Modernismo
- 1ª Fase
Contexto
histórico
O
início do século XX foi marcado por um extraordinário desenvolvimento
cientifico e tecnológico, dos quais são exemplos o telegrafo, a eletricidade, o
telefone, o cinema, o automóvel e o avião, a teoria da relatividade, de
Einstein e a teoria psicanalítica, de Freud. Vivia-se a euforia da chamada
belle époque, com a valorização do conforto e do bem viver.
Entretanto,
desde o final do século XIX, os países europeus passam por constantes
sobressaltos, resultantes da instabilidade e das competições políticas, o que
acelerava a corrida armamentista.
Em
1914, começa a 1ª Guerra Mundial, de proporções até então desconhecidas pela
humanidade, que passa a descrer nos sistemas políticos, sociais e filosóficos e
a questionar os valores de seu tempo.
Modernismo
brasileiro
Os
governos das oligarquias vão se sucedendo. Minas e São Paulo repartiam o poder,
desfavorecendo as camadas empobrecidas da população.
A
época da Semana de Arte Moderna, o quadro brasileiro era de crises sucessivas,
que acabam por gerar a Revolução de 1930, quando Getúlio Vargas assume o poder.
Semana
de Arte Moderna
Nos
dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, com a participação de Oswald de Andrade,
Menotti del Picchia, Mario de Andrade, Graça Aranha, Ronald de Carvalho, Vitor
Brecheret, Anita Malfatti, Villa-Lobos, Di Cavalcanti e muitos outros, o Teatro
Municipal de São Paulo se torna o centro de uma verdadeira amostra das ideias
modernistas. São lidos manifestos e poemas, expõem-se quadros e esculturas, músicas
são executadas. Tudo diante de um público que reagiu com vaias e apupos.
Correntes
modernistas
Depois
da união inicial em torno da Semana, os modernistas dividem-se em grupos e
movimentos, que refletiam orientações estéticas e ideológicas diversas:
1. Movimento Pau-Brasil: revalorizava os
elementos primitivos da nossa cultura, através da crítica ao falso nacionalismo
e da valorização dos elementos o Brasil, seus costumes, sua cultura, seus
habitantes e suas paisagens. Dele participaram: Oswald de Andrade, Mário de
Andrade, Raull Bopp, Alcântara Machado e Tarsila do Amaral.
2. Movimento Verde – Amarelo: Liderado
por Plinio Salgado, Cassiano Ricardo e Menotti del Picchia e tendo uma postura
nacionalista, repudiava tudo que fosse cultura importada e tentava mostrar um
Brasil grandioso. Entretanto, acabou por revelar uma visão reacionária.
3. Movimento antropofágico: radicalização
do Movimento Pau – Brasil, foi lançado em 1928, e opunha-se ao conservadorismo
do Movimento Verde – Amarelo. Seus participantes são os mesmos do Movimento Pau
– Brasil.
4. Movimento espiritualista: Procurou
conciliar o passado e o futuro e se manteve preso as influencias simbolistas. A
universalidade dos temas, o mistério, as questões existenciais e o
espiritualismo caracterizaram a produção poética desta corrente. Principais
participantes: Murilo Mendes, Cecilia Meireles, Murilo Araújo, Adelino
Magalhaes, Tasso da Silveira, Augusto Frederico Schimidt.
Fases
do Modernismo
Costuma-se
dividir o Modernismo brasileiro em 3 fases:
1ª Fase:
fase heroica (1922 – 1930)
2ª
Fase: fase construtiva (1930 – 1945)
3ª
Fase: fase de reflexão (1945 até nossos dias)
Autores
Mário
de Andrade
Estreou
com o livro de influências parnasianas e simbolistas. Mas Paulicéia Desvairada
(1922) seria o primeiro livro do Modernismo brasileiro. Nele, o poeta focaliza
aspectos humanos, sociais e políticos de São Paulo, em versos livres, de
métrica informal, subvertendo os valores estéticos ate então vigentes.
Palavras, expressões, flashes e fragmentos se articulam numa tentativa de
apreender a alma urbana de São Paulo, ora lhe celebrando a paisagem, ora
criticando a burguesia, ora tentando expressar sua visão da cidade.
No
“Prefácio Interessantíssimo”, que abre Pauliceia Desvairada, o poeta nos dá sua
fórmula de elaboração do poema:
Impulso
inconsciente + escrita livre + técnica posterior = poesia
Com
Losango caqui (1926) é, segundo o próprio Mario, composto por sensações,
ideias, alucinações, brincadeiras, liricamente anotadas. Nele, o poeta expressa
seu antimilitarismo.
A
obra ficcionista de Mario de Andrade pode ser dividida em 2 vertentes:
Primeira:
trata do universo familiar da burguesia paulistana e da gente do povo,
especialmente com o livro Amar, verbo intransitivo e vários contos que publicou.
Segunda:
aproveitamento de lendas indígenas, mitos, anedotas populares e elementos do
folclore nacional, fazendo parte disso o livro Macunaíma.
Nesse
livro o herói apresenta traços bem definidos, como a preguiça, o deboche, a
irreverencia, a malandragem, a sensualidade, o individualismo e o
sentimentalismo. Enfim, o caráter do herói muda de um episodio para o outro, o
que justifica qualifica-lo de herói sem nenhum caráter.
Oswald
de Andrade
Buscou
que sua poesia expressasse o genuinamente brasileiro e percorresse, desde os
tempos coloniais, a vida rural e urbana do país, procurando ver com um olhar
ingênuo de uma criança e o da pureza primitiva do índio. Reaproveitando textos dos
primeiros viajantes (sobretudo Caminha), escreveu poemas breves, em versos
livres e brancos, com linguagem coloquial, humor e parodia, recusando a
estrutura discursiva do verso tradicional.
