O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os
detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato.
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
BANDEIRA, Manuel. Poesias
reunidas. Rio de Janeiro: Ática, 1985.
O que motivou o bicho a catar
restos foi
A) a própria fome.
B) a imundice do pátio.
C) o cheiro da comida.
D) a amizade pelo cão.
Namoro
O melhor do namoro, claro, é o ridículo. Vocês dois no telefone:
— Desliga você.
— Não, desliga você.
— Você.
— Você.
— Então vamos desligar juntos.
— Tá. Conta até três.
— Um... Dois... Dois e meio...
Ridículo agora, porque na hora não era não. Na hora nem os
apelidos secretos que vocês tinham um para o outro, lembra? Eram ridículos.
Ronron.
Suzuca. Alcizanzão. Surusuzuca. Gongonha (Gongonhal) Mamosa.
Purupupuca...
Não havia coisa melhor do que passar tardes inteiras num sofá,
olho no olho, dizendo:
— As dondozeira ama os dondozeiro?
— Ama.
— Mas os dondozeiro ama as dondozeira mais do que as dondozeira
ama os dondozeiro.
Na-na-não. As dondozeira ama os dondozeiro mais do que, etc.
E, entremeando o diálogo, longos beijos, profundos beijos, beijos
mais do que de línguas, beijos de amígdalas, beijos catetéricos. Tardes
inteiras. Confesse: ridículo só porque nunca mais.
Depois de ridículo, o melhor do namoro são as brigas. Quem diz que
nunca, como quem não quer nada, arquitetou um encontro casual com a ex ou o ex
só para ver se ela ou ele está com alguém, ou para fingir que não vê, ou para
ver e ignorar, ou para dar um abano amistoso querendo dizer que ela ou ele
agora significa tão pouco que podem até ser amigos, está mentindo. Ah, está
mentindo.
E melhor do que as brigas são as reconciliações. Beijos ainda mais
profundos, apelidos ainda mais lamentáveis, vistos de longe. A gente brigava
mesmo era para se reconciliar depois, lembra? Oito entre dez namorados transam
pela primeira vez fazendo as pazes. Não estou inventando. O IBGE tem as
estatísticas.
VERÍSSIMO, Luís Fernando. Correio Braziliense. 13/06/1999.
No texto, considera-se que o melhor do namoro é o ridículo
associado
(A) às brigas por amor.
(B) às mentiras inocentes.
(C) às reconciliações felizes.
(D) aos apelidos carinhosos.
(E) aos telefonemas intermináveis.
Todo
ponto de vista é a vista de um ponto
Ler
significa reler e compreender, interpretar. Cada um lê com os olhos que tem. E
interpreta a partir de onde os pés pisam.
Todo
ponto de vista é um ponto. Para entender como alguém lê, é necessário saber
como são seus olhos e qual é sua visão de mundo. Isso faz da leitura sempre uma
releitura.
A
cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender, é essencial
conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem
convive, que experiências tem, em que trabalha, que desejos alimenta, como
assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz da
compreensão sempre uma interpretação.
Boff,
Leonardo. A águia e a galinha. 4ª ed. RJ: Sextante, 1999.
A
expressão “com os olhos que tem” (ℓ.1), no texto, tem o sentido de
(A)
enfatizar a leitura.
(B)
incentivar a leitura.
(C)
individualizar a leitura.
(D)
priorizar a leitura.
(E)
valorizar a leitura.
Motoristas de batom conquistam a Urca
Moradores aprovam
adoção de mulheres na linha 107
Batom, lápis nos olhos, brincos. Foi a essa mistura que a empresa
Amigos
Unidos apelou para contornar as constantes reclamações dos
moradores da Urca contra os motoristas da linha 107 (Central-Urca). Há um mês,
a empresa removeu sete mulheres de outros trajetos para formar um time de
primeira linha. “O público da Urca é muito exigente.” Os passageiros reclamavam
que os motoristas homens não paravam no ponto e dirigiam de forma perigosa.
“Agora só recebemos elogios”, contou o gerente de Recursos Humanos da empresa,
Mario Mattos.
Elogios que, às vezes, não se limitam ao desempenho profissional.
