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Escola Estadual
Padre Hildon Bandeira
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Aluno (a):
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Série:
º Ano
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Turno
Vespertino
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Professor
Marconildo Viegas
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Disciplina
Português
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Bimestre
2º
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Data
_____/_____/____
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Dom Casmurro
Machado de Assis
CXXII – Olhos de ressaca
Enfim,
chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do marido,
e o desespero daquele lance consternou a todos. Muitos homens choravam também,
as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma.
Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No Meio dela,
Capitu olhou alguns instantes para ver o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente
fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas...
As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as
dela; Capitu enxugou-as depressa, olhando a furto para a gente que estava na
sala. Redobrou as carícias para a amiga, e quis levá-la; mas o cadáver parece
que a retinha também. Momento houve em que os olhos de Capitu fitaram o defunto,
quais os da viúva, sem o pranto nem as palavras desta, mas grande e abertos,
como a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã.
CXXIV – O discurso
-
Vamos, são horas...
Era José Dias que me convidava a fechar o ataúde.
Fechamo-lo, e eu peguei numa das argolas; rompeu o alarido final. Palavra que,
quando cheguei à porta, vi o sol claro, tudo gente e carros, as cabeças
descobertas, tive um daqueles meus impulsos que nunca chegavam à execução: foi
atirar à rua caixão, defunto e tudo. No carro disse a José Dias que se calasse.
No cemitério tive de repetir a cerimônia da casa, desatar as correias, e ajudar
a levar o féretro à cova. O que isto me custou imagina. Descido o cadáver à
cova, trouxeram a cal e a pá; sabes disto, terás ido a mais de um enterro, mas
o que não sabes nem pode saber nenhum dos teus amigos, leitor, ou qualquer
outro estranho, é a crise que me tomou quando vi todos os olhos em mim, os pés
quietos, as orelhas atentas, e, ao cabo de alguns instantes de total silêncio,
um sussurro vago, algumas vozes interrogativas, sinais, e alguém, José Dias,
que me dizia ao ouvido:
-
Então, fale.
Era o discurso. Queriam o discurso. Tinham jus ao
discurso anunciado. Maquinalmente, meti a mão no bolso, saquei o papel e li-o
aos trambolhões, não todo, nem seguido, nem claro; a voz parecia-me entrar cm
vez de sair, as mãos tremiam-me. Não era só a emoção nova que me fazia assim,
era o próprio texto, as memórias do amigo, as saudades confessadas, os louvores
à pessoa e aos seus méritos; tudo isto que eu era obrigado a dizer e dizia mal.
Ao mesmo tempo, temendo que me adivinhassem a verdade, forcejava por escondê-la
bem. Creio que poucos me ouviram, mas o gesto geral foi de compreensão e de
aprovação.
1.
Dois capítulos do romance Dom Casmurro tem o título
“Olhos de ressaca”. No capítulo XXXIII, Bentinho descreve pela primeira vez os
olhos de Capitu: “Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles,
‘olhos de cigana oblíqua e dissimulada’. Eu não sabia o que era oblíqua, mas
dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim. (...) Olhos de ressaca?
Vá, de ressaca.” Que julgamento Bentinho, implícito no segundo paragrafo do
capítulo CXXII, poderia justificar a repetição do título “Olhos de ressaca”?
a) Bentinho julga que Capitu estaria tentando disfarçar as suas emoções.
b) Betinho julga que a irmã de Capitu estaria tentando disfarçar as
emoções.
2.
“Capitu olhou alguns instantes para ver o cadáver
tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas
lágrimas poucas e caladas...” Que advérbio se destaca
neste trecho caracterizando um julgamento pessoal e subjetivo do narrador?
a) Apaixonadamente b) Distraidamente
3.
O narrador se refere várias vezes ao caráter
dissimulado, fingido, disfarçado de Capitu. Entretanto, no texto transcrito ele
também age dissimuladamente. Ele estaria cumprindo que tipo de obrigações:
afetivas ou sociais? Em que momento lhe pesa mais essa dissimulação?
a) Betinho cumpre obrigações sociais, que lhe pesam mais no momento do
discurso.
b) Betinho cumpre obrigações afetivas, que não lhe pesam em nada no momento
do discurso.
4.