Seus
romances mais importantes são: Memórias sentimentais de João Miramar e Serafim
Ponte Grande.
Em
Memórias sentimentais de João Miramar, que é considerada a primeira grande
realização da prosa modernista. Rompendo com esquemas tradicionais da
narrativa, a obra é construída a partir de fragmentos justapostos, de blocos
que rompem com a sequência discursiva e de capítulos relâmpagos, assemelhando-se
a justaposição das imagens cinematográficas, o que possibilita uma leitura
linear da história e deixa a cargo do leitor a recomposição da narrativa. A
paródia, a técnica cubista, a frase sincopada (reduzida), as elipses que devem
ser preenchidas pelo leitor, a linguagem infantil e a poética e outras
inovações fazem de Memórias uma obra revolucionaria para a sua época.
Manuel
Bandeira
O
poema Os sapos é um dos que é lido numa das noites da Semana de Arte Moderna,
realizada em São Paulo. E este poema, assim como a Semana, tinha um espírito
renovador e demolidor dos modernistas.
Estreou
com o livro A cinza das horas (1917), publicando a seguir Carnaval (1919),
ambos ainda com resquícios simbolistas e parnasianistas. Mas já revelando um
espirito renovador.
Mas
foi com o livro Ritmo dissoluto (1924) que se aproximou mais do Modernismo.
O
livro Libertinagem (1930) é definitivamente modernista e nele se encontra uma
incorporação da linguagem coloquial e popular e a temática do dia a dia.
O
caráter geral de sua obra é marcado pelo tom confidencial, pelo desejo
insatisfeito, pela amargura e por referencias autobiográficas, relacionadas com
sua doença (tuberculose), com lugares onde morou e com a família.
Cassiano
Ricardo
Como
outros modernistas da primeira fase, Cassiano estrou com influencias parnasiano
– simbolistas. Contudo, sua inquietação estética fez com que chegasse a
experiências das vanguardas poéticas da segunda metade do século XX.
Com
o livro Vamos caçar papagaios (1926) e Martim – Cererê (1928), o poeta entra em
sua fase nacionalista, verde – amarelista, em que predomina a brasilidade dos
temas.
Em
O sangue das horas (1943) e Um dia depois do outro (1947), encontramos o poeta
voltado para a reflexão sobre o destino humano e para os sentimentos de
solidão, melancolia, frustração, angústia e perplexidade diante da vida.
Com
o livro Jeremias sem chorar (1964) e Os sobreviventes (1971), o poeta assimila
conquistas do Concretismo. Nessas obras, o mundo eletrônico, a conquista do
espaço e a corrida armamentista são vistos como uma ameaça a vida humana. O
poema mais conhecido é Martim – Cererê.
Alcântara
Machado
Importante
conquista da 1ª fase do Modernismo, ele retratou a vida e as gentes de São
Paulo, com predileção pelo imigrante italiano. Nos bairros populares, suas
personagens vivem as cenas do cotidiano: a partida de futebol, as brigas de
rua, as festas etc. Diminuindo a distância a língua falada e a escrita,
incorporou a linguagem popular, os italianismos e uma sintaxe simples,
resultando numa prosa leve e num estilo moderno.
Modernismo
2ª Fase.
O
livro A bagaceira, de José Américo de Almeida, inaugura a corrente regionalista
da literatura brasileira, entre 1930 a 1945. O regionalismo de 30 voltou-se
para as tradições nordestinas, seus valores culturais e morais. Mais
preocupados com uma visão sociológica da realidade do que uma renovação da
linguagem, o regionalismo de 30 foi um veículo de denúncia dos problemas
sociais do Nordeste.
Contexto
histórico
Em
1930, tem início aos 15 anos de ditadura de Getúlio Vargas.
Com
o objetivo de obter o apoio junto às massas, Getúlio toma uma serie de medidas:
o país é dotado de uma legislação trabalhista e previdenciária, decreta-se o
salário mínimo e adotam-se providências para a criação de um partido
trabalhista.
Em
1945 é decretada a anistia para os presos políticos e são convocadas novas
eleições para dezembro. Porém, as suspeitas de um novo golpe getulista, naquele
ano, provocam o descontentamento dos militares, que, num movimento liderado
pelo general Góis Monteiro, depõem o ditador.
As
transformações do período getulista
Entre
as transformações ocorridas no período, destacam-se:
1. A expansão industrial do Brasil.
2. O desenvolvimento dos transportes
rodoviário e aéreo.
3. O crescimento das cidades e o
surgimento do proletariado urbano, e os consequentes problemas de habitação,
criminalidade, saneamento etc.
4. A criação de universidades, a
implantação do ensino técnico e o aumento da rede escolar, sobretudo a do
ensino fundamental, com cerca de 40 mil escolas em 1939.
5. O desenvolvimento da imprensa, o
aumento do número de bibliotecas e a construção de prédios públicos, o que
contribuiu para valorização da arquitetura no Brasil.
Literatura
da 2ª Fase
Poesia
A
geração de 30, despreocupada com as questões imediatas de 22 (o nacionalismo, o
folclore, a destruição dos esquemas do passado etc.), voltava-se para as
questões universais do homem e para os problemas da sociedade capitalista.
Principais
nomes: Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes e Jorge de Lima.
Em
Vinícius de Moraes e Cecília Meireles, a temática universalizante também está
presente em suas poesias, embora é suplantada por uma poesia personalista.
Enquanto
isso, Murilo Mendes, Jorge de Lima e Cecília Meireles, incorporam a
religiosidade e o misticismo em seus poemas.