“Hoje (ontem), um homem falou que queria ser o meu volante”, contou a motorista
Ana Paula da Silva, 24 anos. Na empresa há três meses, Ana Paula da Silva faz
da profissão uma forma de dar carinho a idosos e deficientes – os que mais têm
dificuldades para entrar nos ônibus. “Às vezes, levanto para ajudar alguém a
descer. Já parei o carro para atravessar a rua com um deficiente visual”,
contou.
Casada com um motorista de ônibus, Márcia Cristina Pereira, 38
anos, diz que não enfrenta dificuldades com os colegas de profissão, ainda que
reconheça que, no começo, a desconfiança não foi pequena. “Eles me dão força.
Recebo muitos elogios”, disse. Ao contrário de Márcia, a motorista Janaína de
Lima, 32 anos, diz que se relaciona bem com todos os colegas, mas acha que já
há competição.
“Falta muito para os homens se relacionarem bem com os idosos e
deficientes”, comparou. Morador da Urca há 25 anos, Ednei Bernardes aprovou a
adoção de motoristas mulheres no bairro. “Elas respeitam mais as pessoas e as
leis de trânsito”, resumiu.
JB, 23/07/02 –
Cidade. C1.
Um dos usuários do ônibus concluiu:
“Elas respeitam muito mais as pessoas
e as leis do trânsito.”Tal afirmativa, no contexto, permite concluir que
(A) as empresas de ônibus
preferem os serviços da mulher.
(B) os homens são grosseiros e
desrespeitam as lei de trânsito.
(C) os idosos e deficientes
passam a receber um tratamento melhor.
(D) os homens criam mais
problemas com colegas de profissão.
(E) a população da Urca
tornou-se exigente no transporte urbano.
Um arriscado esporte nacional
Os leigos sempre se
medicaram por conta própria, já que de médicos e de loucos todos temos um
pouco, mas esse problema jamais adquiriu contornos tão preocupantes no Brasil
como atualmente. Qualquer farmácia conta hoje com um arsenal de armas de guerra
para combater doenças de fazer inveja à própria indústria de material bélico
nacional. Cerca de 40% das vendas realizadas pelas farmácias nas metrópoles
brasileiras destinam-se a pessoas que se automedicam. A indústria farmacêutica
de menor porte e importância retira 80% de seu faturamento da venda “livre” de
seus produtos – isto é, das vendas realizadas sem receita médica.
Diante desse quadro,
o médico tem o dever de alertar a população para os perigos ocultos em cada
remédio, sem que, necessariamente, faça junto com essas advertências uma
sugestão para que os entusiastas da automedicação passem a gastar mais em consultas
médicas. Acredito que a maioria das pessoas se automedicam por sugestão de
amigos, leitura, fascinação pelo mundo maravilhoso das drogas “novas” ou
simplesmente para tentar manter a juventude. Qualquer que seja a causa, os
resultados podem ser danosos.
MEDEIROS, Geraldo. –
Revista Veja, 18 de dezembro, 1985.
O tema abordado no
texto é
(A) os riscos
constantes da automedicação.
(B) o crescimento da
indústria farmacêutica.
(C) a venda ilegal
de medicamentos.
(D) a luta pela
manutenção da juventude.
(E) o faturamento
das consultas médicas.
Não se
perca na rede
A
Internet é o maior arquivo público do mundo. De futebol a física nuclear, de cinema
a biologia, de religião a sexo, sempre há centenas de sites sobre qualquer assunto.
Mas essa avalanche de informações pode atrapalhar. Como chegar ao que se quer
sem perder tempo? É para isso que foram criados os sistemas de busca.
Porta
de entrada na rede para boa parte dos usuários, eles são um filão tão bom que já
existem às centenas também. Qual deles escolher? Depende do seu objetivo de busca.
Há
vários tipos. Alguns são genéricos, feitos para uso no mundo todo (Google, por
exemplo). Use esse site para pesquisar temas universais. Outros são nacionais ou
estrangeiros com versões específicas para o Brasil (Cadê, Yahoo e Altavista).
São ideais para achar páginas “com.br”. (Paulo D’Amaro)
O
artigo foi escrito por Paulo D’Amaro. Ele misturou informações e análises do
fato.
O
período que apresenta uma opinião do autor é
(A)
“foram criados sistemas de busca.”
(B)
“essa avalanche de informações pode atrapalhar.”
(C)
“sempre há centenas de sites sobre qualquer assunto.”
(D)
“A internet é o maior arquivo público do mundo.”