Com base no texto, dir-se-ia que o narrador está
mais preocupado com a análise psicológica das personagens ou com as ações ou
cenários?
a) Com a análise psicológica das personagens.
b) Com as ações ou os cenários.
Texto II
Rita Baiana
Aluísio Azevedo
Ela saltou em meio da roda, com os braços na
cintura, rebolando as ilhargas e bamboleando a cabeça, ora para a esquerda, ora
para a direita, como numa sofreguidão de gozo carnal, num requebrado luxurioso
que a punha ofegante; já correndo de barriga empinada; já recuando de braços
estendidos, a tremer toda, como se se fosse afundando num prazer grosso que nem
azeite, em que se não toma pé e nunca se encontra fundo. Depois, como se
voltasse à vida, soltava um gemido prolongado, estalando os dedos no ar e vergando
as pernas, descendo, subindo, sem nunca parar com os quadris, e em seguida
sapateava, miúdo e cerrado, freneticamente, erguendo e abaixando os braços, que
dobrava, ora um, ora outro, sobre a nuca, enquanto a carne lhe fervia toda,
fibra por fibra, tirilando. Em torno o entusiasmo tocava ao delírio; um grito
de aplausos explodia de vez em quando, rubro e quente como deve ser um grito
saído do sangue. E as palmas insistiam, cadentes, certas, num ritmo nervoso,
numa persistência de loucura. E, arrastado por ela, pulou à arena o Firmo,
ágil, de borracha, a fazer coisas fantásticas com as pernas, a derreter-se
todo, a sumir-se no chão, a ressurgir inteiro com um pulo, os pés no espaço,
batendo os calcanhares, os braços a querer fugirem-lhe dos ombros, a cabeça a
querer saltar-lhe. E depois, surgiu também a Florinda, e logo o Albino e até,
quem diria! o grave e circunspecto Alexandre.
O chorado arrastava-os a todos, despoticamente,
desesperando aos que não sabiam dançar. Mas, ninguém como a Rita; só ela, só aquele
demônio, tinha o mágico segredo daqueles movimentos de cobra amaldiçoada;
aqueles requebros que não podiam ser sem o cheiro que a mulata soltava de si e
sem aquela voz doce, quebrada, harmoniosa, arrogante, meiga e suplicante.
E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda
a alma pelos olhos enamorados.
Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese
das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente do
meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente
dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a
palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era o
veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a
castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra
verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia
muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as
fibras embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe
cuspir dentro do sangue uma centelha daquele amor setentrional, uma nota
daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de
cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa
fosforescência afrodisíaca.
1. Que diferenças podemos estabelecer entre a
caracterização de Rita Baiana e uma personagem feminina dos romances
românticos?
a) Rita Baiana é uma mulata rude, libidinosa, sem
recato ou pudor, diferente das personagens românticas, que era educadas,
frágeis e recatadas.
b) Rita Baiana é uma mulata educada, com pudor ou
recato, diferente das personagens românticas que eram rudes, mal educadas, etc.
2. Como se caracteriza o meio social do cortiço? Em
que ele difere do ambiente romântico?
a)
O meio
social é dos ricos com pessoas abastardas, de brancos, enquanto que o ambiente
romântico é o das casas simples e dos burgueses.
b)
O meio
social é dos pobres, assalariados, biscateiros, negros, mestiços e portugueses,
enquanto que o ambiente romântico é o das casas e dos palacetes burgueses.
3. Que sentimentos são despertados em Jeronimo pela
dança de Rita Baiana?
a)
Sentimento
de paixão e desejo.
b) Sentimento de repulsa e raiva.
4. O narrador faz questão de retratar atitudes e
personagens primitivos, acentuando a degradação dos tipos. Para isso, no
romance, aproxima-os insistentemente de insetos e animais. Marque exemplos que
exemplifiquem esta afirmação.
a) “ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta
viscosa, a muriçoca doida.”
b) “. Em torno o entusiasmo tocava ao delírio; um
grito de aplausos explodia de vez em quando, rubro e quente como deve ser um
grito saído do sangue”.
Parnasianismo
Início
em 1882 com o livro “Fanfarras”, de
Teófilo Dias.