Prosa
Nos
anos 30, a ficção dá novo salto qualitativo com o aparecimento de escritores de
grande importância, que se distribuem em 3 vertentes:
1. Prosa regionalista
As
raízes do regionalismo já se encontravam no século anterior com o livro O
sertanejo, de José de Alencar, e o Cabeleira, de Franklin Távora.
Tem-se
uma intensa campanha de revalorização das tradições regionais.
Preocupando-se
com a revalorização do Nordeste se deve em parte ao deslocamento do eixo
econômico e cultural para o sul, quando a indústria açucareira começa a decair.
O
regionalismo de 30 soube revelar o drama da seca e das retiradas, a submissão
do homem ao latifundiário, a ignorância e as mazelas politicas da região
Nordeste.
A
bagaceira, de José Américo de Almeida é a obra inaugural e em seu prefácio
intitulado “Antes que me falem” constitui um verdadeiro e autentico manifesto do regionalismo de
então. A seguir, publicam-se O quinze (1930), de Rachel de Queiroz, O país do
Carnaval (1931), de Jorge Amado e Menino de Engenho (1932), de José Lins do
Rego. Em 1938, Graciliano Ramos publica Vidas Secas, a obra máxima do romance
nordestino.
2. Prosa urbana
Érico
Veríssimo, José Geraldo Vieira e Marques Rebelo são os que mais se destacaram
ao retratar o ambiente e as personagens das grandes cidades.
3. Prosa intimista
Os
conflitos humanos e as questões psicológicas aparecem nas obras de Clarice
Lispector, Lucio Cardoso, Dionélio Machado e Otávio de Faria.
Autores
Graciliano Ramos
Seus
romances se caracterizam pelo inter-relacionamento entre as condições sociais e
a psicologia das personagens; ao que se soma uma linguagem precisa, enxuta,
despojada, de períodos curtos, mas de grande força expressiva.
Estreou
com o romance Caetés (1933) que conta um caso de adultério ocorrido numa
pequena cidade do interior nordestino.
São
Bernardo (1934) é uma das obras-primas do autor, pois narra a ascensão de Paulo
Honório, rico proprietário da fazenda São Bernardo. Com o objetivo de ter um
herdeiro, Paulo se casa com Madalena, uma professora de ideias progressistas. O
ciúme e a incompreensão de Paulo Honório levam-na ao suicídio. Trata-se de um
romance admirável, não somente pela caracterização da personagem, mas também
pelo tratamento dado a problematização da coisificação dos indivíduos.
Angústia
(1936) é a história de uma só personagem (um monólogo), que vive a remoer a sua
angústia de ter cometido um crime passional.
Entre
suas obras autobiográficas, destacam-se Memórias do cárcere (1953), depoimento
sobre as condições dramáticas de sua prisão durante o governo do ditador
Getúlio Vargas.
José
Lins do Rego
Sua
obra pode ser dividida em:
1. Ciclo da cana-de-açúcar: Menino de
Engenho, Doidinho, Bangue, Usina e Fogo Morto.
2. Ciclo do cangaço, do misticismo e da
seca: Pedra Bonita e Cangaceiros.
3. Obras independentes: O moleque
Ricardo, Pureza e Riacho Doce.
As
obras do ciclo da cana de açúcar são as mais importantes, destacando-se Fogo
Morto, em que o autor procura retratar o início da decadência dos senhores de
engenho, o advento da usina de açúcar, com seus métodos modernos de produção e
a formação de uma nova estrutura econômica e social na região açucareira do
Nordeste.
Jorge Amado
Costuma-se
dividir a sua obra em 2 fases.
A
1ª fase é iniciada com o livro O país do carnaval (1931), em que se caracteriza
por seu forte conteúdo político e pela denúncia das injustiças sociais, o que
muitas vezes dá um caráter panfletário e tendencioso às obras. O esquematismo
psicológico das obras dessa fase leva a uma divisão do mundo em heróis
(marginais, vagabundos, operários, prostitutas, meninos abandonados,
marinheiros, etc.) e vilões (a burguesia urbana e os proprietários rurais). Há
uma exceção: Terra do sem-fim (1942) é uma obra prima do autor.
A
2ª fase se inicia com a publicação de Gabriela, cravo e canela (1958). Fugindo
ao panfletismo e ao esquematismo psicológico, Jorge Amado passa a construir
seus romances com elementos folclóricos e populares: os costumes
afro-brasileiros, a comida típica, o candomblé, os terreiros, a capoeira etc. o
mundo dos marginalizados se torna um mundo feliz, pois seus heróis levam uma
vida sem preconceitos, sem regras severas de conduta social, o que lhes permite
um elevado grau de liberdade existencial.
Érico Veríssimo
Costuma-se
dividir a obra dele em 3 grupos:
1.
Romance
urbano: Clarissa, Caminhos cruzados, Um lugar ao sol, Olhai os lírios do campo,
Saga e O resto é silêncio. Essas obras retratam a vida da pequena burguesia
porto-alegrense, com uma visão otimista, às vezes lírica, às vezes crítica, e
com uma linguagem tradicional, sem maiores inovações.
2.
Romance
histórico: O tempo e o vento. A trilogia de Érico Veríssimo procura abranger
200 anos da historia do Rio Grande do Sul, de 1745 a 1945. O primeiro volume (O
continente) narra a conquista de São Pedro, pelos primeiros colonos e é
considerado o ponto mais alto de toda a sua obra.
3.
Romance
político: O senhor embaixador, o prisioneiro e Incidente em Antares. Escritos
durante o período da ditadura militar (1964-1985), denunciam os males do
autoritarismo e as violações dos direitos humanos.
Carlos
Drummond de Andrade
Ele
é, sem dúvida, o maior poeta brasileiro do século XX. Sua estreia se deu em
1930, com Alguma poesia.
