A ARANHA
Origenes Lessa
- Quer assunto para um conto? - perguntou o Eneias, cercando-me
no corredor.
Sorri.
- Não, obrigado.
- Mas é assunto ótimo, verdadeiro, vivido, acontecido,
interessantíssimo!
- Não, não é preciso... Fica para outra vez...
- Você está com pressa?
- Muita!
- Bem, de outra vez será. Dá um conto estupendo. E com esta
vantagem: aconteceu... É só florear um pouco.
- Está bem... Então... até logo... Tenho que apanhar o
elevador...
[..]
- Pois olhe. Foi com o Melo. Quem contou foi ele. Esse é o maior
interesse do fato. Coisa vivida. Batata! Sem literatura. É só utilizar o
material, e acrescentar uns floreios, para encher, ou para dar mais efeito. Eu
ouvi a história, dele mesmo, certa noite, em casa do velho. Não sei se você
sabe que o Melo é um violinista famoso. Um artista. [...]
- É um caso único no [...] - O Melo tinha uma fazenda, creio que
na Alta Paulista. Passava lá enormes temporadas, sozinho, num casarão
desolador. Era um verdadeiro deserto. E como era natural, distração dele era o
violão velho de guerra. Hora livre, pinho no braço, dedada nas cordas. No
fundo, um romântico, um sentimental. O pinho dele soluça mesmo. Geme de doer.
Corta a alma. É contagiante, envolvente, de machucar. Ouvi-o tocar várias
vezes. “A Madrugada que Passou”, “O Luar do Sertão”, e tudo quanto é modinha
sentida que há por aí tira até lágrima da gente, quando o Melo toca...
[...]
E Eneias continuava.
[..]
- O Melo estava tocando... Inteiramente longe da vida. De
repente, olhou para o chão. Poucos passos adiante, enorme, cabeluda, uma aranha
caranguejeira. Ele sentiu um arrepio. Era um bicho horrível. Parou o violão
para dar um golpe na bruta. Mal parou, porém, a aranha, com uma rapidez
incrível, fugiu, penetrando numa frincha da parede, entre o rodapé e o soalho.
O Melo ficou frio de horror. Nunca tinha visto aranha tão grande, tão
monstruosa. Encostou o violão. Procurou um pau, para maior garantia, e ficou
esperando. Nada. A bicha não saía. Armou-se de coragem. Aproximou-se da parede,
meio de lado, começou a bater na entrada da fresta, para ver se atraía a
bichona. Era preciso matá-la. Mas a danada era sabida. Não saiu. Esperou ainda
uns quinze minutos. Como não vinha mesmo, voltou para a rede, pôs-se a tocar outra
vez a mesma toada triste. Não demorou, a pernona cabeluda da aranha apontou na
frincha... [...]
- Apareceu a pernona, a bruta foi chegando. Veio vindo. O Melo
parou o violão, para novo golpe. Mas a aranha, depois de uma ligeira hesitação,
antes que o homem se aproximasse, afundou outra vez no buraco. “Ora essa!” Ele
ficou intrigado. Esperou mais um pouco, recomeçou a tocar. E quatro ou cinco
minutos depois, a cena se repetiu. Timidamente, devargazinho, a aranha apontou,
foi saindo da fresta. Avançava lentamente, como fascinada. Apesar de enorme e
cabeluda, tinha um ar pacífico, familiar. O Melo teve uma ideia. “Será por
causa da música?” Parou, espreitou. A aranha avançaria uns dois palmos...
- Desce!
- Eu vou na outra viagem.