O
Parnasianismo visava a Arte pela arte, sem se preocupar com nada, sendo
objetivo e alheio a realidade.
Eles
pretendiam retomar os valores clássicos.
O
Parnasianismo corresponde, na poesia, ao Realismo – Naturalismo na prosa.
O
nome da escola literária teve sua origem em Paris e está ligado à publicação de
antologias poéticas sob o título “Parnaso contemporâneo”, a partir de 1866,
incluindo poemas dos precursores do movimento: Theophile Guatier, Leconte de
Lisle, Theodore de Banville, Charles Baudelaire, além de alguns poetas.
O movimento
retira seu nome do monte Parnassus, situado em lendária região da Grécia
habitada por poetas, o que já revela o gosto parnasiano pela Antiguidade
clássica.
Os
três maiores escritores do movimento no Brasil são: Raimundo Correia, Alberto
de Oliveira e Olavo Bilac, além de
Vicente de Carvalho, Francisca Júlia e Bernardino Lopes.
Características
·
Impessoalidade e objetividade: evitando
confissões sentimentais, os parnasianos sobrepunham a realidade exterior à
interior, fazendo descrições objetivas de cenas e coisas, numa poesia
pictórica, retratista, contrária a idealização romântica. Vasos, estátuas,
elementos exóticos, históricos, filosóficos, arqueológicos e mitológicos
serviram como temas de seus poemas.
·
Visão carnal da mulher: ao contrário dos românticos,
que descreviam a mulher idealizada, como virgem, anjo, entre lágrimas e
suspiros, os parnasianos a viam como fêmea desejada e sadia.
·
Arte pela arte: conforme o poema de Bilac, “a
Beleza (é) gêmea da Verdade”. Para os parnasianos a Verdade era igual a Beleza,
e a Beleza residia na Forma; portanto, a arte não teria outra finalidade além
da Beleza, não teria nenhum compromisso, não existiria em função da sociedade,
da religião, da moral etc. O único compromisso da arte seria com a própria
arte.
·
Culto da forma: em consequência da fórmula
Verdade = Beleza = Forma, os parnasianos buscavam a perfeita expressão, do que
decorre:
a)
Predominância da técnica sobre a inspiração,
da forma sobre o conteúdo.
b)
Assimilação dos ideais das artes plásticas;
comparação do poeta com o pintor, o escultor, o ourives.
c)
Procura a rima rica, rara, ou resultante da
combinação de categorias gramaticais diferentes; aversão aos termos originados
da mesma raiz (cognatos).
d)
Retorno aos modelos clássicos greco – latinos
e alusão à mitologia;
e)
Correção gramatical; uso de vocábulos raros,
inversão frasal;
f)
Procura da palavra perfeita;
g)
Predileção pelo soneto que terminam com chave
– de ouro, isto é, um verso final bem escrito, procurando condensar uma ideia e
arrematando o poema com um belo efeito.
Autores
·
Olavo
Bilac
Um
dos poetas mais combatidos pelos modernistas. Bilac demonstrava em alguns
sonetos certo sopro romântico e se caracteriza por dominar com maestria a
poética e a língua. Olavo foi predominantemente descritivo pelo lirismo erótico
– amoroso, apaixonado e sensual, e pela dimensão nacionalista que procurou dar
a sua obra, louvando a pátria, seus símbolos, seus heróis e nosso idioma.
A um
poeta
Olavo
Bilac
Longe do estéril
turbilhão da rua,
Beneditino escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua!
Beneditino escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua!
Mas que na forma se
disfarce o emprego
Do esforço: e trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua
Rica mas sóbria, como um templo grego
Do esforço: e trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua
Rica mas sóbria, como um templo grego
Não se mostre na fábrica
o suplicio
Do mestre. E natural, o efeito agrade
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Do mestre. E natural, o efeito agrade
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Porque a Beleza, gêmea da Verdade
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
1.
Que verbo da primeira estrofe permite a comparação
entre o trabalho do ourives e o trabalho do poeta, reafirmando a ideia
parnasiana de que o poeta é um artesão da palavra?
a)
Lima b) Sofre c) Sua
2.
No último verso da primeira estrofe aparecem as formas
verbais
1. TRABALHA
2. TEIMA
3. LIMA
4. SOFRE
5. SUA
Correlacione esses verbos com as frases abaixo:
( ) A
busca da expressão perfeita é, às vezes, angustiante.