De
maneira geral, os poemas desse livro procuram retratar a vida à sua volta.
Fala-nos de cenas do cotidiano, de paisagens, de lembranças, fotografando a
realidade, retratando a vida besta.
Por
outro lado, o poeta manifesta o seu pessimismo e a sua personalidade reservada,
tímida, desconfiada, de um poeta que nasceu gauche (torto) na vida; outras
vezes, deixa transparecer uma fina ironia e humor, utilizando-se também do
poema-piada, herança dos modernistas da 1ª fase.
Em
Brejo das almas (1934), o poeta evolui, abandonando o descritivismo e acentua o
humor de seus versos. Drummond se interioriza, manifestando um sentimento de
decepção e amargura, de falta de sentido da existência ou da solução para o
destino. Além disso, acentua a temática amorosa, num lirismo contido e por
vezes irônico.
Sentimentos
do mundo (1940) representa uma mudança na trajetória do poeta. Diante dos
horrores da guerra, da consciência de um mundo injusto e brutal, nasce o desejo
de se solidarizar, e o poeta abre mais espaço para o outro em sua poesia. É o
momento de se voltar para o tempo presente, os homens presentes, a vida
presente, compreender os homens e construir um mundo melhor.
Em
1942, Drummond publica Poesias, título geral de 12 novos poemas, inclusive o
antológico José, que antecipam tematicamente A rosa do povo (1945).
Ambas
as obras tem em comum o fato de condenarem a vida de nossos dias, mecânica, e
estúpida, sem humanidade. A rosa do povo é um livro que se destaca porque tem
como temas o medo, a angústia, a náusea, a guerra, a solidão dos homens e a
escravidão ocasionada pelo progresso.
A
partir de então, Drummond acentua a temática do passado e do presente, a
meditação poética sobre as razões da existência, a problemática da condição
humana e o mistério do destino do homem, ao que se somam suas reflexões sobre o
fazer poético e a incorporação das experiências concretistas.
De Amor, amores
(1975) em diante, o sensualismo e o erotismo encontraram um espaço maior em sua
poesia.
Procurando nos fatos
mais corriqueiros a matéria de sua prosa, escrita com ironia e humor, Drummond
se revelou um mestre da crônica.
Crônica
de Drummond
Murilo Mendes
Partindo das primeiras experiências
modernistas, Murilo, sempre preocupado em renovar permanentemente a sua
expressão poética, chegou em seus últimos trabalhos a uma total libertação de
criação e experimentação.
Seu livro de estreia foi Poemas
(1930), que contem uma crítica irônica à sociedade técnica e mecanizada. Nele,
encontramos a figura da mulher simbolizando a seiva da vida. Essa visão crítica
será retomada em O visionário (1941, mas com poemas escritos entre 1930 e
1933), no qual se acentua a tentativa de expressão surrealista, já manifestada
no 1º livro, exprimindo um sentimento de angústia diante de um mundo absurdo e
conturbado.
Com Tempo e eternidade (1935),
escrito com a colaboração de Jorge de Lima, inicia-se uma vertente
significativa da poesia de Murilo Mendes: a religiosidade empenhada na crítica
da desumanização da vida. Essa crítica também está presente no livro “A poesia
em pânico” (1937).
As metamorfoses (1944), Mundo enigma
(1945) e Poesia liberdade (1947) documentam uma visão trágica do mundo: as
injustiças, as tiranias, as guerras.
Convergência (1970) é uma obra
inovadora do ponto de vista formal, na qual o poeta rompe com a linearidade
discursiva, cria neologismos e explora ao máximo as possibilidades sonoras das
sílabas, prefixos, sufixos, dos recursos sonoros. Neste livro, Murilo traduz em
palavras os novos tempos e se integra às novas tendências da arte literária.
Jorge de Lima
Ele, em sua 1ª fase, privilegia o
soneto e se esmera com um vocabulário bem ao gosto parnasiano. Dessa fase são
os livros: XIV Alexandrinos (1914), Poemas (1927), Novos poemas (1929), Poemas
escolhidos (1932) e Poemas negros (1947).
A partir de Poemas (1927), Jorge de
Lima adere ao Modernismo, com textos marcados por cenas de infância, pelo
sentimento nacionalista, por referências ao Nordeste e pela forte influência de
elementos do folclore negro.
Em
sua 2ª fase, o poeta se apresenta bastante envolvido com problemas religiosos e
metafísicos, voltado para temas do catolicismo e aprimorando o verso livre e a
expressão metafórica. Os livros dessa fase são: Tempo e eternidade (1935), A
túnica inconsútil (1938), Anunciação e encontro de Mira – Celi (1943) e Livro
de Sonetos (1949).
Finalmente, com Invenção de Orfeu
(1952), obra da 3ª fase do poeta, ele se consolida e se supera, como que
confirmando todas as suas qualidades. Trabalhando conscientemente sobre o
modelo épico de Camões, Jorge de Lima se apropria dos clássicos, numa técnica
de colagem em que aparecem, além de Camões, Dante, Milton e Virgílio. Mitos
luso-brasileiros se fundem com suas leituras e seu conhecimento histórico na
busca de interpretar simbolicamente a relação do homem com o universo.
Vinícius de Moraes
Em
um 1º momento, a obra de Vinicius pode ser dividida em 2 fases:
1ª
fase: místico – religiosa
2ª
fase: encontro com o mundo material e cotidiano
A primeira fase compreende os
livros: O caminho para a distância (1933), Forma e exegese (1935), Ariana, a mulher
(1936), Novos poemas (1938) e Cinco elegias (1943), sendo este último de
transição.