- Dito e feito... - continuou Eneias. - A bicha ficou
titubeante, como tonta. Depois, moveu-se lentamente, indo se esconder outra
vez. Quando ele recomeçou a tocar, já foi com intuito de experiência. Para ver
se ela voltava. E voltou. No duro. Três ou quatro vezes a cena se repetiu. A
aranha vinha, a aranha voltava. Três ou mais vezes. Até que ele resolveu ir
dormir, não sei com que estranha coragem, porque um sujeito saber que tem
dentro de casa um bicho desses, venenoso e agressivo, sem procurar liquidá-lo,
é preciso ter sangue! No dia seguinte, passou o dia inteiro excitadíssimo. Isto
sim, dava um capítulo formidável. Naquela angústia, naquela preocupação. “Será
que a aranha volta? Não seria tudo pura coincidência?” Ele estava ocupadíssimo
com a colheita. Só à noite voltaria para o casarão da fazenda. Teve que almoçar
com os colonos, no cafezal. Andou a cavalo o dia inteiro. E sempre pensando na
aranha. O sujeito que fizer o conto pode tecer uma porção de coisas em torno
dessa expectativa. À noite, quando se viu livre, voltou para casa. Jantou às
pressas. Foi correndo buscar o violão. Estava nervoso. “Será que a bicha vem?”
Nem por sombras pensou no perigo que havia ter em casa um animal daqueles.
Queria saber se “ela” voltava. Começou a tocar como quem se apresenta em
público pela primeira vez. Coração batendo. Tocou. O olho na fresta. Qual não
foi a alegria dele quando, quinze ou vinte minutos depois, como um viajante que
avista terra, depois de uma longa viagem, percebeu que era ela... o pernão
cabeludo, o vulto escuro no canto mal iluminado.
- Desce!
- Sobe!
- Desce!
- Sobe!)
- A aranha surgiu de todo. O mesmo jeito estonteado, hesitante,
o mesmo ar arrastado. Parou a meia distância. Estava escutando. Evidentemente,
estava. Aí, ele quis completar a experiência. Deixou de tocar. E como na
véspera, quando o silêncio se prolongou, a caranguejeira começou a se mover
pouco a pouco, como quem se desencanta, para se esconder novamente. É escusado
dizer que a cena se repetiu nesse mesmo ritmo uma porção de vezes. E para
encurtar a história, a aranha ficou famosa. O Melo passou o caso adiante.
Começou a vir gente da vizinhança, para ver a aranha amiga da música. Todas as
noites era aquela romaria. Amigos, empregados, o administrador, gente da
cidade, todos queriam conhecer a cabeluda fã de “O Luar do Sertão”, e de outras
modinhas. E até de música boa. Chopin... Eu não sei qual é... O curioso é que o
Melo tocava todas as noites. Havia ocasiões em que custava a aparecer. Mas era
só tocar a “Gavota”, ela surgia. O curioso é que o Melo se tomou de amores pela
aranha. Ficou sendo a distração, a companheira e Ela, com E grande. Chegou até
a pôr-lhe nome, não me lembro qual. E ele conta que, desde então, não sentiu
mais a solidão incrível da fazenda. Os dois se compreendiam, se irmanavam. Ele
sentia quais as músicas que mais tocavam a sensibilidade “dela”... Pois bem,
uma noite, apareceu um camarada de fora, que não sabia da história. Cheio de
prosa, de novidades. Os dois ficaram conversando longamente, inesperada
palestra de cidade naqueles fundos de sertão. Às tantas, esquecido até da velha
amiga, o Melo tomou do violão, velho hábito que era um prolongamento de sua
vida. Começou a tocar, distraído. Não se lembrou de avisar o amigo. A aranha
quotidiana apareceu. O amigo escutava. De repente, seus olhos a viram.
Arrepiou-se de espanto. E, num salto violento, sem perceber o grito desesperado
com que o procurava deter o hospedeiro, caiu sobre a aranha, esmagando-a com o
sapatão cheio de lama. O Melo soltou um grito de dor. O rapaz olhou-o. Sem
compreender, comentou:
- Que perigo, hein?
O outro não respondeu logo. Estava pálido, numa angústia mortal
nos olhos.
- E justamente quando eu tocava a “Gavota de Tarrega, a que ela
preferia, coitadinha...
(Omelete em Bombaim, 1946.)