(E) “Há
vários tipos.”
QUINO. Mafalda inédita. São
Paulo: Martins Fontes, 1993, p. 42.
1º Eu gosto do natal porque as pessoas
se amam muito mais.
2º Ah!... Você também sente isso?
3ºComo fico feliz!
Quer dizer que você também se ama
muito mais no natal?
Eu, então, você nem imagina o quanto
eu me amo no natal!
4º Por que será que as pessoas se amam
muito mais no natal?
A
respeito da tirinha da Mafalda, é correto afirmar que ela
(A)
gosta do Natal pelo mesmo motivo de sua amiga.
(B)
pensa em resposta à pergunta da amiga.
(C)
concorda com a forma de pensar de sua amiga.
(D)
e a amiga têm as mesmas opiniões.
(E) percebe
que a amiga não compreendeu sua fala.
Qual a
origem do doce brigadeiro?
Em
1946, seriam realizadas as primeiras eleições diretas para presidente após os
anos do “Estado Novo”, de Getúlio Vargas. O candidato da aliança PTB/PSD, Eurico
Gaspar Dutra, venceu com relativa folga. Mas o título de maior originalidade na
campanha ficou para as correligionárias do candidato derrotado, Eduardo Gomes (da
UDN).
Brigadeiro
da Aeronáutica, com pinta de galã, Eduardo Gomes tinha um apoio, digamos,
entusiasmado. Para fazer o “corpo-a-corpo” com o eleitorado, senhoras da
sociedade saiam às ruas convocando as mulheres a votar em Gomes, com o slogan:
“Vote no brigadeiro. Ele é bonito e solteiro”. Não satisfeitas ainda promoviam almoços
e chás, nos quais serviam um irresistível docinho coberto com chocolate granulado.
Ao qual deram o nome, claro, de brigadeiro.
Almanaque das curiosidades, p.
89.
A
finalidade desse gênero de texto é
(A)
propor mudanças.
(B)
refutar um argumento.
(C)
advertir as pessoas.
(D)
trazer uma informação.
(E)
orientar procedimentos.
Texto
I
“Sou
completamente a favor da flexibilização das relações trabalhistas, pois a velhíssima
legislação brasileira, além de anacrônica, vem comprometendo seriamente a nossa
competitividade em nível global.”
Texto
II
“É
uma falácia dizer que com a eliminação dos direitos trabalhistas se criarão
mais empregos. O trabalhador brasileiro já é por demais castigado para suportar
mais essa provocação.”
O Povo, 17 abr. 1997.
Os
textos acima tratam do mesmo assunto, ou seja, da relação entre patrão e
empregado.
Os
dois se diferenciam, porém, pela abordagem temática. O texto II em relação ao
texto I apresenta uma
(A)
ironia.
(B)
semelhança.
(C)
oposição.
(D)
aceitação.
(E)
confirmação.
Tio Pádua
Tio Pádua e tia Marina moravam em Brasília. Foram um dos
primeiros. Mudaram - se para lá no final dos anos 50. Quando Dirani, a filha
mais velha, fez dezoito anos, ele saiu pelo Brasil afora atrás de um primo pra casar
com ela. Encontrou Jairo, que morava em Marília. Estão juntos e felizes até hoje.
Jairo e Dirani casaram-se em 1961. Fico pensando se os casamentos arranjados
não têm mais chances de dar certo do que os desarranjados.
Ivana Arruda Leite. Tio Pádua.
Internet:http://www.doidivana.zip net. Acesso em 07/01/2007.
Texto II
O casamento e o amor na
Idade Média
(fragmento)
Nos séculos IX e X, as uniões matrimoniais eram constantemente
combinadas sem o consentimento da mulher, que, na maioria das vezes, era muito
jovem.
Sua pouca idade era um dos motivos da falta de importância que os
pais davam a sua opinião. Diziam que estavam conseguindo o melhor para ela.
Essa total falta de importância dada à opinião da mulher resultava muitas vezes
em raptos. Como o consentimento da mulher não era exigido, o raptor garantia o
casamento e ela deveria permanecer ligada a ele, o que era bastante difícil,
pois os homens não davam importância à fidelidade. Isso acontecia talvez principalmente
pelo fato de a mulher não poder exigir nada do homem e de não haver uma conduta
moral que proibisse tal ato.