Em O caminho para a distancia, o
poeta manifesta sua preocupação religiosa e sua angústia diante do mundo,
revelando também o seu conflito entre o sensualismo e o sentimento religioso. O
amor é tido como um elemento negativo que, ligando-se ao mundo terreno, impede
a libertação do espírito.
A partir de Forma e exegese, os
versos ganham liberdade expressiva e tornam-se mais extensos. O poeta volta-se
para o cotidiano, sem contudo abandonar o desejo de transcendência. A mulher
torna a figura central de sua poesia, envolta por um forte misticismo,
divinizada; o poeta procura harmonizar sensualismo e erotismo com os apelos
espirituais.
O tom é declamatório, e os versos longos
nos lembram versículos bíblicos.
Essa primeira fase termina com o
livro Ariana, a mulher. Cinco elegias é o livro de transição.
Em Cinco elegias, o poeta incorpora
elementos do cotidiano, mantendo ainda o tom religioso, e se aproxima um pouco
mais das conquistas dos modernistas de 1922.
A partir de Poemas, sonetos e
baladas, dá-se a superação da angústia e da melancolia. O poeta se integra a
realidade e sua poesia adquire um ritmo mias tranquilo e uma expressão mais
coloquial, enxuta, simples e direta. Nessa fase, sua temática ganha novas
características universalizantes e sociais.
Como poeta lírico por excelência, em
sua 2ª fase, Vinicius alia temas modernos a mais apurada forma clássica de
composição, o soneto, deixando-nos algumas obras-primas.
Cecília Meireles
Ela preferiu como ponto de partida
de sua trajetória poética o livro Viagem (1939), e com este ela recebeu o
premio da Academia Brasileira de Letras. Porém rejeitou os 3 primeiros livros
de influência parnasiana e temática mística.
O livro Viagem demonstra sua
maturidade poética, apesar de manter-se dentro dos padrões tradicionais, ultrapassa
o primeiro momento do Modernismo brasileiro (anedótico e nacionalista). Ao
gosto pela tradição, soma-se uma visão filosófica e universalizante. As
indagações sobre a brevidade da vida, o sentido da existência, a solidão e a
incompreensão humanas, presentes em Viagem, permaneceriam em quase toda a sua
obra, perpassada por um sentimento de pessimismo e desencanto.
Cecília Meireles, por ter seguido um
caminho muito pessoal, não pode ser enquadrada em um movimento ou em uma
estética literária determinada. Seus versos, geralmente curtos, de conteúdo
lírico tradicional e bastante pessoal, têm raízes simbolistas e se caracterizam
pela musicalidade, descritivismo e imagens sensoriais.
Um dos pontos altos de sua obra
poética é o Romanceiro da Inconfidência (1953), que lhe custou pesquisas
históricas e no qual revela seu amor à pátria e sua admiração pelos mártires da
Inconfidência Mineira.
Modernismo – 3ª fase
Contexto
histórico
No Brasil, o período que se estende
de 1945 a 1985 é marcado por uma série de fatos que causaram profundas
transformações e traumas na sociedade brasileira.
Da
queda de Getúlio aos anos JK (1945 – 1956)
Em 1945, Getúlio Vargas é deposto,
depois de 15 anos de governo ditatorial. Eurico Gaspar Dutra assume a
presidência, promulga-se uma nova Constituição, e o país retoma os princípios
democráticos.
Embora deposto, Getúlio matem o
prestigio e vence as eleições de 1950. A forte oposição ao seu governo leva-o a
se suicidar na madrugada de 24 de agosto de 1954. João Café Filho assume o
poder.
Os
anos JK (1956 – 1960)
Juscelino Kubitschek assume a
presidência em janeiro de 1956 e dá início ao seu projeto de realizar 50 em 5:
constrói hidrelétrica e estradas, incentiva a instalação de fabricas de
automóveis, aviões e navios e constrói Brasília, para onde mudaria a capital do
país em 1960.
O clima democrático, renovador e
moderno do seu governo favorece as artes: surgem a Bossa Nova e o Cinema Novo,
o teatro passa por profundas transformações, com o trabalho desenvolvido pelo
Teatro de Arena e pelo Teatro Brasileiro de Comedia. A literatura se renova,
sobretudo com Clarice Lispector e Guimaraes Rosa.
É
também o grande momento da crônica, com Fernando Sabino, Rubem Braga, Paulo
Mendes Campos e Drummond.
Em janeiro de 1961, JK passa a faixa
para Jânio Quadros.
Jânio,
Jango e a ditatura (1961 – 1964)
Jânio Quadro renuncia 7 meses
depois. Joao Goulart (Jango) assume o governo, sob o sistema parlamentarista,
com a chefia do Executivo a cargo do 1º ministro e do Conselho de Ministros,
restando ao presidente apenas a função de chefe de Estado.
Com o fim do regime parlamentarista
em 1963, João Goulart resolve tomar medidas de caráter econômico e social,
entre elas a regulamentação da remessa de lucros para o exterior, o projeto de
reforma agraria e a nacionalização de algumas empresas multinacionais. Um golpe
militar, em 1º de abril de 1964, financiado pelos Estados Unidos e grupos
econômicos brasileiros (como Organizações Globo), depõem o presidente. O
general Castelo Branco assume a presidência da República.
Os
anos de autoritarismo (1964 – 1984)
De 1964 a 1984, o Brasil foi governado
por militares: Castelo Branco (64-67), Costa e Silva (67-69), Garrastazu Médici
(69-74), Ernesto Geisel (74-79) e João Baptista de Figueiredo (79-84).