1. Dos elementos da narrativa (personagens, narrador, lugar,
tempo e espaço) e dos tipos de narrativas (conto, crônica, novela e romance)
podemos observar alguns pormenores. Nesse contexto, como o narrador ficou sabendo da história?
a) Através de um amigo chamado Eneias.
b) Através de um viajante.
c) Através do rádio.
d) Através das aulas na escola.
e) Todas as respostas.
2.
O que havia de
surpreendente na historia de Melo?
a)
Uma vida simples no
campo.
b)
Uma aranha que saia do
esconderijo quando escutava violão.
c)
Um cachorro adestrado.
d)
O viajante que pegou a
aranha.
e)
A aranha que sabia
tocar piano.
3.
A aranha teve um papel
positivo ou negativo na vida de Melo?
a)
Negativo, pois não acrescentou nada a sua
vida.
b)
Negativo, pois ela
fazia dançar para as pessoas verem.
c)
Positivo, porque ela
ficou como companheira de Melo.
d)
Positivo, pois ele fez guizado de aranha.
e)
Positivo, porque ela
sabia desenhar letras na sua teia.
4.
Na frase: “Estas ameaças são reais principalmente para quem não tem
noção desses perigos e que acredita que é perfeitamente seguro partilhar
informações pessoais nas redes sociais, deixando-as visíveis para qualquer
utilizador da Internet.”. Há um
exemplo claro de:
a) Subjetivismo.
b) Denotação.
c) Conotação.
d) Estrangeirismo
e) Figuras de linguagem
Leia o texto musical
que tem a mesma temática das Cantigas do Trovadorismo e responda o que se pede:
Verônica, me sinto
tão só
Quando não estais junto a mim
Verônica, eu quero dizer
Que te amo tanto
Que não posso mais
Que te quero tanto, amor
Quero teus olhos, olhar
Quero tua boca, beijar
Quando não estais junto a mim
Verônica, eu quero dizer
Que te amo tanto
Que não posso mais
Que te quero tanto, amor
Quero teus olhos, olhar
Quero tua boca, beijar
5.
O texto acima é exemplo de uma:
a) Cantiga de maldizer, porque zomba do amor correspondido.
b) Cantiga de amigo, porque o eu – lírico é uma mulher que sofre
por um homem.
c) Cantiga de escarnio, pois critica o amor sentido pela outra
pessoa.
d) Cantiga de amor, porque o eu – lírico é um homem que sofre
por uma mulher.
e) Todas as respostas.
Leia o texto e responda o que se pede:
Todas as cartas de amor
Fernando Pessoa
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam carta de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas)
6.
O poeta utiliza uma
figura de linguagem no verso: “Também
escrevi em meu tempo cartas de amor, como
as outras, [...]. Qual figura de linguagem está presente no verso citado?
a)
Metonímia.
b)
Catacrese.
c)
Comparação.
d)
Sinestesia.
e)
Onomatopeia.
Veja
a imagem e responda o que se pede:
7. A qual movimento literário pertence o teatro de Gil Vicente?
a) Quinhentismo.
b) Trovadorismo
c) Barroco.
d) Classicismo.
e) Humanismo.
Veja
a imagem abaixo e responda o que se pede:
8. A qual movimento literário pertence a poesia lírica de Luís
Vaz de Camões?
a) Classicismo.
b) Trovadorismo
c) Barroco.
d) Quinhentismo.
e) Humanismo.
Leia
o texto do Quinhentismo e responda o que se pede:
Texto 1: "Dali houvemos vista
de homens que andavam pela praia, cerca de sete ou oito, segundo os navios
pequenos disseram, porque chegaram primeiro. Ali lançamos os batéis e
esquifes à água e vieram logo todos os
capitães das naves a esta nau do Capitão-mor e ali conversaram. E o Capitão mandou no batel, a terra, Nicolau
Coelho para ver aquele rio; e quando começou a ir para lá acudiram,
à praia, homens, aos dois e aos três. Assim, quando o batel chegou à foz do rio
estavam ali dezoito ou vinte homens, pardos, todos nus, sem nenhuma roupa que
lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos e suas setas. Vinham todos
rijos para o batel e Nicolau Coelho fez-lhes sinal para que deixassem os arcos
e eles os pousaram. Mas não pôde ter deles fala nem entendimento que
aproveitasse porque o mar quebrava na costa."