Ingo Muniz Sabage. O casamento e o amor na Idade Média. Internet:
<http://www.milenio.com.br/
ingo/ideias/hist/casament.htm>. Acesso em 07/01/2007 (com
adaptações).
Sobre o “casamento arranjado”, o texto I e o texto II apresentam
opiniões
(A) complementares.
(B) duvidosas.
(C) opostas.
(D) preconceituosas.
(E)
semelhantes.
Sermão do Mandato
O
primeiro remédio que dizíamos, é o tempo. Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer,
tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto
mais a corações de cera? São as afeições como as vidas, que não há mais certo
de haverem de durar pouco, que terem durado muito. São como as linhas, que
partem do centro para a circunferência, que tanto mais continuadas, tanto menos
unidas. Por isso os Antigos sabiamente pintaram o amor menino; porque não há
amor tão robusto que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o
armou a natureza, o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não atira; embota-lhe
as setas, com que já não fere; abre-lhe os olhos, com que vê o que não via; e
faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge. A razão natural de toda esta
diferença, é porque o tempo tira a novidade às cousas, descobre-lhe defeitos,
enfastialhe o gosto, e basta que sejam usadas para não serem as mesmas.
Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais amor? O mesmo amor é a causa de não
amar, e o de ter amado muito, de amar menos.
VIEIRA,
Antônio. Sermão do Mandato. In: Sermões. 8. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1980.
O
tempo é a principal solução para os problemas. A frase que reproduz essa ideia
é
(A)
“Antigos sabiamente pintaram o amor menino...” (ℓ.5)
(B)
“Atreve-se o tempo a colunas de mármore...” (ℓ.2)
(C)
“O primeiro remédio que dizíamos, é o tempo.” (ℓ.1)
(D)
“(...) o tempo tira a novidade às cousas...” (ℓ. 9-10)
(E) “(...)
partem do centro para a circunferência...” (ℓ. 4)
O Mato
Veio o vento frio, e depois o temporal noturno, e depois da lenta
chuva que passou toda a manhã caindo e ainda voltou algumas vezes durante o
dia, a cidade entardeceu em brumas. Então o homem esqueceu o trabalho e as
promissórias, esqueceu a condução e o telefone e o asfalto, e saiu andando
lentamente por aquele morro coberto de um mato viçoso, perto de sua casa. O capim
cheio de água molhava seu sapato e as pernas da calça; o mato escurecia sem
vaga-lumes nem grilos.
Pôs a mão no tronco de uma árvore pequena, sacudiu um pouco, e
recebeu nos cabelos e na cara as gotas de água como se fosse uma bênção. Ali
perto mesmo a cidade murmurava, estava com seus ruídos vespertinos, ranger de
bondes, buzinar impaciente de carros, vozes indistintas; mas ele via apenas
algumas árvores, um canto de mato, uma pedra escura. Ali perto, dentro de uma
casa fechada, um telefone batia, silenciava, batia outra vez, interminável,
paciente, melancólico.
Alguém, com certeza já sem esperança, insistia em querer falar com
alguém.
Por um instante o homem voltou seu pensamento para a cidade e sua
vida.
Aquele telefone tocando em vão era um dos milhões de atos falhados
da vida urbana.
Pensou no desgaste nervoso dessa vida, nos desencontros, nas
incertezas, no jogo de ambições e vaidades, na procura de amor e de importância,
na caça ao dinheiro e aos prazeres. Ainda bem que de todas as grandes cidades
do mundo o rio é a única a permitir a evasão fácil para o mar e a floresta. Ele
estava ali num desses limites entre a cidade dos homens e a natureza pura; ainda
pensava em seus problemas urbanos - mas um camaleão correu de súbito, um
passarinho piou triste em algum ramo, e o homem ficou atento àquela humilde
vida animal e também à vida silenciosa e úmida das árvores, e à pedra escura,
com sua pele de musgo e seu misterioso coração mineral.
ARRIGUCCI, Jr. Os melhores contos de Rubem Braga. São Paulo:
Editora Global Ltda, 1985.
No texto, o elemento que gera a história narrada é
(A) a preocupação do homem com os problemas alheios.
(B) a proximidade entre a casa do homem e o morro com mato viçoso.
(C) o desejo do homem de buscar alento próximo da natureza.
(D) o toque insistente do telefone em uma casa fechada e
silenciosa.