( ) O
verso, precioso, deve ser cuidadosamente lapidado.
( ) A
busca da expressão perfeita exige paciência e dedicação.
( ) O
trabalho do poeta também é desgastante.
( ) Escrever
não é apenas lazer.
3.
O que é necessário, segundo o poeta, para que o
efeito final agrade?
a)
É necessário naturalidade.
b)
É necessário artificialidade.
4.
Na última estrofe, o poeta emite 3 conceitos. Quais
são?
a) A
Beleza é gêmea da Verdade. A arte pura é inimiga do artificio. A força e a
graça são resultados da simplicidade.
b) A
Verdade é gêmea da Beleza. A arte pura é amiga do artificio. A força e a graça
são resultados da simplicidade no campo.
·
Raimundo
Correia
Revela
um tom melancólico e pessimista no questionamento da vida e da sua
transitoriedade, mas foi um mestre da construção verbal, caracterizando-se pela
concisão, pela escolha perfeita do vocábulo e pelo domínio do verso e da
língua. Seus poemas serviam também à ação social e politica e muitas vezes
tinham um fundo filosófico e ideológico.
·
Alberto
de Oliveira
É um
dos representantes mais típicos do Parnasianismo. Revela excessiva preocupação
formal, gosto por preciosismos e uma sintaxe rebuscada. São características da
sua poesia: exotismo, sentimento contido, imagens sugestivas, linguagem às
vezes nobre, mas sem arcaísmos, tendência às descrições da natureza e coisas
antigas, melancolia e saudade.
Texto
VASO GREGO
Alberto
de Oliveira
Esta de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.
Era o poeta de Teos que a suspendia
Então, e, ora repleta ora esvasada,
A taça amiga aos dedos seus tinia,
Toda de roxas pétalas colmada.
Depois... Mas o lavor da taça admira,
Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas hás-de lhe ouvir, canora e doce,
Ignota voz, qual se da antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa voz de Anacreonte fosse.
Plena nudez
Raimundo Correia
Eu amo os
gregos tipos de escultura:
Pagãs nuas no mármore entalhadas;
Não essas produções que a estufa escura
Das modas cria, tortas e enfezadas.
Quero um pleno esplendor, viço e frescura
Os corpos nus; as linhas onduladas
Livres: de carne exuberante e pura
Todas as saliências destacadas...
Não quero, a Vênus opulenta e bela
De luxuriantes formas, entrevê-la
De transparente túnica através:
Quero vê-la, sem pejo, sem receios,
Os braços nus, o dorso nu, os seios
Nus... toda nua, da cabeça aos pés!
Pagãs nuas no mármore entalhadas;
Não essas produções que a estufa escura
Das modas cria, tortas e enfezadas.
Quero um pleno esplendor, viço e frescura
Os corpos nus; as linhas onduladas
Livres: de carne exuberante e pura
Todas as saliências destacadas...
Não quero, a Vênus opulenta e bela
De luxuriantes formas, entrevê-la
De transparente túnica através:
Quero vê-la, sem pejo, sem receios,
Os braços nus, o dorso nu, os seios
Nus... toda nua, da cabeça aos pés!
Simbolismo
Contexto histórico
A
decadência econômica europeia nas últimas décadas do século XIX põe por terra
as esperanças positivistas e materialistas. Uma nova forma de encarar o mundo
faz com que se retomem os valores até então adormecidos: o idealismo e o
misticismo são revitalizados. Surge o Simbolismo, opondo-se ao objetivismo
realista.
Agravavam-se
as rivalidades entre Áustria e Rússia e a competição anglo-alemã. A Europa
vivia em estado de alerta, cada país procurava aumentar os seus contingentes
militares e aperfeiçoar os seus armamentos. Era o fantasma da guerra que
eclodiria em 1914.
O
Simbolismo, refletindo esse momento histórico, percebe a falência do
racionalismo, do materialismo e do positivismo, insuficientes para a
compreensão do mundo exterior, e retoma as tendências espiritualistas. O sonho,
o inconsciente, a metafísica e a religiosidade renascem na procura de um mundo
ideal situado ora no interior do indivíduo, ora no sobrenatural. Fugindo ao
racionalismo, o artista mergulha então no irracional, cuja expressão exigia uma
linguagem nova, metafórica e sugestiva.