Batel e esquife: barcos pequenos.
Texto
2:"Capitão,
quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, com uma alcatifa aos pés,
por estrado, e bem vestido com um colar de ouro muito grande ao pescoço [...]
Acenderam-se tochas e entraram; e não fizeram nenhuma menção de cortesia nem de
falar ao Capitão nem a ninguém. Mas um deles viu o colar do Capitão e começou a
acenar com a mão para a terra e depois para o colar, como a dizer-nos que havia
ouro em terra; e também viu um castiçal de prata e da mesma forma acenava para
terra e para o castiçal como que havia, também, prata. Mostraram-lhe um
papagaio pardo que o Capitão aqui traz; tomaram-no logo na mão e acenaram para
terra, como que os havia ali; mostraram-lhe um carneiro e não fizeram caso
dele; mostraram-lhe uma galinha e quase tiveram medo dela e não lhe queriam pôr
a mão; e depois a pegaram como que espantados."
alcatifa: tapete grande para
revestir o chão.
Texto
3: "De
ponta a ponta é toda praia rasa, muito plana e bem formosa. Pelo sertão,
pareceu-nos do mar muito grande, porque a estender a vista não podíamos ver
senão terra e arvoredos, parecendo-nos terra muito longa. Nela, até agora, não
pudemos saber que haja ouro nem prata, nem nenhuma coisa de metal, nem de
ferro; nem as vimos. Mas, a terra em si
é muito boa de ares, tão frios e temperados, como os de Entre-Douro e Minho,
porque, neste tempo de agora, assim os achávamos como os de lá.
Aguas são muitas e infindas. De tal maneira é graciosa que, querendo
aproveitá-la dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem. Mas o melhor fruto
que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente; e esta deve ser a
principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar."
(In: Cronistas
e viajantes. São Paulo: Abril Educação, 1982. p. 12-23. Literatura
Comentada.)
9. Segundo
Pêro Vaz de Caminha, usando o modo da descrição da cena, como também a
argumentação, Nicolau Coelho não conseguiu comunicar-se oralmente com os
índios. O
que alegou como causa?
a) O cantar dos passarinhos na mata.
b) O som das ondas quebrando na praia.
c) O som das cigarras anunciando chuva.
d) O som dos cavalos trotando.
e) O som dos aviões da II Guerra Mundial.
Veja a tela abaixo do pintor Caravaggio
chamada de A crucificação de São Pedro e responda:
10. Essa tela tem uma característica do Barroco
presente também nos textos, qual é?
a) O uso de denotação.
b) A informação sobre sua morte.
c) A discussão de como se iria morrer.
d) Uso de Onomatopeias.
e) O jogo do claro e escuro. Uso de antíteses.
11.
Uma resenha de filme (ou
de um álbum de música ou afins) é um texto relacionado a o filme em estudo em
que se dá uma opinião sobre o mesmo, usando a argumentação e a criticidade seja
ela positiva ou negativa. Dos textos abaixo, marque qual é uma resenha de um
filme.
a) Era uma vez uma menina pobre que morava na casa de uma
senhora má.
b) Mataram 2 assaltantes no bairro de Mangabeira.
c) O filme O conde de Monte Cristo baseia-se no romance de
mesmo nome do escritor francês Victor Hugo. Esse filme segue fielmente o que
está na narrativa, sendo impecavelmente reconhecido pela crítica como um best
seller. (Análise do Professor Marconildo Viegas).
d) Abortar é um dos crimes mais horríveis praticados contra
um ser humano indefeso, como é o caso dos bebês anencéfalos.
e) Todas as respostas.
Veja a tela e responda o que se pede:
Essa tela é representativa de um movimento
literário medieval em que a poesia era musicalizada. Esse movimento literário é
chamado de:
a) Classicismo.
b) Trovadorismo
c) Barroco.
d) Quinhentismo.
e) Humanismo
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