Trata-se de uma dos períodos mais
tristes da nossa história, com a supressão das liberdades democráticas, a
cassação de mandatos políticos, a censura a imprensa e aos meios de comunicação
e o assassinato de opositores ao regime. No plano econômico, a dívida externa
era de $ 3 bilhões em 1964 e no ano de 1984 saltou para mais de $ 100 bilhões.
A inflação era de 74% em 1964 e em 1984 era de 200%. A insatisfação do povo e
dos empresários e a crescente crise econômica levaram à abertura politica e a
entrega do poder aos civis.
A
produção literária da terceira fase
Prosa
Em
linhas gerais, verifica-se na prosa posterior a 1945:
·
Negação
do compromisso com a narrativa referencial, ligada a acontecimentos e à
representação realista da realidade.
·
O
espaço exterior passa para 2º plano; a narrativa se centra no espaço mental das
personagens, realçando-lhes as características psicológicas.
·
Altera-se
a linguagem romanesca tradicional. O texto deixa de ser a narrativa de aventura
para se tornar uma aventura de narrativa. A continuidade temporal é abalada,
desfazendo-se a ordem cronológica e, muitas vezes, fundindo-se presente,
passado e futuro.
·
A
prosa urbana enfoca conflitos do indivíduo diante da sociedade e a prosa
regionalista renova a sua temática e forma de expressão.
·
Desenvolve-se
o realismo fantástico, no qual se acentua a distância entre a realidade objetiva
e a expressão artística, através de uma linguagem altamente simbólica, situando
a narrativa entre o estranho e o maravilhoso.
Entre
os romancistas surgidos em 45, destacam – se: João Guimarães Rosa e Clarice
Lispector.
Poesia
A partir de 1945, a poesia
brasileira adquire preocupações estéticas, com a chamada geração de 45. Esta procurou
restaurar a disciplina expressiva, o estudo da poética e a investigação verbal.
Daí a retomada de formas poéticas tradicionais ao lado do verso livre, agora
mais trabalhado ritmicamente e sob certo rigor e preocupação artesanal.
Destacam-se: João Cabral de Melo
Neto, Afonso Félix de Souza e Thiago de Melo.
A partir de 1950, surgem as novas
tendências, como o Concretismo, a Poesia – práxis e o Poema/processo. Na década
de 1970, surge a poesia marginal, que só a partir de 1980 começa a ser objeto
de apreciações críticas.
Teatro
A encenação da peça Vestido de
noiva, peça de Nelson Rodrigues e dirigida por Ziembinski, em 1943, é um marco
na renovação do teatro brasileiro. Outro passo é dado com a fundação do Teatro
Brasileiro de Comédia (1948) e do Teatro de Arena (1953). Surgem importantes
nomes na dramaturgia nacional, como Gianfrancesco Guarnieri (Eles não usam black
tie), Oduvaldo Vianna Filho (Chapetuba Futebol Clube) e Augusto Boal (Revolução
na América do Sul).
Na década de 1960, surgem o grupo
Opinião, liderado por Denoy de Oliveira, Ferreira Gullar e Oduvaldo Viana Filho
e o Teatro Oficina, liderado por José Carlos Martinez Correa.
Além desses autores, destacam-se:
Jorge Andrade (A moratória), Ariano Suassuna (Auto da Compadecida), Plínio
Marcos (Navalha na carne), Dias Gomes (Odorico, O Bem-Amado) e Chico Buarque de
Holanda (Gota d’água, em parceria com o paraibano Paulo Pontes).
Crônica
A crônica foi um dos gêneros que
mais se renovou a partir do final da década de 1940, registrando a fala do povo
e sua psicologia e retratando o cotidiano, com humor, ironia e lirismo, numa
perspectiva crítica e reveladora. Destacam-se: Paulo Mendes Campos, Rubem
Braga, Fernando Sabino e Carlos Drummond de Andrade.
Autores
Clarice Lispector
Na obra dela, a caracterização da
personagem e as ações são elementos secundários. Importa-lhe captar a vivência
interior das personagens e a complexidade de seus aspectos psicológicos. Dai
resultando numa narrativa introspectiva e o monólogo interior, em que muitas
vezes percebe-se o envolvimento do narrador, ficando difícil estabelecer as
fronteiras entre narrador e personagens. Essa centralização na consciência
contribui para a digressão, a fragmentação dos episódios e o desencadeamento do
fluxo de consciência, isto é, a expressão direta dos estados mentais, nos quais
parece se manifestar diretamente o inconsciente, do que resulta certa perda da
sequência lógica.
Na trilha filosófica do
Existencialismo, Clarice enfatiza a angústia do homem diante de sua liberdade
para escolher o custo que deseja dar a sua vida.
As narrativas de Clarice Lispector
quase sempre focalizam um momento de revelação, um momento especial em que a
personagem se defronta subitamente com a verdade: chamado de epifania. Essa
epifania é uma manifestação espiritual súbita, provocada por uma experiência
que, a princípio, mostra-se simples e rotineira. Os objetos mais simples, os gestos
mais banais e as situações mais cotidianas provocam uma iluminação repentina na
consciência da personagem.
Alguns livros dela: Perto do coração
selvagem (1944), Laços de família (1960). Além disso, escreveu crônicas e
literatura infantil.
João Guimarães Rosa
Embora
de caráter regionalista, a obra dele supera o regionalismo tradicional, que ora
idealizava o sertanejo, ora se comprazia com aspectos meramente pitorescos, com
o realismo documental ou com a transcrição da linguagem popular e coloquial.
Essa
superação deve-se à riqueza de sua linguagem e ao caráter universal das
questões morais e metafisicas presentes em sua obra.