Características
·
Expressão
indireta de ideias e emoções. Para os simbolistas, a
realidade deveria ser expressa de maneira vaga, imprecisa e ilógica.
·
Expressividade
sonora. “A música antes de qualquer coisa” era o postulado de
Verlaine. Dotando o poema de expressividade sonora e valorizando o ritmo, a
musicalidade, as aliterações, as assonâncias e os ecos, os simbolistas
procuravam aproximar a poesia da música, afastando o poema das referencias
concretas e instaurando uma atmosfera vaga, misteriosa e nebulosa.
·
Subjetivismo
profundo. Desinteressado pela realidade objetiva, o simbolista se
voltava par ao seu próprio EU, mas não o Eu superficial do Romantismo.
Tratava-se de buscar a essência do ser humano, o inconsciente e os estados de
alma.
·
Misticismo
e espiritualismo. O desejo de um mundo ideal, do qual o mundo
real é apenas uma representação imperfeita, conduz o simbolista a procurar
alcançá-lo por meio da poesia, vendo na arte uma forma de religião. Em alguns
autores esse desejo de evasão associa-se a uma visão cristã. São comuns a
oposição entre matéria e espírito, a procura da purificação e a referência a
regiões etéreas e ao espaço infinito.
No
plano sintático – vocabular observam-se:
a)
Uso de vocábulos ligados ao místico e ao
litúrgico: alma, infinito, desconhecido, essência, missal, breviário, hinos,
salmos, ângelus etc.
b)
Uso do conectivo bíblico, pois tem essa
denominação por ser bastante usado nos textos bíblicos.
c)
Emprego e iniciais maiúsculas no interior do
verso, enfatizando o aspecto simbólico e alegorizante dos vocábulos.
·
Abstração e preocupação forma. Nascido no
seio do Parnasianismo e com ele convivendo até o nosso século, o Simbolismo
herdou a preocupação formal e o descompromisso com a realidade mundana, o que
afastou os poetas dos problemas sociais, deixando – os envoltos em sue próprio
universo.
Simbolismo
no Brasil
Tem seu início em 1893, com os livros “Missal” e “Broqueis”, de Cruz e Sousa.
Os
principais escritores são: Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens, seguidos por
Pedro Kilkerry, Mario Pederneiras, Da Costa e Silva e Emiliano Perneta.
Autores
·
Cruz e Sousa
Um
dos maiores poetas do Simbolismo mundial, chamado de “O cisne negro”, Cruz e
Sousa revela em seus primeiros trabalhos a influência parnasiana no que diz
respeito à temática e à preocupação formal. Sentindo-se como um prisioneiro, um
emparedado, em um mundo de privações e infortúnios, aspirava a um outro mundo,
espiritual, expresso em suas poesias, marcadas por intenso misticismo e
religiosidade. Outra constante em sua obra é o fascínio pela cor branco, vista
ora como simbolização da pureza, ora como manifestação de seu complexo racial e
desejo de acesso ao mundo dos brancos. A pregação do amor, do dever, da
caridade, do perdão e da grandeza moral caracterizam a sua obra.
Texto
ANGELUS
Cruz e Sousa
Ah! lilazes de Ângelus harmoniosos,
Neblinas vesperais, crepusculares,
Guslas gementes, bandolins saudosos,
Plangências magoadíssimas dos ares…
Serenidades etereais d'incensos,
De salmos evangélicos, sagrados,
Saltérios, harpas dos Azuis imensos,
Névoas de céus espiritualizados.
Ângelus fluidos, de luar dormente,
Diafaneidades e melancolias…
Silêncio vago, bíblico, pungente
De todas as profundas liturgias.
É nas horas dos Ângelus, nas horas
Do claro-escuro emocional aéreo,
Que surges, Flor do Sol, entre as sonoras
Ondulações e brumas do Mistério.
Surges, talvez, do fundo de umas eras
De doloroso e turvo labirinto,
Quando se esgota o vinho das Quimeras
E os venenos românticos do absinto.
