZÉ: Mas mesmo que soubesse, eu não deixava de fazer a promessa. Porque quando vi que nem as rezas do preto Zeferino davam jeito...
PADRE: Rezas?! Que rezas?!
ZÉ: Seu vigário me disculpe... mas eu tentei tudo. Preto Zeferino é rezador afamado na minha zona: Sarna de cachorro, bicheira de animal, peste de gado, tudo isso ele cura com duas rezas e três rabiscos no chão. Todo o mundo diz... e eu mesmo, uma vez, estava com uma dor de cabeça danada, que não havia meio de passar... Chamei preto Zeferino, ele disse que eu estava com o Sol dentro da cabeça. Botou uma toalha na minha testa, derramou uma'garrafa dágua, rezou uma oração, o sol saiu e eu fiquei bom.

PADRE: Você fez mal, meu filho. Essas rezas são orações do demo.
ZÉ : Do demo, não senhor.
PADRE: Do demo, sim. Você não soube distinguir o bem do mal. Todo homem é assim. Vive atrás do milagre em vez de viver atrás de Deus. E não sabe se caminha para o céu ou para o inferno.
ZÉ: Para o inferno? Como pode ser, Padre, se a oração fala em Deus? (Recita) "Deus fez o Sol. Deus fez a luz, Deus fez toda a claridade do Universo grandioso. Com sua Graça eu te benzo, te curo. Vai-te Sol, da cabeça desta criatura para as ondas do Mar Sagrado, com os santos poderes do Padre do Filho e do Espírito Santo". Depois rezou um Padre Nosso e a dor de cabeça sumiu no mesmo instante.
SACRISTÃO: Incrível!
PADRE: Meu filho, esse homem era um feiticeiro.
ZÉ: Como feiticeiro, se a reza é pra curar?
PADRE: Não é pra curar, é para tentar. E você caiu em tentação.

É crucial dentro da narrativa de O Pagador de Promessas, de Dias Gomes, porque:

a) Apresenta o primeiro confronto entre Pe. Olavo e Zé-do-Burro.
b) Mostra a inocência e a igenuidade de Zé-do-Burro.
c) Apresenta a admiração do sacristão pela ousada promessa de Zé-do Burro.
d) Determina o ponto nelvrágico da obra que culminará com a pribição do Pe. Olavo, impedindo de Zé entrar na igreja com a cruz.
e) Mostra a intolerância da Igreja, tipificada na atitude do Pe. Olavo e segurança do Zé em não abrir mão do seu objetivo: pagar a promessa de forma integral.

14. (Herriot – 2009)  - Os trechos abixo formam o final de peça.

Zé-do-Burro, de faca em punho, recua em direção à igreja. Sobe um ou dois degraus, de costas. O Padre vem por trás e dá uma pancada em seu braço, fazendo com que a faca vá cair no meio da praça. Zé-doBurro corre e abaixa-se para apanhá-la. Os policiais aproveitam e caem sobre ele, para subjugá-lo. E os capoeiros caem sobre os policiais para defendê-lo. Zé-do-Burro desapareceu na onda humana. Ouve-se um tiro. A multidão se dispersa como num estouro de boiada, Fica apenas Zé-doBurro no meio da praça, com as mãos sobre o ventre Ele dá ainda um passo em direção à igreja e cai morto.
                                                            ..................
O Padre baixa a cabeça e volta ao alto da escada. Bonitão surge na ladeira. Mestre Coca consulta os companheiros com o olhar. Todos compreendem a sua intenção e respondem afirmativamente com a cabeça. Mestre Coca inclina-se diante de Zé-do-Burro, segura-o pelos braços, os outros capoeiras se aproximam também e ajudam a carregar o corpo. Colocam-no sobre a cruz, de costas, com os braços estendidos, como um crucificado. Carregam-no assim, como numa padiola e avançam para a igreja. Bonitão segura Rosa por um braço, tentando levá-la dali. Mas Rosa o repele com um safanão e segue os capoeiras. Bonitão dá de ombros e sobe a ladeira. Intimidados, o Padre e o Sacristão recuam, a Beata foge e os capoeiras entram na igreja com a cruz, sobre ela o corpo de Zé-do-Burro. O Galego, Dedé e Rosa fecham o cortejo. Só Minha Tia permanece em cena. Quando uma trovoada tremenda desaba sobre a praça.

Eles representam:

a) O momento em que definitivamente a promessa é pega pelo Zé-do-Burro pois ele é conduzido pelos capoeiristas até o altar da Igreja.
b) a realidade de que, finalmente, os valores sócio-culturais de Zé-do-Burro são entendidos pelas massas, representadas pelos capoeiristas, e esses conduzem a cruz dcom o Zé sobre ela até o altar da Igreja.
c) O desfecho trágico da narrativa que tem seu protagonista baleado mortalmente como prova de seu aniquilamento religioso.
d) A comprovação de que a sociedade urbana liquidifica o homem até este perder a sua fé e se rebelar contra aqueles que só desejam o seu bem.
e) As cortinas cerram-se como já prenunciadas no decorrer da obra: A morte previsível de Zé-do-Burro.

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