Criando
um estilo absolutamente novo na ficção brasileira, Guimarães Rosa estiliza o
linguajar do sertanejo, recria e inventa palavras, mescla arcaísmos com
vocabulários eruditos, populares e modernos, combina de maneira original
palavras, prefixos e sufixos, constrói uma sintaxe peculiar e explora as
possibilidades sonoras da linguagem, por meio de aliterações, onomatopeias,
hiatos, ecos, homofonias, etc.
No
cerne dessa linguagem nova, na qual a prosa e a poesia se confundem, estão as
indagações universais do homem: o sentido da vida e da morte, a existência ou
não de Deus e do diabo, o significado do amor, do ódio e da ambição etc.
O
romance mais famoso dele foi Grande sertão: veredas que contem várias
narrativas dentro da narrativa principal, casos e episódios nos quais, muitas
vezes, o real se cruza com o fantástico.
João
Cabral de Melo Neto
A
poesia para ele não é fruto de um momento de inspiração, mas resultado de um
esforço cerebral, um trabalho de artesão da palavra. Preocupado com a
organização do texto, a concisão e a precisão da linguagem, o poeta busca a
palavra objetiva, exata, enxuta, para a concretização do poema, que mantem sob
contenção a musicalidade fácil e repudia o exagero metafórico.
Seu
1º livro foi Pedra do sono (1942) e reúne 20 poemas curtos, escritos aos 20
anos, nos quais predominam as imagens surrealistas.
O
engenheiro (1945) e Psicologia da composição (1947) contem poemas sobre o fazer
poético, isto é, poemas metalinguísticos.
A
ênfase no social se dá com os livros O cão sem plumas (1950), O rio (1954) e
Morte e vida Severina (1956). O cão sem plumas tem como tema o rio Capibaribe,
com sua poluição e a população miserável que habita suas margens. Morte e vida
Severina – cujo subtítulo é Auto de Natal pernambucano – relata a trajetória de
Severino, retirante nordestino que se encaminha para o Recife, encontrando
apenas a seca, a subnutrição e a morte por onde passa.
Desencantado
com a vida e mesmo pensando em se entregar a morte, Severino recebe a notícia
do nascimento de uma criança, símbolo da resistência da vida Severina, o que
lhe dá novo alento.
Paisagens
com figuras (1956) focaliza as regiões da Espanha e de Pernambuco.
Uma
faça só lâmina (1956), com reflexões sobre o ato de escrever.
Quaderna
(1961), de temática amorosa.
Serial
(1961) tem temática social, precedendo a obra Auto do frade (1984), cuja
personagem principal é Frei Caneca.
Do
Concretismo aos Poetas da Internet
Concretismo
A
poesia concreta surge em 1952, tendo como principal veiculo de divulgação a
revista Noigrandres. Esta palavra, segundo Augusto de Campos, significa
antídoto contra o tedio.
Além
do nome da revista, denominou também o grupo concretista liderado pelos irmãos
Augusto e Haroldo de Campos e por Décio Pignatari. Em 1956, esse grupo realiza
a Exposição de Arte Concreta, no Museu de Arte Moderna de São Paulo.
Com
influências de Mallarmé, Apollinaire, Ezra Pound, Joyce, Cummings, Oswald de
Andrade e João Cabral de Melo Neto, a poesia concreta apresenta como
características principais:
a) O poema como resultado de investigação
verbal;
b) Incorporação do espaço gráfico como
elemento estrutural do poema;
c) Ampliação do poema pela comunicação
não – verbal;
d) Máxima valorização da palavra em si,
contra o verso como unidade rítmica convencional;
e) Rejeição do lirismo;
f) Valorização do som, da forma visual e
da carga semântica da palavra e suas funções – relações no poema;
g) Ampla utilização de recursos
tipográficos;
h) Possibilidades de múltiplas leituras,
pela abolição do verso tradicional: leitura vertical, horizontal, diagonal
etc.;
i) Utilização do ideograma, como símbolos
da escrita chinesa como modelo de composição.
Essas
características, somadas a outras características inovadoras da prosa, da
arquitetura, da música e das artes plásticas começam a caracterizar o Pós –
Modernismo.
Participaram
também desse movimento: José Lino Grünewald, Pedro Xisto e Ronaldo Azeredo.
A
partir de 1956, o movimento começa a declinar, mas suas contribuições estão
ainda hoje presentes na literatura brasileira.
Neoconcretismo
Em
1959, o poeta Ferreira Gullar lidera uma dissidência dos artistas concretos do
RJ. Por meio de um manifesto publicado no Jornal do Brasil, propõe uma poesia
mias social, mais comunicativa e voltada par aos problemas do país, reagindo
contra os excessos formais do movimento concretista, do qual participara.
O
movimento se intitulou Neoconcretismo, o que era um equivoco, já que sua
intenção era social e de ação politica.
Participaram:
Ferreira Gullar, Affonso Ávila, Thiago de Melo, José Paulo Paes e Jamil Haddad.
Poesia
– práxis
Dois
manifestos inauguraram a Poesia – práxis (que em grego significa ação),
movimento liderado por Mário Chamie. O 1º foi um pré – manifesto publicado no
Diário de Notícias do RJ, em 1959, preconizando que o poema objetiva na unidade
PALAVRA – CORPO - ESPAÇO – FORMA. O 2º é um manifesto didático, que aparece
como posfácio do livro Lavra – lavra (1962).
A
poesia – práxis se autodefine como um processo literário marcado por:
a) Considerar a sintaxe não como
decorrente de um código gramatical estabelecido, mas como resultado original da
transformação a que o poeta submete a palavra;
b) Objetivar que a forma – conteúdo do
texto seja uma estrutura aberta, de tal modo que o leitor possa intervir
crítica e criativamente no texto, exercendo a função de coautoria.