Apareces por sonhos neblinantes
Com requintes de graça e nervosismos,
Fulgores flavos de festins flamantes,
Como a Estrela Polar dos Simbolismos.
Num enlevo supremo eu sinto, absorto,
Os teus maravilhosos e esquisitos
Tons siderais de um astro rubro e morto,
Apagado nos brilhos infinitos.
O teu perfil todo o meu ser esmalta
Numa auréola imortal de formosuras
E parece que rútilo ressalta
De góticos missais de iluminuras.
Ressalta com a dolência das Imagens,
Sem a forma vital, a forma viva,
Com os segredos da Lua nas paisagens
E a mesma palidez meditativa.
Nos êxtases dos místicos os braços
Abro, tentado de carnal beleza…
E cuido ver, na bruma dos espaços,
De mãos postas, a orar, Santa Teresa!…
Cruz e Sousa
Ah! lilazes de Ângelus harmoniosos,
Neblinas vesperais, crepusculares,
Guslas gementes, bandolins saudosos,
Plangências magoadíssimas dos ares…
Serenidades etereais d'incensos,
De salmos evangélicos, sagrados,
Saltérios, harpas dos Azuis imensos,
Névoas de céus espiritualizados.
Ângelus fluidos, de luar dormente,
Diafaneidades e melancolias…
Silêncio vago, bíblico, pungente
De todas as profundas liturgias.
É nas horas dos Ângelus, nas horas
Do claro-escuro emocional aéreo,
Que surges, Flor do Sol, entre as sonoras
Ondulações e brumas do Mistério.
Surges, talvez, do fundo de umas eras
De doloroso e turvo labirinto,
Quando se esgota o vinho das Quimeras
E os venenos românticos do absinto.
Apareces por sonhos neblinantes
Com requintes de graça e nervosismos,
Fulgores flavos de festins flamantes,
Como a Estrela Polar dos Simbolismos.
Num enlevo supremo eu sinto, absorto,
Os teus maravilhosos e esquisitos
Tons siderais de um astro rubro e morto,
Apagado nos brilhos infinitos.
O teu perfil todo o meu ser esmalta
Numa auréola imortal de formosuras
E parece que rútilo ressalta
De góticos missais de iluminuras.
Ressalta com a dolência das Imagens,
Sem a forma vital, a forma viva,
Com os segredos da Lua nas paisagens
E a mesma palidez meditativa.
Nos êxtases dos místicos os braços
Abro, tentado de carnal beleza…
E cuido ver, na bruma dos espaços,
De mãos postas, a orar, Santa Teresa!…
Interpretação
de texto
Antífona
Cruz e Sousa
Ó Formas
alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras
Formas do Amor, constelarmente puras,
De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras
E dolências de lírios e de rosas ...
Indefiníveis músicas supremas,
Harmonias da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...
Visões, salmos e cânticos serenos,
Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...
Dormências de volúpicos venenos
Sutis e suaves, mórbidos, radiantes...
Infinitos espíritos dispersos,
Inefáveis, edênicos, aéreos,
Fecundai o Mistério destes versos
Com a chama ideal de todos os mistérios.
Do Sonho as mais azuis diafaneidades
Que fuljam, que na Estrofe se levantem
E as emoções, todas as castidades
Da alma do Verso, pelos versos cantem.
Que o pólen de ouro dos mais finos astros
Fecunde e inflame a rima clara e ardente...
Que brilhe a correção dos alabastros
Sonoramente, luminosamente.
Forças originais, essência, graça
De carnes de mulher, delicadezas...
Todo esse eflúvio que por ondas passa
Do Éter nas róseas e áureas correntezas...
Cristais diluídos de clarões alacres,
Desejos, vibrações, ânsias, alentos
Fulvas vitórias, triunfamentos acres,
Os mais estranhos estremecimentos...
Flores negras do tédio e flores vagas
De amores vãos, tantálicos, doentios...
Fundas vermelhidões de velhas chagas
Em sangue, abertas, escorrendo em rios...
Tudo! vivo e nervoso e quente e forte,
Nos turbilhões quiméricos do Sonho,
Passe, cantando, ante o perfil medonho
E o tropel cabalístico da Morte.
De luares, de neves, de neblinas!
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras
Formas do Amor, constelarmente puras,
De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras
E dolências de lírios e de rosas ...