(E)
os ruídos vespertinos da cidade, com seus murmúrios constantes.
O Quiromante
Há muitos anos atrás, havia um rapaz cigano que, nas horas vagas,
ficava lendo as linhas das mãos das pessoas.
O pai dele, que era muito austero no que dizia respeito à tradição
cigana de somente as mulheres lerem as mãos, dizia sempre para ele não fazer
isso, que não era ofício de homem, que fosse fazer tachos, tocar música,
comerciar cavalos.
E o jovem cigano teimava em ser quiromante. Até que um dia ele foi
ler a sorte de uma pessoa e, quando ela se virou de frente, ele viu, assustado,
que ela não tinha mãos.
A partir daí, abandonou a quiromancia.
PEREIRA, Cristina da Costa. Lendas e histórias ciganas. Rio de
Janeiro: Imago, 1991.
O trecho “A partir daí, abandonou a quiromancia” (ℓ. 8) apresenta,
com relação ao que foi dito no parágrafo anterior, o sentido de
(A) comparação.
(B) condição.
(C) consequência.
(D) finalidade.
(E)
oposição.
Câncer
As novas frentes de
ataque
A ciência
chega finalmente à fase de atacar o mal pela raiz sem efeito colateral.
A luta contra o câncer teve grandes vitórias nas últimas décadas
do século 20, mas deve-se admitir que houve também muitas esperanças de cura
não concretizadas.
Após sucessivas promessas de terapias revolucionárias, o século 21
começou com a notícia de uma droga comprovadamente capaz de bloquear pela raiz
a gênese de células tumorais. Ela foi anunciada em maio deste ano, na cidade de
San Francisco, no EUA, em uma reunião com a presença de cerca de 26 mil médicos
e pesquisadores.
A genética, que já vinha sendo usada contra o câncer em
diagnósticos e avaliações de risco, conseguiu, pela primeira vez, realizar o
sonho das drogas “inteligentes”: impedir a formação de tumores. Com essas
drogas, será possível combater a doença sem debilitar o organismo, como ocorre
na radioterapia e na quimioterapia convencional.
O próximo passo é assegurar que as células cancerosas não se
tornem resistentes à medicação. São, portanto, várias frentes de ataque. Além
das mais de 400 drogas em testes, aposta-se no que já vinha dando certo, como a
prevenção e o diagnóstico precoce.
Revista Galileu.
Julho de 2001, p. 41.
O conectivo “portanto”, (ℓ. 13), estabelece com as ideias que o
antecedem uma relação de
(A) adversidade.
(B) conclusão.
(C) causa.
(D) comparação.
(E)
finalidade.
O teatro da etiqueta
No século XV, quando se instalavam os Estados nacionais e a
monarquia absoluta na Europa, não havia sequer garfos e colheres nas mesas de
refeição: cada comensal trazia sua faca para cortar um naco da carne – e, em
caso de briga, para cortar o vizinho. Nessa Europa bárbara, que começava a sair
da Idade Média, em que nem os nobres sabiam escrever, o poder do rei devia se
afirmar de todas as maneiras aos olhos de seus súditos como uma espécie de
teatro. Nesse contexto surge a etiqueta, marcando momento a momento o
espetáculo da realeza: só para servir o vinho ao monarca havia um ritual que
durava até dez minutos.
Quando Luís XV, que reinou na França de 1715 a 1774, passou a usar
lenço não como simples peça de vestuário, mas para limpar o nariz, ninguém mais
na corte de Versalhes ousou assoar-se com os dedos, como era costume. Mas todas
essas regras, embora servissem para diferenciar a nobreza dos demais, não
tinham a petulância que a etiqueta adquiriu depois. Os nobres usavam as boas
maneiras com naturalidade, para marcar uma diferença política que já existia. E
representavam esse teatro da mesma forma para todos. Depois da Revolução
Francesa, as pessoas começam a aprender etiqueta para ascender socialmente. Daí
por que ela passou a ser usada de forma desigual – só na hora de lidar com os
poderosos.
Revista Superinteressante, junho 1988, nº 6 ano 2.
Nesse texto, o autor defende a tese de que
(A) a etiqueta mudou, mas continua associada aos interesses do
poder.
(B) a etiqueta sempre foi um teatro apresentado pela realeza.
(C) a etiqueta tinha uma finalidade democrática antigamente.