Repudiando
a palavra – coisa do Concretismo, o poeta – práxis considera a palavra –
energia, a palavra como um corpo vivo que gera outras no contexto do Chamie,
participaram do movimento Antônio Carlos Cabral, Carlos Eduardo Brandao, Yvone
Giannetti Fonseca etc.
Poema
– processo
O
movimento foi liderado por Wlademir Dias-Pino, e vai de 1967 a 1974, ano que
seu líder publica um manifesto pondo fim ao movimento, que já se esgotar antes.
Utilizando
elementos não – linguísticos para a composição dos seus trabalhos, os representantes
do poema – processo foram mais desenhistas e pintores do que propriamente
escritores. Utilizaram, além da palavra, fotografias, desenhos, gráficos e
colagens.
Poesia
marginal dos anos 70
Contornando
o bloqueio sistemático das editoras, que consideram que não é lucrativo
publicar poetas desconhecidos, surgem, no início da década de 70, pequenos
livros mimeografados ou impressos por outros processos. Por estarem a margem
das editoras, serem produzidos e vendidos pelos próprios autores, deu-se a eles
o nome de poesia marginal.
Ainda
que alguns deles tenham assimilado influências do Concretismo, a vantagem é que
esse grupo representou uma volta ao discurso, com uma linguagem coloquial, e
aos temas do cotidiano, ora manifestando problemas pessoais ou sociais.
Não
chegaram a construir um movimento organizado com novas propostas estéticas, e
poucos foram os que, pela qualidade dos seus trabalhos, entraram no circuito
das editoras, deixando de ser marginais.
Autor:
Paulo Leminski.
Bons
poetas, com ou sem rótulos
Vários
poetas merecem destaque pela qualidade dos seus trabalhos, como: Adélia Prado,
Affonso Romano de Sant’Anna, Armindo Trevisan, Lindolf Bell, Manoel de Barros,
Mário Faustino, Mário Quintana, Marcus Accioly, Naura Machado, Olga Savary.
Poetas
da internet – a poesia virtual marginal
É
grande o número de poetas que criam páginas na internet para a divulgação dos
seus poemas. Como é fácil obter gratuitamente um espaço para criar páginas,
qualquer pessoa pode divulgar os seus poemas em publicações virtuais.
Porém,
publicar poemas na internet não significa ser um poeta e tampouco assegura que
eles serão lidos por um grande número de pessoas.
As
vertentes pós – modernas e as tradicionais
A
falta de um distanciamento histórico e a pluralidade das formas que a
literatura assume dificultam a localização da pós – modernidade. Portanto, há
textos mesclados tanto na forma pós – moderna, quanto ligados aos recursos
tradicionais das narrativas, muitas vezes em um mesmo autor.
Prosa
política
Durante
a ditadura militar, um dos meios de se contornar a ação da censura sobre os
veículos de comunicação foi o texto literário. Muitos escritores procuravam
denunciar a violência política e social ora em obras que se confundiam com
relatos jornalísticos, baseadas em fatos reais ou fictícios, ora através da
narrativa de situações absurdas e irreais que refletissem metaforicamente a
situação do país. Assim, temos:
a) Romance – reportagem: Antonio Callado,
Ignacio de Loyola Brandao, José Louzeiro, Roberto Drummond.
b) Ignacio de Loyola Brandao, José J.
Veiga, Moacyr Scliar, Murilo Rubiao.
Prosa
urbana
A
desumanidade, a violência, a solidão, a marginalização, o vazio associado à
vida moderna, a hipocrisia social, o conflito de classes e outros males das
metrópoles são a matéria de obras ficcionais de Dalton Trevisan, Luiz Vilela,
Ricardo Ramos e Rubem Fonseca, este último é um hiper – realista pelo exagero
proposital com que enfatiza a patologia humana.
Prosa
intimista
A
observação psicológica das personagens, a introspecção, o entrelaçamento do
lirismo com o realismo, na mesma linha de Clarice Lispector, caracterizam as
narrativas de Autran Dourado, Josué Montello, Lygia Fagundes Telles, Osman Lins
e outros.
Ao
lado desses gêneros, manteve-se a prosa regionalista, com Ariano Suassuna,
Bernardo Élis, Mário Palmério entre
outros. E a prosa memorialista ou
autobiográfica, com Jorge Amado, Pedro Nava, Érico Veríssimo etc.
Há
outros que continuam a produzir durante a vida, como Chico Buarque de Holanda,
Antonio Torres, Domingos Pellegrini Jr., Edilberto Coutinho, Ivan Angelo, João
Antonio, João Ubaldo Ribeiro, Marcelo Rubens Paiva, Nélida Piñon, Sergio
Sant’Anna etc.
A
crônica
A
crônica é um dos gêneros mais cultivados no país, assim como o conto, tendo
espaço nos jornais de grande circulação, destacando-se Affonso Romano de
Sant’Anna, Carlos Heitor Cony, Fernando Sabino e Luís Fernando Veríssimo.
A
literatura de massas
No
final do século XX, o desenvolvimento da edição industrial provocou a inflação
de uma produção de subliteratura, com personagens estereotipadas e narrativas
padronizadas em moldes que visam agradar a certos tipos de leitores que as
devoram, já que não exigem muita reflexão. Neste contexto, enquadram-se os
livros da chamada literatura esotérica, prestigiada pela própria insegurança do
indivíduo em sua tentativa de entender as razoes de estar em um mundo complexo
rapidamente mutável e que busca em textos pouco profundos respostas
inexistentes para o seu destino e comportamento. O valor estético e imaginativo
dessas obras é bastante contestável, geralmente com justa razão. Entretanto,
esse fenômeno permitiu o aparecimento de obras interessantes, particularmente
no gênero de ficção científica e do romance policial.
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