Indefiníveis músicas supremas,
Harmonias da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...
Visões, salmos e cânticos serenos,
Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...
Dormências de volúpicos venenos
Sutis e suaves, mórbidos, radiantes...
Infinitos espíritos dispersos,
Inefáveis, edênicos, aéreos,
Fecundai o Mistério destes versos
Com a chama ideal de todos os mistérios.
Do Sonho as mais azuis diafaneidades
Que fuljam, que na Estrofe se levantem
E as emoções, todas as castidades
Da alma do Verso, pelos versos cantem.
Que o pólen de ouro dos mais finos astros
Fecunde e inflame a rima clara e ardente...
Que brilhe a correção dos alabastros
Sonoramente, luminosamente.
Forças originais, essência, graça
De carnes de mulher, delicadezas...
Todo esse eflúvio que por ondas passa
Do Éter nas róseas e áureas correntezas...
Cristais diluídos de clarões alacres,
Desejos, vibrações, ânsias, alentos
Fulvas vitórias, triunfamentos acres,
Os mais estranhos estremecimentos...
Flores negras do tédio e flores vagas
De amores vãos, tantálicos, doentios...
Fundas vermelhidões de velhas chagas
Em sangue, abertas, escorrendo em rios...
Tudo! vivo e nervoso e quente e forte,
Nos turbilhões quiméricos do Sonho,
Passe, cantando, ante o perfil medonho
E o tropel cabalístico da Morte.
1. A preferência pela indefinição e pela claridade são
algumas das características da poesia simbolista. Marque a opção em que das 2
primeiras estrofes algumas palavras comprovam esta afirmação.
a) Claridade: alvas, brancas, claras, luares, neves,
brilhos etc. Indefinição: vagas, fluidas, cristalinas, vaporosas.
b) Claridade: calma, voar, terra, mesa, cadeira, roupa
etc. Indefinição: poema, papel, caneta, tinta, nada, tudo.
2. Que palavras sugerem a atmosfera religiosa bastante
comum nos poemas simbolistas?
a)
Mesa,
poesia, casa, papel, tinta.
b)
Antífona,
incensos, salmos, Virgens, Santas, cânticos, órgãos.
3. A musicalidade também é outra preocupação dos
simbolistas. Segundo o eu – lírico, como deve ser a musicalidade do poema?
a) Indefinível e suprema. b) Definida como a coisa mais
linda do mundo.
4. O poema evoca vários elementos que perderão estar
presentes na criação dos seus versos. Esses elementos, vagos, místicos,
luminosos e musicais, devem contribuir para uma poesia objetiva ou misteriosa?
a) Misteriosa, conforme a última estrofe. b) Objetiva, conforme a primeira
estrofe.
Supremo desejo
Eternas, imortais origens vivas
Da Luz, do Aroma, segredantes vozes
Do mar e luares de contemplativas,
Vagas visões volúpicas, velozes...
Da Luz, do Aroma, segredantes vozes
Do mar e luares de contemplativas,
Vagas visões volúpicas, velozes...
Aladas alegrias sugestivas
De asa radiante e branca de albornozes,
Tribos gloriosas, fulgidas, altivas,
De condores e de águias e albatrozes...
De asa radiante e branca de albornozes,
Tribos gloriosas, fulgidas, altivas,
De condores e de águias e albatrozes...
Espiritualizai nos Astros louros,
Do sol entre os clarões imorredouros
Toda esta dor que na minh'alma clama...
Do sol entre os clarões imorredouros
Toda esta dor que na minh'alma clama...
Quero vê-la subir, ficar cantando
Na chama das Estrelas, dardejando
Nas luminosas sensações da chama.
Na chama das Estrelas, dardejando
Nas luminosas sensações da chama.
·
Alphonsus de Guimaraens (Pseudônimo de Afonso
Henriques da Costa Guimarães)
Retomando elementos
românticos, sua temática prende-se a evasão da vida, a morte, a natureza, a
religiosidade e ao amor platônico. A mulher idealizada e pura, é quase sempre
divinizada. Em sua evasão da realidade imediata, identifica-se com o trovador e
com o cavaleiro medieval que suspira por sua dama ou cultua a Virgem Maria.
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
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