(D) as classes sociais se utilizam da etiqueta desde o século XV.
(E)
as pessoas evoluíram a etiqueta para descomplicá-la.
A língua
está viva
Ivana Traversim
Na
gramática, como muitos sabem e outros nem tanto, existe a exceção da exceção.
Isso não quer dizer que vale tudo na hora de falar ou escrever. Há normas sobre
as quais não podemos passar, mas existem também as preferências de determinado autor
– regras que não são regras, apenas opções. De vez em quando aparece alguém
querendo fazer dessas escolhas uma regra. Geralmente são os que não estão bem
inteirados da língua e buscam soluções rápidas nos guias práticos de redação.
Nada contra. O problema é julgar inquestionáveis as informações que esses manuais
contêm, esquecendo-se de que eles estão, na maioria dos casos, sendo práticos –
deixando para as gramáticas a explicação dos fundamentos da língua portuguesa.
(...)
Com
informação, vocabulário e o auxílio da gramática, você tem plenas condições de escrever
um bom texto. Mas, antes de se aventurar, considere quem vai ler o que você
escreveu. A galera da faculdade, o pessoal da empresa ou a turma da balada? As
linguagens são diferentes.
Afinal,
a língua está viva, renovando-se sem parar, circulando em todos os lugares, em
todos os momentos do seu dia. Estar antenado, ir no embalo, baixar um arquivo,
clicar no ícone – mais que expressões – são maneiras de se inserir num grupo,
de socializar-se.
(Você S/A, jun. 2003.)
A
tese da dinamicidade da língua comprova-se pelo fato de que
(A)
as regras gramaticais podem transformar-se em exceção.
(B)
a gramática permite que as regras se tornem opções.
(C)
a língua se manifesta em variados contextos e situações.
(D)
os manuais de redação são práticos para criar ideias.
(E) é
possível buscar soluções praticas na hora de escrever
Animais no espaço
Vários animais viajaram pelo espaço como astronautas.
Os russos já usaram cachorros em suas experiências. Eles têm o
sistema cardíaco parecido com o dos seres humanos. Estudando o que acontece com
eles, os cientistas descobrem quais problemas podem acontecer com as pessoas.
A cadela Laika, tripulante da Sputnik-2, foi o primeiro ser vivo a
ir ao espaço, em novembro de 1957, quatro anos antes do primeiro homem, o astronauta
Gagarin.
Os norte-americanos gostam de fazer experiências científicas
espaciais com macacos, pois o corpo deles se parece com o humano. O chimpanzé é
o preferido porque é inteligente e convive melhor com o homem do que as outras
espécies de macacos. Ele aprende a comer alimentos sintéticos e não se incomoda
com a roupa espacial.
Além disso, os macacos são treinados e podem fazer tarefas a
bordo, como acionar os comandos das naves, quando as luzes coloridas acendem no
painel, por exemplo. Enos foi o mais famoso macaco a viajar para o espaço, em
novembro de 1961, a bordo da nave Mercury/Atlas 5. A nave de Enos teve
problemas, mas ele voltou são e salvo, depois de ter trabalhado direitinho. Seu
único erro foi ter comido muito depressa as pastilhas de banana durante as
refeições.
(Folha de São Paulo,
26 de janeiro de 1996)
Entre as informações do texto acima, uma das principais é que
(A) o chimpanzé mais famoso viajou para o espaço a bordo da
Mercury-Atlas 5.
(B) os cientistas descobrem problemas que podem acontecer com as
pessoas.
(C) a cadela Laika viajou ao espaço quatro anos depois de Gagarin.
(D) a viagem do mais famoso macaco para o espaço aconteceu em
1961.
(E)
na nave espacial serviam pastilhas de banana durante as refeições.
Prova falsa
Quem teve a ideia foi o padrinho da caçula — ele me conta. Trouxe
o cachorro de presente e logo a família inteira se apaixonou pelo bicho. Ele
até que não é contra isso de se ter um animalzinho em casa, desde que seja obediente
e com um mínimo de educação.
— Mas o cachorro era um chato — desabafou.
Desses cachorrinhos de caça, cheios de nhenhenhém, que comem
comidinha especial, precisam de muitos cuidados, enfim, um chato de galocha. E,
como se isto não bastasse, implicava com o dono da casa.
— Vivia de rabo abanando para todo mundo, mas quando eu entrava em
casa vinha logo com aquele latido fininho e antipático, de cachorro de
francesa.
Ainda por cima era puxa-saco. Lembrava certos políticos da
oposição, que espinafram o ministro, mas quando estão com o ministro, ficam
mais por baixo que tapete de porão. Quando cruzavam num corredor ou qualquer
outra dependência da casa, o desgraçado rosnava ameaçador, mas quando a patroa
estava perto, abanava o rabinho, fingindo-se seu amigo.
— Quando eu reclamava, dizendo que o cachorro era um cínico, minha
mulher brigava comigo, dizendo que nunca houve cachorro fingido e eu é que
implicava com o “pobrezinho”.
Num rápido balanço poderia assinalar: o cachorro comeu oito meias
suas, roeu a manga de um paletó de casemira inglesa, rasgara diversos livros,
não podia ver um pé de sapato que arrastava para locais incríveis. A vida lá em
sua casa estava se tornando insuportável. Estava vendo a hora em que se
desquitava por causa daquele bicho cretino. Tentou mandá-lo embora umas vinte
vezes e era uma choradeira das crianças e uma espinafração da mulher.
— Você é um desalmado — disse ela, uma vez.
Venceu a guerra fria com o cachorro graças à má educação do
adversário. O cãozinho começou a fazer pipi onde não devia. Várias vezes exemplado,
prosseguiu no feio vício. Fez diversas vezes no tapete da sala. Fez duas na
boneca da filha maior.
Quatro ou cinco vezes fez nos brinquedos da caçula. E tudo
culminou com o pipi que fez em cima do vestido novo de sua mulher.
— Aí mandaram o cachorro embora? — perguntei.
— Mandaram. Mas eu fiz questão de dá-lo de presente a um amigo que
adora cachorros. Ele está levando um vidão em sua nova residência.
— Ué... mas você não o detestava? Como é que ainda arranjou essa
sopa pra ele?
— Problema de consciência — explicou: O pipi não era dele.
E suspirou cheio de remorso.
PONTE PRETA, Stanislaw. Para gostar de ler. Gol de padre e outras
crônicas. São Paulo: Ática, 1998.
v. 23. p. 24-25.
Língua
O que gera humor no texto é o fato de
(A) a família se apaixonar pelo cachorro.
(B) a mulher dizer que nunca houve cachorro fingido.
(C) o cachorro fazer pipi onde não devia.
(D) o dono da casa achar o cachorro um chato.
(E)
o pipi feito no vestido novo não ser do cachorro.
A culpa é do dono?
A reportagem “Eles estão soltos” (17 de janeiro), sobre os cães da
raça pit bull que passeiam livremente pelas praias cariocas, deixou leitores
indignados com a defesa que seus criadores fazem de seus animais. Um deles
dizia que os cães só se tornam agressivos quando algum movimento os assusta.
Sandro Megale Pizzo, de São Carlos, retruca que é difícil saber quais de nossos
movimentos “assustariam” um pit bull. De Siegen, na Alemanha, a leitora Regina
Castro Schaefer diz que pergunta a si mesma que tipo de gente pode ter como
animal de estimação um cachorro que é capaz de matar e desfigurar pessoas.
Veja, Abril.
28/2/2001.
O que sugere o uso de aspas na palavra “assustariam”?
(A) raiva.
(B) ironia.
(C) medo.
(D) insegurança.
(E)
ignorância.
Leite
Vocês que têm mais de 15 anos, se lembram quando a gente comprava
leite em garrafa, na leiteria da esquina? (...)
Mas vocês não se lembram de nada, pô! Vai ver nem sabem o que é
vaca. Nem o que é leite. Estou falando isso porque agora mesmo peguei um pacote
de leite − leite em pacote, imagina, Tereza! − na porta dos fundos e estava
escrito que é pasteurizado ou pasteurizado, sei lá, tem vitamina, é garantido
pela embromatologia, foi enriquecido e o escambau.
Será que isso é mesmo leite? No dicionário diz que leite é outra
coisa: “líquido branco, contendo água, proteína, açúcar e sais minerais”. Um
alimento pra ninguém botar defeito. O ser humano o usa há mais de 5.000 mil
anos. É o único alimento só alimento. A carne serve pro animal andar, a fruta
serve para fazer outra fruta, o ovo serve pra fazer outra galinha (...) O leite
é só leite. Ou toma ou bota fora.
Esse aqui examinando bem, é só pra botar fora. Tem chumbo, tem
benzina, tem mais água do que leite, tem serragem, sou capaz de jurar que nem
vaca tem por trás desse negócio.
Depois o pessoal ainda acha estranho que os meninos não gostem de
leite.
Mas, como não gostam? Não gostam como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!
Millôr Fernandes. O
Estado de São Paulo. 22/08/1999.
Ao criar a palavra “embromatologia” (ℓ. 6), o autor pretendeu ser
(A) conciso.
(B) sério.
(C) formal.
(D) cordial.
(E)
irônico.
Você não entende nada
Quando eu chego em casa nada me consola
Você está sempre aflita
Com lágrimas nos olhos de cortar cebola
Você
está tão bonita
Você
traz Coca-Cola
Eu
tomo
Você
bota a mesa
Eu
como eu como eu como eu como eu como
Você
Não tá entendendo (quase) nada do que eu digo
Eu quero é ir-me embora
Eu quero dar o fora
E quero que você venha comigo (todo dia)
Eu me sento
Eu fumo
Eu como
Eu não aguento
Você está tão curtida
Eu quero é tocar fogo nesse apartamento
Você não acredita
Traz meu café com suíta
Eu tomo
Bota a sobremesa
Eu como eu como eu como eu como eu como
Você
Tem que saber que eu quero é correr mundo
Correr perigo
Eu quero é ir-me embora
Eu quero dar o fora
E quero que você venha comigo (Todo dia)
(VELOSO, Caetano. Por Daniela Mercury. Literatura Comentada: Você
Não Entende Nada. 2 Ed. Nova Cultura. 1998)
A repetição da expressão “eu quero”, em diversos versos, tem por
objetivo
(A) fazer associações de sentido.
(B) refutar argumentos anteriores.
(C) detalhar sonhos e pretensões.
(D) apresentar explicações novas.
(E)
reforçar a expressão dos desejos.
13 de Dezembro
Passei de carro pela Esplanada e vi a multidão. Estranhei aquilo.
O motorista me lembrou: “Hoje é 13 de dezembro, Dia de Santa Luzia. A igreja
dela está cheia, ela protege os olhos da gente”.
Agradeci a informação, mas fiquei inquieto. Bolas, o 13 de
dezembro tinha alguma coisa a ver comigo e nada com Santa Luzia e sua eficácia
nas doenças que ainda não tenho. O que seria?
Aniversário de um amigo? Uma data inconfessável, que tivesse
marcado um relacionamento para o bom ou para o pior?
Não lembrava de nada de importante naquele dia, mas ele piscava
dentro de mim. E as horas se passaram iluminadas pelo intermitente piscar da
luzinha vermelha dentro de mim. 13 de dezembro! Preciso tomar um desses
tonificantes da memória, vivo em parte dela e não posso ter brancos assim, um
dia importante e não me lembro por quê.
Somente à noite, quando não era mais 13 de dezembro, ao fechar o
livro que estava lendo, de repente a luz parou de piscar e iluminou com nitidez
a cena noturna: eu chegando no prédio em que morava, no Leme, a Kombi que saiu
dos fundos da garagem, o homem que se aproximou e me avisou que o comandante do
1º Exército queria falar comigo.
Eram 11 horas da noite, estranhei aquele convite, nada tinha a
falar com o general Sarmento e não acreditava que ele tivesse alguma coisa a
falar comigo.
Mas o homem insistiu. E outro homem que saíra da Kombi já entrava
dentro do meu carro, com uma pequena metralhadora. Naquela mesma hora, a mesma
cena se repetia pelo Brasil afora, o governo baixara o AI-5, eu nem ouvira o
decreto lido no rádio. Num motel da Barra, eu estivera à toa na vida, e meu
amor me chamara e eu não vira a banda passar.
Tantos anos depois, ninguém me chama nem me convida para falar com
o comandante do 1º Exército. O País talvez tenha melhorado, mas eu certamente
piorei.
CONY, Carlos Heitor.
Folha de São Paulo. 16/12/2001.
A fala do motorista (ℓ. 2) é exemplo de
linguagem
(A) culta.
(B) coloquial.
(C) vulgar.
(D) técnica.
(E)
regional.
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